SÃO PAULO - O Complexo Cultural do Bumba Meu Boi, no Maranhão, recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. A nomeação foi feita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), na Colômbia, durante a 14ª Reunião do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.
Antes disso, o Bumba Meu Boi já havia tido reconhecimento em âmbito nacional: ele foi registrado como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2011. Mas a chancela da Unesco representa um passo além.
"O objetivo da Unesco com a criação dessa lista (de patrimônios da humanidade) é selecionar bens imateriais que sejam representativos da cultura de um país. A inscrição na lista dá a um determinado bem notoriedade e visibilidade em todo o mundo", afirma o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Hermano Queiroz. "Como a lista tem bens culturais de diversos países, ela acaba promovendo o diálogo cultural entre as nações."
Hermano Queiroz, diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan
Além de visibilidade e prestígio internacional, a entrada do bem na lista da Unesco traz maior suporte, inclusive financeiro, por parte do poder público.
"Não é apenas um título. Ele gera um compromisso por parte do Estado, de dar apoio àquele bem, com ações de curto, médio e longo prazo", diz Queiroz.
Na prática, a chancela da Unesco confere uma espécie de status privilegiado, que agrega valor ao bem e favorece a entrada de verbas.
"Ele passa a desfrutar de maior pontuação em editais. Além disso, provoca a ampliação das redes de contatos e também de patrocinadores", explica o diretor do Iphan.
Outro efeito prático esperado é o aumento do número de turistas, não só para o Maranhão.
"O título provoca curiosidade nas pessoas, que passam a querer visitar o País, tanto o Maranhão como outros Estados que tenham manifestações parecidas", acredita. "O potencial de atratividade turística é enorme. São praticamente oito meses de festividades, em um ciclo de celebrações que tem seu apogeu em junho."
Hermano Queiroz, diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan
Candidatura partiu da própria comunidade
No caso do Bumba Meu Boi, o pontapé inicial para a candidatura à lista da Unesco partiu da própria comunidade, em 2012. Quatro anos depois, o Iphan elaborou um dossiê à Unesco, mostrando a trajetória da celebração e seu potencial como manifestação cultural.
"O Bumba Meu Boi tem influência cristã, de povos de matriz africana, de povos indígenas. É uma síntese do que é o Brasil", resume Queiroz.
A candidatura junto à Unesco foi reforçada por um vídeo gravado pela própria comunidade para a agência.
"No vídeo, eles defenderam que o título agregaria valor à prática cultural e projetaria a imagem do Brasil para o mundo. Isso teve peso decisivo, nenhum outro país havia tomado essa atitude antes", conta o diretor do Iphan.
O comitê da Unesco responsável pela análise das candidaturas se reúne todos os anos. O normal é que cada candidatura leve dois anos para ser analisada. A candidatura do Bumba Meu Boi foi apresentada pelo Iphan em 2017, analisada em 2018 e o comitê externou sua escolha agora, em 2019.
Bumba Meu Boi é 16º brasileiro da lista
O Bumba Meu Boi foi o 16º patrimônio cultural brasileiro a entrar na lista da Unesco. Além disso, há sete patrimônios naturais que já receberam o título de Patrimônios da Humanidade.
O grupo de patrimônios culturais inclui monumentos, sítios ou manifestações culturais que tenham valor histórico, estético, arqueológico, científico, antropológico ou artístico. Já os patrimônios naturais contemplam formações biológicas e geológicas, hábitats de espécies animais e vegetais ameaçadas e áreas que possuam valor científico, de conservação ou estético.
Veja a lista completa abaixo:
Sítios do Patrimônio Cultural da Unesco no Brasil:
- Centro Histórico de Ouro Preto (MG), reconhecido pela Unesco em 1980;
- Centro Histórico de Olinda (PE), reconhecido pela Unesco em 1982;
- Ruínas de São Miguel das Missões (RS), reconhecido pela Unesco em 1983;
- Centro Histórico de Salvador (BA), reconhecido pela Unesco em 1985;
- Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo (MG), reconhecido pela Unesco em 1985;
- Plano Piloto de Brasília (DF), reconhecido pela Unesco em 1987;
- Parque Nacional Serra da Capivara, São Raimundo Nonato (PI), reconhecido pela Unesco em 1991;
- Centro Histórico de São Luís (MA), reconhecido pela Unesco em 1997;
- Centro Histórico de Diamantina (MG), reconhecido pela Unesco em 1999;
- Centro Histórico da Cidade de Goiás (GO), reconhecido pela Unesco em 2001;
- Praça de São Francisco, em São Cristóvão (SE), reconhecido pela Unesco em 2010;
- Paisagens Naturais entre a Montanha e o Mar do Rio de Janeiro (RJ), reconhecidas pela Unesco em 2012;
- Conjunto Modernista da Pampulha, Belo Horizonte (MG), reconhecido pela Unesco em 2016;
- Cais do Valongo, Rio de Janeiro (RJ), reconhecido pela Unesco em 2017;
- Centro Histórico de Paraty (RJ), reconhecido pela Unesco em 2019.
- Bumba Meu Boi (MA), reconhecido pela Unesco em 2019.
Sítios do Patrimônio Natural da Unesco no Brasil:
- Parque Nacional de Iguaçu, Foz do Iguaçu (PR), reconhecido pela Unesco em 1986;
- Mata Atlântica (Reservas de SP e PR), reconhecida pela Unesco em 1999;
- Costa do Descobrimento: Reservas da Mata Atlântica na BA e no ES), reconhecida pela Unesco em 1999;
- Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central, reconhecido pela Unesco em 2000;
- Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal (MT e MS), reconhecido pela Unesco em 2000;
- Áreas protegidas do Cerrado: Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas (GO), reconhecido pela Unesco em 2001;
- Ilhas Atlânticas Brasileiras: Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas, reconhecidas pela Unesco em 2001.