SOROCABA – Assassinos em série, como ‘Pedrinho Matador’, de 68 anos, encontrado morto neste domingo, 5, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, fazem parte da crônica policial brasileira, um dos países com maior taxa de homicídios no mundo. Os assassinos em série são criminosos que cometeram homicídios em sequência ou mais de um crime por morte bárbara.
Em grande parte dos casos que chegam ao Judiciário, os réus apresentam transtornos mentais, como psicopatia, impulsos sexuais doentios, como os maníacos, e convicções pessoais de justiça. Relembre alguns dos casos mais famosos:
Pedrinho Matador
Pedro Rodrigues Filho, o Pedrinho Matador, tem ao menos 71 vítimas confirmadas – ele mesmo se vangloriava de ter matado mais de cem pessoas. A trajetória criminosa de Pedrinho, nascido em Santa Rita do Sapucaí (MG), começou aos 9 anos, quando fugiu de casa e foi para a capital paulista, onde passou a cometer roubos.
Com 11 anos, matou o traficante Jorge Galvão em Itaquera, na zona leste, e, em seguida, o irmão e o cunhado dele. Daí não parou mais: aos 14 anos, matou o vice-prefeito de Alfenas (MG) por ter demitido seu pai, um guarda escolar acusado de roubar merenda, e em seguida um vigia, que acreditava ser o verdadeiro ladrão.
Em Mogi das Cruzes, virou matador de aluguel, eliminando rivais de traficantes e, após encontrar sua mulher assassinada, matou vários supostos envolvidos no crime – seis deles durante a invasão de uma festa, antes de ter completado a maioridade.
Preso em 1973, aos 18 anos, continuou matando “por prazer”, como tatuou no braço esquerdo. “Dizem que comi o coração (do pai), mas só cortei, mastiguei um pedaço e joguei fora”, disse em entrevista a um programa de TV. Em entrevista ao Estadão, em 1986, disse que matar é natural. “Se atravessarem meu caminho, mato mesmo. Todos que matei quiseram me desafiar, me enfrentar.”
Condenado inicialmente a 126 anos de prisão, Pedrinho teve vários aumentos de pena pelos crimes cometidos na prisão, chegando a uma condenação de quase 400 anos. Solto em 2018, ele se dizia convertido e se tornou “Pedrinho Ex Matador com Jesus”, em rede social. O antigo serial killer foi morto a tiros, na calçada da casa de familiares. Após alvejá-lo, os assassinos cortaram sua garganta com uma faca de cozinha.
Helinho Justiceiro
São atribuídas a Hélio José Muniz Filho 65 assassinatos, ao longo dos seus 24 anos de vida, o que rendeu a ele o apelido de Helinho Justiceiro. Os crimes teriam sido cometidos na região metropolitana de Recife, onde ele nasceu e fez fama. Muniz Filho, no entanto, foi condenado por dois assassinatos, entre eles o de uma adolescente de 13 anos. Nos demais casos atribuídos ao justiceiro, não houve provas suficientes para que ele fosse sentenciado pela Justiça.
Muitos teriam sido cometidos por outros integrantes do grupo de justiceiros que ele teria formado para acabar com as “almas sebosas”, como eram chamados os pequenos delinquentes da região.
Em janeiro de 2001, Helinho foi assassinado no Presídio Anibal Bruno, em Recife, por outros três detentos. Ele teve a vida retratada no documentário O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas, de Paulo Caldas e Marcelo Luna, lançado em 2001.
Chico Picadinho
Francisco Costa Rocha ficou conhecido por assassinar e esquartejar suas vítimas, mas só dois crimes foram confirmados. Em 1966, ele matou e despedaçou o corpo de Margareth Suida, uma bailarina austríaca de 38 anos, depois dormiu no sofá. Na manhã seguinte, fugiu, mas foi encontrado e preso.
Dez anos depois, em liberdade por bom comportamento, ele voltou a matar. Depois de tentar tirar a vida de uma prostituta, em um hotel de São Paulo, ele assassinou e usou faca e serrote para esquartejar o corpo de Ângela Silva, de 34 anos. Diagnosticado como psicopata e condenado a 22 anos e 6 meses, Chico Picadinho ainda vive em um hospital psiquiátrico, no interior de São Paulo.
Maníaco do Parque
Nascido em Guaraci (SP), Francisco de Assis Pereira ganhou fama de serial killer na década de 1990, em São Paulo, onde trabalhava como motoboy, após matar sete mulheres e tentar matar outras nove. Ele atraía jovens bonitas com promessas de emprego e as levava de moto para o Parque do Estado, na zona sul da capital. O rapaz se dizia o caça-talentos de uma revista e as elogiava pela beleza. As vítimas, em sua maioria, foram espancadas, estupradas e mortas por estrangulamento.
Alguns corpos tinham marcas de mordidas no seio, o que seria uma fixação do serial killer. Ele foi reconhecido após tentar convencer uma possível vítima a subir em sua moto. Preso em 1998, na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, o maníaco confessou ter assassinado 11 mulheres, mas respondeu por sete, sendo condenado também por estupro e atentado violento ao pudor a um total de 268 anos de pena.
Na prisão, o assassino passou a receber cartas de fãs e acabou se casando com uma delas, de Santa Catarina. O ‘Maníaco do Parque’ deve cumprir pena até 2028.
Vampiro de Niterói
Marcelo Costa de Andrade foi preso em 1991, após a polícia encontrar o corpo de um menino de 6 anos no esgoto de Niterói. A perícia constatou que a criança morreu por enforcamento e sofreu violência sexual. Ao ser interrogado, ele confessou não apenas o assassinato do garoto, mas de outras 13 crianças em um período de oito meses. Ele relatou que, após matar, abusava sexualmente dos corpos e bebia o sangue das vítimas, daí o apelido. As vítimas tinham entre 6 e 13 anos.
A Justiça considerou Andrade inimputável por ser incapaz de entender a gravidade dos crimes que cometeu por causa de sérios problemas neurológicos. Ele permanece internado em um hospital de Custódia. Em 2017, a Justiça negou pedido da defesa para que fosse libertado. Os laudos apontaram que ele não possui capacidade para se reintegrar à sociedade.
Bandido da Luz Vermelha
João Acácio Pereira da Costa foi um contumaz assaltante que aterrorizou a capital paulista na década de 1960. Sorrateiro, desligava a luz das mansões e as invadia com os pés descalços, usando uma lanterna com lente vermelha, daí o apelido de “Bandido da Luz Vermelha”. Muitos o consideram também um serial killer, devido aos assassinatos que cometeu, além de várias tentativas.
Acácio foi preso em 1967, em Curitiba, com identidade falsa. Ele confessou quatro assassinatos – o primeiro, de um estudante de 19 anos, que o surpreendeu no quintal de sua casa. O último foi o do vigia de uma mansão que ele pretendia assaltar.
No crime mais notório, assassinou o industrial Janosh von Christian de Száraspatak, que reagiu ao assalto. Ele respondeu também por sete tentativas de homicídio e 77 assaltos. Pegou 351 anos e 9 meses de prisão. Em 5 de janeiro de 1998, o lendário bandido foi assassinado com um tiro na cabeça em um bar de Santa Catarina. Na prisão, Acácio negava ser um serial killer e dizia que só matou porque foi preciso.
Maníaco do Trianon
Fortunato Botton Neto atuava como garoto de programa na região do Parque Trianon, próximo à Avenida Paulista, em São Paulo. Entre 1986 e 1989, ele matou de forma brutal 13 homens que tinham entre 30 e 60 anos, quase todos de boa condição financeira e que viviam sozinhos. As vítimas eram homossexuais e o rapaz as atraía para programas, quando eram assassinadas com requintes de crueldade.
Entre suas vítimas estão um médico psiquiatra, um decorador, um diretor de teatro e um professor universitário. O maníaco do Trianon morreu na penitenciária de Taubaté, no interior de São Paulo, em fevereiro de 1997, de broncopneumonia decorrente da aids que contraiu de uma de suas vítimas.
Castrador do Maranhão
O mecânico e ex-garimpeiro Francisco das Chagas Rodrigues, hoje com 59 anos, foi preso quando peritos encontraram em sua casa diversos corpos e membros fragmentados de meninos que haviam desaparecido em São Luís, no Maranhão. Uma das crianças, antes de desaparecer, disse que ia se encontrar com o suspeito.
Rodrigues confessou a morte de outros 16 meninos. Ele admitiu que violentava e emasculava as vítimas, daí o apelido. As investigações se estenderam a outros municípios e ossadas foram encontradas no quintal de outra casa em que ele tinha morado. Outras vítimas foram localizadas em Altamira (PA), totalizando 42 crianças mortas e emasculadas.
Carrasco do Incra 9 ou serial killer do DF
Lázaro Barbosa de Souza protagonizou uma célebre perseguição policial, em junho de 2021, após assassinar quatro pessoas de uma mesma família que residia em uma chácara no bairro Incra 9, em Ceilândia, no Distrito Federal. Durante 20 dias, ele conseguiu driblar uma impressionante força de captura com 200 policiais, explorando o conhecimento que tinha da região.
Na fuga, deixava um rastro de violência: mulheres estupradas, homens agredidos, chácaras e sítios invadidos e pessoas feitas reféns. No dia 28 de junho, ele foi cercado e morto em troca de tiros com a força policial, em Águas Lindas de Goiás.
O ‘Carrasco do Incra 9′ é considerado por muitos matador em série porque sua vida de violência e mortes não se resumiu aos casos de Ceilândia. Em 2007, ele foi preso em Barra dos Mendes, na Bahia, por duplo homicídio. Fugiu da prisão e voltou a ser preso por estupro e roubo. Em 2020, invadiu uma fazenda e atacou o fazendeiro com um golpe de machado na cabeça – a vítima sobreviveu com sequelas. Já em 2021, invadiu uma chácara, trancou pai e filho em um quarto e estuprou a mulher.