A influenciadora digital Deolane Bezerra, de 36 anos, presa em operação contra lavagem de dinheiro e jogos ilegais, passou a noite sozinha em uma cela da Colônia Penal Feminina, em Buíque, na região do Agreste, em Pernambuco, entre esta terça-feira, 10, e quarta-feira, 11. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco (Seap), a investigada na Operação Integration foi colocada em cela reservada para “resguardar a sua integridade física”.
As autoridades dizem que, entre os alvos da investigação, está um grupo ligado a bets (sites de apostas esportivas), mas que o alvo principal são atividades não permitidas pela lei, já que as apostas esportivas são regulares. Conforme o Estadão mostrou, há suspeita de que as bets eram usadas para lavar dinheiro do jogo do bicho. Deolante tem afirmado ser vítima de “grande injustiça”.
O presídio é conhecido por abrigar presas em casos de grande repercussão. A unidade tem problemas de superlotação e abriga duas presas que foram condenadas pela prática de canibalismo. Questionada pela reportagem sobre o número de encarceradas além da capacidade no presídio, a secretaria não se manifestou.
Deolane tinha sido colocada em prisão domiciliar na segunda-feira, 9, mas voltou a ser detida no dia seguinta após descumprir as medidas cautelares impostas pela Justiça. Antes, ela estava presa na Colônia Penal Feminina de Recife.
Ao determinar a transferência para a colônia de Buíque, a 280 quilômetros de distância, a juíza Andréa Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal da Capital, avaliou que a unidade prisional no Agreste é um “ambiente mais adequado para a preservação da tranquilidade pública”.
A influenciadora chegou ao local na noite desta terça escoltada por quatro viaturas da Polícia Civil. Foi preciso abrir caminho entre a multidão que tomava conta da entrada do presídio.
Unidade abriga mais do que o dobro da capacidade
Conforme dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Sisdepen), a colônia tem capacidade para 109 mulheres, mas está ocupada por 270 detentas. A estrutura é dividida em dois pavilhões que recebem presas em regimes fechado e semiaberto.
Deolane está na mesma unidade penal onde cumprem penas duas mulheres que ficaram conhecidas como as “canibais de Garanhuns” por matar, esquartejar os corpos e comerem a carne de pelo menos duas mulheres. Junto com um homem também condenado, elas usavam a carne para fazer salgados que eram vendidos na cidade de Garanhuns.
Os crimes foram descobertos em 2012, durante as investigações sobre o desaparecimento de uma das vítimas, de 31 anos. Em 2018, as duas mulheres foram condenadas a 71 e 68 anos de prisão, respectivamente.
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Liberada e presa de novo
Deolane e sua mãe, Solange Bezerra, foram presas no dia 4, na operação que mirava uma quadrilha suspeita de lavagem de dinheiro e jogos ilegais. Na segunda, 9, a defesa conseguiu habeas corpus para colocar Deolane em prisão domiciliar, já que ela é mãe de uma criança.
A influenciadora foi liberada após colocar tornozeleira eletrônica. Uma das condições impostas pela justiça é de que ela não fizesse manifestações públicas. Ao sair da Colônia Penal, ela falou com os jornalistas e com fãs que se aglomeravam no local. “Minha prisão é criminosa”, disse.
No mesmo dia, Deolane publicou foto nas redes sociais, onde aparecia amordaçada. Na legenda da imagem, escreveu: ‘carta aberta’, em referência à publicação feita no dia 8, em que reafirmou sua inocência em relação à investigação.
Em nota, nesta terça-feira, 11, a Seap informou que a investigada segue recolhida na Colônia Penal Feminina de Buíque. “Por questão de segurança e em razão do processo tramitar em segredo de Justiça, mais informações não poderão ser repassadas”, disse.
A Operação Integration cumpriu 24 mandados de busca e apreensão domiciliar, sequestro de bens (carros de luxo, imóveis, aeronaves e embarcações), além de valores. No âmbito da investigação, foi pedido o bloqueio de ativos financeiros no valor de R$ 2,1 bilhões.
Os mandados foram cumpridos no Recife (PE), Campina Grande (PB), Barueri (SP), Cascavel e Curitiba (PR) e Goiânia (GO).
A reportagem entrou em contato novamente com a defesa de Deolane e aguarda retorno.