SALVADOR - A facção carioca Comando Vermelho está se estabelecendo em Salvador, de acordo com o que indicam pichações em muros da capital baiana, além de mensagens de WhatsApp e monitoramento realizado pela polícia. A informação foi originalmente publicada pelo jornal Correio da Bahia e foi confirmada pelo Estadão.
A chegada do grupo às terras baianas aconteceu durante a pandemia do novo coronavírus e se deu através de uma aliança feita com uma facção local, a Comando da Paz, que foi criada em 2007. Agora, a CP, como é popularmente conhecida, funciona como uma célula do Comando Vermelho, que já tinha o hábito de fornecer armas e drogas para criminosos do Estado.
Um dos principais locais de Salvador que estão no domínio do CV é o Complexo do Nordeste de Amaralina, que também engloba os bairros de Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho. É na frente de uma base comunitária do bairro de Santa Cruz e a menos de 500 metros da 40ª Companhia Independente da Polícia Militar que, em cor vermelha, a pichação “CP” e “CV” foram feitas. Após a reportagem do Correio, as pichações foram apagadas.
Nos grupos de WhatsApp, uma mensagem atribuída aos integrantes baianos do Comando Vermelho lamentava a morte do traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, uma das principais lideranças da facção. Elias foi encontrado morto na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Ele foi condenado a 28 anos e seis meses de prisão pelo assassinato do jornalista Tim Lopes.
O texto compartilhado dizia ainda que a facção possui o comando de 26 localidades baianas, da capital e interior. “Dentro dos presídios baianos, já têm integrantes tanto do CV como do Primeiro Comando da Capital (PCC). De certa forma, eles já estavam presentes na Bahia. O que pode estar acontecendo agora é uma oficialização, se é que podemos usar esse termo”, explicou o especialista em segurança pública e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia - Estácio FIB, coronel Antônio Jorge.
Para ele, essa oficialização pode trazer consequências para a segurança pública do Estado. “A chegada do Comando Vermelho muda a identificação das ocorrências ligadas ao narcotráfico. Poderemos ter um acirramento dos confrontos para conquista de território, como já ocorreu em outros estados”, disse.
O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em segurança pública, Rafael Alcadipani, lembrou que tanto o PCC como CV possuem uma disputa nacional e que os integrantes entram em conflito para controlar territórios. “O PCC já está presente na Bahia há cerca de seis anos, após começar sua expansão nacional. Para o Comando Vermelho, é uma questão de posicionamento estratégico ir para a Bahia e ocupar mais posições nesse jogo de xadrez que é o crime organizado do Brasil”, disse.
Também para o professor Rafael, a consequência disso tudo pode ser o aumento da violência no Estado. “Podemos ver crescimento no número de homicídios e de disputas em bairros pelo controle do tráfico. No Ceará, tivemos recentemente problemas graves por causa de uma guerra de facções. Nós sabemos que o Comando Vermelho é menos estruturado do que o PCC, mas as características de violência são parecidas”, afirmou.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia disse que qualquer organização criminosa que almeje se instalar na Bahia será combatida com ações de inteligência e de repressão. “Em 2020, o trabalho contra o tráfico de drogas apreendeu, até agosto, 3,2 toneladas de cocaína, número 913% maior do que o de 2019, e 10 toneladas de maconha, representando um aumento de 54%, na comparação com o mesmo período do ano passado”, disseram.