O assassinato de nove pessoas em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador, pode ter sido motivado por ciúmes, segundo a Polícia Civil da Bahia. Os quatro autores do crime faziam parte de uma facção criminosa, mas, de acordo com as investigações, não foi a disputa entre organizações que motivou a chacina, descoberta na manhã de segunda-feira, 28.
O mandante do crime, na verdade, estava com ciúmes de um homem identificado como Preá - uma das vítimas da chacina - e ordenou as execuções. Preá era ex-companheiro de uma namorada do criminoso e tinha mandados judiciais expedidos por lesão corporal, tráfico de drogas, homicídio e violência doméstica.
“Estamos trabalhando com (a hipótese de) crime passional. Não posso informar nomes, porque comprometeria o andamento das investigações, mas temos um alvo principal”, disse a delegada Cristiane Inocência Coelho, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana.
Dois dos suspeitos de participação na chacina foram mortos durante confronto com policiais civis. Outro homem foi preso e o quarto envolvido ainda é procurado. Com os criminosos foram apreendidos duas pistolas, carregadores, munições, rádios comunicadores e porções de drogas.
Segundo a Polícia Civil da Bahia, um dos mortos era o mandante do ataque, ocorrido em duas casas de uma zona rural de Mata de São João conhecida como Portal do Lunda.
Na primeira casa, foram encontradas sete pessoas mortas. Entre elas, estavam Preá, a mãe da atual namorada do executor e três crianças, irmãs da mulher que namorava com o mandante do crime - não foi informado se a relação amorosa dela com o criminoso continuava ou havia acabado. Quando o crime aconteceu e despertou a vizinhança do Lunda, a mulher não estava em casa. O nome dela não foi divulgado pela polícia.
A casa foi incendiada e a chama carbonizou os corpos das vítimas, o que atrasou o processo de identificação delas. “Possivelmente, eram pessoas de uma mesma família, mas só vamos ter certeza a partir dos exames. Os corpos estavam carbonizados, (então) não terminou ainda o processo de identificação. Sabemos que são sete pessoas mortas na mesma casa, mas só a perícia vai afirmar quem eram”, complementou a delegada.
Um bebê de um ano e dois meses que estava na primeira casa atacada foi poupado pelos criminosos e resgatado pelo pai antes de o fogo consumir o local. Já um adolescente se escondeu debaixo de uma das camas e conseguiu fugir para uma casa vizinha.
Os criminosos, então, foram em busca do jovem. Lá, mataram a tiros as duas mulheres que o abrigaram. Ele sobreviveu, mas está hospitalizado em estado grave no Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, com queimaduras em mais da metade do corpo sofridas no incêndio.
As únicas vítimas identificadas até o momento pelo Departamento de Polícia Técnica da Bahia (DPT) são duas mulheres: Sara Miranda Magalhães, de 56 anos, e Clícia Costa Magalhães, de 35. O órgão não informa se elas foram as responsáveis por socorrer o jovem sobrevivente ou se estavam na primeira residência invadida pelos bandidos.
Um familiar de Clícia e Sara, que não quis ser identificado pela reportagem, afirmou ao Estadão que elas eram irmãs e moravam juntas naquela região de Mata de São João. Nos anos 1960 e 70, a área fazia parte da chamada Colônia JK, formada por imigrantes japoneses. Os estrangeiros, no entanto, deixaram o território com o passar dos anos.
Do outro lado da rodovia BA-099 que corta Mata de São João, fica a Praia do Forte, também pertence à cidade e um dos destinos turísticos de luxo mais disputados da Bahia. O município, onde vivem 48 mil pessoas, registrou 40 tiroteios, com 33 mortes, neste ano, segundo o Instituto Fogo Cruzado, que mapeia a violência armada na Bahia.
A última publicação de Sara nas redes sociais foi um pôster religioso publicado no Facebook, com um salmo bíblico, no dia 17 de agosto, às 9h32. A aposentada, em setembro do ano passado, gravou um vídeo em que falava sobre problemas psíquicos e a importância de tratamento. “Tudo que eu quero na vida é viver”, afirmava ela na gravação.