Canhões do século 17 são encontrados durante obras em Salvador; veja imagens


Na época, a cidade era a capital brasileira e sofria ataques estrangeiros; peças podem ter feito parte da linha de defesa posicionada atrás de antigo forte

Por José Maria Tomazela
Atualização:

Dois canhões que, entre os séculos 17 e 18 fizeram parte da linha de defesa de Salvador, na Bahia, foram achados e desenterrados durante as obras de recuperação de uma praça, na Cidade Baixa, no final de julho deste ano. Na época, a cidade era a capital brasileira e sofria ataques estrangeiros. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as peças podem ter pertencido ao antigo Forte da Laje, que foi tomado pelos holandeses em 1624.

Com a estrutura bem conservada, apesar da crosta de ferrugem, as peças estão em processo de limpeza na Acervo - Centro de Referência em Patrimônio e Pesquisa, empresa responsável pela prospecção. De acordo com o arqueólogo do Iphan, Alexandre Colpas, os canhões estavam em área aterrada onde antes era orla do mar, o que reforça a hipótese de que serviam à defesa da cidade. Fundada em 1549, Salvador foi a capital portuguesa nas Américas e a primeira capital do Brasil até 1763, quando a corte foi transferida para o Rio de Janeiro.

Na época, o Brasil ainda não tinha capacidade de produzir canhões e a origem das peças é investigada. “Esses canhões estão com muita ferrugem incrustada e, depois de limpos, serão mostrados a especialistas em armas para identificar a origem. Sabemos que muitos navios traziam canhões para o Brasil. O galeão Santíssimo Sacramento, que saiu de Lisboa e afundou aqui (Salvador) no século 17 (1668) tinha cerca de 60 canhões”, lembrou. As dimensões – 2,30 m de comprimento – são compatíveis com peças de artilharia da época, segundo ele.

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Canhões enterrados em Salvador podem ter composto a linha de defesa da antiga capital do Brasil, entre os séculos 17 e 18, segundo pesquisadores do Iphan Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O sítio arqueológico foi localizado durante as obras de requalificação da região da Conceição da Praia, realizadas pela prefeitura. A área contém uma espessa camada de aterro, que chega a 3,5 m de profundidade. Um dos canhões estava enterrado na Rua Conceição da Praia, o outro, na Praça Irmãos Pereira. As peças foram resgatadas e levadas para a instituição de guarda que acompanhou as escavações. Conforme o Iphan, é responsabilidade do instituto fiscalizar obras e assegurar que as pesquisas arqueológicas sejam devidamente realizadas.

O arqueólogo Luiz Pacheco, da Acervo, coordenador-geral do trabalho de prospecção, acredita que os canhões já estavam fora de uso quando foram soterrados. “São peças de ferro-fundido e estavam em uma área onde antes era mar ou praia e que foi soterrada. Tanto que encontramos, no mesmo nível do subsolo, louças portuguesas dos séculos 17 e 18, logo abaixo de um piso de seixos e pedras, do século 18. São várias camadas e, em 1,40 m de profundidade, a gente consegue ‘ler’ a expansão da cidade. Embora pertencesse ao rei, os comerciantes disputavam aquele espaço para receber e vender mercadorias”, disse.

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De 1701 ao final de 1900, a Cidade Baixa passou por intensos processos de aterramento para expandir a ocupação urbana. No total, quase 200 mil metros quadrados foram aterrados no mar, de forma progressiva, ao longo desses 300 anos. A última área aterrada foi a da região de Águas de Meninos, no início do século 20, onde foi instalada a Feira de São Joaquim, a maior feira livre da cidade.

De acordo com o arqueólogo do Iphan, pela localização, é provável que os canhões integrassem uma das linhas de defesa posicionadas atrás do antigo Forte da Laje, hoje inexistente. Ele conta que muitos o confundem com o atual Forte de São Marcelo, localizado em ponto mais distante da faixa de terra, em plena água do mar. Segundo ele, o forte antigo aparece em uma gravura que mostra a restituição de Salvador pelos holandeses no início do século 17. “Atrás do forte havia uma bateria de canhões”, disse.

Canhões do século 17 foram encontrados durante escavações para obras em praças na Cidade Baixa Foto: Acervo/Divulgação
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Ele lembra que, por ser a primeira capital brasileira e porta de entrada do império ultramarino português, Salvador é hoje um sítio arqueológico a céu aberto. “Mercadorias de todo mundo passavam por esse porto, por isso qualquer obra que implique em remoção de solo é acompanhada pelo Iphan. As faianças e porcelanas que encontramos remetem a esse comércio”, disse.

Salvador nasceu como cidade-fortaleza

Conforme o historiador Mário Mendonça de Oliveira, professor emérito da Universidade Federal da Bahia, Salvador nasceu como cidade-fortaleza ou, pelo menos, era isso o que pretendia D. João III, rei de Portugal, enquanto ela foi capital ou ‘Cabeça do Brasil’, como era chamada na época. Por esse motivo, o primeiro governador-geral da Colônia, Tomé de Sousa, encarregado pelo rei de instalar a capital, trouxe consigo, em 1549, o mestre Luís Dias, expert em fortificações.

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Em seu estudo “As Fortalezas e a Defesa de Salvador”, ele conta que o Forte da Laje foi construído no início do século 17, com o formato de um quadrilátero, em afloramento rochoso ligado à terra por um pontão costeiro. Na batalha entre portugueses e holandeses ocorrida no local em 1624, o forte ainda estava inacabado.

Peças de artilharia podem ser de um forte tomado pelos holandeses durante tentativa de invasão da então colônia portuguesa. Foto: Acervo/Divulgação

As fortificações eram os principais elementos de proteção do território no período colonial. Salvador chegou a ter 30 fortes, restando atualmente apenas 11, entre eles o mais antigo do país, o Forte de Santo Antônio, construído em 1534, antes da fundação da cidade. É nele que fica o famoso Farol da Barra, com 22 m de altura, construído em 1839, em homenagem ao nascimento de S.Pedro II.

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Para Colpas, os canhões enterrados vão ajudar a compreender melhor aquele período. “Esse se junta a outros achados, como o dos vestígios de uma muralha que transformava Salvador em uma cidade fortificada naqueles primórdios. Na linha do asfalto, achamos recentemente pedaços dessa muralha que era construída com pedras e cal.” Os canhões e outros materiais encontrados nas escavações são considerados bens da União. Depois de estudados, o plano é colocar esses objetos em exposição fixa ou itinerante para que possam ser conhecidos pela população.

Canhões ajudarão pesquisadores a compreender melhor o período em que o Brasil foi colônia de Portugal Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O projeto de recuperação da Rua da Conceição e vias próximas ao Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia foi elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira e está sendo executado pelo município desde o final de 2022. O espaço ganhará um edifício-garagem em dois níveis e área de convivência. As obras vão custar R$ 12,5 milhões e ficam prontas até o fim deste ano.

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O projeto inclui a revitalização do monumento aos Irmãos Pereira, instalado no local em 1954. Obra do escultor Pasquale de Chirico, a peça é composta por três estátuas de bronze representando Manoel Vitorino, José Basílio e Antônio Pacífico Pereira, figuras de relevo na história baiana – Manoel foi vice-presidente da República no governo de Prudente de Moraes.

Dois canhões que, entre os séculos 17 e 18 fizeram parte da linha de defesa de Salvador, na Bahia, foram achados e desenterrados durante as obras de recuperação de uma praça, na Cidade Baixa, no final de julho deste ano. Na época, a cidade era a capital brasileira e sofria ataques estrangeiros. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as peças podem ter pertencido ao antigo Forte da Laje, que foi tomado pelos holandeses em 1624.

Com a estrutura bem conservada, apesar da crosta de ferrugem, as peças estão em processo de limpeza na Acervo - Centro de Referência em Patrimônio e Pesquisa, empresa responsável pela prospecção. De acordo com o arqueólogo do Iphan, Alexandre Colpas, os canhões estavam em área aterrada onde antes era orla do mar, o que reforça a hipótese de que serviam à defesa da cidade. Fundada em 1549, Salvador foi a capital portuguesa nas Américas e a primeira capital do Brasil até 1763, quando a corte foi transferida para o Rio de Janeiro.

Na época, o Brasil ainda não tinha capacidade de produzir canhões e a origem das peças é investigada. “Esses canhões estão com muita ferrugem incrustada e, depois de limpos, serão mostrados a especialistas em armas para identificar a origem. Sabemos que muitos navios traziam canhões para o Brasil. O galeão Santíssimo Sacramento, que saiu de Lisboa e afundou aqui (Salvador) no século 17 (1668) tinha cerca de 60 canhões”, lembrou. As dimensões – 2,30 m de comprimento – são compatíveis com peças de artilharia da época, segundo ele.

Canhões enterrados em Salvador podem ter composto a linha de defesa da antiga capital do Brasil, entre os séculos 17 e 18, segundo pesquisadores do Iphan Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O sítio arqueológico foi localizado durante as obras de requalificação da região da Conceição da Praia, realizadas pela prefeitura. A área contém uma espessa camada de aterro, que chega a 3,5 m de profundidade. Um dos canhões estava enterrado na Rua Conceição da Praia, o outro, na Praça Irmãos Pereira. As peças foram resgatadas e levadas para a instituição de guarda que acompanhou as escavações. Conforme o Iphan, é responsabilidade do instituto fiscalizar obras e assegurar que as pesquisas arqueológicas sejam devidamente realizadas.

O arqueólogo Luiz Pacheco, da Acervo, coordenador-geral do trabalho de prospecção, acredita que os canhões já estavam fora de uso quando foram soterrados. “São peças de ferro-fundido e estavam em uma área onde antes era mar ou praia e que foi soterrada. Tanto que encontramos, no mesmo nível do subsolo, louças portuguesas dos séculos 17 e 18, logo abaixo de um piso de seixos e pedras, do século 18. São várias camadas e, em 1,40 m de profundidade, a gente consegue ‘ler’ a expansão da cidade. Embora pertencesse ao rei, os comerciantes disputavam aquele espaço para receber e vender mercadorias”, disse.

De 1701 ao final de 1900, a Cidade Baixa passou por intensos processos de aterramento para expandir a ocupação urbana. No total, quase 200 mil metros quadrados foram aterrados no mar, de forma progressiva, ao longo desses 300 anos. A última área aterrada foi a da região de Águas de Meninos, no início do século 20, onde foi instalada a Feira de São Joaquim, a maior feira livre da cidade.

De acordo com o arqueólogo do Iphan, pela localização, é provável que os canhões integrassem uma das linhas de defesa posicionadas atrás do antigo Forte da Laje, hoje inexistente. Ele conta que muitos o confundem com o atual Forte de São Marcelo, localizado em ponto mais distante da faixa de terra, em plena água do mar. Segundo ele, o forte antigo aparece em uma gravura que mostra a restituição de Salvador pelos holandeses no início do século 17. “Atrás do forte havia uma bateria de canhões”, disse.

Canhões do século 17 foram encontrados durante escavações para obras em praças na Cidade Baixa Foto: Acervo/Divulgação

Ele lembra que, por ser a primeira capital brasileira e porta de entrada do império ultramarino português, Salvador é hoje um sítio arqueológico a céu aberto. “Mercadorias de todo mundo passavam por esse porto, por isso qualquer obra que implique em remoção de solo é acompanhada pelo Iphan. As faianças e porcelanas que encontramos remetem a esse comércio”, disse.

Salvador nasceu como cidade-fortaleza

Conforme o historiador Mário Mendonça de Oliveira, professor emérito da Universidade Federal da Bahia, Salvador nasceu como cidade-fortaleza ou, pelo menos, era isso o que pretendia D. João III, rei de Portugal, enquanto ela foi capital ou ‘Cabeça do Brasil’, como era chamada na época. Por esse motivo, o primeiro governador-geral da Colônia, Tomé de Sousa, encarregado pelo rei de instalar a capital, trouxe consigo, em 1549, o mestre Luís Dias, expert em fortificações.

Em seu estudo “As Fortalezas e a Defesa de Salvador”, ele conta que o Forte da Laje foi construído no início do século 17, com o formato de um quadrilátero, em afloramento rochoso ligado à terra por um pontão costeiro. Na batalha entre portugueses e holandeses ocorrida no local em 1624, o forte ainda estava inacabado.

Peças de artilharia podem ser de um forte tomado pelos holandeses durante tentativa de invasão da então colônia portuguesa. Foto: Acervo/Divulgação

As fortificações eram os principais elementos de proteção do território no período colonial. Salvador chegou a ter 30 fortes, restando atualmente apenas 11, entre eles o mais antigo do país, o Forte de Santo Antônio, construído em 1534, antes da fundação da cidade. É nele que fica o famoso Farol da Barra, com 22 m de altura, construído em 1839, em homenagem ao nascimento de S.Pedro II.

Para Colpas, os canhões enterrados vão ajudar a compreender melhor aquele período. “Esse se junta a outros achados, como o dos vestígios de uma muralha que transformava Salvador em uma cidade fortificada naqueles primórdios. Na linha do asfalto, achamos recentemente pedaços dessa muralha que era construída com pedras e cal.” Os canhões e outros materiais encontrados nas escavações são considerados bens da União. Depois de estudados, o plano é colocar esses objetos em exposição fixa ou itinerante para que possam ser conhecidos pela população.

Canhões ajudarão pesquisadores a compreender melhor o período em que o Brasil foi colônia de Portugal Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O projeto de recuperação da Rua da Conceição e vias próximas ao Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia foi elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira e está sendo executado pelo município desde o final de 2022. O espaço ganhará um edifício-garagem em dois níveis e área de convivência. As obras vão custar R$ 12,5 milhões e ficam prontas até o fim deste ano.

O projeto inclui a revitalização do monumento aos Irmãos Pereira, instalado no local em 1954. Obra do escultor Pasquale de Chirico, a peça é composta por três estátuas de bronze representando Manoel Vitorino, José Basílio e Antônio Pacífico Pereira, figuras de relevo na história baiana – Manoel foi vice-presidente da República no governo de Prudente de Moraes.

Dois canhões que, entre os séculos 17 e 18 fizeram parte da linha de defesa de Salvador, na Bahia, foram achados e desenterrados durante as obras de recuperação de uma praça, na Cidade Baixa, no final de julho deste ano. Na época, a cidade era a capital brasileira e sofria ataques estrangeiros. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as peças podem ter pertencido ao antigo Forte da Laje, que foi tomado pelos holandeses em 1624.

Com a estrutura bem conservada, apesar da crosta de ferrugem, as peças estão em processo de limpeza na Acervo - Centro de Referência em Patrimônio e Pesquisa, empresa responsável pela prospecção. De acordo com o arqueólogo do Iphan, Alexandre Colpas, os canhões estavam em área aterrada onde antes era orla do mar, o que reforça a hipótese de que serviam à defesa da cidade. Fundada em 1549, Salvador foi a capital portuguesa nas Américas e a primeira capital do Brasil até 1763, quando a corte foi transferida para o Rio de Janeiro.

Na época, o Brasil ainda não tinha capacidade de produzir canhões e a origem das peças é investigada. “Esses canhões estão com muita ferrugem incrustada e, depois de limpos, serão mostrados a especialistas em armas para identificar a origem. Sabemos que muitos navios traziam canhões para o Brasil. O galeão Santíssimo Sacramento, que saiu de Lisboa e afundou aqui (Salvador) no século 17 (1668) tinha cerca de 60 canhões”, lembrou. As dimensões – 2,30 m de comprimento – são compatíveis com peças de artilharia da época, segundo ele.

Canhões enterrados em Salvador podem ter composto a linha de defesa da antiga capital do Brasil, entre os séculos 17 e 18, segundo pesquisadores do Iphan Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O sítio arqueológico foi localizado durante as obras de requalificação da região da Conceição da Praia, realizadas pela prefeitura. A área contém uma espessa camada de aterro, que chega a 3,5 m de profundidade. Um dos canhões estava enterrado na Rua Conceição da Praia, o outro, na Praça Irmãos Pereira. As peças foram resgatadas e levadas para a instituição de guarda que acompanhou as escavações. Conforme o Iphan, é responsabilidade do instituto fiscalizar obras e assegurar que as pesquisas arqueológicas sejam devidamente realizadas.

O arqueólogo Luiz Pacheco, da Acervo, coordenador-geral do trabalho de prospecção, acredita que os canhões já estavam fora de uso quando foram soterrados. “São peças de ferro-fundido e estavam em uma área onde antes era mar ou praia e que foi soterrada. Tanto que encontramos, no mesmo nível do subsolo, louças portuguesas dos séculos 17 e 18, logo abaixo de um piso de seixos e pedras, do século 18. São várias camadas e, em 1,40 m de profundidade, a gente consegue ‘ler’ a expansão da cidade. Embora pertencesse ao rei, os comerciantes disputavam aquele espaço para receber e vender mercadorias”, disse.

De 1701 ao final de 1900, a Cidade Baixa passou por intensos processos de aterramento para expandir a ocupação urbana. No total, quase 200 mil metros quadrados foram aterrados no mar, de forma progressiva, ao longo desses 300 anos. A última área aterrada foi a da região de Águas de Meninos, no início do século 20, onde foi instalada a Feira de São Joaquim, a maior feira livre da cidade.

De acordo com o arqueólogo do Iphan, pela localização, é provável que os canhões integrassem uma das linhas de defesa posicionadas atrás do antigo Forte da Laje, hoje inexistente. Ele conta que muitos o confundem com o atual Forte de São Marcelo, localizado em ponto mais distante da faixa de terra, em plena água do mar. Segundo ele, o forte antigo aparece em uma gravura que mostra a restituição de Salvador pelos holandeses no início do século 17. “Atrás do forte havia uma bateria de canhões”, disse.

Canhões do século 17 foram encontrados durante escavações para obras em praças na Cidade Baixa Foto: Acervo/Divulgação

Ele lembra que, por ser a primeira capital brasileira e porta de entrada do império ultramarino português, Salvador é hoje um sítio arqueológico a céu aberto. “Mercadorias de todo mundo passavam por esse porto, por isso qualquer obra que implique em remoção de solo é acompanhada pelo Iphan. As faianças e porcelanas que encontramos remetem a esse comércio”, disse.

Salvador nasceu como cidade-fortaleza

Conforme o historiador Mário Mendonça de Oliveira, professor emérito da Universidade Federal da Bahia, Salvador nasceu como cidade-fortaleza ou, pelo menos, era isso o que pretendia D. João III, rei de Portugal, enquanto ela foi capital ou ‘Cabeça do Brasil’, como era chamada na época. Por esse motivo, o primeiro governador-geral da Colônia, Tomé de Sousa, encarregado pelo rei de instalar a capital, trouxe consigo, em 1549, o mestre Luís Dias, expert em fortificações.

Em seu estudo “As Fortalezas e a Defesa de Salvador”, ele conta que o Forte da Laje foi construído no início do século 17, com o formato de um quadrilátero, em afloramento rochoso ligado à terra por um pontão costeiro. Na batalha entre portugueses e holandeses ocorrida no local em 1624, o forte ainda estava inacabado.

Peças de artilharia podem ser de um forte tomado pelos holandeses durante tentativa de invasão da então colônia portuguesa. Foto: Acervo/Divulgação

As fortificações eram os principais elementos de proteção do território no período colonial. Salvador chegou a ter 30 fortes, restando atualmente apenas 11, entre eles o mais antigo do país, o Forte de Santo Antônio, construído em 1534, antes da fundação da cidade. É nele que fica o famoso Farol da Barra, com 22 m de altura, construído em 1839, em homenagem ao nascimento de S.Pedro II.

Para Colpas, os canhões enterrados vão ajudar a compreender melhor aquele período. “Esse se junta a outros achados, como o dos vestígios de uma muralha que transformava Salvador em uma cidade fortificada naqueles primórdios. Na linha do asfalto, achamos recentemente pedaços dessa muralha que era construída com pedras e cal.” Os canhões e outros materiais encontrados nas escavações são considerados bens da União. Depois de estudados, o plano é colocar esses objetos em exposição fixa ou itinerante para que possam ser conhecidos pela população.

Canhões ajudarão pesquisadores a compreender melhor o período em que o Brasil foi colônia de Portugal Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O projeto de recuperação da Rua da Conceição e vias próximas ao Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia foi elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira e está sendo executado pelo município desde o final de 2022. O espaço ganhará um edifício-garagem em dois níveis e área de convivência. As obras vão custar R$ 12,5 milhões e ficam prontas até o fim deste ano.

O projeto inclui a revitalização do monumento aos Irmãos Pereira, instalado no local em 1954. Obra do escultor Pasquale de Chirico, a peça é composta por três estátuas de bronze representando Manoel Vitorino, José Basílio e Antônio Pacífico Pereira, figuras de relevo na história baiana – Manoel foi vice-presidente da República no governo de Prudente de Moraes.

Dois canhões que, entre os séculos 17 e 18 fizeram parte da linha de defesa de Salvador, na Bahia, foram achados e desenterrados durante as obras de recuperação de uma praça, na Cidade Baixa, no final de julho deste ano. Na época, a cidade era a capital brasileira e sofria ataques estrangeiros. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as peças podem ter pertencido ao antigo Forte da Laje, que foi tomado pelos holandeses em 1624.

Com a estrutura bem conservada, apesar da crosta de ferrugem, as peças estão em processo de limpeza na Acervo - Centro de Referência em Patrimônio e Pesquisa, empresa responsável pela prospecção. De acordo com o arqueólogo do Iphan, Alexandre Colpas, os canhões estavam em área aterrada onde antes era orla do mar, o que reforça a hipótese de que serviam à defesa da cidade. Fundada em 1549, Salvador foi a capital portuguesa nas Américas e a primeira capital do Brasil até 1763, quando a corte foi transferida para o Rio de Janeiro.

Na época, o Brasil ainda não tinha capacidade de produzir canhões e a origem das peças é investigada. “Esses canhões estão com muita ferrugem incrustada e, depois de limpos, serão mostrados a especialistas em armas para identificar a origem. Sabemos que muitos navios traziam canhões para o Brasil. O galeão Santíssimo Sacramento, que saiu de Lisboa e afundou aqui (Salvador) no século 17 (1668) tinha cerca de 60 canhões”, lembrou. As dimensões – 2,30 m de comprimento – são compatíveis com peças de artilharia da época, segundo ele.

Canhões enterrados em Salvador podem ter composto a linha de defesa da antiga capital do Brasil, entre os séculos 17 e 18, segundo pesquisadores do Iphan Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O sítio arqueológico foi localizado durante as obras de requalificação da região da Conceição da Praia, realizadas pela prefeitura. A área contém uma espessa camada de aterro, que chega a 3,5 m de profundidade. Um dos canhões estava enterrado na Rua Conceição da Praia, o outro, na Praça Irmãos Pereira. As peças foram resgatadas e levadas para a instituição de guarda que acompanhou as escavações. Conforme o Iphan, é responsabilidade do instituto fiscalizar obras e assegurar que as pesquisas arqueológicas sejam devidamente realizadas.

O arqueólogo Luiz Pacheco, da Acervo, coordenador-geral do trabalho de prospecção, acredita que os canhões já estavam fora de uso quando foram soterrados. “São peças de ferro-fundido e estavam em uma área onde antes era mar ou praia e que foi soterrada. Tanto que encontramos, no mesmo nível do subsolo, louças portuguesas dos séculos 17 e 18, logo abaixo de um piso de seixos e pedras, do século 18. São várias camadas e, em 1,40 m de profundidade, a gente consegue ‘ler’ a expansão da cidade. Embora pertencesse ao rei, os comerciantes disputavam aquele espaço para receber e vender mercadorias”, disse.

De 1701 ao final de 1900, a Cidade Baixa passou por intensos processos de aterramento para expandir a ocupação urbana. No total, quase 200 mil metros quadrados foram aterrados no mar, de forma progressiva, ao longo desses 300 anos. A última área aterrada foi a da região de Águas de Meninos, no início do século 20, onde foi instalada a Feira de São Joaquim, a maior feira livre da cidade.

De acordo com o arqueólogo do Iphan, pela localização, é provável que os canhões integrassem uma das linhas de defesa posicionadas atrás do antigo Forte da Laje, hoje inexistente. Ele conta que muitos o confundem com o atual Forte de São Marcelo, localizado em ponto mais distante da faixa de terra, em plena água do mar. Segundo ele, o forte antigo aparece em uma gravura que mostra a restituição de Salvador pelos holandeses no início do século 17. “Atrás do forte havia uma bateria de canhões”, disse.

Canhões do século 17 foram encontrados durante escavações para obras em praças na Cidade Baixa Foto: Acervo/Divulgação

Ele lembra que, por ser a primeira capital brasileira e porta de entrada do império ultramarino português, Salvador é hoje um sítio arqueológico a céu aberto. “Mercadorias de todo mundo passavam por esse porto, por isso qualquer obra que implique em remoção de solo é acompanhada pelo Iphan. As faianças e porcelanas que encontramos remetem a esse comércio”, disse.

Salvador nasceu como cidade-fortaleza

Conforme o historiador Mário Mendonça de Oliveira, professor emérito da Universidade Federal da Bahia, Salvador nasceu como cidade-fortaleza ou, pelo menos, era isso o que pretendia D. João III, rei de Portugal, enquanto ela foi capital ou ‘Cabeça do Brasil’, como era chamada na época. Por esse motivo, o primeiro governador-geral da Colônia, Tomé de Sousa, encarregado pelo rei de instalar a capital, trouxe consigo, em 1549, o mestre Luís Dias, expert em fortificações.

Em seu estudo “As Fortalezas e a Defesa de Salvador”, ele conta que o Forte da Laje foi construído no início do século 17, com o formato de um quadrilátero, em afloramento rochoso ligado à terra por um pontão costeiro. Na batalha entre portugueses e holandeses ocorrida no local em 1624, o forte ainda estava inacabado.

Peças de artilharia podem ser de um forte tomado pelos holandeses durante tentativa de invasão da então colônia portuguesa. Foto: Acervo/Divulgação

As fortificações eram os principais elementos de proteção do território no período colonial. Salvador chegou a ter 30 fortes, restando atualmente apenas 11, entre eles o mais antigo do país, o Forte de Santo Antônio, construído em 1534, antes da fundação da cidade. É nele que fica o famoso Farol da Barra, com 22 m de altura, construído em 1839, em homenagem ao nascimento de S.Pedro II.

Para Colpas, os canhões enterrados vão ajudar a compreender melhor aquele período. “Esse se junta a outros achados, como o dos vestígios de uma muralha que transformava Salvador em uma cidade fortificada naqueles primórdios. Na linha do asfalto, achamos recentemente pedaços dessa muralha que era construída com pedras e cal.” Os canhões e outros materiais encontrados nas escavações são considerados bens da União. Depois de estudados, o plano é colocar esses objetos em exposição fixa ou itinerante para que possam ser conhecidos pela população.

Canhões ajudarão pesquisadores a compreender melhor o período em que o Brasil foi colônia de Portugal Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O projeto de recuperação da Rua da Conceição e vias próximas ao Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia foi elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira e está sendo executado pelo município desde o final de 2022. O espaço ganhará um edifício-garagem em dois níveis e área de convivência. As obras vão custar R$ 12,5 milhões e ficam prontas até o fim deste ano.

O projeto inclui a revitalização do monumento aos Irmãos Pereira, instalado no local em 1954. Obra do escultor Pasquale de Chirico, a peça é composta por três estátuas de bronze representando Manoel Vitorino, José Basílio e Antônio Pacífico Pereira, figuras de relevo na história baiana – Manoel foi vice-presidente da República no governo de Prudente de Moraes.

Dois canhões que, entre os séculos 17 e 18 fizeram parte da linha de defesa de Salvador, na Bahia, foram achados e desenterrados durante as obras de recuperação de uma praça, na Cidade Baixa, no final de julho deste ano. Na época, a cidade era a capital brasileira e sofria ataques estrangeiros. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as peças podem ter pertencido ao antigo Forte da Laje, que foi tomado pelos holandeses em 1624.

Com a estrutura bem conservada, apesar da crosta de ferrugem, as peças estão em processo de limpeza na Acervo - Centro de Referência em Patrimônio e Pesquisa, empresa responsável pela prospecção. De acordo com o arqueólogo do Iphan, Alexandre Colpas, os canhões estavam em área aterrada onde antes era orla do mar, o que reforça a hipótese de que serviam à defesa da cidade. Fundada em 1549, Salvador foi a capital portuguesa nas Américas e a primeira capital do Brasil até 1763, quando a corte foi transferida para o Rio de Janeiro.

Na época, o Brasil ainda não tinha capacidade de produzir canhões e a origem das peças é investigada. “Esses canhões estão com muita ferrugem incrustada e, depois de limpos, serão mostrados a especialistas em armas para identificar a origem. Sabemos que muitos navios traziam canhões para o Brasil. O galeão Santíssimo Sacramento, que saiu de Lisboa e afundou aqui (Salvador) no século 17 (1668) tinha cerca de 60 canhões”, lembrou. As dimensões – 2,30 m de comprimento – são compatíveis com peças de artilharia da época, segundo ele.

Canhões enterrados em Salvador podem ter composto a linha de defesa da antiga capital do Brasil, entre os séculos 17 e 18, segundo pesquisadores do Iphan Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O sítio arqueológico foi localizado durante as obras de requalificação da região da Conceição da Praia, realizadas pela prefeitura. A área contém uma espessa camada de aterro, que chega a 3,5 m de profundidade. Um dos canhões estava enterrado na Rua Conceição da Praia, o outro, na Praça Irmãos Pereira. As peças foram resgatadas e levadas para a instituição de guarda que acompanhou as escavações. Conforme o Iphan, é responsabilidade do instituto fiscalizar obras e assegurar que as pesquisas arqueológicas sejam devidamente realizadas.

O arqueólogo Luiz Pacheco, da Acervo, coordenador-geral do trabalho de prospecção, acredita que os canhões já estavam fora de uso quando foram soterrados. “São peças de ferro-fundido e estavam em uma área onde antes era mar ou praia e que foi soterrada. Tanto que encontramos, no mesmo nível do subsolo, louças portuguesas dos séculos 17 e 18, logo abaixo de um piso de seixos e pedras, do século 18. São várias camadas e, em 1,40 m de profundidade, a gente consegue ‘ler’ a expansão da cidade. Embora pertencesse ao rei, os comerciantes disputavam aquele espaço para receber e vender mercadorias”, disse.

De 1701 ao final de 1900, a Cidade Baixa passou por intensos processos de aterramento para expandir a ocupação urbana. No total, quase 200 mil metros quadrados foram aterrados no mar, de forma progressiva, ao longo desses 300 anos. A última área aterrada foi a da região de Águas de Meninos, no início do século 20, onde foi instalada a Feira de São Joaquim, a maior feira livre da cidade.

De acordo com o arqueólogo do Iphan, pela localização, é provável que os canhões integrassem uma das linhas de defesa posicionadas atrás do antigo Forte da Laje, hoje inexistente. Ele conta que muitos o confundem com o atual Forte de São Marcelo, localizado em ponto mais distante da faixa de terra, em plena água do mar. Segundo ele, o forte antigo aparece em uma gravura que mostra a restituição de Salvador pelos holandeses no início do século 17. “Atrás do forte havia uma bateria de canhões”, disse.

Canhões do século 17 foram encontrados durante escavações para obras em praças na Cidade Baixa Foto: Acervo/Divulgação

Ele lembra que, por ser a primeira capital brasileira e porta de entrada do império ultramarino português, Salvador é hoje um sítio arqueológico a céu aberto. “Mercadorias de todo mundo passavam por esse porto, por isso qualquer obra que implique em remoção de solo é acompanhada pelo Iphan. As faianças e porcelanas que encontramos remetem a esse comércio”, disse.

Salvador nasceu como cidade-fortaleza

Conforme o historiador Mário Mendonça de Oliveira, professor emérito da Universidade Federal da Bahia, Salvador nasceu como cidade-fortaleza ou, pelo menos, era isso o que pretendia D. João III, rei de Portugal, enquanto ela foi capital ou ‘Cabeça do Brasil’, como era chamada na época. Por esse motivo, o primeiro governador-geral da Colônia, Tomé de Sousa, encarregado pelo rei de instalar a capital, trouxe consigo, em 1549, o mestre Luís Dias, expert em fortificações.

Em seu estudo “As Fortalezas e a Defesa de Salvador”, ele conta que o Forte da Laje foi construído no início do século 17, com o formato de um quadrilátero, em afloramento rochoso ligado à terra por um pontão costeiro. Na batalha entre portugueses e holandeses ocorrida no local em 1624, o forte ainda estava inacabado.

Peças de artilharia podem ser de um forte tomado pelos holandeses durante tentativa de invasão da então colônia portuguesa. Foto: Acervo/Divulgação

As fortificações eram os principais elementos de proteção do território no período colonial. Salvador chegou a ter 30 fortes, restando atualmente apenas 11, entre eles o mais antigo do país, o Forte de Santo Antônio, construído em 1534, antes da fundação da cidade. É nele que fica o famoso Farol da Barra, com 22 m de altura, construído em 1839, em homenagem ao nascimento de S.Pedro II.

Para Colpas, os canhões enterrados vão ajudar a compreender melhor aquele período. “Esse se junta a outros achados, como o dos vestígios de uma muralha que transformava Salvador em uma cidade fortificada naqueles primórdios. Na linha do asfalto, achamos recentemente pedaços dessa muralha que era construída com pedras e cal.” Os canhões e outros materiais encontrados nas escavações são considerados bens da União. Depois de estudados, o plano é colocar esses objetos em exposição fixa ou itinerante para que possam ser conhecidos pela população.

Canhões ajudarão pesquisadores a compreender melhor o período em que o Brasil foi colônia de Portugal Foto: Caio Luz/Iphan/Divulgação

O projeto de recuperação da Rua da Conceição e vias próximas ao Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia foi elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira e está sendo executado pelo município desde o final de 2022. O espaço ganhará um edifício-garagem em dois níveis e área de convivência. As obras vão custar R$ 12,5 milhões e ficam prontas até o fim deste ano.

O projeto inclui a revitalização do monumento aos Irmãos Pereira, instalado no local em 1954. Obra do escultor Pasquale de Chirico, a peça é composta por três estátuas de bronze representando Manoel Vitorino, José Basílio e Antônio Pacífico Pereira, figuras de relevo na história baiana – Manoel foi vice-presidente da República no governo de Prudente de Moraes.

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