A quinze rodadas do término, e fechada a janela - ou porta-janela, tal o tamanho - da transferência de jogadores para o exterior, o Campeonato Brasileiro mudou bastante. Times como Flamengo e Vitória já não parecem ter chances de voltar ao quarteto do alto da tabela, com o reaparecimento do Botafogo, e Grêmio e Palmeiras parecem mais firmes em suas posições de líder e vice-líder, dada a irregularidade do Cruzeiro. A confusão do primeiro turno se dissipou parcialmente, e daqui para a frente os profetas já podem arriscar.
Uma lição é a mesma de sempre: time que se desfigura ao longo da temporada paga preço alto. O Flamengo é o exemplo mais claro. Mesmo o São Paulo, que sempre se destacou por um trabalho mais preventivo, planejado, já não tem muitas condições de brigar pelo título graças à rotatividade. O jogo contra o Santos, anteontem, mais uma vez mostrou sua carência de um armador, pois os cruzamentos de Jorge Wagner e as subidas de Hernanes são insuficientes, ainda mais quando na frente já não se tem um artilheiro do tipo de Adriano.
Outra lição que se repete é o perfil do favorito ao troféu. Como se falava sobre o São Paulo nos dois anos anteriores, fala-se sobre o Grêmio que seus resultados se devem ao futebol "feio", de marcação, etc. Mas o Grêmio não é apenas a melhor defesa do torneio; é também o melhor ataque, ao lado do palmeirense. No meio, tem a criatividade de Tcheco; na frente, o bom trabalho de Marcel e Perea, dois atacantes que sabem chegar à área e dividem as finalizações. Além disso, o técnico Celso Roth estabeleceu um padrão de jogo.
Em futebol tecnicamente medíocre, elenco homogêneo e proposta tática fazem muita diferença. É claro que eu gostaria que o líder fosse um time de qualidade, que enchesse os olhos; mas também acho que menosprezar os motivos que fazem o Grêmio estar lá, mesmo sem craques, soa como despeito. Compare com seus concorrentes mais diretos. Qual outra equipe nesse campeonato pode dizer que tem o mesmo equilíbrio entre defesa e ataque, experiência e juventude?
O Palmeiras, por exemplo, perdeu ou deixou de ganhar muitos pontos com suas atuações imprudentes fora de casa. A vitória sobre o Atlético-PR no domingo apenas comprovou isso: com Diego Souza mais livre, já que Valdívia tolamente se mandou para as Arábias, e com Martinez protegendo a zaga, os contra-ataques saíram e o time não se expôs. Mas tal consistência veio tarde, embora ainda haja tempo de buscar o Grêmio, com quem fará jogo decisivo em novembro.
Desde já, o maior derrotado do ano é, de novo, o futebol nacional.
TIMÃO DO B
Corinthianos estão felizes da vida com seu time, líder da Série B com folga e dando goleadas como a de sábado passado. Douglas faz muita diferença, André Santos recuperou a boa fase, Elias chegou no momento certo, a zaga continua firme; dá até para relevar a baixa eficiência de Lulinha e a falta de pontaria de Herrera. Com essa equipe, muito provavelmente o clube não teria caído no ano passado. Sem querer aguar o chope, pergunto: então por que não a fizeram antes?