O famoso sítio onde os Novos Baianos moraram coletivamente nos anos 70 está disponível para festas. E agora com piscina, churrasqueira e um campinho de futebol de verdade. Quase 50 anos depois, o local mudou de nome e não tem mais a atmosfera rústica da comunidade hippie-futebolística-musical que protagonizou um dos grandes momentos da música brasileira no século 20. Mas mantém o clima bucólico da época com vegetação, céu azul e a mesma vista para as montanhas que os músicos desfrutavam quando criaram o clássico disco 'Acabou Chorare', lançado em 1972, ano em que a turma mudou-se para a propriedade.
Muitas vezes mencionado genericamente como um "sítio em Jacarepaguá" em reportagens, livros e documentários sobre o grupo musical, o sítio, na época chamado 'Cantinho do Vovô', agora é o 'Sítio Sominho', um espaço que pode ser alugado para receber festas e eventos localizado no número 20.160 da Estrada dos Bandeirantes, em Vargem Pequena, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Antes uma área de aspecto rural quase deserta, a região que fica a quase 40 quilômetros de distância da praia de Copacabana atualmente está um pouco mais urbanizada, mas - sem prédios e com vastas áreas verdes - continua com o ar interiorano que fez a alegria de Moraes Moreira, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Dadi e as outras quase 20 pessoas que habitaram o sítio por alguns anos na década de 1970.
Livro - Um pouco da vivência do grupo no local está no recém lançado livro 'Caí na Estrada com os Novos Baianos', da produtora Marília Aguiar, ex-mulher de Paulinho Boca e que teve dois de seus três filhos com o artista quando moravam por lá. O livro traz novos detalhes de como foram os dias em comunidade no sítio:
"Mudamos para lá no dia 15 de abril de 1972. Tudo o que tínhamos coube um uma Kombi alugada e no fusquinha do Bola Morais, inclusive todos nós. Morais Moreira e Marilhona foram depois, porque nesse mesmo dia nasceu a Ciça (primeira filha deles). Poucos dias depois, o carro do Bola quebrou e permaneceu sem conserto. Ficou estacionado perto do portão por tanto tempo que o mato tomou conta dele. Acabou assim, como se fosse um enorme vaso de plantas".
Nossa chegada ao sítio foi uma alegria indescritível! O grande portão verde era pintado com uma bandeira do Brasil que ostentava no lugar do lema positivista Ordem e Progresso, o nome do sítio: Cantinho do Vovô. Logo na entrada havia um gramado ideal para o futebol diário. No fundo do terreno encontramos muitas árvores carregadas de carambolas, peras, laranja, goiabas, jenipapos, bananas. Tudo ali era perfeito para nós."
Galinheiro e chuveirão - Mais adiante, Marília descreve detalhadamente como era a estrutura do sítio na época e como os baianos e agregados se espalharam pelo lugar:
"No Cantinho do Vovô não tinha água encanada, era preciso ligar uma bomba e puxar do poço. Havia duas casas ali, a do lado esquerdo era bem pequena, com cozinha, banheiro e dois quartinhos. Já a do lado direito era um sobradinho com dois quartos embaixo e um banheiro pequeno. E, na parte de cima, um salão grande com entrada independente e acesso por uma escada que ficava ao lado de fora. Esse sobrado era recoberto por ladrilhos brancos com o desenho de uma pomba estilizada.
No meio do terreno e encostado ao muro do lado esquerdo havia um pequeno galpão transformado depois em estúdio, mas sem isolamento acústico e sem portas. Bom no fundo, ao lado direito, encontramos restos do que tinha sido um galinheiro. Atrás da cozinha da casa menor, em paralelo ao sobradinho, existia um pequeno terreiro comentado com o poço no meio. Foi ali que instalamos depois um chuveirão ao ar livre...
... Ocupamos o sítio assim: os solteiros ficaram no salão superior. Galvão, Bola Morais, Gato Félix, Jorginho Gomes e todos os que foram chegando depois, o Charles Negrita (que veio para a festa de um ano da Buchinha em maio e ficou para sempre), o Dadi (só nos dias em que dormia no sítio), o técnico de som Paulo César Salomão, o Índio argentino chamado Guanabi, o boliviano Joe e o Grilo (um garoto de 13 anos que apareceu por lá e inclusive está numa foto histórica dos Novos Baianos). Mais tarde o Bola Morais e o Jorginho Gomes ajeitaram um pouco o paiol que havia no meio do sítio e se mudaram para lá. Os visitantes que vinham para os jogos ou para uma festa ou outra e as namoradas eventuais dos meninos também dormiam ali. Alguns por tempo até demais.
Baixinho logo ocupou um dos quartos da casinha menor, e ninguém se atreveu a dividir o espaço com ele. Eu, Paulinho e Buchinha ficamos no outro. Baby e Pepeu ficaram no quarto da frente do sobrado. Moraes Moreira e Marilhona, no do meio. Algum tempo depois, consertamos o antigo galinheiro, fizemos uma divisão no meio, colocamos portas e janelas e nos mudamos para lá. Baby, Pepeu, Riroca e zabelê de um lado. Eu, Paulinho Boca, Maria (Buchinha) e Gil, meu segundo filho, do outro. Conseguimos instalar água encanada, e isso melhorou muito a nossa vida...
... A vida no Cantinho do Vovô era muito alegre. Tanta coisa acontecia que até perdíamos a noção do tempo. Tinha música ao vivo o tempo todo. Moraes Moreira e Pepeu, principalmente, já acordavam tocando. Salomão instalou caixas de som nas árvores e, então, de qualquer ponto do sítio era possível ouvir o que estava rolando lá atrás no estúdio. Me lembro do dia em que estavam compondo "Besta é Tu" e de como essa música rapidamente tomou conta do sítio e contagiou todo mundo."
Reforma - No atual sítio, recentemente reformado e batizado como Sominho em homenagem à região de Portugal onde nasceu o atual proprietário, as construções precárias descritas por Marília deram lugar a confortáveis instalações voltadas para comemorações, além de palmeiras e paisagismo floral.
Apesar de não haver no local nenhuma menção ao fato do grupo musical ter vivido lá, um dos administradores conta que já aconteceu de pararem no portão para perguntar se ali era o sítio dos Novos Baianos. Uma plaquinha do Patrimônio Cultural Carioca ficaria bem por lá.
>> Sítio Sominho | Estrada dos Bandeirantes, 20.160 [RJ]