Deslizamentos mataram mais de 4 mil no Brasil nos últimos 35 anos


Tragédias como a registrada no litoral norte de SP no fim de semana se repetem a cada verão; especialistas destacam falta de ação para prevenção e redução de riscos

Por Priscila Mengue
Atualização:

Ao menos 4.219 pessoas morreram em deslizamentos no Brasil nos últimos 35 anos, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Para especialistas, o número – que não inclui inundações e outros eventos associados – expõe um problema histórico de falta de ação para prevenção e redução de riscos no País, especialmente na região Sudeste, que concentra a maioria das vítimas, a exemplo do recente caso no litoral norte de São Paulo, que deixou pelo menos 50 mortos, além de desaparecidos.

A situação se torna preocupante em um contexto em que eventos extremos se tornam cada vez mais comuns e intensos em meio ao avanço das mudanças climáticas. Segundo pesquisadores do tema, ações de redução de riscos em áreas vulneráveis são urgentes diante da alta ocupação urbana em áreas de encosta em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dentre outros. Como o Estadão mostrou, prefeituras do litoral norte paulista têm sido condenadas a tomar medidas para atuar em áreas vulneráveis.

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Diante desse histórico de eventos e falta de ação, a perspectiva é que o volume de óbitos causados por deslizamentos cresça ao longo deste e dos próximos anos. “Estamos em fevereiro ainda. Tem as águas de março, de abril, que tem bastante chuva na Bahia, em Pernambuco”, destaca o geólogo e pesquisador do IPT Eduardo Macedo, autor do levantamento de mortes por deslizamentos, que reúne dados desde 1988. Em março de 2020, mais de 40 pessoas foram vítimas de deslizamentos na Baixada Santista, por exemplo. “Nesse andar de mudança climática e eventos extremos, vamos ter várias vezes, infelizmente.”

Bombeiros buscam corpos de vítimas das fortes chuvas do último fim de semana, São Sebastião Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Professor e coordenador do Laboratório de Gestão de Riscos (LabGRis) na Universidade Federal do ABC (UFABC), Fernando Rocha Nogueira diz que o alto número de mortes é causado por um problema estrutural. “O risco é resultado da forma de que se ocupa, usa e se constrói as cidades. Isso que gera o risco, não é a chuva. O risco é uma questão social.”

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O professor aponta que se trata de um problema social, pois a ocupação de encostas é em parte uma consequência do encarecimento do custo de vida em áreas mais seguras. No caso de São Sebastião, por exemplo, em vários bairros, as áreas planas são limitadas às quadras mais próximas da orla, que se valorizaram com o aumento do turismo nas últimas décadas. “Originalmente, a população caiçara não morava no morro”, aponta.

Embora o ideal fosse retirar todas as famílias de áreas de alto risco (que são 4 milhões, segundo o governo federal), uma perspectiva mais realista e que permite atuação mais rápida é de melhorias nas infraestruturas desses locais, para diminuir a vulnerabilidade das residências, em grande parte de uma população de baixa renda. “Vai colocar essa população onde?”, questiona.

O pesquisador destaca que o mundo está em um momento de “necessidade urgente para se adaptar às mudanças climáticas”. “Precisa fortalecer os lugares frágeis. Conhecer e pensar formas de melhorar esses pedaços da cidade”, diz. Nesse processo, além dos mapeamentos já existentes, os moradores precisam ser aliados, para identificar indícios de problemas futuros.

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Como comparação, o geólogo Eduardo Macedo cita que Bertioga, município também na região da Serra do Mar, recebeu um volume de chuva semelhante ao de São Sebastião durante o carnaval, mas não registrou vítimas. “Não tem praticamente ocupação em encosta”, afirma. Dessa forma, os impactos foram mais de alagamentos, inundações e afins. “600 mm é totalmente fora do padrão. Não há morro que aguente.”

Historicamente, os deslizamentos com maior registro de vítimas nas últimas décadas ocorreram na região Sudeste, em especial na região serrana do Rio de Janeiro. No ano passado, morreram mais de 240 pessoas em decorrência de deslizamentos em Petrópolis, por exemplo. O pesquisador explica que se trata de uma combinação das características locais, que propiciam um acúmulo de nuvens e precipitações frequentes, e da alta ocupação urbana das encostas, áreas de várzea e outras zonas de risco.

“Frentes frias estacionam na região do encontro dos três Estados, a região serrana do Rio, o sul de Minas (Gerais) e a Zona da Mata, o litoral norte de São Paulo e o Vale do Paraíba”, explica. “Alguns anos atrás, tinha um ou outro evento de chuvas mais intensas durante o ano, mas aumentou a frequência. E a característica dessa região é a ocupação de encosta. A chuva não é a culpada, ela apenas detona o processo.”

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Ao menos 4.219 pessoas morreram em deslizamentos no Brasil nos últimos 35 anos, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Para especialistas, o número – que não inclui inundações e outros eventos associados – expõe um problema histórico de falta de ação para prevenção e redução de riscos no País, especialmente na região Sudeste, que concentra a maioria das vítimas, a exemplo do recente caso no litoral norte de São Paulo, que deixou pelo menos 50 mortos, além de desaparecidos.

A situação se torna preocupante em um contexto em que eventos extremos se tornam cada vez mais comuns e intensos em meio ao avanço das mudanças climáticas. Segundo pesquisadores do tema, ações de redução de riscos em áreas vulneráveis são urgentes diante da alta ocupação urbana em áreas de encosta em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dentre outros. Como o Estadão mostrou, prefeituras do litoral norte paulista têm sido condenadas a tomar medidas para atuar em áreas vulneráveis.

Diante desse histórico de eventos e falta de ação, a perspectiva é que o volume de óbitos causados por deslizamentos cresça ao longo deste e dos próximos anos. “Estamos em fevereiro ainda. Tem as águas de março, de abril, que tem bastante chuva na Bahia, em Pernambuco”, destaca o geólogo e pesquisador do IPT Eduardo Macedo, autor do levantamento de mortes por deslizamentos, que reúne dados desde 1988. Em março de 2020, mais de 40 pessoas foram vítimas de deslizamentos na Baixada Santista, por exemplo. “Nesse andar de mudança climática e eventos extremos, vamos ter várias vezes, infelizmente.”

Bombeiros buscam corpos de vítimas das fortes chuvas do último fim de semana, São Sebastião Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Professor e coordenador do Laboratório de Gestão de Riscos (LabGRis) na Universidade Federal do ABC (UFABC), Fernando Rocha Nogueira diz que o alto número de mortes é causado por um problema estrutural. “O risco é resultado da forma de que se ocupa, usa e se constrói as cidades. Isso que gera o risco, não é a chuva. O risco é uma questão social.”

O professor aponta que se trata de um problema social, pois a ocupação de encostas é em parte uma consequência do encarecimento do custo de vida em áreas mais seguras. No caso de São Sebastião, por exemplo, em vários bairros, as áreas planas são limitadas às quadras mais próximas da orla, que se valorizaram com o aumento do turismo nas últimas décadas. “Originalmente, a população caiçara não morava no morro”, aponta.

Embora o ideal fosse retirar todas as famílias de áreas de alto risco (que são 4 milhões, segundo o governo federal), uma perspectiva mais realista e que permite atuação mais rápida é de melhorias nas infraestruturas desses locais, para diminuir a vulnerabilidade das residências, em grande parte de uma população de baixa renda. “Vai colocar essa população onde?”, questiona.

O pesquisador destaca que o mundo está em um momento de “necessidade urgente para se adaptar às mudanças climáticas”. “Precisa fortalecer os lugares frágeis. Conhecer e pensar formas de melhorar esses pedaços da cidade”, diz. Nesse processo, além dos mapeamentos já existentes, os moradores precisam ser aliados, para identificar indícios de problemas futuros.

Como comparação, o geólogo Eduardo Macedo cita que Bertioga, município também na região da Serra do Mar, recebeu um volume de chuva semelhante ao de São Sebastião durante o carnaval, mas não registrou vítimas. “Não tem praticamente ocupação em encosta”, afirma. Dessa forma, os impactos foram mais de alagamentos, inundações e afins. “600 mm é totalmente fora do padrão. Não há morro que aguente.”

Historicamente, os deslizamentos com maior registro de vítimas nas últimas décadas ocorreram na região Sudeste, em especial na região serrana do Rio de Janeiro. No ano passado, morreram mais de 240 pessoas em decorrência de deslizamentos em Petrópolis, por exemplo. O pesquisador explica que se trata de uma combinação das características locais, que propiciam um acúmulo de nuvens e precipitações frequentes, e da alta ocupação urbana das encostas, áreas de várzea e outras zonas de risco.

“Frentes frias estacionam na região do encontro dos três Estados, a região serrana do Rio, o sul de Minas (Gerais) e a Zona da Mata, o litoral norte de São Paulo e o Vale do Paraíba”, explica. “Alguns anos atrás, tinha um ou outro evento de chuvas mais intensas durante o ano, mas aumentou a frequência. E a característica dessa região é a ocupação de encosta. A chuva não é a culpada, ela apenas detona o processo.”

Ao menos 4.219 pessoas morreram em deslizamentos no Brasil nos últimos 35 anos, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Para especialistas, o número – que não inclui inundações e outros eventos associados – expõe um problema histórico de falta de ação para prevenção e redução de riscos no País, especialmente na região Sudeste, que concentra a maioria das vítimas, a exemplo do recente caso no litoral norte de São Paulo, que deixou pelo menos 50 mortos, além de desaparecidos.

A situação se torna preocupante em um contexto em que eventos extremos se tornam cada vez mais comuns e intensos em meio ao avanço das mudanças climáticas. Segundo pesquisadores do tema, ações de redução de riscos em áreas vulneráveis são urgentes diante da alta ocupação urbana em áreas de encosta em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dentre outros. Como o Estadão mostrou, prefeituras do litoral norte paulista têm sido condenadas a tomar medidas para atuar em áreas vulneráveis.

Diante desse histórico de eventos e falta de ação, a perspectiva é que o volume de óbitos causados por deslizamentos cresça ao longo deste e dos próximos anos. “Estamos em fevereiro ainda. Tem as águas de março, de abril, que tem bastante chuva na Bahia, em Pernambuco”, destaca o geólogo e pesquisador do IPT Eduardo Macedo, autor do levantamento de mortes por deslizamentos, que reúne dados desde 1988. Em março de 2020, mais de 40 pessoas foram vítimas de deslizamentos na Baixada Santista, por exemplo. “Nesse andar de mudança climática e eventos extremos, vamos ter várias vezes, infelizmente.”

Bombeiros buscam corpos de vítimas das fortes chuvas do último fim de semana, São Sebastião Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Professor e coordenador do Laboratório de Gestão de Riscos (LabGRis) na Universidade Federal do ABC (UFABC), Fernando Rocha Nogueira diz que o alto número de mortes é causado por um problema estrutural. “O risco é resultado da forma de que se ocupa, usa e se constrói as cidades. Isso que gera o risco, não é a chuva. O risco é uma questão social.”

O professor aponta que se trata de um problema social, pois a ocupação de encostas é em parte uma consequência do encarecimento do custo de vida em áreas mais seguras. No caso de São Sebastião, por exemplo, em vários bairros, as áreas planas são limitadas às quadras mais próximas da orla, que se valorizaram com o aumento do turismo nas últimas décadas. “Originalmente, a população caiçara não morava no morro”, aponta.

Embora o ideal fosse retirar todas as famílias de áreas de alto risco (que são 4 milhões, segundo o governo federal), uma perspectiva mais realista e que permite atuação mais rápida é de melhorias nas infraestruturas desses locais, para diminuir a vulnerabilidade das residências, em grande parte de uma população de baixa renda. “Vai colocar essa população onde?”, questiona.

O pesquisador destaca que o mundo está em um momento de “necessidade urgente para se adaptar às mudanças climáticas”. “Precisa fortalecer os lugares frágeis. Conhecer e pensar formas de melhorar esses pedaços da cidade”, diz. Nesse processo, além dos mapeamentos já existentes, os moradores precisam ser aliados, para identificar indícios de problemas futuros.

Como comparação, o geólogo Eduardo Macedo cita que Bertioga, município também na região da Serra do Mar, recebeu um volume de chuva semelhante ao de São Sebastião durante o carnaval, mas não registrou vítimas. “Não tem praticamente ocupação em encosta”, afirma. Dessa forma, os impactos foram mais de alagamentos, inundações e afins. “600 mm é totalmente fora do padrão. Não há morro que aguente.”

Historicamente, os deslizamentos com maior registro de vítimas nas últimas décadas ocorreram na região Sudeste, em especial na região serrana do Rio de Janeiro. No ano passado, morreram mais de 240 pessoas em decorrência de deslizamentos em Petrópolis, por exemplo. O pesquisador explica que se trata de uma combinação das características locais, que propiciam um acúmulo de nuvens e precipitações frequentes, e da alta ocupação urbana das encostas, áreas de várzea e outras zonas de risco.

“Frentes frias estacionam na região do encontro dos três Estados, a região serrana do Rio, o sul de Minas (Gerais) e a Zona da Mata, o litoral norte de São Paulo e o Vale do Paraíba”, explica. “Alguns anos atrás, tinha um ou outro evento de chuvas mais intensas durante o ano, mas aumentou a frequência. E a característica dessa região é a ocupação de encosta. A chuva não é a culpada, ela apenas detona o processo.”

Ao menos 4.219 pessoas morreram em deslizamentos no Brasil nos últimos 35 anos, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Para especialistas, o número – que não inclui inundações e outros eventos associados – expõe um problema histórico de falta de ação para prevenção e redução de riscos no País, especialmente na região Sudeste, que concentra a maioria das vítimas, a exemplo do recente caso no litoral norte de São Paulo, que deixou pelo menos 50 mortos, além de desaparecidos.

A situação se torna preocupante em um contexto em que eventos extremos se tornam cada vez mais comuns e intensos em meio ao avanço das mudanças climáticas. Segundo pesquisadores do tema, ações de redução de riscos em áreas vulneráveis são urgentes diante da alta ocupação urbana em áreas de encosta em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dentre outros. Como o Estadão mostrou, prefeituras do litoral norte paulista têm sido condenadas a tomar medidas para atuar em áreas vulneráveis.

Diante desse histórico de eventos e falta de ação, a perspectiva é que o volume de óbitos causados por deslizamentos cresça ao longo deste e dos próximos anos. “Estamos em fevereiro ainda. Tem as águas de março, de abril, que tem bastante chuva na Bahia, em Pernambuco”, destaca o geólogo e pesquisador do IPT Eduardo Macedo, autor do levantamento de mortes por deslizamentos, que reúne dados desde 1988. Em março de 2020, mais de 40 pessoas foram vítimas de deslizamentos na Baixada Santista, por exemplo. “Nesse andar de mudança climática e eventos extremos, vamos ter várias vezes, infelizmente.”

Bombeiros buscam corpos de vítimas das fortes chuvas do último fim de semana, São Sebastião Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Professor e coordenador do Laboratório de Gestão de Riscos (LabGRis) na Universidade Federal do ABC (UFABC), Fernando Rocha Nogueira diz que o alto número de mortes é causado por um problema estrutural. “O risco é resultado da forma de que se ocupa, usa e se constrói as cidades. Isso que gera o risco, não é a chuva. O risco é uma questão social.”

O professor aponta que se trata de um problema social, pois a ocupação de encostas é em parte uma consequência do encarecimento do custo de vida em áreas mais seguras. No caso de São Sebastião, por exemplo, em vários bairros, as áreas planas são limitadas às quadras mais próximas da orla, que se valorizaram com o aumento do turismo nas últimas décadas. “Originalmente, a população caiçara não morava no morro”, aponta.

Embora o ideal fosse retirar todas as famílias de áreas de alto risco (que são 4 milhões, segundo o governo federal), uma perspectiva mais realista e que permite atuação mais rápida é de melhorias nas infraestruturas desses locais, para diminuir a vulnerabilidade das residências, em grande parte de uma população de baixa renda. “Vai colocar essa população onde?”, questiona.

O pesquisador destaca que o mundo está em um momento de “necessidade urgente para se adaptar às mudanças climáticas”. “Precisa fortalecer os lugares frágeis. Conhecer e pensar formas de melhorar esses pedaços da cidade”, diz. Nesse processo, além dos mapeamentos já existentes, os moradores precisam ser aliados, para identificar indícios de problemas futuros.

Como comparação, o geólogo Eduardo Macedo cita que Bertioga, município também na região da Serra do Mar, recebeu um volume de chuva semelhante ao de São Sebastião durante o carnaval, mas não registrou vítimas. “Não tem praticamente ocupação em encosta”, afirma. Dessa forma, os impactos foram mais de alagamentos, inundações e afins. “600 mm é totalmente fora do padrão. Não há morro que aguente.”

Historicamente, os deslizamentos com maior registro de vítimas nas últimas décadas ocorreram na região Sudeste, em especial na região serrana do Rio de Janeiro. No ano passado, morreram mais de 240 pessoas em decorrência de deslizamentos em Petrópolis, por exemplo. O pesquisador explica que se trata de uma combinação das características locais, que propiciam um acúmulo de nuvens e precipitações frequentes, e da alta ocupação urbana das encostas, áreas de várzea e outras zonas de risco.

“Frentes frias estacionam na região do encontro dos três Estados, a região serrana do Rio, o sul de Minas (Gerais) e a Zona da Mata, o litoral norte de São Paulo e o Vale do Paraíba”, explica. “Alguns anos atrás, tinha um ou outro evento de chuvas mais intensas durante o ano, mas aumentou a frequência. E a característica dessa região é a ocupação de encosta. A chuva não é a culpada, ela apenas detona o processo.”

Ao menos 4.219 pessoas morreram em deslizamentos no Brasil nos últimos 35 anos, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Para especialistas, o número – que não inclui inundações e outros eventos associados – expõe um problema histórico de falta de ação para prevenção e redução de riscos no País, especialmente na região Sudeste, que concentra a maioria das vítimas, a exemplo do recente caso no litoral norte de São Paulo, que deixou pelo menos 50 mortos, além de desaparecidos.

A situação se torna preocupante em um contexto em que eventos extremos se tornam cada vez mais comuns e intensos em meio ao avanço das mudanças climáticas. Segundo pesquisadores do tema, ações de redução de riscos em áreas vulneráveis são urgentes diante da alta ocupação urbana em áreas de encosta em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dentre outros. Como o Estadão mostrou, prefeituras do litoral norte paulista têm sido condenadas a tomar medidas para atuar em áreas vulneráveis.

Diante desse histórico de eventos e falta de ação, a perspectiva é que o volume de óbitos causados por deslizamentos cresça ao longo deste e dos próximos anos. “Estamos em fevereiro ainda. Tem as águas de março, de abril, que tem bastante chuva na Bahia, em Pernambuco”, destaca o geólogo e pesquisador do IPT Eduardo Macedo, autor do levantamento de mortes por deslizamentos, que reúne dados desde 1988. Em março de 2020, mais de 40 pessoas foram vítimas de deslizamentos na Baixada Santista, por exemplo. “Nesse andar de mudança climática e eventos extremos, vamos ter várias vezes, infelizmente.”

Bombeiros buscam corpos de vítimas das fortes chuvas do último fim de semana, São Sebastião Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Professor e coordenador do Laboratório de Gestão de Riscos (LabGRis) na Universidade Federal do ABC (UFABC), Fernando Rocha Nogueira diz que o alto número de mortes é causado por um problema estrutural. “O risco é resultado da forma de que se ocupa, usa e se constrói as cidades. Isso que gera o risco, não é a chuva. O risco é uma questão social.”

O professor aponta que se trata de um problema social, pois a ocupação de encostas é em parte uma consequência do encarecimento do custo de vida em áreas mais seguras. No caso de São Sebastião, por exemplo, em vários bairros, as áreas planas são limitadas às quadras mais próximas da orla, que se valorizaram com o aumento do turismo nas últimas décadas. “Originalmente, a população caiçara não morava no morro”, aponta.

Embora o ideal fosse retirar todas as famílias de áreas de alto risco (que são 4 milhões, segundo o governo federal), uma perspectiva mais realista e que permite atuação mais rápida é de melhorias nas infraestruturas desses locais, para diminuir a vulnerabilidade das residências, em grande parte de uma população de baixa renda. “Vai colocar essa população onde?”, questiona.

O pesquisador destaca que o mundo está em um momento de “necessidade urgente para se adaptar às mudanças climáticas”. “Precisa fortalecer os lugares frágeis. Conhecer e pensar formas de melhorar esses pedaços da cidade”, diz. Nesse processo, além dos mapeamentos já existentes, os moradores precisam ser aliados, para identificar indícios de problemas futuros.

Como comparação, o geólogo Eduardo Macedo cita que Bertioga, município também na região da Serra do Mar, recebeu um volume de chuva semelhante ao de São Sebastião durante o carnaval, mas não registrou vítimas. “Não tem praticamente ocupação em encosta”, afirma. Dessa forma, os impactos foram mais de alagamentos, inundações e afins. “600 mm é totalmente fora do padrão. Não há morro que aguente.”

Historicamente, os deslizamentos com maior registro de vítimas nas últimas décadas ocorreram na região Sudeste, em especial na região serrana do Rio de Janeiro. No ano passado, morreram mais de 240 pessoas em decorrência de deslizamentos em Petrópolis, por exemplo. O pesquisador explica que se trata de uma combinação das características locais, que propiciam um acúmulo de nuvens e precipitações frequentes, e da alta ocupação urbana das encostas, áreas de várzea e outras zonas de risco.

“Frentes frias estacionam na região do encontro dos três Estados, a região serrana do Rio, o sul de Minas (Gerais) e a Zona da Mata, o litoral norte de São Paulo e o Vale do Paraíba”, explica. “Alguns anos atrás, tinha um ou outro evento de chuvas mais intensas durante o ano, mas aumentou a frequência. E a característica dessa região é a ocupação de encosta. A chuva não é a culpada, ela apenas detona o processo.”

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