Se não fosse a ação de Joel de Oliveira, 62 anos, prestador de serviços de uma clínica de fisioterapia próxima ao Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no Paraná, o ataque à escola que matou dois alunos na segunda-feira, 19, poderia ter sido muito pior. Ele diz que, após ouvir sons dos tiros, foi até a escola, disse ao atirador que era policial e o imobilizou até a chegada das viaturas.
“Eu estava trabalhando na clínica do lado da escola, daí escutei o barulho de tiro e vi algumas crianças correndo. Fui até a rua e um rapaz me contou que tinha um atirador na escola. Encontrei várias crianças chorando e me disseram que tinha mais gente lá dentro, então resolvi entrar. Entrei com cuidado e ouvi ele atirando em uma vidraça. Eu saí por um lado e logo ele saiu pelo mesmo lado. Gritei para ele ficar parado, que eu era da polícia, então ele se deitou e consegui segurar ele no chão”, contou Oliveira ao Estadão.
Na hora, afirma Oliveira, ele nem pensou nos riscos e agiu de forma instintiva. “Foi tudo muito rápido. Eu tenho muitos amigos que têm filhos que estudam lá na escola, então nem consegui pensar muito. Eu saí correndo e vi se conseguia ajudar de alguma forma”, disse. Ele não tem qualquer experiência na área de segurança e nunca teve preparação para esse tipo de situação. “Agi totalmente no instinto para ajudar aquelas crianças.”
Inicialmente, o governador Ratinho Jr. (PSD) havia afirmado, na segunda-feira, 19, que atirador teria sido contido por um professor que tinha passado recentemente por um treinamento sobre como reagir em ataques a escolas.
Como aconteceu a tragédia?
Um ex-aluno, de 21 anos, entrou armado no Colégio Estadual Professora Helena Kolody na manhã de segunda-feira, por volta das 9 horas, alegando que solicitaria seu histórico escolar. Poucos minutos depois, ele se dirigiu até os alunos e atirou várias vezes, conforme as investigações. Pelo menos 16 disparos foram efetuados em direção às vítimas. Karoline Verri Alves, de 17 anos, não resistiu aos ferimentos e faleceu no local. Também atingido pelos disparos, Luan Augusto da Silva, de 16, veio a óbito às 3h27 da madrugada desta terça-feira, 20.
“Ainda não caiu totalmente a ficha do acontecido, porque foi tudo muito rápido, mas estou muito triste, muito chocado. Essa imagem que vi das crianças, desse momento de apavoramento, isso nunca vai sair da minha memória. Mas, no mesmo instante, fico feliz por ter ajudado as nossas crianças e grato a Deus por também ter me protegido”, conta Oliveira.
O autor dos disparos foi detido e encaminhado para Londrina. A polícia ainda investiga a motivação do crime. No começo da noite de segunda-feira, outro homem, também de 21 anos, foi preso por suspeita de ajudar a organizar o ataque.