Crônica, política e derivações

A homeopatia e a abordagem vitalista não são apenas necessárias, elas são inevitáveis


Por Paulo Rosenbaum

A homeopatia e a abordagem vitalista não são apenas necessárias, elas são inevitáveis.[1]

Damos as boas vindas à data 21 de novembro, o dia no qual a homeopatia foi oficialmente introduzida no Brasil através do médico francês Benoit Mure, que aportou por aqui em 1840.

A data representa simultaneamente dois simbolismos fundamentais, iremos falar aqui somente de um deles. O outro é pessoal e intimista demais para abordar no blog.

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Vivemos em mais um momento particularmente conturbado para a homeopatia, que vem sofrendo ataques com grande destaque nas mídias do mundo. O problema é que não se trata exatamente de objeções ou de uma legitima contestação cientificamente embasada. Não se verifica uma consistente evocação das deficiências metodológicas - existentes em todos os sistemas científicos abertos. As recentes agressões - um termo mais apropriado - trazem, em sua maioria, análises seletivas das pesquisas e um viés apriorístico incompatível com o pensar da ciência.

Por exemplo, já existem indícios de que as doses ultra moleculares não são meros placebos. Já há pesquisas qualitativas, elaboradas com questionários de qualidade de vida em saúde, que a terapêutica proposta pelos médicos homeopatas mostram benefícios importantes. Recentemente um importante estudo clínico randomizado "Homeopatia vs. cuidados primários convencionais em crianças durante os primeiros 24 meses de vida - um pragmático ensaio clínico controlado-randomizado"[2] mostrou como uma terapêutica homeopática cuidadosa pode ser um recurso importante no cuidado de crianças e recém-nascidos.

As referidas agressões recorrentes, em sua maioria, demonstram absoluta incompreensão do núcleo duro que rege a episteme que a fundamenta. Isso dito, fica claro que a campanha que tenta interditá-la como especialidade médica, tem uma motivação mais política ideológica do que propriamente epistemológica. E a origem mais provável deste tensionamento organizado é a iminente consolidação da inserção da homeopatia e das medicinas integrativas no Sistema Único de Saúde e seu crescimento como medicina complementar.

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Pode-se acusá-los de partisãs mas, apesar dos limites, não há sistema semiológico mais abrangente e terapeuticamente adequado do que este para cuidar e atender as pessoas. Se estiver integrada com outras especialidades médicas, mantiver seu eixo experimental intacto e permanecer com seu programa de pesquisas, a terapêutica baseada nos semelhantes apresenta um enorme potencial para oferecer aos sistemas de saúde. Decerto o que outros pesquisadores já detectaram é que a validação social destas práticas é inevitável, porque a homeopatia é inevitável.

Como se sabe, a primeira teoria médica adotada era a tóxica: os venenos que vinham de fora eram os principais responsáveis pelo adoecimento. Pois mesmo num ambiente como o que hora vivemos aqui no Brasil, quiçá no mundo, não poder ser descartada a hipótese de que uma peçonha psíquica externa esteja sendo injetada no ar, neste momento exato, através das redes sociais,  no ciberespaço e também fora dele. Nada de novo.

O psiquiatra alemão Wilhelm Reich já diagnosticara a existência de uma espécie de peste presente no "éter". Esta "praga" psíquica foi apelidada de "peste emocional" e ela é tão ou mais nociva que uma epidemia de peste bubônica, tifo ou febre amarela.

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E o que aprendemos com a tradição vitalista? Que a susceptibilidade é o aspecto mais determinante - ainda que não o único -- para desencadear o adoecimento. Que a primeira perturbação detectável pela própria natureza lábil das funções cerebrais, e do sistema nervoso central, se reflete primeiramente no estado anímico das pessoas. A primeiríssima afecção acontece na disposição física e no estado psíquico e isso é particularmente notável em crianças. Em geral, traduz-se por sensações pouco objetivas e, às vezes, de difícil detecção semiológica.

Dai a semiologia que é ensinada e aprendida em faculdades de medicina e ciências da saúde ser rigorosamente insuficiente para diagnosticar o mal estar sub clinico (illness) que antecede o aparecimento e desenvolvimento da própria moléstia (disease). E é precisamente neste momento que as medicinas integrativas -- como uma modalidade de medicina preventiva -- poderiam ajudar imensamente as pessoas e impedir a hiper concentração em atendimento terciário em hospitais e clínicas de especialidades.

O atendimento de alta complexidade ficaria para a maior parte dos casos agudos e emergências, e assim sobrariam recursos humanos e capacidade para intervir e cuidar das moléstias crônicas.

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Outro aspecto crítico que as ciências da saúde devem reconhecer é que apesar da fala e da narrativa se mostrarem como elementos semiológicos pertinentes e úteis existe uma enorme dificuldade para que os clínicos reaprendam a valorizar o que apreendem destas narrativas e de seus detalhamentos.

Para que saber qual lado do corpo é mais atingido? Qual a finalidade de registrar sonhos? O que significam as sensações fugazes como "sensação de corpo desmanchando" "cabeça leve", "do meu ouvido direito sai um vento" "a insônia piora depois das 3 horas da madrugada" "dor de cabeça como se alguém estivesse rosqueando um parafuso na testa" "se como chocolate é como se meu rosto desaparecesse" "sinto tontura quando ouço barulhos altos" ou "quando vejo noticiário político minha boca espuma".

Fora este último, todos os outros foram extraídos de narrativas reais, de experimentadores que expuseram seus sintomas a quem conduziu as experimentações. São as chamadas idiossincrasias, aquelas que mais individualizam os problemas clínicos das pessoas.

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Os pacientes estariam inventando? Não. Exageraram? Não importa. Pois não existe mentira em clínica. Mesmo se uma criança diga que ela não gosta de peixe e sua mãe, espantada, afirma que quase muito raramente este alimento é oferecido em casa. A aversão ao peixe deve ser levada em consideração, já que a linguagem expressa o imaginário. E ele possui uma realidade em si. Independentemente da checagem dos fatos concretos, que evidentemente também precisam ser examinados, testados laboratorialmente e comprovados.

No entanto, estes elementos, aparentemente parasitas, são importantes não somente para fazer valer o poderoso efeito catártico da consulta, mas também para adensar o conhecimento da pessoa enferma.

Samuel Hahnemann muito tempo antes do médico alemão  Otto Schwartz em seu icônico "Psicogênese dos sintomas corporais" já fazia as devidas correlações entre as emoções e as perturbações na saúde.

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Mas isso valeria, também, para avaliar o contexto do aparecimento dos sintomas. E tudo isso depende de que? Da linguagem, dos sintomas comunicados através da fala.

Outro aspecto que precisa ser desenvolvido é investigar melhor como ocorrem as curas. Pesquisadores notaram que a maior parte dos estudos epidemiológicos são destinados a compreender como as doenças surgem e evoluem, mas são bem mais raras aquelas investigações científicas que tentam apreender como é que elas são curadas.

Os homeopatas, aliados aos médicos clínicos e de especialidades que partilham de uma abordagem vitalista, devem aumentar sua presença no cenário público, e registrar não apenas como clínicos ciosos em seus deveres médicos, mas como pesquisadores, ou seja, documentar as evidencias clínicas que produzem diariamente.

Claro que também através das pesquisas formais sob os vários tipos de estudos, pesquisa básica e epidemiológicas: caso controle, questionários qualitativos, estudos de coorte, observacionais.

Mas aqui referimo-nos a dar testemunhos de suas atuações clínicas, tanto na medicina feita em seus consultórios, assim como na praticada na saúde publica, de suas várias formas de contribuição para a saúde das pessoas.

E assim, evidenciar que há um cuidado permanente, subjacente a todo trabalho médico : acompanhar o estado vital de cada sujeito ao longo da vida.

[1] Parte deste artigo fez parte do Editorial da Revista de Homeopatia da APH, Volume 85, 1, A Revista é editada ininterruptamente desde 1932, encontra-se indexada no LILACS e incluída em National Library of Medicine, EUA; EBSCO; DOAJ; Google Scholar; BVS (Biblioteca Virtual em Saúde).

[2] Oberbaum, M. et als. European Journal of Pediatrics (2024) 183:5455-5465 https://doi.org/10.1007/s00431-024-05791-1

 

A homeopatia e a abordagem vitalista não são apenas necessárias, elas são inevitáveis.[1]

Damos as boas vindas à data 21 de novembro, o dia no qual a homeopatia foi oficialmente introduzida no Brasil através do médico francês Benoit Mure, que aportou por aqui em 1840.

A data representa simultaneamente dois simbolismos fundamentais, iremos falar aqui somente de um deles. O outro é pessoal e intimista demais para abordar no blog.

Vivemos em mais um momento particularmente conturbado para a homeopatia, que vem sofrendo ataques com grande destaque nas mídias do mundo. O problema é que não se trata exatamente de objeções ou de uma legitima contestação cientificamente embasada. Não se verifica uma consistente evocação das deficiências metodológicas - existentes em todos os sistemas científicos abertos. As recentes agressões - um termo mais apropriado - trazem, em sua maioria, análises seletivas das pesquisas e um viés apriorístico incompatível com o pensar da ciência.

Por exemplo, já existem indícios de que as doses ultra moleculares não são meros placebos. Já há pesquisas qualitativas, elaboradas com questionários de qualidade de vida em saúde, que a terapêutica proposta pelos médicos homeopatas mostram benefícios importantes. Recentemente um importante estudo clínico randomizado "Homeopatia vs. cuidados primários convencionais em crianças durante os primeiros 24 meses de vida - um pragmático ensaio clínico controlado-randomizado"[2] mostrou como uma terapêutica homeopática cuidadosa pode ser um recurso importante no cuidado de crianças e recém-nascidos.

As referidas agressões recorrentes, em sua maioria, demonstram absoluta incompreensão do núcleo duro que rege a episteme que a fundamenta. Isso dito, fica claro que a campanha que tenta interditá-la como especialidade médica, tem uma motivação mais política ideológica do que propriamente epistemológica. E a origem mais provável deste tensionamento organizado é a iminente consolidação da inserção da homeopatia e das medicinas integrativas no Sistema Único de Saúde e seu crescimento como medicina complementar.

Pode-se acusá-los de partisãs mas, apesar dos limites, não há sistema semiológico mais abrangente e terapeuticamente adequado do que este para cuidar e atender as pessoas. Se estiver integrada com outras especialidades médicas, mantiver seu eixo experimental intacto e permanecer com seu programa de pesquisas, a terapêutica baseada nos semelhantes apresenta um enorme potencial para oferecer aos sistemas de saúde. Decerto o que outros pesquisadores já detectaram é que a validação social destas práticas é inevitável, porque a homeopatia é inevitável.

Como se sabe, a primeira teoria médica adotada era a tóxica: os venenos que vinham de fora eram os principais responsáveis pelo adoecimento. Pois mesmo num ambiente como o que hora vivemos aqui no Brasil, quiçá no mundo, não poder ser descartada a hipótese de que uma peçonha psíquica externa esteja sendo injetada no ar, neste momento exato, através das redes sociais,  no ciberespaço e também fora dele. Nada de novo.

O psiquiatra alemão Wilhelm Reich já diagnosticara a existência de uma espécie de peste presente no "éter". Esta "praga" psíquica foi apelidada de "peste emocional" e ela é tão ou mais nociva que uma epidemia de peste bubônica, tifo ou febre amarela.

E o que aprendemos com a tradição vitalista? Que a susceptibilidade é o aspecto mais determinante - ainda que não o único -- para desencadear o adoecimento. Que a primeira perturbação detectável pela própria natureza lábil das funções cerebrais, e do sistema nervoso central, se reflete primeiramente no estado anímico das pessoas. A primeiríssima afecção acontece na disposição física e no estado psíquico e isso é particularmente notável em crianças. Em geral, traduz-se por sensações pouco objetivas e, às vezes, de difícil detecção semiológica.

Dai a semiologia que é ensinada e aprendida em faculdades de medicina e ciências da saúde ser rigorosamente insuficiente para diagnosticar o mal estar sub clinico (illness) que antecede o aparecimento e desenvolvimento da própria moléstia (disease). E é precisamente neste momento que as medicinas integrativas -- como uma modalidade de medicina preventiva -- poderiam ajudar imensamente as pessoas e impedir a hiper concentração em atendimento terciário em hospitais e clínicas de especialidades.

O atendimento de alta complexidade ficaria para a maior parte dos casos agudos e emergências, e assim sobrariam recursos humanos e capacidade para intervir e cuidar das moléstias crônicas.

Outro aspecto crítico que as ciências da saúde devem reconhecer é que apesar da fala e da narrativa se mostrarem como elementos semiológicos pertinentes e úteis existe uma enorme dificuldade para que os clínicos reaprendam a valorizar o que apreendem destas narrativas e de seus detalhamentos.

Para que saber qual lado do corpo é mais atingido? Qual a finalidade de registrar sonhos? O que significam as sensações fugazes como "sensação de corpo desmanchando" "cabeça leve", "do meu ouvido direito sai um vento" "a insônia piora depois das 3 horas da madrugada" "dor de cabeça como se alguém estivesse rosqueando um parafuso na testa" "se como chocolate é como se meu rosto desaparecesse" "sinto tontura quando ouço barulhos altos" ou "quando vejo noticiário político minha boca espuma".

Fora este último, todos os outros foram extraídos de narrativas reais, de experimentadores que expuseram seus sintomas a quem conduziu as experimentações. São as chamadas idiossincrasias, aquelas que mais individualizam os problemas clínicos das pessoas.

Os pacientes estariam inventando? Não. Exageraram? Não importa. Pois não existe mentira em clínica. Mesmo se uma criança diga que ela não gosta de peixe e sua mãe, espantada, afirma que quase muito raramente este alimento é oferecido em casa. A aversão ao peixe deve ser levada em consideração, já que a linguagem expressa o imaginário. E ele possui uma realidade em si. Independentemente da checagem dos fatos concretos, que evidentemente também precisam ser examinados, testados laboratorialmente e comprovados.

No entanto, estes elementos, aparentemente parasitas, são importantes não somente para fazer valer o poderoso efeito catártico da consulta, mas também para adensar o conhecimento da pessoa enferma.

Samuel Hahnemann muito tempo antes do médico alemão  Otto Schwartz em seu icônico "Psicogênese dos sintomas corporais" já fazia as devidas correlações entre as emoções e as perturbações na saúde.

Mas isso valeria, também, para avaliar o contexto do aparecimento dos sintomas. E tudo isso depende de que? Da linguagem, dos sintomas comunicados através da fala.

Outro aspecto que precisa ser desenvolvido é investigar melhor como ocorrem as curas. Pesquisadores notaram que a maior parte dos estudos epidemiológicos são destinados a compreender como as doenças surgem e evoluem, mas são bem mais raras aquelas investigações científicas que tentam apreender como é que elas são curadas.

Os homeopatas, aliados aos médicos clínicos e de especialidades que partilham de uma abordagem vitalista, devem aumentar sua presença no cenário público, e registrar não apenas como clínicos ciosos em seus deveres médicos, mas como pesquisadores, ou seja, documentar as evidencias clínicas que produzem diariamente.

Claro que também através das pesquisas formais sob os vários tipos de estudos, pesquisa básica e epidemiológicas: caso controle, questionários qualitativos, estudos de coorte, observacionais.

Mas aqui referimo-nos a dar testemunhos de suas atuações clínicas, tanto na medicina feita em seus consultórios, assim como na praticada na saúde publica, de suas várias formas de contribuição para a saúde das pessoas.

E assim, evidenciar que há um cuidado permanente, subjacente a todo trabalho médico : acompanhar o estado vital de cada sujeito ao longo da vida.

[1] Parte deste artigo fez parte do Editorial da Revista de Homeopatia da APH, Volume 85, 1, A Revista é editada ininterruptamente desde 1932, encontra-se indexada no LILACS e incluída em National Library of Medicine, EUA; EBSCO; DOAJ; Google Scholar; BVS (Biblioteca Virtual em Saúde).

[2] Oberbaum, M. et als. European Journal of Pediatrics (2024) 183:5455-5465 https://doi.org/10.1007/s00431-024-05791-1

 

A homeopatia e a abordagem vitalista não são apenas necessárias, elas são inevitáveis.[1]

Damos as boas vindas à data 21 de novembro, o dia no qual a homeopatia foi oficialmente introduzida no Brasil através do médico francês Benoit Mure, que aportou por aqui em 1840.

A data representa simultaneamente dois simbolismos fundamentais, iremos falar aqui somente de um deles. O outro é pessoal e intimista demais para abordar no blog.

Vivemos em mais um momento particularmente conturbado para a homeopatia, que vem sofrendo ataques com grande destaque nas mídias do mundo. O problema é que não se trata exatamente de objeções ou de uma legitima contestação cientificamente embasada. Não se verifica uma consistente evocação das deficiências metodológicas - existentes em todos os sistemas científicos abertos. As recentes agressões - um termo mais apropriado - trazem, em sua maioria, análises seletivas das pesquisas e um viés apriorístico incompatível com o pensar da ciência.

Por exemplo, já existem indícios de que as doses ultra moleculares não são meros placebos. Já há pesquisas qualitativas, elaboradas com questionários de qualidade de vida em saúde, que a terapêutica proposta pelos médicos homeopatas mostram benefícios importantes. Recentemente um importante estudo clínico randomizado "Homeopatia vs. cuidados primários convencionais em crianças durante os primeiros 24 meses de vida - um pragmático ensaio clínico controlado-randomizado"[2] mostrou como uma terapêutica homeopática cuidadosa pode ser um recurso importante no cuidado de crianças e recém-nascidos.

As referidas agressões recorrentes, em sua maioria, demonstram absoluta incompreensão do núcleo duro que rege a episteme que a fundamenta. Isso dito, fica claro que a campanha que tenta interditá-la como especialidade médica, tem uma motivação mais política ideológica do que propriamente epistemológica. E a origem mais provável deste tensionamento organizado é a iminente consolidação da inserção da homeopatia e das medicinas integrativas no Sistema Único de Saúde e seu crescimento como medicina complementar.

Pode-se acusá-los de partisãs mas, apesar dos limites, não há sistema semiológico mais abrangente e terapeuticamente adequado do que este para cuidar e atender as pessoas. Se estiver integrada com outras especialidades médicas, mantiver seu eixo experimental intacto e permanecer com seu programa de pesquisas, a terapêutica baseada nos semelhantes apresenta um enorme potencial para oferecer aos sistemas de saúde. Decerto o que outros pesquisadores já detectaram é que a validação social destas práticas é inevitável, porque a homeopatia é inevitável.

Como se sabe, a primeira teoria médica adotada era a tóxica: os venenos que vinham de fora eram os principais responsáveis pelo adoecimento. Pois mesmo num ambiente como o que hora vivemos aqui no Brasil, quiçá no mundo, não poder ser descartada a hipótese de que uma peçonha psíquica externa esteja sendo injetada no ar, neste momento exato, através das redes sociais,  no ciberespaço e também fora dele. Nada de novo.

O psiquiatra alemão Wilhelm Reich já diagnosticara a existência de uma espécie de peste presente no "éter". Esta "praga" psíquica foi apelidada de "peste emocional" e ela é tão ou mais nociva que uma epidemia de peste bubônica, tifo ou febre amarela.

E o que aprendemos com a tradição vitalista? Que a susceptibilidade é o aspecto mais determinante - ainda que não o único -- para desencadear o adoecimento. Que a primeira perturbação detectável pela própria natureza lábil das funções cerebrais, e do sistema nervoso central, se reflete primeiramente no estado anímico das pessoas. A primeiríssima afecção acontece na disposição física e no estado psíquico e isso é particularmente notável em crianças. Em geral, traduz-se por sensações pouco objetivas e, às vezes, de difícil detecção semiológica.

Dai a semiologia que é ensinada e aprendida em faculdades de medicina e ciências da saúde ser rigorosamente insuficiente para diagnosticar o mal estar sub clinico (illness) que antecede o aparecimento e desenvolvimento da própria moléstia (disease). E é precisamente neste momento que as medicinas integrativas -- como uma modalidade de medicina preventiva -- poderiam ajudar imensamente as pessoas e impedir a hiper concentração em atendimento terciário em hospitais e clínicas de especialidades.

O atendimento de alta complexidade ficaria para a maior parte dos casos agudos e emergências, e assim sobrariam recursos humanos e capacidade para intervir e cuidar das moléstias crônicas.

Outro aspecto crítico que as ciências da saúde devem reconhecer é que apesar da fala e da narrativa se mostrarem como elementos semiológicos pertinentes e úteis existe uma enorme dificuldade para que os clínicos reaprendam a valorizar o que apreendem destas narrativas e de seus detalhamentos.

Para que saber qual lado do corpo é mais atingido? Qual a finalidade de registrar sonhos? O que significam as sensações fugazes como "sensação de corpo desmanchando" "cabeça leve", "do meu ouvido direito sai um vento" "a insônia piora depois das 3 horas da madrugada" "dor de cabeça como se alguém estivesse rosqueando um parafuso na testa" "se como chocolate é como se meu rosto desaparecesse" "sinto tontura quando ouço barulhos altos" ou "quando vejo noticiário político minha boca espuma".

Fora este último, todos os outros foram extraídos de narrativas reais, de experimentadores que expuseram seus sintomas a quem conduziu as experimentações. São as chamadas idiossincrasias, aquelas que mais individualizam os problemas clínicos das pessoas.

Os pacientes estariam inventando? Não. Exageraram? Não importa. Pois não existe mentira em clínica. Mesmo se uma criança diga que ela não gosta de peixe e sua mãe, espantada, afirma que quase muito raramente este alimento é oferecido em casa. A aversão ao peixe deve ser levada em consideração, já que a linguagem expressa o imaginário. E ele possui uma realidade em si. Independentemente da checagem dos fatos concretos, que evidentemente também precisam ser examinados, testados laboratorialmente e comprovados.

No entanto, estes elementos, aparentemente parasitas, são importantes não somente para fazer valer o poderoso efeito catártico da consulta, mas também para adensar o conhecimento da pessoa enferma.

Samuel Hahnemann muito tempo antes do médico alemão  Otto Schwartz em seu icônico "Psicogênese dos sintomas corporais" já fazia as devidas correlações entre as emoções e as perturbações na saúde.

Mas isso valeria, também, para avaliar o contexto do aparecimento dos sintomas. E tudo isso depende de que? Da linguagem, dos sintomas comunicados através da fala.

Outro aspecto que precisa ser desenvolvido é investigar melhor como ocorrem as curas. Pesquisadores notaram que a maior parte dos estudos epidemiológicos são destinados a compreender como as doenças surgem e evoluem, mas são bem mais raras aquelas investigações científicas que tentam apreender como é que elas são curadas.

Os homeopatas, aliados aos médicos clínicos e de especialidades que partilham de uma abordagem vitalista, devem aumentar sua presença no cenário público, e registrar não apenas como clínicos ciosos em seus deveres médicos, mas como pesquisadores, ou seja, documentar as evidencias clínicas que produzem diariamente.

Claro que também através das pesquisas formais sob os vários tipos de estudos, pesquisa básica e epidemiológicas: caso controle, questionários qualitativos, estudos de coorte, observacionais.

Mas aqui referimo-nos a dar testemunhos de suas atuações clínicas, tanto na medicina feita em seus consultórios, assim como na praticada na saúde publica, de suas várias formas de contribuição para a saúde das pessoas.

E assim, evidenciar que há um cuidado permanente, subjacente a todo trabalho médico : acompanhar o estado vital de cada sujeito ao longo da vida.

[1] Parte deste artigo fez parte do Editorial da Revista de Homeopatia da APH, Volume 85, 1, A Revista é editada ininterruptamente desde 1932, encontra-se indexada no LILACS e incluída em National Library of Medicine, EUA; EBSCO; DOAJ; Google Scholar; BVS (Biblioteca Virtual em Saúde).

[2] Oberbaum, M. et als. European Journal of Pediatrics (2024) 183:5455-5465 https://doi.org/10.1007/s00431-024-05791-1

 

A homeopatia e a abordagem vitalista não são apenas necessárias, elas são inevitáveis.[1]

Damos as boas vindas à data 21 de novembro, o dia no qual a homeopatia foi oficialmente introduzida no Brasil através do médico francês Benoit Mure, que aportou por aqui em 1840.

A data representa simultaneamente dois simbolismos fundamentais, iremos falar aqui somente de um deles. O outro é pessoal e intimista demais para abordar no blog.

Vivemos em mais um momento particularmente conturbado para a homeopatia, que vem sofrendo ataques com grande destaque nas mídias do mundo. O problema é que não se trata exatamente de objeções ou de uma legitima contestação cientificamente embasada. Não se verifica uma consistente evocação das deficiências metodológicas - existentes em todos os sistemas científicos abertos. As recentes agressões - um termo mais apropriado - trazem, em sua maioria, análises seletivas das pesquisas e um viés apriorístico incompatível com o pensar da ciência.

Por exemplo, já existem indícios de que as doses ultra moleculares não são meros placebos. Já há pesquisas qualitativas, elaboradas com questionários de qualidade de vida em saúde, que a terapêutica proposta pelos médicos homeopatas mostram benefícios importantes. Recentemente um importante estudo clínico randomizado "Homeopatia vs. cuidados primários convencionais em crianças durante os primeiros 24 meses de vida - um pragmático ensaio clínico controlado-randomizado"[2] mostrou como uma terapêutica homeopática cuidadosa pode ser um recurso importante no cuidado de crianças e recém-nascidos.

As referidas agressões recorrentes, em sua maioria, demonstram absoluta incompreensão do núcleo duro que rege a episteme que a fundamenta. Isso dito, fica claro que a campanha que tenta interditá-la como especialidade médica, tem uma motivação mais política ideológica do que propriamente epistemológica. E a origem mais provável deste tensionamento organizado é a iminente consolidação da inserção da homeopatia e das medicinas integrativas no Sistema Único de Saúde e seu crescimento como medicina complementar.

Pode-se acusá-los de partisãs mas, apesar dos limites, não há sistema semiológico mais abrangente e terapeuticamente adequado do que este para cuidar e atender as pessoas. Se estiver integrada com outras especialidades médicas, mantiver seu eixo experimental intacto e permanecer com seu programa de pesquisas, a terapêutica baseada nos semelhantes apresenta um enorme potencial para oferecer aos sistemas de saúde. Decerto o que outros pesquisadores já detectaram é que a validação social destas práticas é inevitável, porque a homeopatia é inevitável.

Como se sabe, a primeira teoria médica adotada era a tóxica: os venenos que vinham de fora eram os principais responsáveis pelo adoecimento. Pois mesmo num ambiente como o que hora vivemos aqui no Brasil, quiçá no mundo, não poder ser descartada a hipótese de que uma peçonha psíquica externa esteja sendo injetada no ar, neste momento exato, através das redes sociais,  no ciberespaço e também fora dele. Nada de novo.

O psiquiatra alemão Wilhelm Reich já diagnosticara a existência de uma espécie de peste presente no "éter". Esta "praga" psíquica foi apelidada de "peste emocional" e ela é tão ou mais nociva que uma epidemia de peste bubônica, tifo ou febre amarela.

E o que aprendemos com a tradição vitalista? Que a susceptibilidade é o aspecto mais determinante - ainda que não o único -- para desencadear o adoecimento. Que a primeira perturbação detectável pela própria natureza lábil das funções cerebrais, e do sistema nervoso central, se reflete primeiramente no estado anímico das pessoas. A primeiríssima afecção acontece na disposição física e no estado psíquico e isso é particularmente notável em crianças. Em geral, traduz-se por sensações pouco objetivas e, às vezes, de difícil detecção semiológica.

Dai a semiologia que é ensinada e aprendida em faculdades de medicina e ciências da saúde ser rigorosamente insuficiente para diagnosticar o mal estar sub clinico (illness) que antecede o aparecimento e desenvolvimento da própria moléstia (disease). E é precisamente neste momento que as medicinas integrativas -- como uma modalidade de medicina preventiva -- poderiam ajudar imensamente as pessoas e impedir a hiper concentração em atendimento terciário em hospitais e clínicas de especialidades.

O atendimento de alta complexidade ficaria para a maior parte dos casos agudos e emergências, e assim sobrariam recursos humanos e capacidade para intervir e cuidar das moléstias crônicas.

Outro aspecto crítico que as ciências da saúde devem reconhecer é que apesar da fala e da narrativa se mostrarem como elementos semiológicos pertinentes e úteis existe uma enorme dificuldade para que os clínicos reaprendam a valorizar o que apreendem destas narrativas e de seus detalhamentos.

Para que saber qual lado do corpo é mais atingido? Qual a finalidade de registrar sonhos? O que significam as sensações fugazes como "sensação de corpo desmanchando" "cabeça leve", "do meu ouvido direito sai um vento" "a insônia piora depois das 3 horas da madrugada" "dor de cabeça como se alguém estivesse rosqueando um parafuso na testa" "se como chocolate é como se meu rosto desaparecesse" "sinto tontura quando ouço barulhos altos" ou "quando vejo noticiário político minha boca espuma".

Fora este último, todos os outros foram extraídos de narrativas reais, de experimentadores que expuseram seus sintomas a quem conduziu as experimentações. São as chamadas idiossincrasias, aquelas que mais individualizam os problemas clínicos das pessoas.

Os pacientes estariam inventando? Não. Exageraram? Não importa. Pois não existe mentira em clínica. Mesmo se uma criança diga que ela não gosta de peixe e sua mãe, espantada, afirma que quase muito raramente este alimento é oferecido em casa. A aversão ao peixe deve ser levada em consideração, já que a linguagem expressa o imaginário. E ele possui uma realidade em si. Independentemente da checagem dos fatos concretos, que evidentemente também precisam ser examinados, testados laboratorialmente e comprovados.

No entanto, estes elementos, aparentemente parasitas, são importantes não somente para fazer valer o poderoso efeito catártico da consulta, mas também para adensar o conhecimento da pessoa enferma.

Samuel Hahnemann muito tempo antes do médico alemão  Otto Schwartz em seu icônico "Psicogênese dos sintomas corporais" já fazia as devidas correlações entre as emoções e as perturbações na saúde.

Mas isso valeria, também, para avaliar o contexto do aparecimento dos sintomas. E tudo isso depende de que? Da linguagem, dos sintomas comunicados através da fala.

Outro aspecto que precisa ser desenvolvido é investigar melhor como ocorrem as curas. Pesquisadores notaram que a maior parte dos estudos epidemiológicos são destinados a compreender como as doenças surgem e evoluem, mas são bem mais raras aquelas investigações científicas que tentam apreender como é que elas são curadas.

Os homeopatas, aliados aos médicos clínicos e de especialidades que partilham de uma abordagem vitalista, devem aumentar sua presença no cenário público, e registrar não apenas como clínicos ciosos em seus deveres médicos, mas como pesquisadores, ou seja, documentar as evidencias clínicas que produzem diariamente.

Claro que também através das pesquisas formais sob os vários tipos de estudos, pesquisa básica e epidemiológicas: caso controle, questionários qualitativos, estudos de coorte, observacionais.

Mas aqui referimo-nos a dar testemunhos de suas atuações clínicas, tanto na medicina feita em seus consultórios, assim como na praticada na saúde publica, de suas várias formas de contribuição para a saúde das pessoas.

E assim, evidenciar que há um cuidado permanente, subjacente a todo trabalho médico : acompanhar o estado vital de cada sujeito ao longo da vida.

[1] Parte deste artigo fez parte do Editorial da Revista de Homeopatia da APH, Volume 85, 1, A Revista é editada ininterruptamente desde 1932, encontra-se indexada no LILACS e incluída em National Library of Medicine, EUA; EBSCO; DOAJ; Google Scholar; BVS (Biblioteca Virtual em Saúde).

[2] Oberbaum, M. et als. European Journal of Pediatrics (2024) 183:5455-5465 https://doi.org/10.1007/s00431-024-05791-1

 

A homeopatia e a abordagem vitalista não são apenas necessárias, elas são inevitáveis.[1]

Damos as boas vindas à data 21 de novembro, o dia no qual a homeopatia foi oficialmente introduzida no Brasil através do médico francês Benoit Mure, que aportou por aqui em 1840.

A data representa simultaneamente dois simbolismos fundamentais, iremos falar aqui somente de um deles. O outro é pessoal e intimista demais para abordar no blog.

Vivemos em mais um momento particularmente conturbado para a homeopatia, que vem sofrendo ataques com grande destaque nas mídias do mundo. O problema é que não se trata exatamente de objeções ou de uma legitima contestação cientificamente embasada. Não se verifica uma consistente evocação das deficiências metodológicas - existentes em todos os sistemas científicos abertos. As recentes agressões - um termo mais apropriado - trazem, em sua maioria, análises seletivas das pesquisas e um viés apriorístico incompatível com o pensar da ciência.

Por exemplo, já existem indícios de que as doses ultra moleculares não são meros placebos. Já há pesquisas qualitativas, elaboradas com questionários de qualidade de vida em saúde, que a terapêutica proposta pelos médicos homeopatas mostram benefícios importantes. Recentemente um importante estudo clínico randomizado "Homeopatia vs. cuidados primários convencionais em crianças durante os primeiros 24 meses de vida - um pragmático ensaio clínico controlado-randomizado"[2] mostrou como uma terapêutica homeopática cuidadosa pode ser um recurso importante no cuidado de crianças e recém-nascidos.

As referidas agressões recorrentes, em sua maioria, demonstram absoluta incompreensão do núcleo duro que rege a episteme que a fundamenta. Isso dito, fica claro que a campanha que tenta interditá-la como especialidade médica, tem uma motivação mais política ideológica do que propriamente epistemológica. E a origem mais provável deste tensionamento organizado é a iminente consolidação da inserção da homeopatia e das medicinas integrativas no Sistema Único de Saúde e seu crescimento como medicina complementar.

Pode-se acusá-los de partisãs mas, apesar dos limites, não há sistema semiológico mais abrangente e terapeuticamente adequado do que este para cuidar e atender as pessoas. Se estiver integrada com outras especialidades médicas, mantiver seu eixo experimental intacto e permanecer com seu programa de pesquisas, a terapêutica baseada nos semelhantes apresenta um enorme potencial para oferecer aos sistemas de saúde. Decerto o que outros pesquisadores já detectaram é que a validação social destas práticas é inevitável, porque a homeopatia é inevitável.

Como se sabe, a primeira teoria médica adotada era a tóxica: os venenos que vinham de fora eram os principais responsáveis pelo adoecimento. Pois mesmo num ambiente como o que hora vivemos aqui no Brasil, quiçá no mundo, não poder ser descartada a hipótese de que uma peçonha psíquica externa esteja sendo injetada no ar, neste momento exato, através das redes sociais,  no ciberespaço e também fora dele. Nada de novo.

O psiquiatra alemão Wilhelm Reich já diagnosticara a existência de uma espécie de peste presente no "éter". Esta "praga" psíquica foi apelidada de "peste emocional" e ela é tão ou mais nociva que uma epidemia de peste bubônica, tifo ou febre amarela.

E o que aprendemos com a tradição vitalista? Que a susceptibilidade é o aspecto mais determinante - ainda que não o único -- para desencadear o adoecimento. Que a primeira perturbação detectável pela própria natureza lábil das funções cerebrais, e do sistema nervoso central, se reflete primeiramente no estado anímico das pessoas. A primeiríssima afecção acontece na disposição física e no estado psíquico e isso é particularmente notável em crianças. Em geral, traduz-se por sensações pouco objetivas e, às vezes, de difícil detecção semiológica.

Dai a semiologia que é ensinada e aprendida em faculdades de medicina e ciências da saúde ser rigorosamente insuficiente para diagnosticar o mal estar sub clinico (illness) que antecede o aparecimento e desenvolvimento da própria moléstia (disease). E é precisamente neste momento que as medicinas integrativas -- como uma modalidade de medicina preventiva -- poderiam ajudar imensamente as pessoas e impedir a hiper concentração em atendimento terciário em hospitais e clínicas de especialidades.

O atendimento de alta complexidade ficaria para a maior parte dos casos agudos e emergências, e assim sobrariam recursos humanos e capacidade para intervir e cuidar das moléstias crônicas.

Outro aspecto crítico que as ciências da saúde devem reconhecer é que apesar da fala e da narrativa se mostrarem como elementos semiológicos pertinentes e úteis existe uma enorme dificuldade para que os clínicos reaprendam a valorizar o que apreendem destas narrativas e de seus detalhamentos.

Para que saber qual lado do corpo é mais atingido? Qual a finalidade de registrar sonhos? O que significam as sensações fugazes como "sensação de corpo desmanchando" "cabeça leve", "do meu ouvido direito sai um vento" "a insônia piora depois das 3 horas da madrugada" "dor de cabeça como se alguém estivesse rosqueando um parafuso na testa" "se como chocolate é como se meu rosto desaparecesse" "sinto tontura quando ouço barulhos altos" ou "quando vejo noticiário político minha boca espuma".

Fora este último, todos os outros foram extraídos de narrativas reais, de experimentadores que expuseram seus sintomas a quem conduziu as experimentações. São as chamadas idiossincrasias, aquelas que mais individualizam os problemas clínicos das pessoas.

Os pacientes estariam inventando? Não. Exageraram? Não importa. Pois não existe mentira em clínica. Mesmo se uma criança diga que ela não gosta de peixe e sua mãe, espantada, afirma que quase muito raramente este alimento é oferecido em casa. A aversão ao peixe deve ser levada em consideração, já que a linguagem expressa o imaginário. E ele possui uma realidade em si. Independentemente da checagem dos fatos concretos, que evidentemente também precisam ser examinados, testados laboratorialmente e comprovados.

No entanto, estes elementos, aparentemente parasitas, são importantes não somente para fazer valer o poderoso efeito catártico da consulta, mas também para adensar o conhecimento da pessoa enferma.

Samuel Hahnemann muito tempo antes do médico alemão  Otto Schwartz em seu icônico "Psicogênese dos sintomas corporais" já fazia as devidas correlações entre as emoções e as perturbações na saúde.

Mas isso valeria, também, para avaliar o contexto do aparecimento dos sintomas. E tudo isso depende de que? Da linguagem, dos sintomas comunicados através da fala.

Outro aspecto que precisa ser desenvolvido é investigar melhor como ocorrem as curas. Pesquisadores notaram que a maior parte dos estudos epidemiológicos são destinados a compreender como as doenças surgem e evoluem, mas são bem mais raras aquelas investigações científicas que tentam apreender como é que elas são curadas.

Os homeopatas, aliados aos médicos clínicos e de especialidades que partilham de uma abordagem vitalista, devem aumentar sua presença no cenário público, e registrar não apenas como clínicos ciosos em seus deveres médicos, mas como pesquisadores, ou seja, documentar as evidencias clínicas que produzem diariamente.

Claro que também através das pesquisas formais sob os vários tipos de estudos, pesquisa básica e epidemiológicas: caso controle, questionários qualitativos, estudos de coorte, observacionais.

Mas aqui referimo-nos a dar testemunhos de suas atuações clínicas, tanto na medicina feita em seus consultórios, assim como na praticada na saúde publica, de suas várias formas de contribuição para a saúde das pessoas.

E assim, evidenciar que há um cuidado permanente, subjacente a todo trabalho médico : acompanhar o estado vital de cada sujeito ao longo da vida.

[1] Parte deste artigo fez parte do Editorial da Revista de Homeopatia da APH, Volume 85, 1, A Revista é editada ininterruptamente desde 1932, encontra-se indexada no LILACS e incluída em National Library of Medicine, EUA; EBSCO; DOAJ; Google Scholar; BVS (Biblioteca Virtual em Saúde).

[2] Oberbaum, M. et als. European Journal of Pediatrics (2024) 183:5455-5465 https://doi.org/10.1007/s00431-024-05791-1

 

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