É noite. A fumaça sobe no Campo Belo, zona sul. Vem do quintal de uma casa desapropriada pelo Estado para construção da Linha 17-Ouro do Metrô. Mas a fuligem não parte dos serviços de demolição ou soldagem de metais. A origem é uma churrasqueira, comandada por funcionários administrativos da obra. A confraternização deixa indignados vizinhos incluídos na relação de despejo.O professor de Matemática Thiago Rodrigo Alves Carneiro, de 32 anos, é um deles. Da janela de casa, ele fotografou o último churrasco realizado por empregados da empresa terceirizada contratada para a obra. A festa foi na quarta-feira (10) e, segundo Carneiro, também teve participação de funcionários do Metrô. A companhia estadual não comentou a realização do evento."Tinha bastante barulho e fumaça", conta o vizinho, que não concorda com o uso dado pelos funcionários a um imóvel considerado de interesse público. "O que mais nos revolta é imaginar que estão nos pressionando para sair de casa antes mesmo de recebermos o dinheiro (da indenização). Alegam urgência. Aí pegam a casa do lado para fazer churrasco?"Segundo o professor, a confraternização durou cerca de quatro horas - começou por volta das 18 horas e terminou antes das 22 horas. E não foi a única. Ele diz que outro churrasco já havia ocorrido no local em agosto.ApeloAssim como muitos vizinhos, a família de Carneiro, que mora há 40 anos no bairro, trava uma batalha jurídica pelo pagamento de um valor justo na desapropriação. Segundo os moradores, o Metrô paga menos do que o valor de mercado.Já a advogada do antigo dono do imóvel onde funcionários terceirizados foram flagrados fazendo churrasco, Maria José Santiago Lema Ledesma, concorda que, embora não seja proibida, a promoção de festas no local foge da finalidade da desocupação da casa, antes locada para um escritório. Para ela, a atitude é desrespeitosa. "Enquanto uns estão sofrendo, outros se divertem."O Metrô informou apenas que o imóvel onde ocorreram os churrascos é usado atualmente "para dar apoio às obras de construção dos pilares". Os funcionários da empresa contratada pelo governo foram procurados pela reportagem, mas se negaram a dar entrevista. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo
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