BRASÍLIAEm decisão esperada pelo mercado financeiro, o Banco Central (BC) manteve na noite de ontem, por unanimidade, o juro básico da economia, a taxa Selic, em 8,75% ao ano. O comunicado divulgado após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), porém, sinaliza que os juros podem sofrer mudança em breve. No texto, os diretores da autoridade monetária deixaram de afirmar que o nível do juro é consistente com um cenário inflacionário benigno e que há ociosidade nas fábricas - aspectos destacados nos últimos comunicados do comitê. Lacônico, o texto do BC diz que a decisão de manter o juro foi tomada após avaliação "da conjuntura macroeconômica e das perspectivas para a inflação". "O Comitê vai acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária", afirmou o comunicado. "O comunicado menor mostra que as condições econômicas estão mudando", disse a economista-chefe da consultoria Rosenberg & Associados, Thaís Zara. "Era de se esperar que mudassem o texto e, agora, eles devem subir o tom na ata. Não há mudança na política monetária sem alteração do texto dos comunicados e das atas."O ciclo de aperto monetário deve iniciar-se em breve, muito provavelmente em abril - daqui a duas reuniões do Copom, aposta o mercado financeiro na pesquisa semanal Focus. Para os analistas, o juro deve começar a subir ainda neste semestre, para impedir a alta da inflação acima da meta no fim de 2010. Por enquanto, o mercado prevê inflação de 4,60% neste ano, pouco acima do centro da meta de 4,50%. Para os economistas, o ciclo de aperto monetário deve começar em abril, com alta de 0,50 ponto porcentual, o que levará a Selic para 9,25%. Depois, são esperadas elevações em junho, julho, setembro, outubro e dezembro. Ao todo, o juro deve subir 2,25 pontos, até atingir 11% ao ano."Como o BC sempre age preventivamente e há defasagem entre a atuação e seu reflexo na economia, será preciso começar a atuar rapidamente", diz a economista da Rosenberg&Associados. PRESSÃOEssa pressão de alta nos preços já começa a ser vista. Embora o mercado avalie o movimento ainda como incipiente, a inflação do início do ano sobe mais que o esperado por reajustes como o do transporte público em São Paulo, mensalidades escolares e alimentos.Se confirmadas as previsões do mercado, o trimestre deve ter Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) próximo de 2%, acima da previsão oficial do BC de 1,53%. A preocupação maior, porém, está nos próximos meses, quando são esperados reajustes mais fortes em itens como bens de consumo e serviços. Para a autoridade monetária, essa pressão inflacionária pode ocorrer porque a maior atividade econômica deve aumentar a demanda e, ao mesmo tempo, reduzir a ociosidade das fábricas. Diante disso, a capacidade de aumentar a produção ficará apertada a partir de meados do ano, o que pode deflagrar reajustes de preços. "Até teremos algum espaço para importar e reduzir essa pressão. Mas essa opção tem alcance limitado e haverá outros focos de pressão, como o reajuste do salário mínimo, que favorece o aumento dos serviços", diz Thaís Zara.