Em um confronto encabeçado por aliados dos governos federal e estadual, sem o protagonismo do PT, que serviu de vitrine nacional ao comandar a cidade por 16 anos, a disputa pela prefeitura de Porto Alegre terá efeito direto na composição das alianças de 2014 pelo comando do Estado. Os dois principais concorrentes, o pedetista e atual prefeito, José Fortunati, e a deputada do PCdoB Manuela D'Ávila, fazem parte da base de apoio do governador petista Tarso Genro, que deverá ser obrigado a abandonar a neutralidade, caso se confirme um segundo turno. Fortunati lidera a disputa, com 41 por cento das intenções de voto, seguido por Manuela, com 30 por cento, segundo pesquisa Datafolha desta semana. O candidato do PT, deputado estadual Adão Villaverde --7 por cento de intenções de voto, segundo a mesma pesquisa-- tem reduzidas chances de chegar à segunda fase da corrida eleitoral. De acordo com petistas, ele, que já foi secretário estadual, sofre por ser pouco conhecido na capital. "Ele é menos conhecido e paga um preço por isso", disse o presidente estadual do PT, Raul Pont. Entre os demais candidatos, o tucano Wambert di Lorenzo tem 1 por cento das intenções de voto --depois de o partido ter governado o Estado por quatro anos-- e está atrás de Roberto Robaina (PSOL), com 2 por cento na pesquisa. Enquanto petistas nutrem esperanças de reação de Villaverde com a entrada de Lula na campanha da TV na última segunda-feira, fontes do governo estadual afirmaram à Reuters que o crescimento de Fortunati evidenciado na última pesquisa traz a chance de uma definição ainda no primeiro turno. "Qualquer opção, em um segundo turno, traz perdas ao governo", disse à Reuters uma pessoa próxima ao governador. Fortunati, que chegou a ser vice-prefeito pelo PT nos anos 90, ainda tem forte identificação com o partido, mas é apoiado por adversários históricos da sigla na cidade, como o PMDB e PP. Já Manuela, que iniciou como líder estudantil, é deputada federal e concorre pela segunda vez à prefeitura, tem o apoio do PSB, partido do vice-governador Beto Grill. "Qualquer que seja a opção do partido, irá exigir uma rearrumação nas alianças (para 2014)", disse outra fonte do governo, também sob condição de anonimato. Uma possibilidade que não está nos planos do partido é optar pela neutralidade em caso de segundo turno entre os dois aliados. "Ainda há três semanas e não estamos discutindo o segundo turno sem nosso candidato... Mas uma coisa é certa: nós não temos aqui nenhuma tradição de neutralidade", afirmou Pont. A tendência, segundo duas das fontes do governo, é de apoio do PT a Manuela D'Ávila, que já tem em sua campanha a senadora Ana Amélia Lemos (PP), pré-candidata ao governo do Estado em 2014 --contrariando seu partido, oficialmente na campanha de Fortunati. DESIDRATAÇÃO E CANSAÇO Enquanto um segundo turno traz dificuldades à aliança que pode garantir a manutenção do governo petista no Estado, o PT da capital precisa lidar com sua visível desidratação e a falta de nomes para recuperar a tradição do partido. Para o cientista político Cláudio Couto, da FGV-SP, o eleitor é muito atraído por "bons produtos" eleitorais, e a candidata do PCdoB é talvez o melhor exemplo disso em Porto Alegre. "O PCdoB tem um produto político atraente e charmoso, então por que não lançar a candidatura?", questionou. O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), vai na mesma linha e diz que a força da candidata não significa que os comunistas têm força na capital gaúcha. "A Manuela também é um fenômeno. Quem esperaria que ela conseguiria fazer mais de 500 mil votos na última eleição?", disse ele sobre a deputada mais votada do Estado. Segundo Pont, a corrida eleitoral deste ano comprova o "desaparecimento aparente da direita" e a pulverização da esquerda, com o surgimento de outros candidatos em um campo político antes quase só representado pelo PT. "Para o eleitor, é difícil ver uma divergência profunda entre os candidatos", disse ele. "No conjunto, há uma certa lógica no eleitorado." (Reportagem adicional de Jeferson Ribeiro)