Impossível não lembrar de Tina Turner nessa véspera de show da Byoncé no Morumbi. As fotos acima, tiradas com 22 anos de diferença, mostram, além de pernas quilométricas e vestidos milimétricos, duas artistas no auge: Tina, no estádio do Pacaembu em 1988, e Beyoncé na festa do Grammy no último domingo.
Apesar das semelhanças físicas e de outros pontos em comuns em suas carreiras, os shows das duas cantoras no Brasil serão marcados por uma grande diferença: o preço que seus fãs terão desembolsados para ficar perto de suas divas.
Enquanto um fã de Tina precisou de o equivalente a R$ 70 de hoje para ficar bem à sua frente no palco do Pacaembu, quem quiser ficar à mesma distância da moça das onipresentes Single Ladies e Halo terá que gastar pelo menos quatro vezes isso, se tiver carteira de estudante.
O ingresso para a pista premium - o latifúndio cercado pelos produtores no lugar nobre do show - custa R$ 600, que daria para oito ingressos de pista no megashow de Tina, naquele fim de anos 80 vivendo novamente o grande sucesso que já havia experimentado anos antes quando se apresentava em dupla com seu genial e problemático marido Ike.
Na comparação de preço dos ingressos nas tabelas abaixo é possível perceber a explosão dos preços causada pela lei da meia-entrada para estudantes e também pela proliferação das áreas vips nesses tipos de espetáculos.
Tina Turner - Pacaembu – 09 e 10/01/1988
Beyonce - Morumbi – 06/02/2010
Claro que todo mundo gostaria de assitir a um show em estádio - que é uma sensação inegualável por vários aspectos - com o conforto e a comodidade de um teatro ou de uma casa de shows. E é mais que legítimo se cobrar mais caro por isso.
Porém, parece haver uma distorção, que não é só por causa da meia-entrada, quando um show em estádio passa a custar mais que em locais menores, como mostram os posts abaixos. Pelo menos não é nada que se compare aos US$ 2 milhões que o filho do ditador líbio Muammar Kadafi pagou por um pocket-show de Beyonce na virada do ano.
Cálculo
Na tentativa de comprovar a percepção geral de que os ingressos estavam bem mais caros que antigamente sempre esbarrava nas inúmeras trocas de moedas e períodos de inflação estratosférica que o Brasil atravessou. A solução então seria encontrar um indexador que desse conta da comparação de diferentes períodos e ao mesmo tempo fosse de fácil compreensão.
Depois de tentar o dólar e outros índices econômicos, optei por usar um que estava à mão no próprio material pesquisado: o preço de um exemplar de jornal. Assim, para chegar aos valores em reais expressos nas tabelas foi usada uma fórmula simples, semelhante ao índice Big Mac. Só que, em vez de tomar o sanduíche como parâmetro, tendo o preço de uma edição semanal de dia de semana do Estadão na época dos shows.
No caso de Tina, por exemplo, calcula-se quantos exemplares de jornais seria possível comprar com o preço dos ingressos:
Cz$ 800 (ingresso) / Cz$ 30 ( jornal época) = 27 (nº de exemplares) x R$ 2,50 (jornal atual) = R$ 68 (preço atual aproximado)
Quando o resultado não saiu exato, o valor decimal foi arredondado para cima, tanto no número de exemplares quanto no preço atual.
Memória
Dos shows listados abaixo, gostaria de ter ido a todos. Na medida do possível tentarei complementar algum desses posts com textos, imagens e links. Quem quiser, também pode contribuir complementando com informações ou relatos através dos comentários.
Dos que fui, tentei recuperar alguma lembrança material, como os ingressos ou a curiosa fita preta com o nome da banda de Mick Jagger escrito errado (e para esclarecer desde já: não usei a fita na cabeça. Comprei como souvenir de um camelô, já que os bilhetes eletrônicos de entrada ficavam na catraca e não tinha nada para ficar como lembrança desse que foi um dos maiores shows que já assisti.)
>> Veja os preços de outros shows:
Rolling Stones e Bob Dylan _ 1998
Jimmy Page & Robert Plant _ 1996
Nirvana & Red Hot Chili Peppers _ 1993
Police/Sting _ 1981, 1988, 2001, 2007
Guns’n’Roses _ 1991, 1992, 2001, 2010