Crise Yanomami: crianças e idosos lotam unidade de saúde indígena. ‘Estão muito magros’


Em Boa Vista, hospital de campanha é montado para reforçar estrutura limitada; com o filho doente no colo, mãe Yanomami conta que terra da reserva ficou infértil

Por Felipe Medeiros
Atualização:

BOA VISTA - Enquanto o Exército corria para estruturar o hospital de campanha na área anexa, médicos e enfermeiros sofriam nesta quarta-feira, 25, para dar conta do aumento da demanda da Casa de Saúde Indígena (Casai), nos arredores de Boa Vista. Do território Yanomami, isolado na Amazônia, chegam cada vez mais indígenas em condições precárias de saúde e são comuns quadros como desnutrição e tosse.

Não é preciso andar muito pelos corredores para perceber que o tempo deteriorou a Casai. As paredes logo entregam que o local não passa por manutenção há anos. Entre portas que não fecham ou não abrem adequadamente, também são vistos materiais e equipamentos antigos. Profissionais também relatam que o problema da falta de remédios se agravou nos últimos meses – houve suspeita de irregularidades na compra de medicamentos na gestão passada.

Conforme a Secretaria de Saúde Indígena, 715 pessoas passaram, na terça, pela Casai, cuja capacidade máxima é para 300 pacientes. Foto: Edmar Barros / AP
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O Estadão visitou o local na última quarta – um imóvel térreo com cinco blocos – todos ocupados nesta semana. Conforme a Secretaria de Saúde Indígena, do governo federal, a capacidade é para 300 pessoas, mas já havia 715 anteontem. Profissionais de saúde disseram à reportagem que a demanda quase triplicou. O governo diz que mais de mil indígenas demandam atendimento emergencial nas aldeias.

Lá dentro, as camas dividem espaço com redes – estruturas em que os indígenas se sentem mais confortáveis. Entre os pacientes, se destacam idosos e crianças – em geral muito magras, com problemas de respiração e barrigas inchadas. Já que grande parte dos Yanomamis não fala português, os profissionais de saúde recorrem a gestos para se comunicar. Na impossibilidade de diálogo mais detalhado com o paciente, os exames se tornam ainda mais necessários. “É preciso colher novamente o escarro para confirmar a tuberculose”, disse, às pressas, uma técnica de enfermagem.

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Terra infértil

Com domínio vacilante do português, Olivia Yanomami, de aproximadamente 25 anos, explica o drama na região de Surucucu, dentro da reserva. “Muitos estão morrendo de fome. Estão muito magros”, disse ela. Por questões culturais, muitos Yanomamis evitam falar da morte. Em Boa Vista havia dois dias, ela carregava o filho caçula no colo – só pele e osso, com tosse insistente e feridas na cabeça, aparentemente por uma infecção. Estava acompanhada das duas filhas mais velhas, também crianças. Embora o acesso seja restrito a não indígenas, os Yanomamis entram e saem e pequenos grupos se juntam na porta. Essa movimentação atraiu até um ambulante, que vendia garrafas de água e refrigerante na porta da unidade de saúde.

As terras da reserva Yanomami já não são mais férteis para fazer a roça, segundo os indígenas.  Foto: Edmar Barros / AP
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Segundo Olivia, na reserva Yanomami, onde vivem cerca de 30,4 mil indígenas, a terra já não é mais fértil para fazer a roça do seu povo e é difícil encontrar animais durante a caça. “Banana tem nada, macaxeira tem nada, milho tem nada, cana tem nada, mamão tem nada”, disse.

A invasão do garimpo ilegal na reserva ameaça a saúde dos indígenas, uma vez que o mercúrio contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta os animais. Estima-se que haja 20 mil mineradores irregulares na reserva. O contato com o homem branco também é responsável pelo contágio de doenças que podem ser fatais para os índios, como gripe e covid-19, além de episódios de violência e uso de álcool.

E mesmo doações de cestas básicas têm efeito limitados. A dieta dos Yanomami é baseada, principalmente, em mandioca, frutas, caça e pesca. “Não come arroz, macarrão, come farinha”, diz Olivia. “O povo está doente porque não temos mais nossas fontes naturais. Isso nos enfraquece e os garimpeiros levam doenças”, afirma Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

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A invasão do garimpo ilegal na reserva ameaça a saúde dos indígenas: o mercúrio contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta os animais. Foto: Edmar Barros / AP

O ativista indígena do povo macuxi, Tony Gino Rodrigues luta para que a Casai se torne um hospital federal. “Para evitar a mortalidade infantil dos Yanomami, o governo precisa tornar a saúde indígena sólida e forte, para que possa atender de maneira específica e diferenciada em respeito aos povos da floresta”, diz ele, que é enfermeiro e trabalhou no distrito sanitário Yanomami por 11 anos. “O dinheiro precisa ser investido de forma adequada na compra de medicamentos, contratação de trabalhadores e qualificação e capacitação de profissionais”, afirma.

Mobilização

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O Ministério da Saúde disse mobilizar profissionais de saúde, voluntários da Força Nacional do SUS, militares. Além do envio de equipes médicas para a terra indígena, destacou a montagem do hospital de campanha. Mais 12 profissionais da Força Nacional do SUS, diz a pasta, que vão operar o hospital de campanha, foram para Boa Vista e outra equipe multidisciplinar com profissionais de saúde da Aeronáutica foi deslocada de Manaus para Surucucu. Foram enviadas 4 mil cestas básicas em caráter de urgência, além de remédios e outros insumos. Outras mil cestas devem ser entregues na capital. / COLABOROU NATÁLIA FUHRMANN

BOA VISTA - Enquanto o Exército corria para estruturar o hospital de campanha na área anexa, médicos e enfermeiros sofriam nesta quarta-feira, 25, para dar conta do aumento da demanda da Casa de Saúde Indígena (Casai), nos arredores de Boa Vista. Do território Yanomami, isolado na Amazônia, chegam cada vez mais indígenas em condições precárias de saúde e são comuns quadros como desnutrição e tosse.

Não é preciso andar muito pelos corredores para perceber que o tempo deteriorou a Casai. As paredes logo entregam que o local não passa por manutenção há anos. Entre portas que não fecham ou não abrem adequadamente, também são vistos materiais e equipamentos antigos. Profissionais também relatam que o problema da falta de remédios se agravou nos últimos meses – houve suspeita de irregularidades na compra de medicamentos na gestão passada.

Conforme a Secretaria de Saúde Indígena, 715 pessoas passaram, na terça, pela Casai, cuja capacidade máxima é para 300 pacientes. Foto: Edmar Barros / AP

O Estadão visitou o local na última quarta – um imóvel térreo com cinco blocos – todos ocupados nesta semana. Conforme a Secretaria de Saúde Indígena, do governo federal, a capacidade é para 300 pessoas, mas já havia 715 anteontem. Profissionais de saúde disseram à reportagem que a demanda quase triplicou. O governo diz que mais de mil indígenas demandam atendimento emergencial nas aldeias.

Lá dentro, as camas dividem espaço com redes – estruturas em que os indígenas se sentem mais confortáveis. Entre os pacientes, se destacam idosos e crianças – em geral muito magras, com problemas de respiração e barrigas inchadas. Já que grande parte dos Yanomamis não fala português, os profissionais de saúde recorrem a gestos para se comunicar. Na impossibilidade de diálogo mais detalhado com o paciente, os exames se tornam ainda mais necessários. “É preciso colher novamente o escarro para confirmar a tuberculose”, disse, às pressas, uma técnica de enfermagem.

Terra infértil

Com domínio vacilante do português, Olivia Yanomami, de aproximadamente 25 anos, explica o drama na região de Surucucu, dentro da reserva. “Muitos estão morrendo de fome. Estão muito magros”, disse ela. Por questões culturais, muitos Yanomamis evitam falar da morte. Em Boa Vista havia dois dias, ela carregava o filho caçula no colo – só pele e osso, com tosse insistente e feridas na cabeça, aparentemente por uma infecção. Estava acompanhada das duas filhas mais velhas, também crianças. Embora o acesso seja restrito a não indígenas, os Yanomamis entram e saem e pequenos grupos se juntam na porta. Essa movimentação atraiu até um ambulante, que vendia garrafas de água e refrigerante na porta da unidade de saúde.

As terras da reserva Yanomami já não são mais férteis para fazer a roça, segundo os indígenas.  Foto: Edmar Barros / AP

Segundo Olivia, na reserva Yanomami, onde vivem cerca de 30,4 mil indígenas, a terra já não é mais fértil para fazer a roça do seu povo e é difícil encontrar animais durante a caça. “Banana tem nada, macaxeira tem nada, milho tem nada, cana tem nada, mamão tem nada”, disse.

A invasão do garimpo ilegal na reserva ameaça a saúde dos indígenas, uma vez que o mercúrio contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta os animais. Estima-se que haja 20 mil mineradores irregulares na reserva. O contato com o homem branco também é responsável pelo contágio de doenças que podem ser fatais para os índios, como gripe e covid-19, além de episódios de violência e uso de álcool.

E mesmo doações de cestas básicas têm efeito limitados. A dieta dos Yanomami é baseada, principalmente, em mandioca, frutas, caça e pesca. “Não come arroz, macarrão, come farinha”, diz Olivia. “O povo está doente porque não temos mais nossas fontes naturais. Isso nos enfraquece e os garimpeiros levam doenças”, afirma Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

A invasão do garimpo ilegal na reserva ameaça a saúde dos indígenas: o mercúrio contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta os animais. Foto: Edmar Barros / AP

O ativista indígena do povo macuxi, Tony Gino Rodrigues luta para que a Casai se torne um hospital federal. “Para evitar a mortalidade infantil dos Yanomami, o governo precisa tornar a saúde indígena sólida e forte, para que possa atender de maneira específica e diferenciada em respeito aos povos da floresta”, diz ele, que é enfermeiro e trabalhou no distrito sanitário Yanomami por 11 anos. “O dinheiro precisa ser investido de forma adequada na compra de medicamentos, contratação de trabalhadores e qualificação e capacitação de profissionais”, afirma.

Mobilização

O Ministério da Saúde disse mobilizar profissionais de saúde, voluntários da Força Nacional do SUS, militares. Além do envio de equipes médicas para a terra indígena, destacou a montagem do hospital de campanha. Mais 12 profissionais da Força Nacional do SUS, diz a pasta, que vão operar o hospital de campanha, foram para Boa Vista e outra equipe multidisciplinar com profissionais de saúde da Aeronáutica foi deslocada de Manaus para Surucucu. Foram enviadas 4 mil cestas básicas em caráter de urgência, além de remédios e outros insumos. Outras mil cestas devem ser entregues na capital. / COLABOROU NATÁLIA FUHRMANN

BOA VISTA - Enquanto o Exército corria para estruturar o hospital de campanha na área anexa, médicos e enfermeiros sofriam nesta quarta-feira, 25, para dar conta do aumento da demanda da Casa de Saúde Indígena (Casai), nos arredores de Boa Vista. Do território Yanomami, isolado na Amazônia, chegam cada vez mais indígenas em condições precárias de saúde e são comuns quadros como desnutrição e tosse.

Não é preciso andar muito pelos corredores para perceber que o tempo deteriorou a Casai. As paredes logo entregam que o local não passa por manutenção há anos. Entre portas que não fecham ou não abrem adequadamente, também são vistos materiais e equipamentos antigos. Profissionais também relatam que o problema da falta de remédios se agravou nos últimos meses – houve suspeita de irregularidades na compra de medicamentos na gestão passada.

Conforme a Secretaria de Saúde Indígena, 715 pessoas passaram, na terça, pela Casai, cuja capacidade máxima é para 300 pacientes. Foto: Edmar Barros / AP

O Estadão visitou o local na última quarta – um imóvel térreo com cinco blocos – todos ocupados nesta semana. Conforme a Secretaria de Saúde Indígena, do governo federal, a capacidade é para 300 pessoas, mas já havia 715 anteontem. Profissionais de saúde disseram à reportagem que a demanda quase triplicou. O governo diz que mais de mil indígenas demandam atendimento emergencial nas aldeias.

Lá dentro, as camas dividem espaço com redes – estruturas em que os indígenas se sentem mais confortáveis. Entre os pacientes, se destacam idosos e crianças – em geral muito magras, com problemas de respiração e barrigas inchadas. Já que grande parte dos Yanomamis não fala português, os profissionais de saúde recorrem a gestos para se comunicar. Na impossibilidade de diálogo mais detalhado com o paciente, os exames se tornam ainda mais necessários. “É preciso colher novamente o escarro para confirmar a tuberculose”, disse, às pressas, uma técnica de enfermagem.

Terra infértil

Com domínio vacilante do português, Olivia Yanomami, de aproximadamente 25 anos, explica o drama na região de Surucucu, dentro da reserva. “Muitos estão morrendo de fome. Estão muito magros”, disse ela. Por questões culturais, muitos Yanomamis evitam falar da morte. Em Boa Vista havia dois dias, ela carregava o filho caçula no colo – só pele e osso, com tosse insistente e feridas na cabeça, aparentemente por uma infecção. Estava acompanhada das duas filhas mais velhas, também crianças. Embora o acesso seja restrito a não indígenas, os Yanomamis entram e saem e pequenos grupos se juntam na porta. Essa movimentação atraiu até um ambulante, que vendia garrafas de água e refrigerante na porta da unidade de saúde.

As terras da reserva Yanomami já não são mais férteis para fazer a roça, segundo os indígenas.  Foto: Edmar Barros / AP

Segundo Olivia, na reserva Yanomami, onde vivem cerca de 30,4 mil indígenas, a terra já não é mais fértil para fazer a roça do seu povo e é difícil encontrar animais durante a caça. “Banana tem nada, macaxeira tem nada, milho tem nada, cana tem nada, mamão tem nada”, disse.

A invasão do garimpo ilegal na reserva ameaça a saúde dos indígenas, uma vez que o mercúrio contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta os animais. Estima-se que haja 20 mil mineradores irregulares na reserva. O contato com o homem branco também é responsável pelo contágio de doenças que podem ser fatais para os índios, como gripe e covid-19, além de episódios de violência e uso de álcool.

E mesmo doações de cestas básicas têm efeito limitados. A dieta dos Yanomami é baseada, principalmente, em mandioca, frutas, caça e pesca. “Não come arroz, macarrão, come farinha”, diz Olivia. “O povo está doente porque não temos mais nossas fontes naturais. Isso nos enfraquece e os garimpeiros levam doenças”, afirma Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

A invasão do garimpo ilegal na reserva ameaça a saúde dos indígenas: o mercúrio contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta os animais. Foto: Edmar Barros / AP

O ativista indígena do povo macuxi, Tony Gino Rodrigues luta para que a Casai se torne um hospital federal. “Para evitar a mortalidade infantil dos Yanomami, o governo precisa tornar a saúde indígena sólida e forte, para que possa atender de maneira específica e diferenciada em respeito aos povos da floresta”, diz ele, que é enfermeiro e trabalhou no distrito sanitário Yanomami por 11 anos. “O dinheiro precisa ser investido de forma adequada na compra de medicamentos, contratação de trabalhadores e qualificação e capacitação de profissionais”, afirma.

Mobilização

O Ministério da Saúde disse mobilizar profissionais de saúde, voluntários da Força Nacional do SUS, militares. Além do envio de equipes médicas para a terra indígena, destacou a montagem do hospital de campanha. Mais 12 profissionais da Força Nacional do SUS, diz a pasta, que vão operar o hospital de campanha, foram para Boa Vista e outra equipe multidisciplinar com profissionais de saúde da Aeronáutica foi deslocada de Manaus para Surucucu. Foram enviadas 4 mil cestas básicas em caráter de urgência, além de remédios e outros insumos. Outras mil cestas devem ser entregues na capital. / COLABOROU NATÁLIA FUHRMANN

BOA VISTA - Enquanto o Exército corria para estruturar o hospital de campanha na área anexa, médicos e enfermeiros sofriam nesta quarta-feira, 25, para dar conta do aumento da demanda da Casa de Saúde Indígena (Casai), nos arredores de Boa Vista. Do território Yanomami, isolado na Amazônia, chegam cada vez mais indígenas em condições precárias de saúde e são comuns quadros como desnutrição e tosse.

Não é preciso andar muito pelos corredores para perceber que o tempo deteriorou a Casai. As paredes logo entregam que o local não passa por manutenção há anos. Entre portas que não fecham ou não abrem adequadamente, também são vistos materiais e equipamentos antigos. Profissionais também relatam que o problema da falta de remédios se agravou nos últimos meses – houve suspeita de irregularidades na compra de medicamentos na gestão passada.

Conforme a Secretaria de Saúde Indígena, 715 pessoas passaram, na terça, pela Casai, cuja capacidade máxima é para 300 pacientes. Foto: Edmar Barros / AP

O Estadão visitou o local na última quarta – um imóvel térreo com cinco blocos – todos ocupados nesta semana. Conforme a Secretaria de Saúde Indígena, do governo federal, a capacidade é para 300 pessoas, mas já havia 715 anteontem. Profissionais de saúde disseram à reportagem que a demanda quase triplicou. O governo diz que mais de mil indígenas demandam atendimento emergencial nas aldeias.

Lá dentro, as camas dividem espaço com redes – estruturas em que os indígenas se sentem mais confortáveis. Entre os pacientes, se destacam idosos e crianças – em geral muito magras, com problemas de respiração e barrigas inchadas. Já que grande parte dos Yanomamis não fala português, os profissionais de saúde recorrem a gestos para se comunicar. Na impossibilidade de diálogo mais detalhado com o paciente, os exames se tornam ainda mais necessários. “É preciso colher novamente o escarro para confirmar a tuberculose”, disse, às pressas, uma técnica de enfermagem.

Terra infértil

Com domínio vacilante do português, Olivia Yanomami, de aproximadamente 25 anos, explica o drama na região de Surucucu, dentro da reserva. “Muitos estão morrendo de fome. Estão muito magros”, disse ela. Por questões culturais, muitos Yanomamis evitam falar da morte. Em Boa Vista havia dois dias, ela carregava o filho caçula no colo – só pele e osso, com tosse insistente e feridas na cabeça, aparentemente por uma infecção. Estava acompanhada das duas filhas mais velhas, também crianças. Embora o acesso seja restrito a não indígenas, os Yanomamis entram e saem e pequenos grupos se juntam na porta. Essa movimentação atraiu até um ambulante, que vendia garrafas de água e refrigerante na porta da unidade de saúde.

As terras da reserva Yanomami já não são mais férteis para fazer a roça, segundo os indígenas.  Foto: Edmar Barros / AP

Segundo Olivia, na reserva Yanomami, onde vivem cerca de 30,4 mil indígenas, a terra já não é mais fértil para fazer a roça do seu povo e é difícil encontrar animais durante a caça. “Banana tem nada, macaxeira tem nada, milho tem nada, cana tem nada, mamão tem nada”, disse.

A invasão do garimpo ilegal na reserva ameaça a saúde dos indígenas, uma vez que o mercúrio contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta os animais. Estima-se que haja 20 mil mineradores irregulares na reserva. O contato com o homem branco também é responsável pelo contágio de doenças que podem ser fatais para os índios, como gripe e covid-19, além de episódios de violência e uso de álcool.

E mesmo doações de cestas básicas têm efeito limitados. A dieta dos Yanomami é baseada, principalmente, em mandioca, frutas, caça e pesca. “Não come arroz, macarrão, come farinha”, diz Olivia. “O povo está doente porque não temos mais nossas fontes naturais. Isso nos enfraquece e os garimpeiros levam doenças”, afirma Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

A invasão do garimpo ilegal na reserva ameaça a saúde dos indígenas: o mercúrio contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta os animais. Foto: Edmar Barros / AP

O ativista indígena do povo macuxi, Tony Gino Rodrigues luta para que a Casai se torne um hospital federal. “Para evitar a mortalidade infantil dos Yanomami, o governo precisa tornar a saúde indígena sólida e forte, para que possa atender de maneira específica e diferenciada em respeito aos povos da floresta”, diz ele, que é enfermeiro e trabalhou no distrito sanitário Yanomami por 11 anos. “O dinheiro precisa ser investido de forma adequada na compra de medicamentos, contratação de trabalhadores e qualificação e capacitação de profissionais”, afirma.

Mobilização

O Ministério da Saúde disse mobilizar profissionais de saúde, voluntários da Força Nacional do SUS, militares. Além do envio de equipes médicas para a terra indígena, destacou a montagem do hospital de campanha. Mais 12 profissionais da Força Nacional do SUS, diz a pasta, que vão operar o hospital de campanha, foram para Boa Vista e outra equipe multidisciplinar com profissionais de saúde da Aeronáutica foi deslocada de Manaus para Surucucu. Foram enviadas 4 mil cestas básicas em caráter de urgência, além de remédios e outros insumos. Outras mil cestas devem ser entregues na capital. / COLABOROU NATÁLIA FUHRMANN

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