A revista americana Cowboys & Indians - sim, nos Estados Unidos há uma revista que trata só de assuntos do Velho Oeste - elaborou em uma de sua edições um Hall da Fama dos maiores fora-da-lei do gênero. E para deixar claro que não admitiria as contestações que costumam surgir após esse tipo de lista foi logo avisando: os fãs de westerns podem até discutir qualquer uma das posições inferiores desse ranking, mas não a que aparece no topo: o vilão Jack Wilson, interpretado por Jack Palance no clássico Shane (No Brasil, Os Brutos também amam).
Nesse ranking da vilania, Palance deixou para trás homens maus do quilate do Liberty Valance de Lee Marvin em Homem que matou o Facínora, o Frank de Herry Fonda em Era uma vez no Oeste; Eli Wallach com seu Calvera de Sete homens e um destino e Lee van Cleef, os Olhos de Anjo de Três homens em conflito.
Considerado um dos maiores filmes do gênero, e, conseqüentemente, do cinema, os Brutos também amam foi um dos primeiros trabalhos da carreira do ator, que na época (1953) ainda aparecia nos créditos como Walter Jack Palance. Apesar de aparecer poucos minutos e ter poucas falas, sua atuação foi bastante elogiada e indicada para o Oscar de melhor ator coadjuvante. Palance não levou o prêmio, mas a imagem que emprestou ao pistoleiro sádico que chega ao lugarejo para dar cabo do mocinho ficou marcada em sua carreira.
Com um rosto de traços fortes que parece ter sido esculpido em rocha como uma daquelas esculturas gigantes do Monte Rushmore, nos Estados Unidos, Palance passou a encarnar o vilão nas mais diversas produções. Dado o estereótipo, não deixa de ser curioso que a ele tenha sido reservado o papel do ditador cubano Fidel Castro no filme Che!, de 1969, no qual contracenou com o egípcio Omar Sharif, a quem coube o papel do revolucionário argentino.
Atuando em mais de uma centena de filmes, Palance admitiu que muitos deles eram de qualidade duvidosa. Em produções para a TV, nos anos 60 e 70, foi protagonista de adaptações famosas de O Médico e o Monstro e Drácula.
Os mais novos puderam ver Jack Palance como um gângster aliado do vilão Curinga (Jack Nicholson) no primeiro filme da série Batman. Mas foi num outro ícone da cultura pop que sua imagem ficaria marcada para a geração dos anos 80: o seriado em que narrava histórias bizarras e terminava com o bordão acentuado por uma pausa no meio da frase (pelo menos na dublagem em português da rede Manchete era assim): Acredite... se quiser.
Edmundo Leite (Texto originalmente publicado no Estadao.com.br em 11 de novembro de 2006)