Com minoria, Lugo terá que equilibrar disputas para governar


Presidente eleito terá de enfrentar problemas no Congresso e em sua base.

Por Alessandra Corrêa

Depois de vencer a batalha nas urnas, em abril, o ex-bispo católico Fernando Lugo assume a Presidência do Paraguai nesta sexta-feira com o desafio de garantir a governabilidade de sua gestão. Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil na capital paraguaia, Assunção, sem maioria no Congresso e com uma coalizão formada por partidos de diversas correntes ideológicas, Lugo terá de fazer muitas negociações, tanto com a oposição como dentro do próprio governo. "(Lugo) já começa com problema de governabilidade", diz o analista político Edwin Britez, colunista do jornal ABC Color. "(O governo) terá dificuldade em aprovar reformas", afirma. A coalizão que levou Lugo ao poder, batizada de Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em espanhol), reúne desde o Partido Liberal (PLRA), que é, ao lado do Partido Colorado, o mais tradicional do Paraguai, até pequenas siglas e movimentos de esquerda. Essa aliança obteve uma vitória histórica nas eleições, encerrando 61 anos de poder do Partido Colorado. Não conseguiu, porém, maioria no Congresso. Sem essa maioria, segundo analistas, Lugo terá de buscar apoio em alguns setores do Partido Colorado ou no partido União Nacional de Cidadãos Éticos (Unace), do general Lino Oviedo, para aprovar seus projetos. "No Paraguai se fazem alianças às vezes impensáveis", diz o analista econômico Fernando Masi. "O presidente eleito fez alianças, tanto no Senado como na Câmara, com os oviedistas, mas também com os partidários de Nicanor (o atual presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos) no Partido Colorado, quando se poderia pensar que buscaria os partidários de (Luis) Castiglioni (ex-vice-presidente que perdeu a disputa interna do Partido Colorado para concorrer à Presidência)", afirma. O embaixador brasileiro no Paraguai, Valter Pecly Moreira, afirma que há um certo estranhamento porque é a primeira vez que um governo paraguaio vai precisar negociar desta maneira. "Nós no Brasil estamos acostumados, nenhum governo tem maioria", diz Pecly. "Aqui não, então todo mundo estranha. Mas vão ter que aprender. É a única maneira de ter uma certa tranqüilidade no Congresso, para que os projetos possam ser aprovados", afirma o embaixador. Divergências Se no Congresso as negociações têm o objetivo de garantir a aprovação de reformas, dentro do governo elas são necessárias para resolver divergências e acomodar as diferentes forças políticas que formam sua coalizão. "Lugo chegou ao poder sem ter uma equipe de trabalho", afirma Britez. "As primeiras nomeações já enfrentam resistência", diz o analista político.Esse difícil equilíbrio de forças dentro do governo, conforme analistas, também representa um risco à governabilidade. "Dentro da mesma Aliança Patriótica para a Mudança, Lugo nomeou membros do Partido Liberal, mas também outros que não necessariamente respondem a certos partidos e movimentos muito claros", afirma Masi.Segundo o analista econômico, a falta de experiência do novo governo pode ser outro desafio. "Há pouca experiência de manejo de Estado, porque foram 61 anos de domínio do Partido Colorado", diz Masi. "Portanto, creio que vai haver um tempo de problemas de governabilidade mesmo dentro da APC no manejo do poder Executivo." Movimentos sociais A poucos dias da posse, o governo também enfrenta crescente pressão de alguns movimentos sociais e de camponeses. Nos últimos dias, diversas organizações de sem-terra e pequenos agricultores estão anunciando que irão invadir fazendas em todo o país a partir de sábado, para pressionar o governo a implementar a reforma agrária prometida durante a campanha. O presidente eleito tem um histórico de atuação em movimentos sociais e recebeu o apoio desses setores em sua campanha. O analista político Edwin Britez afirma, porém, que Lugo "não é dos sem-terra, nem dos sem-teto, nem dos sindicatos, mas sim da cúpula de um movimento que queria derrubar o Partido Colorado". "O risco é que caia no populismo", diz Britez. "Terá de buscar apoio nas bases, se não obtiver no Parlamento." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Depois de vencer a batalha nas urnas, em abril, o ex-bispo católico Fernando Lugo assume a Presidência do Paraguai nesta sexta-feira com o desafio de garantir a governabilidade de sua gestão. Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil na capital paraguaia, Assunção, sem maioria no Congresso e com uma coalizão formada por partidos de diversas correntes ideológicas, Lugo terá de fazer muitas negociações, tanto com a oposição como dentro do próprio governo. "(Lugo) já começa com problema de governabilidade", diz o analista político Edwin Britez, colunista do jornal ABC Color. "(O governo) terá dificuldade em aprovar reformas", afirma. A coalizão que levou Lugo ao poder, batizada de Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em espanhol), reúne desde o Partido Liberal (PLRA), que é, ao lado do Partido Colorado, o mais tradicional do Paraguai, até pequenas siglas e movimentos de esquerda. Essa aliança obteve uma vitória histórica nas eleições, encerrando 61 anos de poder do Partido Colorado. Não conseguiu, porém, maioria no Congresso. Sem essa maioria, segundo analistas, Lugo terá de buscar apoio em alguns setores do Partido Colorado ou no partido União Nacional de Cidadãos Éticos (Unace), do general Lino Oviedo, para aprovar seus projetos. "No Paraguai se fazem alianças às vezes impensáveis", diz o analista econômico Fernando Masi. "O presidente eleito fez alianças, tanto no Senado como na Câmara, com os oviedistas, mas também com os partidários de Nicanor (o atual presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos) no Partido Colorado, quando se poderia pensar que buscaria os partidários de (Luis) Castiglioni (ex-vice-presidente que perdeu a disputa interna do Partido Colorado para concorrer à Presidência)", afirma. O embaixador brasileiro no Paraguai, Valter Pecly Moreira, afirma que há um certo estranhamento porque é a primeira vez que um governo paraguaio vai precisar negociar desta maneira. "Nós no Brasil estamos acostumados, nenhum governo tem maioria", diz Pecly. "Aqui não, então todo mundo estranha. Mas vão ter que aprender. É a única maneira de ter uma certa tranqüilidade no Congresso, para que os projetos possam ser aprovados", afirma o embaixador. Divergências Se no Congresso as negociações têm o objetivo de garantir a aprovação de reformas, dentro do governo elas são necessárias para resolver divergências e acomodar as diferentes forças políticas que formam sua coalizão. "Lugo chegou ao poder sem ter uma equipe de trabalho", afirma Britez. "As primeiras nomeações já enfrentam resistência", diz o analista político.Esse difícil equilíbrio de forças dentro do governo, conforme analistas, também representa um risco à governabilidade. "Dentro da mesma Aliança Patriótica para a Mudança, Lugo nomeou membros do Partido Liberal, mas também outros que não necessariamente respondem a certos partidos e movimentos muito claros", afirma Masi.Segundo o analista econômico, a falta de experiência do novo governo pode ser outro desafio. "Há pouca experiência de manejo de Estado, porque foram 61 anos de domínio do Partido Colorado", diz Masi. "Portanto, creio que vai haver um tempo de problemas de governabilidade mesmo dentro da APC no manejo do poder Executivo." Movimentos sociais A poucos dias da posse, o governo também enfrenta crescente pressão de alguns movimentos sociais e de camponeses. Nos últimos dias, diversas organizações de sem-terra e pequenos agricultores estão anunciando que irão invadir fazendas em todo o país a partir de sábado, para pressionar o governo a implementar a reforma agrária prometida durante a campanha. O presidente eleito tem um histórico de atuação em movimentos sociais e recebeu o apoio desses setores em sua campanha. O analista político Edwin Britez afirma, porém, que Lugo "não é dos sem-terra, nem dos sem-teto, nem dos sindicatos, mas sim da cúpula de um movimento que queria derrubar o Partido Colorado". "O risco é que caia no populismo", diz Britez. "Terá de buscar apoio nas bases, se não obtiver no Parlamento." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Depois de vencer a batalha nas urnas, em abril, o ex-bispo católico Fernando Lugo assume a Presidência do Paraguai nesta sexta-feira com o desafio de garantir a governabilidade de sua gestão. Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil na capital paraguaia, Assunção, sem maioria no Congresso e com uma coalizão formada por partidos de diversas correntes ideológicas, Lugo terá de fazer muitas negociações, tanto com a oposição como dentro do próprio governo. "(Lugo) já começa com problema de governabilidade", diz o analista político Edwin Britez, colunista do jornal ABC Color. "(O governo) terá dificuldade em aprovar reformas", afirma. A coalizão que levou Lugo ao poder, batizada de Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em espanhol), reúne desde o Partido Liberal (PLRA), que é, ao lado do Partido Colorado, o mais tradicional do Paraguai, até pequenas siglas e movimentos de esquerda. Essa aliança obteve uma vitória histórica nas eleições, encerrando 61 anos de poder do Partido Colorado. Não conseguiu, porém, maioria no Congresso. Sem essa maioria, segundo analistas, Lugo terá de buscar apoio em alguns setores do Partido Colorado ou no partido União Nacional de Cidadãos Éticos (Unace), do general Lino Oviedo, para aprovar seus projetos. "No Paraguai se fazem alianças às vezes impensáveis", diz o analista econômico Fernando Masi. "O presidente eleito fez alianças, tanto no Senado como na Câmara, com os oviedistas, mas também com os partidários de Nicanor (o atual presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos) no Partido Colorado, quando se poderia pensar que buscaria os partidários de (Luis) Castiglioni (ex-vice-presidente que perdeu a disputa interna do Partido Colorado para concorrer à Presidência)", afirma. O embaixador brasileiro no Paraguai, Valter Pecly Moreira, afirma que há um certo estranhamento porque é a primeira vez que um governo paraguaio vai precisar negociar desta maneira. "Nós no Brasil estamos acostumados, nenhum governo tem maioria", diz Pecly. "Aqui não, então todo mundo estranha. Mas vão ter que aprender. É a única maneira de ter uma certa tranqüilidade no Congresso, para que os projetos possam ser aprovados", afirma o embaixador. Divergências Se no Congresso as negociações têm o objetivo de garantir a aprovação de reformas, dentro do governo elas são necessárias para resolver divergências e acomodar as diferentes forças políticas que formam sua coalizão. "Lugo chegou ao poder sem ter uma equipe de trabalho", afirma Britez. "As primeiras nomeações já enfrentam resistência", diz o analista político.Esse difícil equilíbrio de forças dentro do governo, conforme analistas, também representa um risco à governabilidade. "Dentro da mesma Aliança Patriótica para a Mudança, Lugo nomeou membros do Partido Liberal, mas também outros que não necessariamente respondem a certos partidos e movimentos muito claros", afirma Masi.Segundo o analista econômico, a falta de experiência do novo governo pode ser outro desafio. "Há pouca experiência de manejo de Estado, porque foram 61 anos de domínio do Partido Colorado", diz Masi. "Portanto, creio que vai haver um tempo de problemas de governabilidade mesmo dentro da APC no manejo do poder Executivo." Movimentos sociais A poucos dias da posse, o governo também enfrenta crescente pressão de alguns movimentos sociais e de camponeses. Nos últimos dias, diversas organizações de sem-terra e pequenos agricultores estão anunciando que irão invadir fazendas em todo o país a partir de sábado, para pressionar o governo a implementar a reforma agrária prometida durante a campanha. O presidente eleito tem um histórico de atuação em movimentos sociais e recebeu o apoio desses setores em sua campanha. O analista político Edwin Britez afirma, porém, que Lugo "não é dos sem-terra, nem dos sem-teto, nem dos sindicatos, mas sim da cúpula de um movimento que queria derrubar o Partido Colorado". "O risco é que caia no populismo", diz Britez. "Terá de buscar apoio nas bases, se não obtiver no Parlamento." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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