France Mabel Santos, de 51 anos, começou a trabalhar em uma biblioteca de uma escola privada em Aracaju, capital sergipana, em 2007. Era a primeira experiência dela na área. Nos primeiros anos, angustiou-se com o silêncio e o marasmo no local. “Não tinha a movimentação que eu achava que devia ter”, pensava. Um ano depois, essa angústia se transformou.
Incomodada com a atividade de só emprestar e devolver livros, France apresentou para a coordenação do colégio um projeto de contação de histórias para o ensino infantil e fundamental até o 2.º ano. Mas a escola preferiu estender até o 5.º ano. “Vai dar certo?”, indagava ela.
A dinâmica funciona assim: a cada 15 dias, ela conta uma história nas salas de aula e na biblioteca. No início, o único recurso era o livro. Depois, a iniciativa foi incluindo outros artefatos, como fantoche e pandeiro, para encantar as crianças. A narrativa, afirma Mabel, não precisa sempre ter uma moral para discussão, ou seja, é preciso também ensinar o aluno a ouvir para acessar as possibilidades de imaginação – a função recreativa.
Formada em Letras, ela resolveu fazer novo vestibular, estimulada pelo ofício, e começou o curso de Biblioteconomia e Documentação na Universidade Federal de Sergipe (UFS) em 2009. “Eu queria conhecer mais a área de atuação", afirma. E outros projetos foram surgindo.
Em 2013, France teve a ideia de criar uma boneca a partir de uma caixa de sapato para aproximar os estudantes do 1.º ano do ensino fundamental da biblioteca – e nasceu a Maria Livrão. Aos alunos, contava-se que a personagem fugiu do país dos livros por se cansar de tanto ler e foi para aquela turma por achar que ninguém ali gostava de leitura. A história desafiava os estudantes a mostrarem para a boneca a importância do hábito.
Durante um semestre, a Maria Livrão acompanhou o cotidiano dos estudantes. Ela tinha carteira na sala de aula e a professora passava atividades para a personagem.
“Eles a adotaram como se fosse uma colega”, conta France. O intuito foi apresentar a biblioteca para estimular o gosto pela leitura. Além do acervo, eles conheceram outras modalidades de leitura, como a digital.
A bibliotecária levou a Maria Livrão para a narrativa do Trilhou, um jogo desenvolvido no mestrado profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento da UFS. A ideia da ferramenta era mostrar aos alunos as etapas de uma pesquisa escolar – do reconhecimento das fontes de pesquisa, passando por fichamentos e referências bibliográficas – à introdução das crianças ao mundo da pesquisa. O jogo foi registrado este ano pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e é produzido em parceria com o Departamento de Computação da universidade. France afirma que se encontrou com a biblioteconomia. “A biblioteca me deu a possibilidade de crescer, de amar os livros.”