O “fator Previdência” pesou na decisão de Jair Bolsonaro em relação aos decretos que facilitavam o porte de armas de fogo e uso de munições. Logo após o general Otávio do Rêgo Barros, porta-voz do Planalto, anunciar que Bolsonaro não mudaria os textos editados no mês passado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avisou ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que, se o acordo alinhavado com os parlamentares não fosse cumprido, o Congresso criaria dificuldades para a tramitação da reforma da Previdência.
Maia, Onyx e líderes de partidos do Centrão estiveram juntos, nesta terça, na casa do deputado Marcos Pereira (PRB-SP), anfitrião de um almoço. O chefe da Casa Civil discorreu ali sobre o acordo da véspera, pelo qual o presidente editaria novos decretos, atendendo a pedidos feitos pela Câmara para que fossem estabelecidas normas mais flexíveis para o porte de armas para colecionadores e atiradores esportivos, por exemplo.
Onyx não chegou a almoçar com os antigos colegas. Saiu apressado, dizendo que ainda teria mais uma conversa com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Qual não foi a surpresa de todos os convidados de Marcos Pereira, porém, quando, meia hora depois, Rêgo Barros anunciou que Bolsonaro não revogaria decreto nenhum.
Foi uma revolta geral. Irritado, Maia pegou o telefone e ligou para Onyx. Cobrou o acordo. Avisou que, se Bolsonaro não cumprisse a palavra, seus colegas poderiam dar o troco e incluir até mesmo as Forças Armadas nas mudanças previstas para a aposentadoria.
Menos de três horas depois, Onyx desembarcou no Congresso com o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira. Os dois se reuniram com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e, depois, com Maia. Sob pressão, Bolsonaro cedeu e revogou os polêmicos decretos. Fez o que o Congresso queria. Tudo em nome da reforma da Previdência.