BRASÍLIA - Em uma carta encaminhada à secretaria de Transportes do Ministério da Infraestrutura, o diretor-geral do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Jerry Adriane Dias Rodrigues, pede para deixar o cargo e critica a estrutura do órgão. No documento, a que o Estado teve acesso, Rodrigues alega que falta estratégia e gestão.
Segundo ele, não há uma estratégia para atingir as premissas estabelecidas pelo Código de Trânsito Brasileiro e pelo Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões de Trânsito. “Tampouco estou conseguindo estabelecer essa estratégia, a fim de subsidiar o ministro e suas decisões”, argumenta. “Quero deixá-lo à vontade para procurar alguém mais alinhado a sua forma de pensar e de trabalhar. Esta semana faço o meu pedido de exoneração.”
Policial rodoviário federal, Rodrigues tem como padrinho político o deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ), de quem foi assessor até assumir o Denatran, em janeiro. Na carta de três páginas ao ministério, o diretor agradece pela confiança nele depositada. “No entanto, depois de passados cerca de oito meses desde (...), sinto que não estou conseguindo responder à altura (...), razão pela qual estou colocando em suas mãos a função de diretor do Denatran pelas razões que seguem”, diz, no documento.
Procurado pelo Estado, Rodrigues inicialmente disse que “desconhecia essa informação”. Quando a reportagem informou que teve acesso ao inteiro teor do documento, o diretor orientou que sua a assessoria de comunicação fosse procurada para falar sobre o tema. "Não há qualquer documento com este conteúdo endereçado ao Ministério da Infraestrutura. Portanto, a Pasta não pode comentar sobre material desconhecido e sem a autoria confirmada", afirmou, em nota, a assessoria de imprensa do ministério.
Ao listar as razões pela qual deseja deixar a chefia do Denatran, Jerry destaca ainda que, para cumprir sua missão, a relação do Denatran com a União, os Estados e os municípios precisa estar alinhada. “Isso demanda a necessidade de que, efetivamente, haja uma visão intersetorial, integrada e estratégica do assunto, o que não me parece estar ocorrendo. Não estou conseguindo avançar.”
Para o diretor do Denatran, as pessoas estão morrendo ou ficando com lesões permanentes por causa da gestão atual do trânsito. Na carta ao ministério, ele afirma que, nos últimos dez anos, foram cerca de 400 mil mortos e um número ainda maior de pessoas ficaram dependentes do governo em razão da invalidez. “Esse assunto me motiva e me preocupa. Tenho tentado buscar condições de corrigir os erros e decisões tendenciosas do passado, mas não estou conseguindo.”
No documento a seus superiores, Rodrigues diz também que “durante muito tempo este departamento foi disputado, nem sempre para atender interesses republicano”.
“Tenho uma estrutura de pessoal inadequada, insuficiente e com pouca qualificação. As demandas são superiores à capacidade de atendimento. Muitas vezes, assuntos de menor importância estão tomando tempo que deveria, em face da pouca quantidade de pessoal qualificado, ser utilizado para analisar temas relevantes. Muitas resoluções têm mais a cara dos setores interessados na regulamentação do que uma visão estratégica do Denatran.”
Queixas
Desde março, o governo tem sido criticado pela forma como vem conduzindo as políticas de trânsito. O presidente chegou a cancelar um edital que determinava a instalação de 8 mil pontos de radares e cobrar a retirada das estradas de aparelhos móveis. Ainda enviou propostas ao Congresso que afrouxam o sistema de punição (quer aumentar de 20 para 40 pontos) na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e a fiscalização das cadeirinhas.
Em junho, a Associação Nacional de Departamentos Estaduais de Trânsitos, que reúne Detrans dos 26 Estados e do Distrito Federal, divulgou nota manifestando “surpresa” com o envio ao Congresso de projeto de lei que afrouxa regras do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).