Comerciante tinha multas de mais de cem veículos


Ele foi procurado por despachante que explicou que esquema pagava[br]R$ 1,5 mil a motoristas para assumir a pontuação de infratores

Por Valéria França

Em agosto de 2004, Sérgio Kazama, comerciante de 46 anos, começou a receber notificações do Detran, referentes a multas de veículos que não lhe pertenciam. "Eram mais de cem carros diferentes, alguns de São Paulo, outros do interior do Estado", diz Kazama, que acabara de voltar do Japão, onde ficou trabalhando por sete anos. Espantado com tanta multa, ele foi ao setor de pontos do Detran resolver a situação. Não conseguiu. Aconselharam que tentasse a corregedoria. "Lá, soube que não era a única vítima. Havia uma pasta cheia de motoristas na mesma situação." Pouco tempo depois, Kazama recebeu uma visita inesperada em sua casa. Tratava-se de um despachante, um cinquentão, grisalho e meio gordinho. "Ele se apresentou como Wilson, e disse ?ter contatos? com um funcionário da auto-escola Silva Moreira, na zona norte, onde eu havia feito aulas de direção, quando voltei do Japão. Depois que renovei minha carteira de motorista, resolvi fazer umas aulinhas porque estava sem prática", explica. Segundo Kazama, na auto-escola tirara xerox de seus documentos. "Acho que foi assim que conseguiram as informações sobre a minha carta para transferirem os pontos." Assustado com a investigação da corregedoria, que estava perto de chegar ao seu nome, o despachante ofereceu a Kazama sumir com os pontos se, em troca, retirasse a queixa. Disse ainda que ele havia pago a um funcionário da escola, chamado Marcelo, R$ 1,5 mil, quantia essa que deveria ser repassada ao dono do prontuário para o qual os pontos seriam transferidos. Kazama explicou que não havia embolsado nada e que nem sabia desse esquema. Os dois foram juntos à auto-escola. O proprietário do negócio disse que Marcelo era seu filho, mas que não sabia do esquema. Wilson explicou que Marcelo havia passado a habilitação de outros motoristas, inclusive a de Marcos de Souza Carvalho, que também havia registrado queixa na corregedoria. Então, virou-se para Kazama, e disse que poderia zerar a carteira, exatamente como teria feito com Carvalho. "Mas ele disse que eu teria de assinar um prontuário. Fiquei com o papel e fui direto à corregedoria. E só assim acreditaram na minha inocência." Kazama se livrou dos pontos um ano depois que deu queixa. A auto-escola, da zona norte, fechou. CHACOTA Entre as vítimas do golpe, até um policial foi surpreendido ao receber uma notificação de que sua carteira estava suspensa. O motivo: excesso de pontos provenientes de infrações de mais de uma centena de veículos que nunca foram de sua propriedade. Assim como Kazama, ele foi à corregedoria registrar queixa sobre o caso. Nessa hora, ficou sabendo que os pontos de sua carteira saíram da Ciretran de Osasco, de forma irregular. O policial virou motivo de chacota entre os colegas.

Em agosto de 2004, Sérgio Kazama, comerciante de 46 anos, começou a receber notificações do Detran, referentes a multas de veículos que não lhe pertenciam. "Eram mais de cem carros diferentes, alguns de São Paulo, outros do interior do Estado", diz Kazama, que acabara de voltar do Japão, onde ficou trabalhando por sete anos. Espantado com tanta multa, ele foi ao setor de pontos do Detran resolver a situação. Não conseguiu. Aconselharam que tentasse a corregedoria. "Lá, soube que não era a única vítima. Havia uma pasta cheia de motoristas na mesma situação." Pouco tempo depois, Kazama recebeu uma visita inesperada em sua casa. Tratava-se de um despachante, um cinquentão, grisalho e meio gordinho. "Ele se apresentou como Wilson, e disse ?ter contatos? com um funcionário da auto-escola Silva Moreira, na zona norte, onde eu havia feito aulas de direção, quando voltei do Japão. Depois que renovei minha carteira de motorista, resolvi fazer umas aulinhas porque estava sem prática", explica. Segundo Kazama, na auto-escola tirara xerox de seus documentos. "Acho que foi assim que conseguiram as informações sobre a minha carta para transferirem os pontos." Assustado com a investigação da corregedoria, que estava perto de chegar ao seu nome, o despachante ofereceu a Kazama sumir com os pontos se, em troca, retirasse a queixa. Disse ainda que ele havia pago a um funcionário da escola, chamado Marcelo, R$ 1,5 mil, quantia essa que deveria ser repassada ao dono do prontuário para o qual os pontos seriam transferidos. Kazama explicou que não havia embolsado nada e que nem sabia desse esquema. Os dois foram juntos à auto-escola. O proprietário do negócio disse que Marcelo era seu filho, mas que não sabia do esquema. Wilson explicou que Marcelo havia passado a habilitação de outros motoristas, inclusive a de Marcos de Souza Carvalho, que também havia registrado queixa na corregedoria. Então, virou-se para Kazama, e disse que poderia zerar a carteira, exatamente como teria feito com Carvalho. "Mas ele disse que eu teria de assinar um prontuário. Fiquei com o papel e fui direto à corregedoria. E só assim acreditaram na minha inocência." Kazama se livrou dos pontos um ano depois que deu queixa. A auto-escola, da zona norte, fechou. CHACOTA Entre as vítimas do golpe, até um policial foi surpreendido ao receber uma notificação de que sua carteira estava suspensa. O motivo: excesso de pontos provenientes de infrações de mais de uma centena de veículos que nunca foram de sua propriedade. Assim como Kazama, ele foi à corregedoria registrar queixa sobre o caso. Nessa hora, ficou sabendo que os pontos de sua carteira saíram da Ciretran de Osasco, de forma irregular. O policial virou motivo de chacota entre os colegas.

Em agosto de 2004, Sérgio Kazama, comerciante de 46 anos, começou a receber notificações do Detran, referentes a multas de veículos que não lhe pertenciam. "Eram mais de cem carros diferentes, alguns de São Paulo, outros do interior do Estado", diz Kazama, que acabara de voltar do Japão, onde ficou trabalhando por sete anos. Espantado com tanta multa, ele foi ao setor de pontos do Detran resolver a situação. Não conseguiu. Aconselharam que tentasse a corregedoria. "Lá, soube que não era a única vítima. Havia uma pasta cheia de motoristas na mesma situação." Pouco tempo depois, Kazama recebeu uma visita inesperada em sua casa. Tratava-se de um despachante, um cinquentão, grisalho e meio gordinho. "Ele se apresentou como Wilson, e disse ?ter contatos? com um funcionário da auto-escola Silva Moreira, na zona norte, onde eu havia feito aulas de direção, quando voltei do Japão. Depois que renovei minha carteira de motorista, resolvi fazer umas aulinhas porque estava sem prática", explica. Segundo Kazama, na auto-escola tirara xerox de seus documentos. "Acho que foi assim que conseguiram as informações sobre a minha carta para transferirem os pontos." Assustado com a investigação da corregedoria, que estava perto de chegar ao seu nome, o despachante ofereceu a Kazama sumir com os pontos se, em troca, retirasse a queixa. Disse ainda que ele havia pago a um funcionário da escola, chamado Marcelo, R$ 1,5 mil, quantia essa que deveria ser repassada ao dono do prontuário para o qual os pontos seriam transferidos. Kazama explicou que não havia embolsado nada e que nem sabia desse esquema. Os dois foram juntos à auto-escola. O proprietário do negócio disse que Marcelo era seu filho, mas que não sabia do esquema. Wilson explicou que Marcelo havia passado a habilitação de outros motoristas, inclusive a de Marcos de Souza Carvalho, que também havia registrado queixa na corregedoria. Então, virou-se para Kazama, e disse que poderia zerar a carteira, exatamente como teria feito com Carvalho. "Mas ele disse que eu teria de assinar um prontuário. Fiquei com o papel e fui direto à corregedoria. E só assim acreditaram na minha inocência." Kazama se livrou dos pontos um ano depois que deu queixa. A auto-escola, da zona norte, fechou. CHACOTA Entre as vítimas do golpe, até um policial foi surpreendido ao receber uma notificação de que sua carteira estava suspensa. O motivo: excesso de pontos provenientes de infrações de mais de uma centena de veículos que nunca foram de sua propriedade. Assim como Kazama, ele foi à corregedoria registrar queixa sobre o caso. Nessa hora, ficou sabendo que os pontos de sua carteira saíram da Ciretran de Osasco, de forma irregular. O policial virou motivo de chacota entre os colegas.

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