Chegou às bancas a edição número 6 da Billboard Brasil. Tá bacana. A reportagem de capa parte da apresentação do The Who no Super Bowl para discutir se a banda de Pete Townshed e Roger Daltrey ainda tem fôlego para mais um retorno.
A matéria de oito páginas, traduzida da matriz americana, dá uma geral na carreira do grupo, faz um apanhado das críticas - em grande parte negativas - ao show na grande final do futebol americano e traz uma entrevista com Towshed.
Do material produzido pela redação brasileira, o destaque é a reportagem “Cristã & Casca Grossa” sobre a atual fase de Baby Consuelo, que agora assina Baby do Brasil. Para mim é Baby Consuelo, assim como o Jorge Benjor continuará Jorge Ben para sempre.
Mas isso não importa. O que importa é que o repórter Ricardo Schott e a fotógrafa Tatiana Rocha fizeram um belo trabalho sobre a artista, que já fez muito sucesso com os Novos Baianos e em carreira solo/casal com o ex-marido Pepeu Gomes e agora tenta conciliar sua fé evangélica com o seu trabalho.
Guitarra certificada
A revista tem outras coisas interessantes (Nick Jonas do Jonas Brothers em trabalho solo, Galo da Madrugada e Franz Ferdinand), mas me chamou atenção o artigo da última página “Música sustentável: realidade ou modismo?”, assinado pela cantora e compositora Alana Cal.
Após começar o texto dizendo que a guitarra dela é feita de madeira reflorestada e certificada, que é vegetariana desde que nasceu e que sempre esteve preocupada com a consciência socioambiental, Alana defende que os artistas e músicos se engajem na causa ambiental.
Para Alana não basta que os artistas abordem o tema em suas obras. O discurso tem que ser condizente com a prática. É preciso também que boicotem instrumentos que utilizem madeira não certificada e eventos que não se preocupem com esse aspecto.
Por enquanto Alana apela somente aos colegas, mas como ela termina falando em música como instrumento de conscientização, entendi que o público também deverá ter seu papel na luta. E se o apelo da Alana for ouvido e pegar vamos ter que pensar em várias coisas antes de decidir ir a um show ou mesmo escutar uma música:
“Esse violão do João Gilberto está certificado?”; “para onde vai o esgoto dessa casa de show?”; “a energia usada nos amplificadores do B.B King é de fonte limpa?”; “nenhum animal foi morto para fazer a pele dos tambores dessa bateria do Charlie Watts?”; “e esse piano do Elton John, não sei não, não é de ébano? tá tudo certinho nele?”; “Não tem nada antiecológico nas teclas, cordas e pedais?”; “e essa fumaça de gelo seco no palco do Paul McCartney emite quanto de CO2?”
Como em qualquer atividade, é ótimo que o ramo musical se preocupe em causar o menor dano possível ao meio ambiente. É louvável que uma empresa de violões anuncie que utilizará madeira certificada em seus produtos ou que uma fabricante de tambores desenvolva tecnologias menos agressivas para as peles de sua percussão.
Ainda assim, soa um tanto ingênuo e com exagero militante - como é comum em outros discursos ecológicos - o artigo da Anala, que termina dizendo que a música é manifestação cultural de maior alcance na população brasileira e conclama: “Olha aí a música pedindo para ser sustentável!”
A confecção de um instrumento musical é algo contrário à preservação da natureza desde que o primeiro índio furou um pedaço de pau para fazer uma flauta. Não foi para matar a fome ou para se abrigar que esse índio pioneiro derrubou uma árvore ou mais para achar o melhor pedaço de pau para a sua flautinha. Foi por puro prazer, por lazer. O tempo passou e o mesmo vale para os artesãos ou para uma indústria de instrumentos. A essência de um instrumento musical é contrária à natureza. É o artificial por natureza. E, muitas vezes, deliciosamente insustentável.
“Curumim chama cunhatã que eu vou contar (Todo dia era dia de índio)” faz parte do sensacional disco “Bem-vinda amizade”.
O disco de 1981 está na caixa com 13 álbuns lançada no fim do ano passado, disponível nas principais lojas virtuais:
| Americanas | Cultura | Saraiva | Submarino |
Sozinho, só na Amazon, que anuncia dois exemplares.
P.S.: (21.03.2010) A Alana mandou esse texto, pelos comentários, aqui republicado:
# Música sustentável? A resposta de Alana