Cozida, parece o cupim bovino.
A constatação e a foto acima foram feitas na Coréia em 2002, e - felizmente - não numa pastelaria do Rio de Janeiro onde uma ação contra o trabalho escravo encontrou carne de cachorro num congelador. Esse detalhe... hum... nojento... para a cultura ocidental acabou ganhando mais repercussão que as condições desumanas dos imigrantes chineses que lá trabalhavam.
Por causa da cobertura da Copa do Mundo na qual o Brasil consquistaria o penta tive a oportunidade de experimentar, na Coréia do Sul e no Japão, vários pratos exóticos aos olhos e paladares ocidentais. A carne de cachorro foi um deles. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam não é um prato que se encontra em qualquer lugar. Mas também não é difícil de achar.
Quando eu e outro repórter do jornal manifestamos nossa vontade de experimentar a iguaria, o gerente do hotel em que estávamos em Ulsan - base coreana da seleção brasileira na primeira fase da competição - indicou um restaurante próximo que era possível ir a pé. Acompanhados de nosso intérprete, um coreano-brasileiro chamado Edu - chegamos ao local.
Fomos recebidos pela simpática coreana que tocava o pequeno negócio. Logo na entrada, num balcão lateral, era possível ver as partes de um animal sem pele sobre uma bandeja. Não era possível identificar que tipo de animal era. Pelo tamanho poderia ser um leitão. Mas era mesmo cachorro, informou o intérprete.
referenceAmbiente confortável, simples e limpo, fomos acomodados no modesto salão com chão de madeira e aquelas mesas baixinhas. Hospitaleira e curiosa, a coreana conversou um pouco conosco e explicou - com a ajuda do intérprete - que o prato que ela nos serviria era um ensopado com carne de cachorro. E que o preparo demoraria um pouco. Mas para satisfazer nossa curiosidade ela serviria uma porção como petisco.
Na mesinha cuidadosamente arrumada com diferentes vegetais, ervas e temperos, um recipiente destoava dos demais - todos redondos. Estava ali na vasilhinha retangular o objeto de nossa curiosidade, disposto em pequenas iscas. Nos servimos com os palitinhos de metal. Para nossa surpresa, não era muito diferente da carne bovina que estamos acostumados a comer no Brasil. A textura e gosto da porção que nos foi servida como aperitivo lembrava um pouco o cupim bovino.
No prato principal, o ensopado servido sobre um pequeno fogareiro - o gosto da carne também não causou sustos. Saborosa e tenra por causa do cozimento, vinha acompanhada de gostos diferentes de temperos levemente picantes. Aprovada.
Experimentei por curiosidade, mas repetiria por prazer se tivesse oportunidade de estar novamente em algum lugar onde o prato fizesse parte da cultura local. Não no Brasil, onde a nossa cultur... hum.. Peraí... E aquele pastel de carne delicioso naquela viagem ao Rio em dois mil e...? Blerrhh!
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