"Um reloginho de parede tiquetaqueia timidamente, como que embaraçado diante do homem estranho."
"O ar está silencioso, mas tão frio e enfarruscado que mal se podem ver até mesmo as luzes dos postes de iluminação. Debaixo dos pés a lama soluça."
"Ele não bate, não grita, tem muito mais virtudes que defeitos, mas, quando ele sai de casa, todos se sentem mais leves e saudáveis."
Pego um conto de menos de seis páginas de Tchecov, que dá título ao livro de bolso O Homem Extraordinário (L&PM, tradução de Tatiana Belinky), e grifo as frases acima enquanto penso em como são "infilmáveis" essas histórias. A tela pode mostrar esses eventos, mas não qualificá-los de tal modo, com tal síntese e estilo. O grande escritor ainda é, na era do audiovisual, antes de mais nada um grande descritor.