ENCANTADO (RS) - As cidades afetadas pela passagem do ciclone no interior do Rio Grande do Sul se dividem entre a expectativa de novos temporais e as tentativas de ajudar as vítimas da tragédia. O fenômeno climático deixou ao menos 41 mortos no Estado, além de nove desaparecidos e mais de seis mil pessoas tiveram de sair de casa. Em Encantado, município do Vale do Taquari a 145 quilômetros de Porto Alegre, cerca de 250 famílias desabrigadas estão no ginásio de esportes local.
“A água invadiu muito rápido a casa, quando vi estava tudo alagado. Perdemos tudo. Nunca tinha visto uma enchente como esta. Foi pior do que a de 2020′', diz André dos Santos, de 31 anos. Funcionário da indústria de erva-mate, ele vive com a mulher, Carla, de 35 anos, e quatros filhos. “Todos se salvaram, graças a Deus.”
Do lado de fora do ginásio, em uma casinha improvisada de madeira, Marilene Rodrigues, de 43 anos, e o marido, Tiago, de 41, foram salvos pelo bote dos bombeiros. “Parecia uma onda e levou tudo de dentro de casa. A residência da vizinha desabou e derrubou nosso telhado. Saímos com a ajuda de resgate e agora estamos aqui’', relata Marilene, que é dona de casa.
Moradores das áreas devastadas pelas chuvas e vendavais tiveram de se abrigar em telhados ou áreas mais altas, à espera de barcos ou helicópteros das equipes de resgate. Em Lajeado, uma mulher foi recolhida da água por um policial, mas o cabo que sustentava o PM e a vítima se rompeu. Ambos caíram de 20 metros de altura sobre o Rio Taquari.
Marilene e o companheiro, que não têm filhos, haviam perdido a casa antiga havia seis meses, em um incêndio. Agora lamentam a perda da nova residência, completamente destruída pela enchente.
A Defesa Civil Estadual contabiliza 79 municípios afetados, com 39 mortos, o maior número de vítimas por um fenômeno climático na história do Rio Grande do Sul. Os nove desaparecidos são da cidade de Muçum, onde 80% do território ficou alagado. Em Santa Catarina também foi registrado um óbito.
Há 3.575 pessoas desalojadas e 2.504 desabrigadas, e um total 56,8 mil afetados. Muitas casas sofreram danos por causa da ventania, da chuva e do granizo. Houve queda de energia em dezenas de cidades. Ao menos 14 pontes foram destruídas e ainda há muitos pontos de alagamentos.
Salão paroquial vira unidade de saúde improvisada
Em Encantado, as autoridades locais pedem que a prioridade de doações seja de produtos de limpeza e higiene pessoal. ‘’As vítimas precisam de vassouras, água sanitária, sabão, além de roupas íntimas, sabonetes, pasta de dente, escova de dente, absorventes. Comida, água e agasalhos já temos, por ora’', diz o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Douglas da Rosa Soares.
Em Roca Sales, uma das cidades mais afetadas pela tragédia, os equipamentos do hospital que não foram danificados pela água serão transferidos para um salão paroquial do município. Médicos, enfermeiros e funcionários darão atendimento e prestarão exames básicos no local provisório.
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Estado pode ter novos temporais no feriado
Depois da passagem do ciclone extratropical sobre o litoral do Rio Grande do Sul e do Uruguai, temporais devem atingir novamente a região. Segundo a Climatempo, novas áreas de nuvens carregadas se formaram sobre parte do Estado e no Uruguai. No decorrer desta quinta-feira, 7, feriado da Independência do Brasil, as nuvens se espalham sobre o Rio Grande do Sul.
“A chuva mais volumosa deve ocorrer no centro-sul do Estado. No norte gaúcho e na Grande Porto Alegre, o sol até pode aparecer um pouco, mas a chuva ocorre a qualquer hora e também pode ser forte”, acrescenta a Climatempo.