Cresce nº de mortes por câncer de mama em regiões pobres


Taxa de mortalidade é até 11 vezes maior em comparação com áreas ricas; dificuldade de acesso ao tratamento é a principal razão

Por Fabiana Cambricoli

SÃO PAULO - A variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama é até 11 vezes maior em áreas pobres do País, em comparação com regiões ricas. É o que mostra estudo inédito da Sociedade Brasileira de Mastologia, feito em parceria com pesquisadores da Rede Goiana de Mastologia. A dificuldade de acesso a métodos de detecção e de tratamento em áreas do Norte e Nordeste do País é a principal razão apontada para a diferença.

A pesquisa avaliou as taxas de mortalidade por esse tipo de tumor em um intervalo de dez anos, entre 2002 e 2011, em todos os Estados e relacionou os dados com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada local. Embora o Sul e Sudeste tenham taxa de mortalidade maior do que as demais regiões do País, a velocidade de crescimento das mortes pela doença é significativamente maior nas áreas mais pobres.

Maria do Rosário, quepor demora do atendimento no SUS, só conseguiu iniciar o tratamento quando o tumor já estava mais avançado Foto: DIEGO EMIR/ESTADÃO
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De acordo com o estudo, no período analisado, a variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama chegou a 11,2% no Maranhão, Estado com o maior aumento porcentual e com um dos piores IDHs do País. Situação semelhante foi observada nos Estados do Piauí e Paraíba, com variações anuais de 9,8% e 9,3%.

No outro extremo, regiões mais ricas observam estabilização ou queda na variação da taxa. São Paulo, por exemplo, teve variação negativa média de 1,7% ao ano. Paraná, Rio Grande do Sul, Rio e Distrito Federal, todos Estados com IDHs altos, também tiveram queda na variação das taxas de mortalidade.

O artigo, publicado no periódico BMC Public Health, aponta como razões para os resultados a falta de recursos disponíveis para o tratamento nos Estados menos desenvolvidos e a dificuldade de acesso a esses recursos para a maioria da população. “Em alguns casos, a situação seria comparável à encontrada na Nigéria, onde não há programas específicos de rastreamento do câncer dentro do sistema nacional de saúde e só existem dois hospitais oferecendo o tratamento terciário para a doença (radioterapia e quimioterapia)”, diz o estudo.

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Para Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e um dos autores do estudo, embora o sistema de saúde tenha melhorado nas últimas décadas, a estrutura ainda é insuficiente, sobretudo nas regiões mais pobres. “O crescimento ou a queda das taxas de mortalidade dependem muito das ações de saúde que estão sendo implementadas em cada local. É no Norte e Nordeste exatamente onde temos as menores coberturas mamográficas. O acesso às cirurgias e aos aparelhos de radioterapia também é mais demorado nesses locais”, diz ele.

O especialista ressalta ainda o problema da demora entre o diagnóstico e o início do tratamento. “O índice de mulheres que conseguem começar o tratamento 60 dias após o diagnóstico, como manda a lei, é de 25% a 33%. Sabemos que, em alguns lugares, essa espera chega a seis meses”, diz ele.

reference
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Drama. Foi esse o drama vivido pela cabeleireira aposentada Maria do Rosário Almeida Martins, de 60 anos. Em novembro do ano passado, ela percebeu um caroço no seio e passou na ginecologista no mês seguinte para fazer um ultrassom. “Em janeiro, a médica já viu um nódulo, mas disse que o resultado do exame estava escuro e que eu tinha de fazer outro. Como ia demorar, paguei R$ 89 para fazer particular porque estava desesperada”, conta ela, moradora de São Luís, no Maranhão.

Depois da confirmação do diagnóstico de câncer, a paciente ainda foi encaminhada para a mastologista e teve de passar por outros exames antes de iniciar o tratamento. Só fez a cirurgia de retirada do tumor em agosto, oito meses após o diagnóstico inicial.

“A mastologista disse que no primeiro exame o tumor aparecia bem pequenininho, e que cresceu bastante desde então. E só não demorou mais a cirurgia porque eu paguei do meu bolso parte dos exames pré-operatórios. No SUS, eu estava na lista de espera”, conta ela, que agora faz quimioterapia para complementar o tratamento.

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O Ministério da Saúde afirma que ampliou o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento do câncer de mama, “em especial nas Regiões Norte e Nordeste”. Entre 2011 e 2014, o número de exames do tipo realizados em mulheres de 50 a 69 anos aumentou 66,3% no Nordeste e 125,6% no Norte, de acordo com a pasta.

O ministério afirma ainda que, no mesmo período, cresceu o número de cirurgias oncológicas e de sessões de radioterapia e quimioterapia nessas regiões. A pasta orienta todas as mulheres de 50 a 69 anos a fazerem a mamografia anualmente.

SÃO PAULO - A variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama é até 11 vezes maior em áreas pobres do País, em comparação com regiões ricas. É o que mostra estudo inédito da Sociedade Brasileira de Mastologia, feito em parceria com pesquisadores da Rede Goiana de Mastologia. A dificuldade de acesso a métodos de detecção e de tratamento em áreas do Norte e Nordeste do País é a principal razão apontada para a diferença.

A pesquisa avaliou as taxas de mortalidade por esse tipo de tumor em um intervalo de dez anos, entre 2002 e 2011, em todos os Estados e relacionou os dados com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada local. Embora o Sul e Sudeste tenham taxa de mortalidade maior do que as demais regiões do País, a velocidade de crescimento das mortes pela doença é significativamente maior nas áreas mais pobres.

Maria do Rosário, quepor demora do atendimento no SUS, só conseguiu iniciar o tratamento quando o tumor já estava mais avançado Foto: DIEGO EMIR/ESTADÃO

De acordo com o estudo, no período analisado, a variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama chegou a 11,2% no Maranhão, Estado com o maior aumento porcentual e com um dos piores IDHs do País. Situação semelhante foi observada nos Estados do Piauí e Paraíba, com variações anuais de 9,8% e 9,3%.

No outro extremo, regiões mais ricas observam estabilização ou queda na variação da taxa. São Paulo, por exemplo, teve variação negativa média de 1,7% ao ano. Paraná, Rio Grande do Sul, Rio e Distrito Federal, todos Estados com IDHs altos, também tiveram queda na variação das taxas de mortalidade.

O artigo, publicado no periódico BMC Public Health, aponta como razões para os resultados a falta de recursos disponíveis para o tratamento nos Estados menos desenvolvidos e a dificuldade de acesso a esses recursos para a maioria da população. “Em alguns casos, a situação seria comparável à encontrada na Nigéria, onde não há programas específicos de rastreamento do câncer dentro do sistema nacional de saúde e só existem dois hospitais oferecendo o tratamento terciário para a doença (radioterapia e quimioterapia)”, diz o estudo.

Para Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e um dos autores do estudo, embora o sistema de saúde tenha melhorado nas últimas décadas, a estrutura ainda é insuficiente, sobretudo nas regiões mais pobres. “O crescimento ou a queda das taxas de mortalidade dependem muito das ações de saúde que estão sendo implementadas em cada local. É no Norte e Nordeste exatamente onde temos as menores coberturas mamográficas. O acesso às cirurgias e aos aparelhos de radioterapia também é mais demorado nesses locais”, diz ele.

O especialista ressalta ainda o problema da demora entre o diagnóstico e o início do tratamento. “O índice de mulheres que conseguem começar o tratamento 60 dias após o diagnóstico, como manda a lei, é de 25% a 33%. Sabemos que, em alguns lugares, essa espera chega a seis meses”, diz ele.

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Drama. Foi esse o drama vivido pela cabeleireira aposentada Maria do Rosário Almeida Martins, de 60 anos. Em novembro do ano passado, ela percebeu um caroço no seio e passou na ginecologista no mês seguinte para fazer um ultrassom. “Em janeiro, a médica já viu um nódulo, mas disse que o resultado do exame estava escuro e que eu tinha de fazer outro. Como ia demorar, paguei R$ 89 para fazer particular porque estava desesperada”, conta ela, moradora de São Luís, no Maranhão.

Depois da confirmação do diagnóstico de câncer, a paciente ainda foi encaminhada para a mastologista e teve de passar por outros exames antes de iniciar o tratamento. Só fez a cirurgia de retirada do tumor em agosto, oito meses após o diagnóstico inicial.

“A mastologista disse que no primeiro exame o tumor aparecia bem pequenininho, e que cresceu bastante desde então. E só não demorou mais a cirurgia porque eu paguei do meu bolso parte dos exames pré-operatórios. No SUS, eu estava na lista de espera”, conta ela, que agora faz quimioterapia para complementar o tratamento.

O Ministério da Saúde afirma que ampliou o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento do câncer de mama, “em especial nas Regiões Norte e Nordeste”. Entre 2011 e 2014, o número de exames do tipo realizados em mulheres de 50 a 69 anos aumentou 66,3% no Nordeste e 125,6% no Norte, de acordo com a pasta.

O ministério afirma ainda que, no mesmo período, cresceu o número de cirurgias oncológicas e de sessões de radioterapia e quimioterapia nessas regiões. A pasta orienta todas as mulheres de 50 a 69 anos a fazerem a mamografia anualmente.

SÃO PAULO - A variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama é até 11 vezes maior em áreas pobres do País, em comparação com regiões ricas. É o que mostra estudo inédito da Sociedade Brasileira de Mastologia, feito em parceria com pesquisadores da Rede Goiana de Mastologia. A dificuldade de acesso a métodos de detecção e de tratamento em áreas do Norte e Nordeste do País é a principal razão apontada para a diferença.

A pesquisa avaliou as taxas de mortalidade por esse tipo de tumor em um intervalo de dez anos, entre 2002 e 2011, em todos os Estados e relacionou os dados com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada local. Embora o Sul e Sudeste tenham taxa de mortalidade maior do que as demais regiões do País, a velocidade de crescimento das mortes pela doença é significativamente maior nas áreas mais pobres.

Maria do Rosário, quepor demora do atendimento no SUS, só conseguiu iniciar o tratamento quando o tumor já estava mais avançado Foto: DIEGO EMIR/ESTADÃO

De acordo com o estudo, no período analisado, a variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama chegou a 11,2% no Maranhão, Estado com o maior aumento porcentual e com um dos piores IDHs do País. Situação semelhante foi observada nos Estados do Piauí e Paraíba, com variações anuais de 9,8% e 9,3%.

No outro extremo, regiões mais ricas observam estabilização ou queda na variação da taxa. São Paulo, por exemplo, teve variação negativa média de 1,7% ao ano. Paraná, Rio Grande do Sul, Rio e Distrito Federal, todos Estados com IDHs altos, também tiveram queda na variação das taxas de mortalidade.

O artigo, publicado no periódico BMC Public Health, aponta como razões para os resultados a falta de recursos disponíveis para o tratamento nos Estados menos desenvolvidos e a dificuldade de acesso a esses recursos para a maioria da população. “Em alguns casos, a situação seria comparável à encontrada na Nigéria, onde não há programas específicos de rastreamento do câncer dentro do sistema nacional de saúde e só existem dois hospitais oferecendo o tratamento terciário para a doença (radioterapia e quimioterapia)”, diz o estudo.

Para Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e um dos autores do estudo, embora o sistema de saúde tenha melhorado nas últimas décadas, a estrutura ainda é insuficiente, sobretudo nas regiões mais pobres. “O crescimento ou a queda das taxas de mortalidade dependem muito das ações de saúde que estão sendo implementadas em cada local. É no Norte e Nordeste exatamente onde temos as menores coberturas mamográficas. O acesso às cirurgias e aos aparelhos de radioterapia também é mais demorado nesses locais”, diz ele.

O especialista ressalta ainda o problema da demora entre o diagnóstico e o início do tratamento. “O índice de mulheres que conseguem começar o tratamento 60 dias após o diagnóstico, como manda a lei, é de 25% a 33%. Sabemos que, em alguns lugares, essa espera chega a seis meses”, diz ele.

reference

Drama. Foi esse o drama vivido pela cabeleireira aposentada Maria do Rosário Almeida Martins, de 60 anos. Em novembro do ano passado, ela percebeu um caroço no seio e passou na ginecologista no mês seguinte para fazer um ultrassom. “Em janeiro, a médica já viu um nódulo, mas disse que o resultado do exame estava escuro e que eu tinha de fazer outro. Como ia demorar, paguei R$ 89 para fazer particular porque estava desesperada”, conta ela, moradora de São Luís, no Maranhão.

Depois da confirmação do diagnóstico de câncer, a paciente ainda foi encaminhada para a mastologista e teve de passar por outros exames antes de iniciar o tratamento. Só fez a cirurgia de retirada do tumor em agosto, oito meses após o diagnóstico inicial.

“A mastologista disse que no primeiro exame o tumor aparecia bem pequenininho, e que cresceu bastante desde então. E só não demorou mais a cirurgia porque eu paguei do meu bolso parte dos exames pré-operatórios. No SUS, eu estava na lista de espera”, conta ela, que agora faz quimioterapia para complementar o tratamento.

O Ministério da Saúde afirma que ampliou o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento do câncer de mama, “em especial nas Regiões Norte e Nordeste”. Entre 2011 e 2014, o número de exames do tipo realizados em mulheres de 50 a 69 anos aumentou 66,3% no Nordeste e 125,6% no Norte, de acordo com a pasta.

O ministério afirma ainda que, no mesmo período, cresceu o número de cirurgias oncológicas e de sessões de radioterapia e quimioterapia nessas regiões. A pasta orienta todas as mulheres de 50 a 69 anos a fazerem a mamografia anualmente.

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