Chávez transforma crise em 'reality Show', diz ex-aliado


Para ex-ministro, presidente usa tensão com Colômbia para se beneficiar.

Por Carlos Chirinos

O ex-ministro da Defesa da Venezuela e o principal aliado militar do presidente Hugo Chávez até o ano passado, Raúl Baduel, disse que Chávez transformou a crise diplomática envolvendo Colômbia e Equador em um "reality show" ao anunciar o envolvimento de tropas venezuelanas, que foram enviadas à fronteira colombiana. Em uma entrevista concedida à BBC antes da mobilização de forças venezuelanas na fronteira com a Colômbia nesta quarta-feira, Baduel disse que a crise está sendo usada por Chávez como uma estratégia para recuperar o apoio popular que, segundo o general, o presidente vinha perdendo. Até julho de 2007, Baduel foi ministro da Defesa de Chávez, mas ele rompeu sua ligação com o presidente por ser contra o projeto defendido por Chávez de reforma constitucional, derrotado em um referendo em dezembro de 2007. Em abril de 2004, Baduel foi considerado um dos responsáveis pela volta de Chávez ao poder, ao combater um golpe de Estado contra o atual presidente venezuelano. Leia os principais trechos da entrevista: BBC - Existe o risco de a Venezuela entrar em confronto com a Colômbia? Raúl Baduel - A maneira como as instruções foram dadas às Forças Armadas mostram um fim evidentemente político e deixam clara a pretensão do presidente Chávez de mostrar a Colômbia como um inimigo e, desta forma, apelar para o nacionalismo para recuperar o apoio popular que caiu sensivelmente depois dos resultados (do referendo) de dezembro de 2007. BBC - Mas ocorreu uma violação de soberania por parte da Colômbia em território equatoriano, e a Venezuela disse que existem razões para temer que algo semelhante possa ocorrer em seu território. Raúl Baduel - Neste caso, o Conselho de Defesa da Nação deveria ter sido convocado, é uma instância estabelecida para avaliar situações como esta. Quando vemos a forma como foram dadas as ordens, isso deixa claro que a intenção é política e pessoal do presidente Chávez. Poderíamos estar perante do estabelecido no Código Orgânico de Justiça Militar ou de delitos contra a segurança das Forças Armadas, pois está claramente estabelecido que revelar aspectos relativos a organização, composição, força, mobilização ou planos do componente armado da nação é classificado (como crime). BBC - Você se refere ao anúncio que o presidente Chávez fez em público no domingo passado, ordenando o envio de blindados e da aviação militar à fronteira? Raúl Baduel - Isso mesmo, essa não é a forma correta (de fazer esse anúncio). Em um caso dessa natureza, os interesses supremos da nação podem ser comprometidos e, portanto, isto não pode ser tema de um reality show. (Não pode ser) uma decisão impulsiva (...) Como se estivéssemos produzindo um filme. BBC - Em sua opinião, isto poderia ser usado contra o presidente? Raúl Baduel - Infelizmente já vimos como o poder judiciário em nosso país é submisso (...). Sem dúvida, poderíamos chegar a um extremo em que as pessoas que têm a responsabilidade (sobre a mobilização de tropas), por terem dado essas ordens, poderiam ser enquadradas no código da justiça militar. BBC - Você está convocando as Forças Armadas a não reconhecerem uma ordem presidencial? Raúl Baduel - Não. Esta é sua opinião. Em nenhum caso incitei às Forças Armadas a desobedecerem aos preceitos de obediência, subordinação e disciplina. Devo muito respeito à instituição e, por isso, acrescento que devemos ser extremamente cuidadosos quando nos referimos ao emprego das Forças Armadas. Mantenho contatos informais com muitos companheiros e companheiras na reserva e posso perceber a angústia, o espanto, a confusão que causa uma ordem desta natureza. BBC - Mas, em última instância, o comandante-em-chefe é o presidente da República. E se ele, eventualmente, desse uma ordem que determinasse o início de um conflito com a Colômbia, o que você recomendaria aos seus colegas militares? Raúl Baduel - A princípio, as ordens devem ter legalidade e legitimidade. As Forças Armadas estão estruturadas com um caráter eminentemente defensivo, em nenhum momento ofensivo. Não se materializou nenhuma violação ao nosso espaço territorial. Faço um chamado à população para não cairmos nos jogos perversos dos interesses pessoais e políticos do presidente Chávez. BBC - Você ficou sabendo diretamente sobre estes contatos entre a guerrilha e o governo venezuelano que a Colômbia está denunciando? Raúl Baduel - Em nenhum caso recebi, nem do presidente nem de nenhuma instância superior, uma ordem contrária ao que tem sido e é, por norma constitucional, a diretriz de atuação das Forças Armadas em relação à garantia de independência, à soberania da nação e à integridade territorial. BBC - Então, você poderia afirmar que estas acusações são falsas? Raúl Baduel - Não posso, no momento, fazer nenhuma avaliação e sempre procuro dar uma opinião com base em fundamentos certos (...). Entendo que, quando se toma a decisão de levar isto a uma instância, de levar isso ao Tribunal Penal Internacional, (as acusações) devem ter sido avaliadas em sua dimensão exata. Caberia, então, ao presidente Chávez, apresentar os desencargos perante estas acusações. BBC - No caso de um confronto entre o Exército venezuelano e o colombiano, o soldado venezuelano está bem preparado? Raúl Baduel - Como venezuelano e como militar da reserva, não poderia fazer uma avaliação exata da organização, da composição, da força e do poder relativo de combate de nossas Forças Armadas, pois eu também estaria desrespeitando as regras que já destaquei, do Código de Justiça Militar. Portanto, não posso fazer uma avaliação desta natureza de forma pública. BBC - Por que se afirma que o Exército colombiano é um Exército permanentemente mobilizado e muito bem equipado? Esta não seria uma preocupação quando se pensar em um confronto com este Exército? Raúl Baduel - Não há dúvidas que, devido a este problema antigo de segurança interna que o povo colombiano enfrenta, suas Forças Armadas adquiriram experiência suficiente em combate, o que deve ser valorizado. Mas, reitero que não me cabe fazer uma avaliação em uma medição de poder de combate entre as forças colombianas e venezuelanas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

O ex-ministro da Defesa da Venezuela e o principal aliado militar do presidente Hugo Chávez até o ano passado, Raúl Baduel, disse que Chávez transformou a crise diplomática envolvendo Colômbia e Equador em um "reality show" ao anunciar o envolvimento de tropas venezuelanas, que foram enviadas à fronteira colombiana. Em uma entrevista concedida à BBC antes da mobilização de forças venezuelanas na fronteira com a Colômbia nesta quarta-feira, Baduel disse que a crise está sendo usada por Chávez como uma estratégia para recuperar o apoio popular que, segundo o general, o presidente vinha perdendo. Até julho de 2007, Baduel foi ministro da Defesa de Chávez, mas ele rompeu sua ligação com o presidente por ser contra o projeto defendido por Chávez de reforma constitucional, derrotado em um referendo em dezembro de 2007. Em abril de 2004, Baduel foi considerado um dos responsáveis pela volta de Chávez ao poder, ao combater um golpe de Estado contra o atual presidente venezuelano. Leia os principais trechos da entrevista: BBC - Existe o risco de a Venezuela entrar em confronto com a Colômbia? Raúl Baduel - A maneira como as instruções foram dadas às Forças Armadas mostram um fim evidentemente político e deixam clara a pretensão do presidente Chávez de mostrar a Colômbia como um inimigo e, desta forma, apelar para o nacionalismo para recuperar o apoio popular que caiu sensivelmente depois dos resultados (do referendo) de dezembro de 2007. BBC - Mas ocorreu uma violação de soberania por parte da Colômbia em território equatoriano, e a Venezuela disse que existem razões para temer que algo semelhante possa ocorrer em seu território. Raúl Baduel - Neste caso, o Conselho de Defesa da Nação deveria ter sido convocado, é uma instância estabelecida para avaliar situações como esta. Quando vemos a forma como foram dadas as ordens, isso deixa claro que a intenção é política e pessoal do presidente Chávez. Poderíamos estar perante do estabelecido no Código Orgânico de Justiça Militar ou de delitos contra a segurança das Forças Armadas, pois está claramente estabelecido que revelar aspectos relativos a organização, composição, força, mobilização ou planos do componente armado da nação é classificado (como crime). BBC - Você se refere ao anúncio que o presidente Chávez fez em público no domingo passado, ordenando o envio de blindados e da aviação militar à fronteira? Raúl Baduel - Isso mesmo, essa não é a forma correta (de fazer esse anúncio). Em um caso dessa natureza, os interesses supremos da nação podem ser comprometidos e, portanto, isto não pode ser tema de um reality show. (Não pode ser) uma decisão impulsiva (...) Como se estivéssemos produzindo um filme. BBC - Em sua opinião, isto poderia ser usado contra o presidente? Raúl Baduel - Infelizmente já vimos como o poder judiciário em nosso país é submisso (...). Sem dúvida, poderíamos chegar a um extremo em que as pessoas que têm a responsabilidade (sobre a mobilização de tropas), por terem dado essas ordens, poderiam ser enquadradas no código da justiça militar. BBC - Você está convocando as Forças Armadas a não reconhecerem uma ordem presidencial? Raúl Baduel - Não. Esta é sua opinião. Em nenhum caso incitei às Forças Armadas a desobedecerem aos preceitos de obediência, subordinação e disciplina. Devo muito respeito à instituição e, por isso, acrescento que devemos ser extremamente cuidadosos quando nos referimos ao emprego das Forças Armadas. Mantenho contatos informais com muitos companheiros e companheiras na reserva e posso perceber a angústia, o espanto, a confusão que causa uma ordem desta natureza. BBC - Mas, em última instância, o comandante-em-chefe é o presidente da República. E se ele, eventualmente, desse uma ordem que determinasse o início de um conflito com a Colômbia, o que você recomendaria aos seus colegas militares? Raúl Baduel - A princípio, as ordens devem ter legalidade e legitimidade. As Forças Armadas estão estruturadas com um caráter eminentemente defensivo, em nenhum momento ofensivo. Não se materializou nenhuma violação ao nosso espaço territorial. Faço um chamado à população para não cairmos nos jogos perversos dos interesses pessoais e políticos do presidente Chávez. BBC - Você ficou sabendo diretamente sobre estes contatos entre a guerrilha e o governo venezuelano que a Colômbia está denunciando? Raúl Baduel - Em nenhum caso recebi, nem do presidente nem de nenhuma instância superior, uma ordem contrária ao que tem sido e é, por norma constitucional, a diretriz de atuação das Forças Armadas em relação à garantia de independência, à soberania da nação e à integridade territorial. BBC - Então, você poderia afirmar que estas acusações são falsas? Raúl Baduel - Não posso, no momento, fazer nenhuma avaliação e sempre procuro dar uma opinião com base em fundamentos certos (...). Entendo que, quando se toma a decisão de levar isto a uma instância, de levar isso ao Tribunal Penal Internacional, (as acusações) devem ter sido avaliadas em sua dimensão exata. Caberia, então, ao presidente Chávez, apresentar os desencargos perante estas acusações. BBC - No caso de um confronto entre o Exército venezuelano e o colombiano, o soldado venezuelano está bem preparado? Raúl Baduel - Como venezuelano e como militar da reserva, não poderia fazer uma avaliação exata da organização, da composição, da força e do poder relativo de combate de nossas Forças Armadas, pois eu também estaria desrespeitando as regras que já destaquei, do Código de Justiça Militar. Portanto, não posso fazer uma avaliação desta natureza de forma pública. BBC - Por que se afirma que o Exército colombiano é um Exército permanentemente mobilizado e muito bem equipado? Esta não seria uma preocupação quando se pensar em um confronto com este Exército? Raúl Baduel - Não há dúvidas que, devido a este problema antigo de segurança interna que o povo colombiano enfrenta, suas Forças Armadas adquiriram experiência suficiente em combate, o que deve ser valorizado. Mas, reitero que não me cabe fazer uma avaliação em uma medição de poder de combate entre as forças colombianas e venezuelanas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

O ex-ministro da Defesa da Venezuela e o principal aliado militar do presidente Hugo Chávez até o ano passado, Raúl Baduel, disse que Chávez transformou a crise diplomática envolvendo Colômbia e Equador em um "reality show" ao anunciar o envolvimento de tropas venezuelanas, que foram enviadas à fronteira colombiana. Em uma entrevista concedida à BBC antes da mobilização de forças venezuelanas na fronteira com a Colômbia nesta quarta-feira, Baduel disse que a crise está sendo usada por Chávez como uma estratégia para recuperar o apoio popular que, segundo o general, o presidente vinha perdendo. Até julho de 2007, Baduel foi ministro da Defesa de Chávez, mas ele rompeu sua ligação com o presidente por ser contra o projeto defendido por Chávez de reforma constitucional, derrotado em um referendo em dezembro de 2007. Em abril de 2004, Baduel foi considerado um dos responsáveis pela volta de Chávez ao poder, ao combater um golpe de Estado contra o atual presidente venezuelano. Leia os principais trechos da entrevista: BBC - Existe o risco de a Venezuela entrar em confronto com a Colômbia? Raúl Baduel - A maneira como as instruções foram dadas às Forças Armadas mostram um fim evidentemente político e deixam clara a pretensão do presidente Chávez de mostrar a Colômbia como um inimigo e, desta forma, apelar para o nacionalismo para recuperar o apoio popular que caiu sensivelmente depois dos resultados (do referendo) de dezembro de 2007. BBC - Mas ocorreu uma violação de soberania por parte da Colômbia em território equatoriano, e a Venezuela disse que existem razões para temer que algo semelhante possa ocorrer em seu território. Raúl Baduel - Neste caso, o Conselho de Defesa da Nação deveria ter sido convocado, é uma instância estabelecida para avaliar situações como esta. Quando vemos a forma como foram dadas as ordens, isso deixa claro que a intenção é política e pessoal do presidente Chávez. Poderíamos estar perante do estabelecido no Código Orgânico de Justiça Militar ou de delitos contra a segurança das Forças Armadas, pois está claramente estabelecido que revelar aspectos relativos a organização, composição, força, mobilização ou planos do componente armado da nação é classificado (como crime). BBC - Você se refere ao anúncio que o presidente Chávez fez em público no domingo passado, ordenando o envio de blindados e da aviação militar à fronteira? Raúl Baduel - Isso mesmo, essa não é a forma correta (de fazer esse anúncio). Em um caso dessa natureza, os interesses supremos da nação podem ser comprometidos e, portanto, isto não pode ser tema de um reality show. (Não pode ser) uma decisão impulsiva (...) Como se estivéssemos produzindo um filme. BBC - Em sua opinião, isto poderia ser usado contra o presidente? Raúl Baduel - Infelizmente já vimos como o poder judiciário em nosso país é submisso (...). Sem dúvida, poderíamos chegar a um extremo em que as pessoas que têm a responsabilidade (sobre a mobilização de tropas), por terem dado essas ordens, poderiam ser enquadradas no código da justiça militar. BBC - Você está convocando as Forças Armadas a não reconhecerem uma ordem presidencial? Raúl Baduel - Não. Esta é sua opinião. Em nenhum caso incitei às Forças Armadas a desobedecerem aos preceitos de obediência, subordinação e disciplina. Devo muito respeito à instituição e, por isso, acrescento que devemos ser extremamente cuidadosos quando nos referimos ao emprego das Forças Armadas. Mantenho contatos informais com muitos companheiros e companheiras na reserva e posso perceber a angústia, o espanto, a confusão que causa uma ordem desta natureza. BBC - Mas, em última instância, o comandante-em-chefe é o presidente da República. E se ele, eventualmente, desse uma ordem que determinasse o início de um conflito com a Colômbia, o que você recomendaria aos seus colegas militares? Raúl Baduel - A princípio, as ordens devem ter legalidade e legitimidade. As Forças Armadas estão estruturadas com um caráter eminentemente defensivo, em nenhum momento ofensivo. Não se materializou nenhuma violação ao nosso espaço territorial. Faço um chamado à população para não cairmos nos jogos perversos dos interesses pessoais e políticos do presidente Chávez. BBC - Você ficou sabendo diretamente sobre estes contatos entre a guerrilha e o governo venezuelano que a Colômbia está denunciando? Raúl Baduel - Em nenhum caso recebi, nem do presidente nem de nenhuma instância superior, uma ordem contrária ao que tem sido e é, por norma constitucional, a diretriz de atuação das Forças Armadas em relação à garantia de independência, à soberania da nação e à integridade territorial. BBC - Então, você poderia afirmar que estas acusações são falsas? Raúl Baduel - Não posso, no momento, fazer nenhuma avaliação e sempre procuro dar uma opinião com base em fundamentos certos (...). Entendo que, quando se toma a decisão de levar isto a uma instância, de levar isso ao Tribunal Penal Internacional, (as acusações) devem ter sido avaliadas em sua dimensão exata. Caberia, então, ao presidente Chávez, apresentar os desencargos perante estas acusações. BBC - No caso de um confronto entre o Exército venezuelano e o colombiano, o soldado venezuelano está bem preparado? Raúl Baduel - Como venezuelano e como militar da reserva, não poderia fazer uma avaliação exata da organização, da composição, da força e do poder relativo de combate de nossas Forças Armadas, pois eu também estaria desrespeitando as regras que já destaquei, do Código de Justiça Militar. Portanto, não posso fazer uma avaliação desta natureza de forma pública. BBC - Por que se afirma que o Exército colombiano é um Exército permanentemente mobilizado e muito bem equipado? Esta não seria uma preocupação quando se pensar em um confronto com este Exército? Raúl Baduel - Não há dúvidas que, devido a este problema antigo de segurança interna que o povo colombiano enfrenta, suas Forças Armadas adquiriram experiência suficiente em combate, o que deve ser valorizado. Mas, reitero que não me cabe fazer uma avaliação em uma medição de poder de combate entre as forças colombianas e venezuelanas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

O ex-ministro da Defesa da Venezuela e o principal aliado militar do presidente Hugo Chávez até o ano passado, Raúl Baduel, disse que Chávez transformou a crise diplomática envolvendo Colômbia e Equador em um "reality show" ao anunciar o envolvimento de tropas venezuelanas, que foram enviadas à fronteira colombiana. Em uma entrevista concedida à BBC antes da mobilização de forças venezuelanas na fronteira com a Colômbia nesta quarta-feira, Baduel disse que a crise está sendo usada por Chávez como uma estratégia para recuperar o apoio popular que, segundo o general, o presidente vinha perdendo. Até julho de 2007, Baduel foi ministro da Defesa de Chávez, mas ele rompeu sua ligação com o presidente por ser contra o projeto defendido por Chávez de reforma constitucional, derrotado em um referendo em dezembro de 2007. Em abril de 2004, Baduel foi considerado um dos responsáveis pela volta de Chávez ao poder, ao combater um golpe de Estado contra o atual presidente venezuelano. Leia os principais trechos da entrevista: BBC - Existe o risco de a Venezuela entrar em confronto com a Colômbia? Raúl Baduel - A maneira como as instruções foram dadas às Forças Armadas mostram um fim evidentemente político e deixam clara a pretensão do presidente Chávez de mostrar a Colômbia como um inimigo e, desta forma, apelar para o nacionalismo para recuperar o apoio popular que caiu sensivelmente depois dos resultados (do referendo) de dezembro de 2007. BBC - Mas ocorreu uma violação de soberania por parte da Colômbia em território equatoriano, e a Venezuela disse que existem razões para temer que algo semelhante possa ocorrer em seu território. Raúl Baduel - Neste caso, o Conselho de Defesa da Nação deveria ter sido convocado, é uma instância estabelecida para avaliar situações como esta. Quando vemos a forma como foram dadas as ordens, isso deixa claro que a intenção é política e pessoal do presidente Chávez. Poderíamos estar perante do estabelecido no Código Orgânico de Justiça Militar ou de delitos contra a segurança das Forças Armadas, pois está claramente estabelecido que revelar aspectos relativos a organização, composição, força, mobilização ou planos do componente armado da nação é classificado (como crime). BBC - Você se refere ao anúncio que o presidente Chávez fez em público no domingo passado, ordenando o envio de blindados e da aviação militar à fronteira? Raúl Baduel - Isso mesmo, essa não é a forma correta (de fazer esse anúncio). Em um caso dessa natureza, os interesses supremos da nação podem ser comprometidos e, portanto, isto não pode ser tema de um reality show. (Não pode ser) uma decisão impulsiva (...) Como se estivéssemos produzindo um filme. BBC - Em sua opinião, isto poderia ser usado contra o presidente? Raúl Baduel - Infelizmente já vimos como o poder judiciário em nosso país é submisso (...). Sem dúvida, poderíamos chegar a um extremo em que as pessoas que têm a responsabilidade (sobre a mobilização de tropas), por terem dado essas ordens, poderiam ser enquadradas no código da justiça militar. BBC - Você está convocando as Forças Armadas a não reconhecerem uma ordem presidencial? Raúl Baduel - Não. Esta é sua opinião. Em nenhum caso incitei às Forças Armadas a desobedecerem aos preceitos de obediência, subordinação e disciplina. Devo muito respeito à instituição e, por isso, acrescento que devemos ser extremamente cuidadosos quando nos referimos ao emprego das Forças Armadas. Mantenho contatos informais com muitos companheiros e companheiras na reserva e posso perceber a angústia, o espanto, a confusão que causa uma ordem desta natureza. BBC - Mas, em última instância, o comandante-em-chefe é o presidente da República. E se ele, eventualmente, desse uma ordem que determinasse o início de um conflito com a Colômbia, o que você recomendaria aos seus colegas militares? Raúl Baduel - A princípio, as ordens devem ter legalidade e legitimidade. As Forças Armadas estão estruturadas com um caráter eminentemente defensivo, em nenhum momento ofensivo. Não se materializou nenhuma violação ao nosso espaço territorial. Faço um chamado à população para não cairmos nos jogos perversos dos interesses pessoais e políticos do presidente Chávez. BBC - Você ficou sabendo diretamente sobre estes contatos entre a guerrilha e o governo venezuelano que a Colômbia está denunciando? Raúl Baduel - Em nenhum caso recebi, nem do presidente nem de nenhuma instância superior, uma ordem contrária ao que tem sido e é, por norma constitucional, a diretriz de atuação das Forças Armadas em relação à garantia de independência, à soberania da nação e à integridade territorial. BBC - Então, você poderia afirmar que estas acusações são falsas? Raúl Baduel - Não posso, no momento, fazer nenhuma avaliação e sempre procuro dar uma opinião com base em fundamentos certos (...). Entendo que, quando se toma a decisão de levar isto a uma instância, de levar isso ao Tribunal Penal Internacional, (as acusações) devem ter sido avaliadas em sua dimensão exata. Caberia, então, ao presidente Chávez, apresentar os desencargos perante estas acusações. BBC - No caso de um confronto entre o Exército venezuelano e o colombiano, o soldado venezuelano está bem preparado? Raúl Baduel - Como venezuelano e como militar da reserva, não poderia fazer uma avaliação exata da organização, da composição, da força e do poder relativo de combate de nossas Forças Armadas, pois eu também estaria desrespeitando as regras que já destaquei, do Código de Justiça Militar. Portanto, não posso fazer uma avaliação desta natureza de forma pública. BBC - Por que se afirma que o Exército colombiano é um Exército permanentemente mobilizado e muito bem equipado? Esta não seria uma preocupação quando se pensar em um confronto com este Exército? Raúl Baduel - Não há dúvidas que, devido a este problema antigo de segurança interna que o povo colombiano enfrenta, suas Forças Armadas adquiriram experiência suficiente em combate, o que deve ser valorizado. Mas, reitero que não me cabe fazer uma avaliação em uma medição de poder de combate entre as forças colombianas e venezuelanas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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