Khalid, 15 anos, contou que foi pendurado pelos braços no teto do prédio de sua escola na Síria e foi espancado sem motivo. Wael disse que viu uma criança de 6 anos passar fome e ser espancada até a morte, "torturada mais do que qualquer outra pessoa na sala". Os relatos em primeira pessoa vêm de entrevistas com refugiados que fugiram do conflito sírio, e foram conduzidas pela instituição de caridade britânica Save the Children. Os depoimentos foram divulgados nesta terça-feira. O relatório não disse quem havia abusado das crianças, mas um porta-voz da Save the Children afirmou que alguns tinham ouvido seus pais culparem as forças do governo pelos ataques. Investigadores da Organização das Nações Unidas (ONU) disseram que as forças do governo sírio cometeram violações dos direitos humanos "em uma escala alarmante", mas também listaram múltiplos assassinatos e sequestros cometidos por rebeldes armados que tentam derrubar o presidente Bashar al-Assad. As crianças que falaram com a Save the Children em campos de refugiados em países vizinhos disseram ter testemunhado massacres e visto familiares serem mortos durante os 18 meses do conflito. "Eu conheci um rapaz chamado Ala'a. Ele tinha apenas 6 anos de idade. Ele não entendia o que estava acontecendo. Seu pai foi informado de que essa criança iria morrer, a menos que ele se entregasse", contou Wael, 16 anos, que como todas as crianças entrevistadas não foi identificado pelo seu nome completo ou local. "Eu diria que o garoto de seis anos foi torturado mais do que qualquer outra pessoa na sala. Ele não recebeu comida ou água por três dias, então ele estava tão fraco que ele costumava desmaiar o tempo todo", relatou Wael. "Ele era espancado regularmente. Eu o vi morrer. Ele só sobreviveu por três dias e então simplesmente morreu." Ativistas da oposição dizem que 27.000 pessoas, a maioria civis, foram mortas no derramamento de sangue da Síria. Muitos dos civis inicialmente morreram em ataques pelas forças de segurança em protestos pacíficos. Outros foram mortos em bombardeios do governo ou em fogo cruzado durante a guerra civil que se seguiu. Khalid, 15 anos, disse que ele tinha sido levado juntamente com mais de uma centena de outros à sua antiga escola, que tinha sido transformada em um centro de tortura, e teve as mãos amarradas com corda de plástico. "Eles me penduraram no teto pelos meus pulsos, com os pés fora do chão, e daí eu fui espancado. Eles queriam que a gente falasse, confessasse alguma coisa", disse ele. "Eu desmaiei com a dor de ficar pendurado assim, e com o espancamento. Eles me trouxeram para baixo e jogaram água fria no meu rosto para me acordar. Então eles se revezavam apagando seus cigarros em mim. Veja aqui, eu tenho essas cicatrizes." O presidente-executivo da Save the Children, Justin Forsyth, que ouviu os relatos em primeira mão, disse que as histórias "precisavam ser ouvidas e documentadas para que os responsáveis por esses crimes hediondos contra crianças possam ser responsabilizados". A entidade exortou a ONU para aumentar a sua presença em terra para poder documentar cada crime.