Cúmplices da irresponsabilidade fiscal


Por José Matias-Pereira

Análise publicada originalmente no Estadão Noite Os conflitos presentes nas decisões adotadas nos âmbitos do governo e do Congresso Nacional revelam um cenário político e econômico cada vez mais instável e confuso no País. A desgastante votação da extensa pauta do Congresso, na qual constavam 13 vetos presidenciais (dos quais dois foram derrubados), mostrou a crescente dependência da presidente Dilma da colaboração do seu principal 'partner' político, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros, em função de uma base política cada vez menos coesa. Por sua vez, os desgastes políticos sofridos pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, com a abertura de processo de cassação do seu mandato pelo Conselho de Ética, estão reduzindo de forma acelerada o seu poder político. A governante, que não mais dispõe dos instrumentos políticos e administrativos para governar, e pressionada pelo seu mentor para mudar a direção da economia e lhe garantir uma maior blindagem política para conter os avanços das investigações da Operação Lava Jato, vive atormentada pelo risco de que o presidente da Câmara abra um processo de impeachment contra ela. Enquanto isso, a crise institucional avança no Brasil. Essa crise, a mais grave na história do Brasil, notadamente na deterioração das contas públicas, a questão da definição de uma nova meta fiscal de 2015, que exige uma nova alteração na meta prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) em vigor, surge como o tema mais polêmico e relevante na pauta política neste final de ano. A presidente Dilma está consciente de que precisa mudá-la novamente para não ser acusada de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Para que possa superar essa dificuldade, necessita contar com o apoio e a cumplicidade da maioria dos integrantes do Congresso Nacional, com os quais vem 'negociando' e fazendo concessões pouco republicanas para salvar o seu mandato. É válido lembrar que a meta prevista inicialmente na LDO de 2015 era de um superávit de R$ 55,3 bilhões para a União e de R$ 66,3 bilhões para o setor público consolidado. Atropelado pela gravidade da crise econômica e pelo ajuste fiscal incompleto, o governo enviou posteriormente projeto mudando a meta fiscal de um superávit para um déficit de R$ 51,8 bilhões. Pela proposta atual, a União (governo central) fica autorizada a ter um déficit fiscal em 2015 de até R$ 119,9 bilhões (2,08% do PIB). A deterioração das contas públicas é tão grave que o relator da matéria na CMO promoveu uma esdrúxula 'inovação', por meio do estabelecimento de uma 'meta fiscal móvel'. Observa-se que na conta do novo déficit fiscal (R$ 119,9 bilhões), foi incluída a conta das pedaladas fiscais, no valor de R$ 57,013 bilhões. O total das pedaladas fiscais, conforme explicitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) é decorrente de passivo da União junto ao FGTS, no valor de R$ 10,990 bilhões; adiantamentos do FGTS à União, no valor de R$ 9,747 bilhões; valores devidos pelo Tesouro ao BNDES, no valor de R$ 22,438 bilhões; valores devidos pelo Tesouro ao Banco do Brasil, no valor de R$ 12,329 bilhões; e valores devidos à CEF, no valor de R$ 1,509 bilhões. Partindo dos valores propostos inicialmente pelo governo na LDO de 2015, que previa uma economia próxima de R$ 67 bilhões, para um déficit primário de R$ 120 bilhões, chega-se a uma diferença assustadora do descontrole das contas públicas: um déficit primário de R$ 187 bilhões. Registre-se que o primeiro passo para rever a meta fiscal de 2015 já foi dado com a apreciação e aprovação pela Comissão Mista de Orçamento (CMO). No entanto, a nova meta fiscal de 2015 precisa ser aprovada pelo plenário do Congresso até o dia 22 de dezembro, caso contrário se abre a possibilidade de imputar à presidente Dilma crime de responsabilidade fiscal, o que exige a abertura de um processo de impeachment. Esse quadro desfavorável para a presidente explica o elevado nível de estresse político do governo.  A extensão dos erros cometidos pelo governo Dilma, especialmente no campo fiscal, conforme evidencia a decisão do TCU, mostra que não havia nenhuma preocupação em infringir a LRF e a Lei Orçamentária. Se o propósito da presidente Dilma em 2014 era esconder da população a gravidade da situação das finanças públicas para se reeleger, está evidente que em 2015 o objetivo é evitar o impeachment, e permanecer no poder a qualquer custo. Esse cenário trágico para os brasileiros, com um tombo no PIB de 3,5% neste ano, uma inflação de 10% ao ano, juros elevados, queda na arrecadação, aumento acelerado do desemprego e queda na renda, revela da face de um governo que não se prima pela transparência das contas públicas, que abandonou de forma deliberada a disciplina fiscal para alcançar os seus objetivos políticos e ideológicos, executados por meio de demagogia e populismo. Nesse contexto de crescentes turbulências políticas existem indícios de que o Congresso Nacional, mesmo diante da grave crise econômica, política, policial e social que afeta o País, mostra-se disposto a votar uma temerária lei definido uma 'meta fiscal móvel' no Orçamento de 2015, que isenta a presidente Dilma da prática de crime de responsabilidade fiscal. É preciso alertar, caso essa legislação seja aprovada pelo parlamento, que os seus apoiadores, além de cúmplices da irresponsabilidade fiscal praticada pela mandatária, estarão contribuindo para agravar ainda mais a crise institucional que assola o Brasil.* José Matias-Pereira. Economista e advogado. Doutor em ciência política (área de governo e administração pública) pela Universidade Complutense de Madri, Espanha, e Pós-doutor em administração pela Universidade de São Paulo. Professor de administração pública e pesquisador associado do programa de pós-graduação em contabilidade da Universidade de Brasília. Autor, entre outras obras, do Curso de economia política (2015), publicado pela Atlas

Análise publicada originalmente no Estadão Noite Os conflitos presentes nas decisões adotadas nos âmbitos do governo e do Congresso Nacional revelam um cenário político e econômico cada vez mais instável e confuso no País. A desgastante votação da extensa pauta do Congresso, na qual constavam 13 vetos presidenciais (dos quais dois foram derrubados), mostrou a crescente dependência da presidente Dilma da colaboração do seu principal 'partner' político, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros, em função de uma base política cada vez menos coesa. Por sua vez, os desgastes políticos sofridos pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, com a abertura de processo de cassação do seu mandato pelo Conselho de Ética, estão reduzindo de forma acelerada o seu poder político. A governante, que não mais dispõe dos instrumentos políticos e administrativos para governar, e pressionada pelo seu mentor para mudar a direção da economia e lhe garantir uma maior blindagem política para conter os avanços das investigações da Operação Lava Jato, vive atormentada pelo risco de que o presidente da Câmara abra um processo de impeachment contra ela. Enquanto isso, a crise institucional avança no Brasil. Essa crise, a mais grave na história do Brasil, notadamente na deterioração das contas públicas, a questão da definição de uma nova meta fiscal de 2015, que exige uma nova alteração na meta prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) em vigor, surge como o tema mais polêmico e relevante na pauta política neste final de ano. A presidente Dilma está consciente de que precisa mudá-la novamente para não ser acusada de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Para que possa superar essa dificuldade, necessita contar com o apoio e a cumplicidade da maioria dos integrantes do Congresso Nacional, com os quais vem 'negociando' e fazendo concessões pouco republicanas para salvar o seu mandato. É válido lembrar que a meta prevista inicialmente na LDO de 2015 era de um superávit de R$ 55,3 bilhões para a União e de R$ 66,3 bilhões para o setor público consolidado. Atropelado pela gravidade da crise econômica e pelo ajuste fiscal incompleto, o governo enviou posteriormente projeto mudando a meta fiscal de um superávit para um déficit de R$ 51,8 bilhões. Pela proposta atual, a União (governo central) fica autorizada a ter um déficit fiscal em 2015 de até R$ 119,9 bilhões (2,08% do PIB). A deterioração das contas públicas é tão grave que o relator da matéria na CMO promoveu uma esdrúxula 'inovação', por meio do estabelecimento de uma 'meta fiscal móvel'. Observa-se que na conta do novo déficit fiscal (R$ 119,9 bilhões), foi incluída a conta das pedaladas fiscais, no valor de R$ 57,013 bilhões. O total das pedaladas fiscais, conforme explicitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) é decorrente de passivo da União junto ao FGTS, no valor de R$ 10,990 bilhões; adiantamentos do FGTS à União, no valor de R$ 9,747 bilhões; valores devidos pelo Tesouro ao BNDES, no valor de R$ 22,438 bilhões; valores devidos pelo Tesouro ao Banco do Brasil, no valor de R$ 12,329 bilhões; e valores devidos à CEF, no valor de R$ 1,509 bilhões. Partindo dos valores propostos inicialmente pelo governo na LDO de 2015, que previa uma economia próxima de R$ 67 bilhões, para um déficit primário de R$ 120 bilhões, chega-se a uma diferença assustadora do descontrole das contas públicas: um déficit primário de R$ 187 bilhões. Registre-se que o primeiro passo para rever a meta fiscal de 2015 já foi dado com a apreciação e aprovação pela Comissão Mista de Orçamento (CMO). No entanto, a nova meta fiscal de 2015 precisa ser aprovada pelo plenário do Congresso até o dia 22 de dezembro, caso contrário se abre a possibilidade de imputar à presidente Dilma crime de responsabilidade fiscal, o que exige a abertura de um processo de impeachment. Esse quadro desfavorável para a presidente explica o elevado nível de estresse político do governo.  A extensão dos erros cometidos pelo governo Dilma, especialmente no campo fiscal, conforme evidencia a decisão do TCU, mostra que não havia nenhuma preocupação em infringir a LRF e a Lei Orçamentária. Se o propósito da presidente Dilma em 2014 era esconder da população a gravidade da situação das finanças públicas para se reeleger, está evidente que em 2015 o objetivo é evitar o impeachment, e permanecer no poder a qualquer custo. Esse cenário trágico para os brasileiros, com um tombo no PIB de 3,5% neste ano, uma inflação de 10% ao ano, juros elevados, queda na arrecadação, aumento acelerado do desemprego e queda na renda, revela da face de um governo que não se prima pela transparência das contas públicas, que abandonou de forma deliberada a disciplina fiscal para alcançar os seus objetivos políticos e ideológicos, executados por meio de demagogia e populismo. Nesse contexto de crescentes turbulências políticas existem indícios de que o Congresso Nacional, mesmo diante da grave crise econômica, política, policial e social que afeta o País, mostra-se disposto a votar uma temerária lei definido uma 'meta fiscal móvel' no Orçamento de 2015, que isenta a presidente Dilma da prática de crime de responsabilidade fiscal. É preciso alertar, caso essa legislação seja aprovada pelo parlamento, que os seus apoiadores, além de cúmplices da irresponsabilidade fiscal praticada pela mandatária, estarão contribuindo para agravar ainda mais a crise institucional que assola o Brasil.* José Matias-Pereira. Economista e advogado. Doutor em ciência política (área de governo e administração pública) pela Universidade Complutense de Madri, Espanha, e Pós-doutor em administração pela Universidade de São Paulo. Professor de administração pública e pesquisador associado do programa de pós-graduação em contabilidade da Universidade de Brasília. Autor, entre outras obras, do Curso de economia política (2015), publicado pela Atlas

Análise publicada originalmente no Estadão Noite Os conflitos presentes nas decisões adotadas nos âmbitos do governo e do Congresso Nacional revelam um cenário político e econômico cada vez mais instável e confuso no País. A desgastante votação da extensa pauta do Congresso, na qual constavam 13 vetos presidenciais (dos quais dois foram derrubados), mostrou a crescente dependência da presidente Dilma da colaboração do seu principal 'partner' político, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros, em função de uma base política cada vez menos coesa. Por sua vez, os desgastes políticos sofridos pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, com a abertura de processo de cassação do seu mandato pelo Conselho de Ética, estão reduzindo de forma acelerada o seu poder político. A governante, que não mais dispõe dos instrumentos políticos e administrativos para governar, e pressionada pelo seu mentor para mudar a direção da economia e lhe garantir uma maior blindagem política para conter os avanços das investigações da Operação Lava Jato, vive atormentada pelo risco de que o presidente da Câmara abra um processo de impeachment contra ela. Enquanto isso, a crise institucional avança no Brasil. Essa crise, a mais grave na história do Brasil, notadamente na deterioração das contas públicas, a questão da definição de uma nova meta fiscal de 2015, que exige uma nova alteração na meta prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) em vigor, surge como o tema mais polêmico e relevante na pauta política neste final de ano. A presidente Dilma está consciente de que precisa mudá-la novamente para não ser acusada de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Para que possa superar essa dificuldade, necessita contar com o apoio e a cumplicidade da maioria dos integrantes do Congresso Nacional, com os quais vem 'negociando' e fazendo concessões pouco republicanas para salvar o seu mandato. É válido lembrar que a meta prevista inicialmente na LDO de 2015 era de um superávit de R$ 55,3 bilhões para a União e de R$ 66,3 bilhões para o setor público consolidado. Atropelado pela gravidade da crise econômica e pelo ajuste fiscal incompleto, o governo enviou posteriormente projeto mudando a meta fiscal de um superávit para um déficit de R$ 51,8 bilhões. Pela proposta atual, a União (governo central) fica autorizada a ter um déficit fiscal em 2015 de até R$ 119,9 bilhões (2,08% do PIB). A deterioração das contas públicas é tão grave que o relator da matéria na CMO promoveu uma esdrúxula 'inovação', por meio do estabelecimento de uma 'meta fiscal móvel'. Observa-se que na conta do novo déficit fiscal (R$ 119,9 bilhões), foi incluída a conta das pedaladas fiscais, no valor de R$ 57,013 bilhões. O total das pedaladas fiscais, conforme explicitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) é decorrente de passivo da União junto ao FGTS, no valor de R$ 10,990 bilhões; adiantamentos do FGTS à União, no valor de R$ 9,747 bilhões; valores devidos pelo Tesouro ao BNDES, no valor de R$ 22,438 bilhões; valores devidos pelo Tesouro ao Banco do Brasil, no valor de R$ 12,329 bilhões; e valores devidos à CEF, no valor de R$ 1,509 bilhões. Partindo dos valores propostos inicialmente pelo governo na LDO de 2015, que previa uma economia próxima de R$ 67 bilhões, para um déficit primário de R$ 120 bilhões, chega-se a uma diferença assustadora do descontrole das contas públicas: um déficit primário de R$ 187 bilhões. Registre-se que o primeiro passo para rever a meta fiscal de 2015 já foi dado com a apreciação e aprovação pela Comissão Mista de Orçamento (CMO). No entanto, a nova meta fiscal de 2015 precisa ser aprovada pelo plenário do Congresso até o dia 22 de dezembro, caso contrário se abre a possibilidade de imputar à presidente Dilma crime de responsabilidade fiscal, o que exige a abertura de um processo de impeachment. Esse quadro desfavorável para a presidente explica o elevado nível de estresse político do governo.  A extensão dos erros cometidos pelo governo Dilma, especialmente no campo fiscal, conforme evidencia a decisão do TCU, mostra que não havia nenhuma preocupação em infringir a LRF e a Lei Orçamentária. Se o propósito da presidente Dilma em 2014 era esconder da população a gravidade da situação das finanças públicas para se reeleger, está evidente que em 2015 o objetivo é evitar o impeachment, e permanecer no poder a qualquer custo. Esse cenário trágico para os brasileiros, com um tombo no PIB de 3,5% neste ano, uma inflação de 10% ao ano, juros elevados, queda na arrecadação, aumento acelerado do desemprego e queda na renda, revela da face de um governo que não se prima pela transparência das contas públicas, que abandonou de forma deliberada a disciplina fiscal para alcançar os seus objetivos políticos e ideológicos, executados por meio de demagogia e populismo. Nesse contexto de crescentes turbulências políticas existem indícios de que o Congresso Nacional, mesmo diante da grave crise econômica, política, policial e social que afeta o País, mostra-se disposto a votar uma temerária lei definido uma 'meta fiscal móvel' no Orçamento de 2015, que isenta a presidente Dilma da prática de crime de responsabilidade fiscal. É preciso alertar, caso essa legislação seja aprovada pelo parlamento, que os seus apoiadores, além de cúmplices da irresponsabilidade fiscal praticada pela mandatária, estarão contribuindo para agravar ainda mais a crise institucional que assola o Brasil.* José Matias-Pereira. Economista e advogado. Doutor em ciência política (área de governo e administração pública) pela Universidade Complutense de Madri, Espanha, e Pós-doutor em administração pela Universidade de São Paulo. Professor de administração pública e pesquisador associado do programa de pós-graduação em contabilidade da Universidade de Brasília. Autor, entre outras obras, do Curso de economia política (2015), publicado pela Atlas

Análise publicada originalmente no Estadão Noite Os conflitos presentes nas decisões adotadas nos âmbitos do governo e do Congresso Nacional revelam um cenário político e econômico cada vez mais instável e confuso no País. A desgastante votação da extensa pauta do Congresso, na qual constavam 13 vetos presidenciais (dos quais dois foram derrubados), mostrou a crescente dependência da presidente Dilma da colaboração do seu principal 'partner' político, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros, em função de uma base política cada vez menos coesa. Por sua vez, os desgastes políticos sofridos pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, com a abertura de processo de cassação do seu mandato pelo Conselho de Ética, estão reduzindo de forma acelerada o seu poder político. A governante, que não mais dispõe dos instrumentos políticos e administrativos para governar, e pressionada pelo seu mentor para mudar a direção da economia e lhe garantir uma maior blindagem política para conter os avanços das investigações da Operação Lava Jato, vive atormentada pelo risco de que o presidente da Câmara abra um processo de impeachment contra ela. Enquanto isso, a crise institucional avança no Brasil. Essa crise, a mais grave na história do Brasil, notadamente na deterioração das contas públicas, a questão da definição de uma nova meta fiscal de 2015, que exige uma nova alteração na meta prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) em vigor, surge como o tema mais polêmico e relevante na pauta política neste final de ano. A presidente Dilma está consciente de que precisa mudá-la novamente para não ser acusada de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Para que possa superar essa dificuldade, necessita contar com o apoio e a cumplicidade da maioria dos integrantes do Congresso Nacional, com os quais vem 'negociando' e fazendo concessões pouco republicanas para salvar o seu mandato. É válido lembrar que a meta prevista inicialmente na LDO de 2015 era de um superávit de R$ 55,3 bilhões para a União e de R$ 66,3 bilhões para o setor público consolidado. Atropelado pela gravidade da crise econômica e pelo ajuste fiscal incompleto, o governo enviou posteriormente projeto mudando a meta fiscal de um superávit para um déficit de R$ 51,8 bilhões. Pela proposta atual, a União (governo central) fica autorizada a ter um déficit fiscal em 2015 de até R$ 119,9 bilhões (2,08% do PIB). A deterioração das contas públicas é tão grave que o relator da matéria na CMO promoveu uma esdrúxula 'inovação', por meio do estabelecimento de uma 'meta fiscal móvel'. Observa-se que na conta do novo déficit fiscal (R$ 119,9 bilhões), foi incluída a conta das pedaladas fiscais, no valor de R$ 57,013 bilhões. O total das pedaladas fiscais, conforme explicitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) é decorrente de passivo da União junto ao FGTS, no valor de R$ 10,990 bilhões; adiantamentos do FGTS à União, no valor de R$ 9,747 bilhões; valores devidos pelo Tesouro ao BNDES, no valor de R$ 22,438 bilhões; valores devidos pelo Tesouro ao Banco do Brasil, no valor de R$ 12,329 bilhões; e valores devidos à CEF, no valor de R$ 1,509 bilhões. Partindo dos valores propostos inicialmente pelo governo na LDO de 2015, que previa uma economia próxima de R$ 67 bilhões, para um déficit primário de R$ 120 bilhões, chega-se a uma diferença assustadora do descontrole das contas públicas: um déficit primário de R$ 187 bilhões. Registre-se que o primeiro passo para rever a meta fiscal de 2015 já foi dado com a apreciação e aprovação pela Comissão Mista de Orçamento (CMO). No entanto, a nova meta fiscal de 2015 precisa ser aprovada pelo plenário do Congresso até o dia 22 de dezembro, caso contrário se abre a possibilidade de imputar à presidente Dilma crime de responsabilidade fiscal, o que exige a abertura de um processo de impeachment. Esse quadro desfavorável para a presidente explica o elevado nível de estresse político do governo.  A extensão dos erros cometidos pelo governo Dilma, especialmente no campo fiscal, conforme evidencia a decisão do TCU, mostra que não havia nenhuma preocupação em infringir a LRF e a Lei Orçamentária. Se o propósito da presidente Dilma em 2014 era esconder da população a gravidade da situação das finanças públicas para se reeleger, está evidente que em 2015 o objetivo é evitar o impeachment, e permanecer no poder a qualquer custo. Esse cenário trágico para os brasileiros, com um tombo no PIB de 3,5% neste ano, uma inflação de 10% ao ano, juros elevados, queda na arrecadação, aumento acelerado do desemprego e queda na renda, revela da face de um governo que não se prima pela transparência das contas públicas, que abandonou de forma deliberada a disciplina fiscal para alcançar os seus objetivos políticos e ideológicos, executados por meio de demagogia e populismo. Nesse contexto de crescentes turbulências políticas existem indícios de que o Congresso Nacional, mesmo diante da grave crise econômica, política, policial e social que afeta o País, mostra-se disposto a votar uma temerária lei definido uma 'meta fiscal móvel' no Orçamento de 2015, que isenta a presidente Dilma da prática de crime de responsabilidade fiscal. É preciso alertar, caso essa legislação seja aprovada pelo parlamento, que os seus apoiadores, além de cúmplices da irresponsabilidade fiscal praticada pela mandatária, estarão contribuindo para agravar ainda mais a crise institucional que assola o Brasil.* José Matias-Pereira. Economista e advogado. Doutor em ciência política (área de governo e administração pública) pela Universidade Complutense de Madri, Espanha, e Pós-doutor em administração pela Universidade de São Paulo. Professor de administração pública e pesquisador associado do programa de pós-graduação em contabilidade da Universidade de Brasília. Autor, entre outras obras, do Curso de economia política (2015), publicado pela Atlas

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