Por dentro da rede

Opinião|A um inovador


Mesmo quando o modelo é mostrado aos usuários, poucos chegam a buscar entendê-lo

Por Demi Getschko
Atualização:
He Jiankuida SUSTech, anunciou a primeira edição de código genético de embriões humanos para criar resistência ao HIV Foto: Stringer/Reuters

Estamos (sempre) no limiar de algo sensacional e inaudito, que pretende mudar radicalmente o mundo que conhecemos. Já ouvimos outras vezes e, sim, pode ser que aconteça essa “evolução disruptiva” sem volta. Parece-me clara a possibilidade da “disrupção”, mas é menos clara a semântica do “evoluir”. Afinal, tanto o bom como o mau evoluem, cada uma buscando com mais eficiência seu alvo próprio.

Em tudo há disrupção em andamento. Acabamos de ouvir que nascem humanos geneticamente modificados, o que, mesmo que eivado das “melhores intenções”, é disruptivo. Na engenharia esse tipo de experimento, em que um sistema não totalmente conhecido é testado, chama-se “caixa preta”. Sem saber o que tem dentro, mexemos nos parâmetros de entrada e, do comportamento que ele passa a exibir, tiramos conclusões. 

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De uma “caixa preta” mecânica a um ser humano há (ou, ao menos, havia...) uma grande diferença:a caixa preta que deu errado pode ser jogada fora. Não ouso pensar no que se faria com o experimento humano num caso equivalente.

Na informática e, claro, na internet temos processos semelhantes em diversas áreas. Vejamos, por exemplo, informação na rede. No passado, foi a entrada em cena do modelo de publicidade paga que viabilizou o que chamamos de “serviços grátis abertos a todos”. A existência de potenciais clientes a serem atingidos fez com que anunciantes remunerassem os meios, que passaram a ser acessíveis a todos. Há compradores potenciais e o anunciante paga para acessá-los, mas atirava a esmo. A internet permitiu “calibrar” o tiro ao perfilar os usuários e agregá-los. 

A tentação seguinte foi aumentar o número dos prosélitos, catequizando indecisos e influenciáveis. O modelo de negócio foi ficando cada vez mais rebuscado e inseparável do meio. 

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Mas tudo o que é complexo acaba por ser vulnerável e, assim, assistimos a diversos episódios de vazamentos e manipulação. Mesmo quando o modelo é em si claramente mostrado aos usuários, poucos chegam a buscar entendê-lo. Sequer o leem. Afinal, melhor continuar usando e não prestar atenção aos detalhes. Canais que teriam sido criados com a melhor das intenções, permitiram abusos por parte dos maliciosos. 

Um “cookie”, facilitador para a navegação do usuário, acaba sendo usado na monitoração. Ao haver a possibilidade de enviar código para dentro do equipamento dos outros, alguém usará isso para mandar código malicioso.

O futuro da informação pode ser uma ladeira escorregadia. Inicialmente se vendiam produtos e serviços e logo pensou-se em reforçar marcas junto a clientes fiéis(“branding”), o passo seguinte foi calibrar o público atingido (“targeting”) e, finalmente, modular o próprio tipo de informação que gere mais ressonância a cada comunidade. 

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Quando a informação vira o produto, sua acurácia é menos importante que o retorno que se consegue ao cativar o grupos visado. Enviar o que querem ouvir é uma forma insidiosa de gerar resultados econômicos e sobrevivência. Talvez uma sobrevivência efêmera. Alberto Gomide, um pioneiro da internet no Brasil e um espírito aguçado e crítico com quem convivi algumas décadas, ao ouvir uma ideia nova, promissora mas mal testada, lembraria o poema “A um Rato”, de Robert Burns: “... os melhores projetos de homens e ratos frequentemente acabam por falhar, deixando dor no lugar da prometida alegria...”

He Jiankuida SUSTech, anunciou a primeira edição de código genético de embriões humanos para criar resistência ao HIV Foto: Stringer/Reuters

Estamos (sempre) no limiar de algo sensacional e inaudito, que pretende mudar radicalmente o mundo que conhecemos. Já ouvimos outras vezes e, sim, pode ser que aconteça essa “evolução disruptiva” sem volta. Parece-me clara a possibilidade da “disrupção”, mas é menos clara a semântica do “evoluir”. Afinal, tanto o bom como o mau evoluem, cada uma buscando com mais eficiência seu alvo próprio.

Em tudo há disrupção em andamento. Acabamos de ouvir que nascem humanos geneticamente modificados, o que, mesmo que eivado das “melhores intenções”, é disruptivo. Na engenharia esse tipo de experimento, em que um sistema não totalmente conhecido é testado, chama-se “caixa preta”. Sem saber o que tem dentro, mexemos nos parâmetros de entrada e, do comportamento que ele passa a exibir, tiramos conclusões. 

De uma “caixa preta” mecânica a um ser humano há (ou, ao menos, havia...) uma grande diferença:a caixa preta que deu errado pode ser jogada fora. Não ouso pensar no que se faria com o experimento humano num caso equivalente.

Na informática e, claro, na internet temos processos semelhantes em diversas áreas. Vejamos, por exemplo, informação na rede. No passado, foi a entrada em cena do modelo de publicidade paga que viabilizou o que chamamos de “serviços grátis abertos a todos”. A existência de potenciais clientes a serem atingidos fez com que anunciantes remunerassem os meios, que passaram a ser acessíveis a todos. Há compradores potenciais e o anunciante paga para acessá-los, mas atirava a esmo. A internet permitiu “calibrar” o tiro ao perfilar os usuários e agregá-los. 

A tentação seguinte foi aumentar o número dos prosélitos, catequizando indecisos e influenciáveis. O modelo de negócio foi ficando cada vez mais rebuscado e inseparável do meio. 

Mas tudo o que é complexo acaba por ser vulnerável e, assim, assistimos a diversos episódios de vazamentos e manipulação. Mesmo quando o modelo é em si claramente mostrado aos usuários, poucos chegam a buscar entendê-lo. Sequer o leem. Afinal, melhor continuar usando e não prestar atenção aos detalhes. Canais que teriam sido criados com a melhor das intenções, permitiram abusos por parte dos maliciosos. 

Um “cookie”, facilitador para a navegação do usuário, acaba sendo usado na monitoração. Ao haver a possibilidade de enviar código para dentro do equipamento dos outros, alguém usará isso para mandar código malicioso.

O futuro da informação pode ser uma ladeira escorregadia. Inicialmente se vendiam produtos e serviços e logo pensou-se em reforçar marcas junto a clientes fiéis(“branding”), o passo seguinte foi calibrar o público atingido (“targeting”) e, finalmente, modular o próprio tipo de informação que gere mais ressonância a cada comunidade. 

Quando a informação vira o produto, sua acurácia é menos importante que o retorno que se consegue ao cativar o grupos visado. Enviar o que querem ouvir é uma forma insidiosa de gerar resultados econômicos e sobrevivência. Talvez uma sobrevivência efêmera. Alberto Gomide, um pioneiro da internet no Brasil e um espírito aguçado e crítico com quem convivi algumas décadas, ao ouvir uma ideia nova, promissora mas mal testada, lembraria o poema “A um Rato”, de Robert Burns: “... os melhores projetos de homens e ratos frequentemente acabam por falhar, deixando dor no lugar da prometida alegria...”

He Jiankuida SUSTech, anunciou a primeira edição de código genético de embriões humanos para criar resistência ao HIV Foto: Stringer/Reuters

Estamos (sempre) no limiar de algo sensacional e inaudito, que pretende mudar radicalmente o mundo que conhecemos. Já ouvimos outras vezes e, sim, pode ser que aconteça essa “evolução disruptiva” sem volta. Parece-me clara a possibilidade da “disrupção”, mas é menos clara a semântica do “evoluir”. Afinal, tanto o bom como o mau evoluem, cada uma buscando com mais eficiência seu alvo próprio.

Em tudo há disrupção em andamento. Acabamos de ouvir que nascem humanos geneticamente modificados, o que, mesmo que eivado das “melhores intenções”, é disruptivo. Na engenharia esse tipo de experimento, em que um sistema não totalmente conhecido é testado, chama-se “caixa preta”. Sem saber o que tem dentro, mexemos nos parâmetros de entrada e, do comportamento que ele passa a exibir, tiramos conclusões. 

De uma “caixa preta” mecânica a um ser humano há (ou, ao menos, havia...) uma grande diferença:a caixa preta que deu errado pode ser jogada fora. Não ouso pensar no que se faria com o experimento humano num caso equivalente.

Na informática e, claro, na internet temos processos semelhantes em diversas áreas. Vejamos, por exemplo, informação na rede. No passado, foi a entrada em cena do modelo de publicidade paga que viabilizou o que chamamos de “serviços grátis abertos a todos”. A existência de potenciais clientes a serem atingidos fez com que anunciantes remunerassem os meios, que passaram a ser acessíveis a todos. Há compradores potenciais e o anunciante paga para acessá-los, mas atirava a esmo. A internet permitiu “calibrar” o tiro ao perfilar os usuários e agregá-los. 

A tentação seguinte foi aumentar o número dos prosélitos, catequizando indecisos e influenciáveis. O modelo de negócio foi ficando cada vez mais rebuscado e inseparável do meio. 

Mas tudo o que é complexo acaba por ser vulnerável e, assim, assistimos a diversos episódios de vazamentos e manipulação. Mesmo quando o modelo é em si claramente mostrado aos usuários, poucos chegam a buscar entendê-lo. Sequer o leem. Afinal, melhor continuar usando e não prestar atenção aos detalhes. Canais que teriam sido criados com a melhor das intenções, permitiram abusos por parte dos maliciosos. 

Um “cookie”, facilitador para a navegação do usuário, acaba sendo usado na monitoração. Ao haver a possibilidade de enviar código para dentro do equipamento dos outros, alguém usará isso para mandar código malicioso.

O futuro da informação pode ser uma ladeira escorregadia. Inicialmente se vendiam produtos e serviços e logo pensou-se em reforçar marcas junto a clientes fiéis(“branding”), o passo seguinte foi calibrar o público atingido (“targeting”) e, finalmente, modular o próprio tipo de informação que gere mais ressonância a cada comunidade. 

Quando a informação vira o produto, sua acurácia é menos importante que o retorno que se consegue ao cativar o grupos visado. Enviar o que querem ouvir é uma forma insidiosa de gerar resultados econômicos e sobrevivência. Talvez uma sobrevivência efêmera. Alberto Gomide, um pioneiro da internet no Brasil e um espírito aguçado e crítico com quem convivi algumas décadas, ao ouvir uma ideia nova, promissora mas mal testada, lembraria o poema “A um Rato”, de Robert Burns: “... os melhores projetos de homens e ratos frequentemente acabam por falhar, deixando dor no lugar da prometida alegria...”

He Jiankuida SUSTech, anunciou a primeira edição de código genético de embriões humanos para criar resistência ao HIV Foto: Stringer/Reuters

Estamos (sempre) no limiar de algo sensacional e inaudito, que pretende mudar radicalmente o mundo que conhecemos. Já ouvimos outras vezes e, sim, pode ser que aconteça essa “evolução disruptiva” sem volta. Parece-me clara a possibilidade da “disrupção”, mas é menos clara a semântica do “evoluir”. Afinal, tanto o bom como o mau evoluem, cada uma buscando com mais eficiência seu alvo próprio.

Em tudo há disrupção em andamento. Acabamos de ouvir que nascem humanos geneticamente modificados, o que, mesmo que eivado das “melhores intenções”, é disruptivo. Na engenharia esse tipo de experimento, em que um sistema não totalmente conhecido é testado, chama-se “caixa preta”. Sem saber o que tem dentro, mexemos nos parâmetros de entrada e, do comportamento que ele passa a exibir, tiramos conclusões. 

De uma “caixa preta” mecânica a um ser humano há (ou, ao menos, havia...) uma grande diferença:a caixa preta que deu errado pode ser jogada fora. Não ouso pensar no que se faria com o experimento humano num caso equivalente.

Na informática e, claro, na internet temos processos semelhantes em diversas áreas. Vejamos, por exemplo, informação na rede. No passado, foi a entrada em cena do modelo de publicidade paga que viabilizou o que chamamos de “serviços grátis abertos a todos”. A existência de potenciais clientes a serem atingidos fez com que anunciantes remunerassem os meios, que passaram a ser acessíveis a todos. Há compradores potenciais e o anunciante paga para acessá-los, mas atirava a esmo. A internet permitiu “calibrar” o tiro ao perfilar os usuários e agregá-los. 

A tentação seguinte foi aumentar o número dos prosélitos, catequizando indecisos e influenciáveis. O modelo de negócio foi ficando cada vez mais rebuscado e inseparável do meio. 

Mas tudo o que é complexo acaba por ser vulnerável e, assim, assistimos a diversos episódios de vazamentos e manipulação. Mesmo quando o modelo é em si claramente mostrado aos usuários, poucos chegam a buscar entendê-lo. Sequer o leem. Afinal, melhor continuar usando e não prestar atenção aos detalhes. Canais que teriam sido criados com a melhor das intenções, permitiram abusos por parte dos maliciosos. 

Um “cookie”, facilitador para a navegação do usuário, acaba sendo usado na monitoração. Ao haver a possibilidade de enviar código para dentro do equipamento dos outros, alguém usará isso para mandar código malicioso.

O futuro da informação pode ser uma ladeira escorregadia. Inicialmente se vendiam produtos e serviços e logo pensou-se em reforçar marcas junto a clientes fiéis(“branding”), o passo seguinte foi calibrar o público atingido (“targeting”) e, finalmente, modular o próprio tipo de informação que gere mais ressonância a cada comunidade. 

Quando a informação vira o produto, sua acurácia é menos importante que o retorno que se consegue ao cativar o grupos visado. Enviar o que querem ouvir é uma forma insidiosa de gerar resultados econômicos e sobrevivência. Talvez uma sobrevivência efêmera. Alberto Gomide, um pioneiro da internet no Brasil e um espírito aguçado e crítico com quem convivi algumas décadas, ao ouvir uma ideia nova, promissora mas mal testada, lembraria o poema “A um Rato”, de Robert Burns: “... os melhores projetos de homens e ratos frequentemente acabam por falhar, deixando dor no lugar da prometida alegria...”

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