Memória, gente e lugares

Fazer jornalismo na internet


Relato sobre a primeira década [1995-2005] de jornalismo digital no Estadão

Por Edmundo Leite
Atualização:
Cabeçalho da página especial publicada em 2005 sobre os primeiros 10 anos de jornalismo digital do Estadão. Foto: Acervo Estadão

Fazer jornalismo na internet

por Edmundo Leite

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"... A nostalgia, como sempre, havia apagado as lembranças ruins e aperfeiçoado as boas. Ninguém se salvava de seus estragos..." (Gabriel Garcia Márquez, em Viver para Contar)

Fato corriqueiro nos dias de hoje, as primeiras coberturas jornalísticas com enviados especiais voltados exclusivamente para a internet provocavam estranhamento nos colegas repórteres, principalmente de jornais impressos. Em janeiro de 2000, pude ver essa reação ao fazer a cobertura do torneio pré-olímpico, em Londrina, quando a seleção brasileira sub-23 comandada por Wanderley Luxemburgo garantiu vaga para a Olimpíada de Sidney que seria realizada alguns meses depois.

Até então, a Agência Estado já havia contado com enviados exclusivos para a internet na Copa do Mundo de 1998, na França, e na Copa América de 1999, no Paraguai. Ainda assim, era comum a curiosidade, e às vezes a desconfiança. "E se você tiver um furo, vai publicar para todo mundo ficar sabendo e dar também?", perguntou um repórter de um jornal nos primeiros dias, revelando como muitas vezes nos preocupamos mais com a concorrência do que com o leitor. Um outro comentou que, ao ligar para o seu jornal para fazer um breve relato dos fatos do dia, ouviu como resposta de seu editor que ele já tinha lido as notícias no site da Agência Estado.

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A desconfiança, no entanto, não vinha só dos colegas, mas também dos entrevistados: "Vai sair onde?", perguntavam alguns jogadores e integrantes da comissão técnica para depois se mostrarem surpresos, e algumas vezes até desdenhosos, com a resposta de que a reportagem não estaria em nenhum meio impresso. Alguns mais curiosos até se interessaram em saber que uma notícia poderia ter mais leitores que a de um grande jornal impresso e que leitores de qualquer lugar do mundo poderiam lê-la. Mas no geral, quando não ignoravam totalmente a internet, mostravam-se reticentes.

Se hoje é comum ver jogadores, principalmente da seleção, com seus laptops durante viagens, naqueles primeiros dias de 2000 apenas alguns poucos se arriscavam com a rede. A situação também se estendia à comissão técnica, que todo dia nas primeiras horas da manhã destacava um de seus integrantes para buscar os jornais na banca em frente ao hotel onde a seleção se hospedava. Sondando para saber se acessavam a internet, soube que pouco ou quase nunca faziam.

Infelizmente, para alívio dos colegas e prejuízo dos leitores, não tive grandes furos de reportagem para relatar. Mesmo assim, era gratificante contar os fatos, os bastidores e o clima daquela campanha logo depois do acontecido. Algumas vezes, por conta do horário, com autonomia até para publicar diretamente em nosso site notícias que havia acabado de redigir. Como numa noite de sábado em que a comitiva da seleção tomou para si uma estrada da região ou o chilique protagonizado por Luxemburgo na véspera da decisão.

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Dois anos depois, na cobertura da conquista do pentacampeonato mundial pela seleção brasileira na Copa do Mundo na Coréia do Sul e no Japão a realidade era outra. Enviados exclusivos para cobertura pela internet por outros veículos já eram vários.

E mesmo os profissionais que não estavam voltados para o "online" já não viam mais a internet com desconfiança, incorporando-a com uma importante ferramenta para o seu trabalho. O fuso horário de 12 horas também acabou fazendo da internet, no caso brasileiro, o meio com as notícias mais quentes, já que os veículos impressos ficariam com um dia de defasagem.

Apesar dessa realidade, a Fifa ainda não reconhecia a sua dimensão, chegando a restringir o credenciamento de profissionais de veículos que não tivessem um braço impresso.

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Além de serem em maior número que antes, os jornalistas voltados para a cobertura pela internet agora contavam com um aparato tecnológico que ia de câmaras de vídeo e gravadores digitais a laptops com conexão sem fio. Recursos que ampliaram as possibilidades da maneira de noticiar os acontecimentos daquela histórica conquista.

Essa evolução tecnológica, no entanto, não mudou a maneira principal de como esses relatos muitas vezes eram enviados à redação para a publicação: um telefonema, seja de um moderno celular ou de um simples telefone público, para contar o fato que ainda estava fresco, como o momento que o capitão Émerson caiu em campo num treino recreativo na véspera da estréia da seleção. Horas depois, ele seria cortado para dar lugar a Ricardinho. Nas três horas que se passaram entre o tombo e o corte, por exemplo, várias notícias mostravam a evolução do caso.

Tela de site do Estadão na Copa do Mundo de 2002. Foto: Acervo Estadão
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Com o fuso horário de 12 horas inviabilizando a cobertura noticiosa pela edição impressa dos jornais, que tiveram que se adequar a uma nova abordagem que não ficasse restrita ao factual, um meio termo foi adotado pelo Estadão na Copa de 2002. Além do noticiário na internet e da cobertura mais densa da edição impressa, os leitores puderam contar com uma edição extra online. Assim, durante um mês, uma edição especial diária era produzida pela redação do portal em formato eletrônico, mas com uma diagramação do formato papel, trazendo um resumo do que tinha acontecido na madrugada.

Mas esses anos de jornalismo na internet não foram só de grandes eventos e coberturas externas. A cada avanço tecnológico, as possibilidades se expandiam e muitas vezes éramos tomados pela empolgação. Assim foi que, em 1996, nos primeiros dias de implantação do sistema editorial que permitia publicar notícias com rapidez até então desconhecida, nos vimos - eu e o Robson Pereira - cobrindo um jogo de vôlei ponto a ponto, com cada um ficando responsável por noticiar a pontuação de um time. Já no segundo set desistimos da empreitada, nos limitando ao resultado final de cada tempo.

Numa outra ocasião, num apagão nacional que aconteceu em março de 1999, quando a redação ficou com energia graças a um gerador, ficamos publicando notícias que levantávamos por telefone, enquanto alguns riam, dizendo que ninguém podia nos ler por causa do blecaute. O resultado, no entanto, foi compensador. Quando as luzes voltavam gradativamente ao resto do país, já contávamos com um amplo noticiário sobre o apagão, suas causas e repercussão.

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Com o crescimento da internet nesses anos, não demorou para que as notícias fossem descobertas na própria rede, já que cada vez mais as pessoas e as empresas passavam a ter também uma existência virtual. Foi assim que, numa madrugada de julho de 1999, pudemos noticiar que o recém inaugurado site oficial da Confederação Brasileira de Futebol era na verdade da Nike, patrocinadora da seleção brasileira, que não escondia na internet o que negava no “mundo real”. O site saiu do ar no dia seguinte, para voltar depois sem a assinatura da empresa.

(Texto originalmente publicado em 2005 no Estadão.com.br)

Cabeçalho da página especial publicada em 2005 sobre os primeiros 10 anos de jornalismo digital do Estadão. Foto: Acervo Estadão

Fazer jornalismo na internet

por Edmundo Leite

"... A nostalgia, como sempre, havia apagado as lembranças ruins e aperfeiçoado as boas. Ninguém se salvava de seus estragos..." (Gabriel Garcia Márquez, em Viver para Contar)

Fato corriqueiro nos dias de hoje, as primeiras coberturas jornalísticas com enviados especiais voltados exclusivamente para a internet provocavam estranhamento nos colegas repórteres, principalmente de jornais impressos. Em janeiro de 2000, pude ver essa reação ao fazer a cobertura do torneio pré-olímpico, em Londrina, quando a seleção brasileira sub-23 comandada por Wanderley Luxemburgo garantiu vaga para a Olimpíada de Sidney que seria realizada alguns meses depois.

Até então, a Agência Estado já havia contado com enviados exclusivos para a internet na Copa do Mundo de 1998, na França, e na Copa América de 1999, no Paraguai. Ainda assim, era comum a curiosidade, e às vezes a desconfiança. "E se você tiver um furo, vai publicar para todo mundo ficar sabendo e dar também?", perguntou um repórter de um jornal nos primeiros dias, revelando como muitas vezes nos preocupamos mais com a concorrência do que com o leitor. Um outro comentou que, ao ligar para o seu jornal para fazer um breve relato dos fatos do dia, ouviu como resposta de seu editor que ele já tinha lido as notícias no site da Agência Estado.

A desconfiança, no entanto, não vinha só dos colegas, mas também dos entrevistados: "Vai sair onde?", perguntavam alguns jogadores e integrantes da comissão técnica para depois se mostrarem surpresos, e algumas vezes até desdenhosos, com a resposta de que a reportagem não estaria em nenhum meio impresso. Alguns mais curiosos até se interessaram em saber que uma notícia poderia ter mais leitores que a de um grande jornal impresso e que leitores de qualquer lugar do mundo poderiam lê-la. Mas no geral, quando não ignoravam totalmente a internet, mostravam-se reticentes.

Se hoje é comum ver jogadores, principalmente da seleção, com seus laptops durante viagens, naqueles primeiros dias de 2000 apenas alguns poucos se arriscavam com a rede. A situação também se estendia à comissão técnica, que todo dia nas primeiras horas da manhã destacava um de seus integrantes para buscar os jornais na banca em frente ao hotel onde a seleção se hospedava. Sondando para saber se acessavam a internet, soube que pouco ou quase nunca faziam.

Infelizmente, para alívio dos colegas e prejuízo dos leitores, não tive grandes furos de reportagem para relatar. Mesmo assim, era gratificante contar os fatos, os bastidores e o clima daquela campanha logo depois do acontecido. Algumas vezes, por conta do horário, com autonomia até para publicar diretamente em nosso site notícias que havia acabado de redigir. Como numa noite de sábado em que a comitiva da seleção tomou para si uma estrada da região ou o chilique protagonizado por Luxemburgo na véspera da decisão.

Dois anos depois, na cobertura da conquista do pentacampeonato mundial pela seleção brasileira na Copa do Mundo na Coréia do Sul e no Japão a realidade era outra. Enviados exclusivos para cobertura pela internet por outros veículos já eram vários.

E mesmo os profissionais que não estavam voltados para o "online" já não viam mais a internet com desconfiança, incorporando-a com uma importante ferramenta para o seu trabalho. O fuso horário de 12 horas também acabou fazendo da internet, no caso brasileiro, o meio com as notícias mais quentes, já que os veículos impressos ficariam com um dia de defasagem.

Apesar dessa realidade, a Fifa ainda não reconhecia a sua dimensão, chegando a restringir o credenciamento de profissionais de veículos que não tivessem um braço impresso.

Além de serem em maior número que antes, os jornalistas voltados para a cobertura pela internet agora contavam com um aparato tecnológico que ia de câmaras de vídeo e gravadores digitais a laptops com conexão sem fio. Recursos que ampliaram as possibilidades da maneira de noticiar os acontecimentos daquela histórica conquista.

Essa evolução tecnológica, no entanto, não mudou a maneira principal de como esses relatos muitas vezes eram enviados à redação para a publicação: um telefonema, seja de um moderno celular ou de um simples telefone público, para contar o fato que ainda estava fresco, como o momento que o capitão Émerson caiu em campo num treino recreativo na véspera da estréia da seleção. Horas depois, ele seria cortado para dar lugar a Ricardinho. Nas três horas que se passaram entre o tombo e o corte, por exemplo, várias notícias mostravam a evolução do caso.

Tela de site do Estadão na Copa do Mundo de 2002. Foto: Acervo Estadão

Com o fuso horário de 12 horas inviabilizando a cobertura noticiosa pela edição impressa dos jornais, que tiveram que se adequar a uma nova abordagem que não ficasse restrita ao factual, um meio termo foi adotado pelo Estadão na Copa de 2002. Além do noticiário na internet e da cobertura mais densa da edição impressa, os leitores puderam contar com uma edição extra online. Assim, durante um mês, uma edição especial diária era produzida pela redação do portal em formato eletrônico, mas com uma diagramação do formato papel, trazendo um resumo do que tinha acontecido na madrugada.

Mas esses anos de jornalismo na internet não foram só de grandes eventos e coberturas externas. A cada avanço tecnológico, as possibilidades se expandiam e muitas vezes éramos tomados pela empolgação. Assim foi que, em 1996, nos primeiros dias de implantação do sistema editorial que permitia publicar notícias com rapidez até então desconhecida, nos vimos - eu e o Robson Pereira - cobrindo um jogo de vôlei ponto a ponto, com cada um ficando responsável por noticiar a pontuação de um time. Já no segundo set desistimos da empreitada, nos limitando ao resultado final de cada tempo.

Numa outra ocasião, num apagão nacional que aconteceu em março de 1999, quando a redação ficou com energia graças a um gerador, ficamos publicando notícias que levantávamos por telefone, enquanto alguns riam, dizendo que ninguém podia nos ler por causa do blecaute. O resultado, no entanto, foi compensador. Quando as luzes voltavam gradativamente ao resto do país, já contávamos com um amplo noticiário sobre o apagão, suas causas e repercussão.

Com o crescimento da internet nesses anos, não demorou para que as notícias fossem descobertas na própria rede, já que cada vez mais as pessoas e as empresas passavam a ter também uma existência virtual. Foi assim que, numa madrugada de julho de 1999, pudemos noticiar que o recém inaugurado site oficial da Confederação Brasileira de Futebol era na verdade da Nike, patrocinadora da seleção brasileira, que não escondia na internet o que negava no “mundo real”. O site saiu do ar no dia seguinte, para voltar depois sem a assinatura da empresa.

(Texto originalmente publicado em 2005 no Estadão.com.br)

Cabeçalho da página especial publicada em 2005 sobre os primeiros 10 anos de jornalismo digital do Estadão. Foto: Acervo Estadão

Fazer jornalismo na internet

por Edmundo Leite

"... A nostalgia, como sempre, havia apagado as lembranças ruins e aperfeiçoado as boas. Ninguém se salvava de seus estragos..." (Gabriel Garcia Márquez, em Viver para Contar)

Fato corriqueiro nos dias de hoje, as primeiras coberturas jornalísticas com enviados especiais voltados exclusivamente para a internet provocavam estranhamento nos colegas repórteres, principalmente de jornais impressos. Em janeiro de 2000, pude ver essa reação ao fazer a cobertura do torneio pré-olímpico, em Londrina, quando a seleção brasileira sub-23 comandada por Wanderley Luxemburgo garantiu vaga para a Olimpíada de Sidney que seria realizada alguns meses depois.

Até então, a Agência Estado já havia contado com enviados exclusivos para a internet na Copa do Mundo de 1998, na França, e na Copa América de 1999, no Paraguai. Ainda assim, era comum a curiosidade, e às vezes a desconfiança. "E se você tiver um furo, vai publicar para todo mundo ficar sabendo e dar também?", perguntou um repórter de um jornal nos primeiros dias, revelando como muitas vezes nos preocupamos mais com a concorrência do que com o leitor. Um outro comentou que, ao ligar para o seu jornal para fazer um breve relato dos fatos do dia, ouviu como resposta de seu editor que ele já tinha lido as notícias no site da Agência Estado.

A desconfiança, no entanto, não vinha só dos colegas, mas também dos entrevistados: "Vai sair onde?", perguntavam alguns jogadores e integrantes da comissão técnica para depois se mostrarem surpresos, e algumas vezes até desdenhosos, com a resposta de que a reportagem não estaria em nenhum meio impresso. Alguns mais curiosos até se interessaram em saber que uma notícia poderia ter mais leitores que a de um grande jornal impresso e que leitores de qualquer lugar do mundo poderiam lê-la. Mas no geral, quando não ignoravam totalmente a internet, mostravam-se reticentes.

Se hoje é comum ver jogadores, principalmente da seleção, com seus laptops durante viagens, naqueles primeiros dias de 2000 apenas alguns poucos se arriscavam com a rede. A situação também se estendia à comissão técnica, que todo dia nas primeiras horas da manhã destacava um de seus integrantes para buscar os jornais na banca em frente ao hotel onde a seleção se hospedava. Sondando para saber se acessavam a internet, soube que pouco ou quase nunca faziam.

Infelizmente, para alívio dos colegas e prejuízo dos leitores, não tive grandes furos de reportagem para relatar. Mesmo assim, era gratificante contar os fatos, os bastidores e o clima daquela campanha logo depois do acontecido. Algumas vezes, por conta do horário, com autonomia até para publicar diretamente em nosso site notícias que havia acabado de redigir. Como numa noite de sábado em que a comitiva da seleção tomou para si uma estrada da região ou o chilique protagonizado por Luxemburgo na véspera da decisão.

Dois anos depois, na cobertura da conquista do pentacampeonato mundial pela seleção brasileira na Copa do Mundo na Coréia do Sul e no Japão a realidade era outra. Enviados exclusivos para cobertura pela internet por outros veículos já eram vários.

E mesmo os profissionais que não estavam voltados para o "online" já não viam mais a internet com desconfiança, incorporando-a com uma importante ferramenta para o seu trabalho. O fuso horário de 12 horas também acabou fazendo da internet, no caso brasileiro, o meio com as notícias mais quentes, já que os veículos impressos ficariam com um dia de defasagem.

Apesar dessa realidade, a Fifa ainda não reconhecia a sua dimensão, chegando a restringir o credenciamento de profissionais de veículos que não tivessem um braço impresso.

Além de serem em maior número que antes, os jornalistas voltados para a cobertura pela internet agora contavam com um aparato tecnológico que ia de câmaras de vídeo e gravadores digitais a laptops com conexão sem fio. Recursos que ampliaram as possibilidades da maneira de noticiar os acontecimentos daquela histórica conquista.

Essa evolução tecnológica, no entanto, não mudou a maneira principal de como esses relatos muitas vezes eram enviados à redação para a publicação: um telefonema, seja de um moderno celular ou de um simples telefone público, para contar o fato que ainda estava fresco, como o momento que o capitão Émerson caiu em campo num treino recreativo na véspera da estréia da seleção. Horas depois, ele seria cortado para dar lugar a Ricardinho. Nas três horas que se passaram entre o tombo e o corte, por exemplo, várias notícias mostravam a evolução do caso.

Tela de site do Estadão na Copa do Mundo de 2002. Foto: Acervo Estadão

Com o fuso horário de 12 horas inviabilizando a cobertura noticiosa pela edição impressa dos jornais, que tiveram que se adequar a uma nova abordagem que não ficasse restrita ao factual, um meio termo foi adotado pelo Estadão na Copa de 2002. Além do noticiário na internet e da cobertura mais densa da edição impressa, os leitores puderam contar com uma edição extra online. Assim, durante um mês, uma edição especial diária era produzida pela redação do portal em formato eletrônico, mas com uma diagramação do formato papel, trazendo um resumo do que tinha acontecido na madrugada.

Mas esses anos de jornalismo na internet não foram só de grandes eventos e coberturas externas. A cada avanço tecnológico, as possibilidades se expandiam e muitas vezes éramos tomados pela empolgação. Assim foi que, em 1996, nos primeiros dias de implantação do sistema editorial que permitia publicar notícias com rapidez até então desconhecida, nos vimos - eu e o Robson Pereira - cobrindo um jogo de vôlei ponto a ponto, com cada um ficando responsável por noticiar a pontuação de um time. Já no segundo set desistimos da empreitada, nos limitando ao resultado final de cada tempo.

Numa outra ocasião, num apagão nacional que aconteceu em março de 1999, quando a redação ficou com energia graças a um gerador, ficamos publicando notícias que levantávamos por telefone, enquanto alguns riam, dizendo que ninguém podia nos ler por causa do blecaute. O resultado, no entanto, foi compensador. Quando as luzes voltavam gradativamente ao resto do país, já contávamos com um amplo noticiário sobre o apagão, suas causas e repercussão.

Com o crescimento da internet nesses anos, não demorou para que as notícias fossem descobertas na própria rede, já que cada vez mais as pessoas e as empresas passavam a ter também uma existência virtual. Foi assim que, numa madrugada de julho de 1999, pudemos noticiar que o recém inaugurado site oficial da Confederação Brasileira de Futebol era na verdade da Nike, patrocinadora da seleção brasileira, que não escondia na internet o que negava no “mundo real”. O site saiu do ar no dia seguinte, para voltar depois sem a assinatura da empresa.

(Texto originalmente publicado em 2005 no Estadão.com.br)

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