Conheça a Dona Cida, que abre a própria casa para abrigar pessoas da rua


Cida deixa 32 pessoas que viviam na rua morarem em sua casa; ainda dá banho e comida a outras dezenas

Por Luiz Henrique Gomes
Atualização:

NATAL - Quando as ruas do centro comercial de Natal estavam movimentadas à tarde, Maria Aparecida de Lima aproveitava para abrir a porta do seu apartamento no Edifício 21 de Março e receber moradores de rua que ficavam na praça à frente. O fluxo de pessoas no horário dificultava para o síndico perceber que ela deixava os desabrigados tomarem banho na sua casa e lhes oferecia algo para comer. “Ele nunca gostou, mas eu levava escondida”, contou Maria, conhecida por todos como Dona Cida.

Era assim até o início deste ano. Agora, ela não precisa esconder de ninguém o acolhimento que oferece às pessoas em situação de rua em Natal. Em maio, Cida alugou uma casa próxima ao edifício onde morava, no bairro Cidade Alta, e se mudou com o marido e a filha mais nova, uma bebê de 5 meses adotada pelo casal. Desde aquela época, a casa também virou morada dos desabrigados que ficam pelas redondezas e lhe pedem ajuda.

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Passados sete meses, 32 pessoas moram na residência, com direito a banho e comida. Outras dezenas passam por lá diariamente para tomar banho, descansar ou comer, se tiver alimentação suficiente. Cida já chegou a contar 70 pessoas na casa durante uma tarde de domingo, dia em que o bairro, um dos mais antigos de Natal, está vazio. Em comparação, o único albergue público da capital potiguar tem espaço para acolher 46 pessoas.

Maria Aparecida Lima, 51 anos, abria as portas do seu apartamento para oferecer comida e banho a moradores de rua em Natal. Em maio, decidiu alugar uma casa e hoje acolhe 32 pessoas. Foto: Luiz Henrique Gomes/Estadão

Entre os que já passaram pelo menos uma noite na casa de Cida estão jovens, idosos, mulheres, homens, dependentes químicos, e até filhos de advogados e filhos de médicos que abandonaram o lar da família. O perfil é vasto, mas todos são acolhidos da mesma forma e seguem as mesmas regras. A entrada na casa só é permitida até as 22h. O uso de álcool ou de drogas ilícitas é proibido. Cigarro? Só do lado de fora.

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Tarefas

Todos também devem ajudar na rotina da casa. Uns cozinham, outros lavam louça e por aí vai. Como em qualquer convivência, às vezes há discordância. “Todos precisam ajudar. Se não sabe fazer alguma coisa, aprende. Se precisar, eu puxo a orelha, e eles me obedecem, viu? Às vezes acontece alguma discussão entre alguns, mas vou lá e converso. Aqui é como uma grande família”, disse Cida.

A casa sobrevive de doações que Cida busca todo dia. A maioria vem de grupos solidários, pessoas que ficam sabendo da iniciativa ou de associações. Quando as despesas apertam, ela pede ajuda ao marido. Desempregada, Cida não tem renda fixa. “Eu sempre fui assim, não sei ser de outro jeito. Se tenho R$ 1, divido. Às vezes fico sem comer, mas eles não.”

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Maria Aparecida de Lima, no centro, e parte dos moradores de rua que ela acolhe em casa. Projeto começou há sete meses em Natal/RN Foto: Luiz Henrique Gomes/Estadão

Biografia

Cida tem 51 anos e desde os 8 se dedica de alguma forma a cuidar do outro. Filha de família pobre, começou a trabalhar nessa idade como babá na casa dos patrões da mãe, que era lavadeira. Parou de estudar aos 13. 

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Na vida adulta, começou a perceber o grande número de pessoas em situação de rua no centro comercial e passou a ajudá-las. Com a pandemia do coronavírus, a pobreza aumentou. Segundo a prefeitura de Natal, em março de 2020 havia 400 pessoas nessa situação na cidade. Em dezembro do mesmo ano, já eram 3 mil – um crescimento de 650%.

Todos ao redor de Cida ajudam. As irmãs dão dinheiro quando necessário. E o seu atual companheiro ela conheceu quando o viu pagar uma refeição a um morador de rua. “Pensei: Jesus, essa pessoa é igual a mim”, disse. 

Alguns acolhidos por Cida conseguiram emprego com carteira assinada. Entre eles, Marcos, de 28 anos. Por anos, ele dormiu na calçada de um supermercado. Após passar a morar na casa de Cida, conseguiu emprego no supermercado em que dormia.

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Quando o Estadão visitou a casa, Marcos estava trabalhando. “Muitos discriminam moradores de rua, mas são pessoas que estão na rua muitas vezes porque sofrem depressão, perderam tudo. Quando a gente dá um lar, tudo muda.” 

Como ajudar Como todo o trabalho que Cida faz é voluntário, a única forma de ajudar é entrando em contato com ela pelo Instagram @alimentandocomamor. Além desta iniciativa, há outras para a população em situação de rua.

Em São Paulo, há iniciativas como SP Invisível, que dá visibilidade a moradores de rua contando suas histórias e recebe doações que são utilizadas para dar comida e moradia, e o Bem da Madrugada, que distribui agasalhos durante o inverno, por exemplo. O padre Júlio Lancelotti também tem um trabalho voltado a pessoas em situação de rua, por meio da Pastoral do Povo de Rua.

NATAL - Quando as ruas do centro comercial de Natal estavam movimentadas à tarde, Maria Aparecida de Lima aproveitava para abrir a porta do seu apartamento no Edifício 21 de Março e receber moradores de rua que ficavam na praça à frente. O fluxo de pessoas no horário dificultava para o síndico perceber que ela deixava os desabrigados tomarem banho na sua casa e lhes oferecia algo para comer. “Ele nunca gostou, mas eu levava escondida”, contou Maria, conhecida por todos como Dona Cida.

Era assim até o início deste ano. Agora, ela não precisa esconder de ninguém o acolhimento que oferece às pessoas em situação de rua em Natal. Em maio, Cida alugou uma casa próxima ao edifício onde morava, no bairro Cidade Alta, e se mudou com o marido e a filha mais nova, uma bebê de 5 meses adotada pelo casal. Desde aquela época, a casa também virou morada dos desabrigados que ficam pelas redondezas e lhe pedem ajuda.

Passados sete meses, 32 pessoas moram na residência, com direito a banho e comida. Outras dezenas passam por lá diariamente para tomar banho, descansar ou comer, se tiver alimentação suficiente. Cida já chegou a contar 70 pessoas na casa durante uma tarde de domingo, dia em que o bairro, um dos mais antigos de Natal, está vazio. Em comparação, o único albergue público da capital potiguar tem espaço para acolher 46 pessoas.

Maria Aparecida Lima, 51 anos, abria as portas do seu apartamento para oferecer comida e banho a moradores de rua em Natal. Em maio, decidiu alugar uma casa e hoje acolhe 32 pessoas. Foto: Luiz Henrique Gomes/Estadão

Entre os que já passaram pelo menos uma noite na casa de Cida estão jovens, idosos, mulheres, homens, dependentes químicos, e até filhos de advogados e filhos de médicos que abandonaram o lar da família. O perfil é vasto, mas todos são acolhidos da mesma forma e seguem as mesmas regras. A entrada na casa só é permitida até as 22h. O uso de álcool ou de drogas ilícitas é proibido. Cigarro? Só do lado de fora.

Tarefas

Todos também devem ajudar na rotina da casa. Uns cozinham, outros lavam louça e por aí vai. Como em qualquer convivência, às vezes há discordância. “Todos precisam ajudar. Se não sabe fazer alguma coisa, aprende. Se precisar, eu puxo a orelha, e eles me obedecem, viu? Às vezes acontece alguma discussão entre alguns, mas vou lá e converso. Aqui é como uma grande família”, disse Cida.

A casa sobrevive de doações que Cida busca todo dia. A maioria vem de grupos solidários, pessoas que ficam sabendo da iniciativa ou de associações. Quando as despesas apertam, ela pede ajuda ao marido. Desempregada, Cida não tem renda fixa. “Eu sempre fui assim, não sei ser de outro jeito. Se tenho R$ 1, divido. Às vezes fico sem comer, mas eles não.”

Maria Aparecida de Lima, no centro, e parte dos moradores de rua que ela acolhe em casa. Projeto começou há sete meses em Natal/RN Foto: Luiz Henrique Gomes/Estadão

Biografia

Cida tem 51 anos e desde os 8 se dedica de alguma forma a cuidar do outro. Filha de família pobre, começou a trabalhar nessa idade como babá na casa dos patrões da mãe, que era lavadeira. Parou de estudar aos 13. 

Na vida adulta, começou a perceber o grande número de pessoas em situação de rua no centro comercial e passou a ajudá-las. Com a pandemia do coronavírus, a pobreza aumentou. Segundo a prefeitura de Natal, em março de 2020 havia 400 pessoas nessa situação na cidade. Em dezembro do mesmo ano, já eram 3 mil – um crescimento de 650%.

Todos ao redor de Cida ajudam. As irmãs dão dinheiro quando necessário. E o seu atual companheiro ela conheceu quando o viu pagar uma refeição a um morador de rua. “Pensei: Jesus, essa pessoa é igual a mim”, disse. 

Alguns acolhidos por Cida conseguiram emprego com carteira assinada. Entre eles, Marcos, de 28 anos. Por anos, ele dormiu na calçada de um supermercado. Após passar a morar na casa de Cida, conseguiu emprego no supermercado em que dormia.

Quando o Estadão visitou a casa, Marcos estava trabalhando. “Muitos discriminam moradores de rua, mas são pessoas que estão na rua muitas vezes porque sofrem depressão, perderam tudo. Quando a gente dá um lar, tudo muda.” 

Como ajudar Como todo o trabalho que Cida faz é voluntário, a única forma de ajudar é entrando em contato com ela pelo Instagram @alimentandocomamor. Além desta iniciativa, há outras para a população em situação de rua.

Em São Paulo, há iniciativas como SP Invisível, que dá visibilidade a moradores de rua contando suas histórias e recebe doações que são utilizadas para dar comida e moradia, e o Bem da Madrugada, que distribui agasalhos durante o inverno, por exemplo. O padre Júlio Lancelotti também tem um trabalho voltado a pessoas em situação de rua, por meio da Pastoral do Povo de Rua.

NATAL - Quando as ruas do centro comercial de Natal estavam movimentadas à tarde, Maria Aparecida de Lima aproveitava para abrir a porta do seu apartamento no Edifício 21 de Março e receber moradores de rua que ficavam na praça à frente. O fluxo de pessoas no horário dificultava para o síndico perceber que ela deixava os desabrigados tomarem banho na sua casa e lhes oferecia algo para comer. “Ele nunca gostou, mas eu levava escondida”, contou Maria, conhecida por todos como Dona Cida.

Era assim até o início deste ano. Agora, ela não precisa esconder de ninguém o acolhimento que oferece às pessoas em situação de rua em Natal. Em maio, Cida alugou uma casa próxima ao edifício onde morava, no bairro Cidade Alta, e se mudou com o marido e a filha mais nova, uma bebê de 5 meses adotada pelo casal. Desde aquela época, a casa também virou morada dos desabrigados que ficam pelas redondezas e lhe pedem ajuda.

Passados sete meses, 32 pessoas moram na residência, com direito a banho e comida. Outras dezenas passam por lá diariamente para tomar banho, descansar ou comer, se tiver alimentação suficiente. Cida já chegou a contar 70 pessoas na casa durante uma tarde de domingo, dia em que o bairro, um dos mais antigos de Natal, está vazio. Em comparação, o único albergue público da capital potiguar tem espaço para acolher 46 pessoas.

Maria Aparecida Lima, 51 anos, abria as portas do seu apartamento para oferecer comida e banho a moradores de rua em Natal. Em maio, decidiu alugar uma casa e hoje acolhe 32 pessoas. Foto: Luiz Henrique Gomes/Estadão

Entre os que já passaram pelo menos uma noite na casa de Cida estão jovens, idosos, mulheres, homens, dependentes químicos, e até filhos de advogados e filhos de médicos que abandonaram o lar da família. O perfil é vasto, mas todos são acolhidos da mesma forma e seguem as mesmas regras. A entrada na casa só é permitida até as 22h. O uso de álcool ou de drogas ilícitas é proibido. Cigarro? Só do lado de fora.

Tarefas

Todos também devem ajudar na rotina da casa. Uns cozinham, outros lavam louça e por aí vai. Como em qualquer convivência, às vezes há discordância. “Todos precisam ajudar. Se não sabe fazer alguma coisa, aprende. Se precisar, eu puxo a orelha, e eles me obedecem, viu? Às vezes acontece alguma discussão entre alguns, mas vou lá e converso. Aqui é como uma grande família”, disse Cida.

A casa sobrevive de doações que Cida busca todo dia. A maioria vem de grupos solidários, pessoas que ficam sabendo da iniciativa ou de associações. Quando as despesas apertam, ela pede ajuda ao marido. Desempregada, Cida não tem renda fixa. “Eu sempre fui assim, não sei ser de outro jeito. Se tenho R$ 1, divido. Às vezes fico sem comer, mas eles não.”

Maria Aparecida de Lima, no centro, e parte dos moradores de rua que ela acolhe em casa. Projeto começou há sete meses em Natal/RN Foto: Luiz Henrique Gomes/Estadão

Biografia

Cida tem 51 anos e desde os 8 se dedica de alguma forma a cuidar do outro. Filha de família pobre, começou a trabalhar nessa idade como babá na casa dos patrões da mãe, que era lavadeira. Parou de estudar aos 13. 

Na vida adulta, começou a perceber o grande número de pessoas em situação de rua no centro comercial e passou a ajudá-las. Com a pandemia do coronavírus, a pobreza aumentou. Segundo a prefeitura de Natal, em março de 2020 havia 400 pessoas nessa situação na cidade. Em dezembro do mesmo ano, já eram 3 mil – um crescimento de 650%.

Todos ao redor de Cida ajudam. As irmãs dão dinheiro quando necessário. E o seu atual companheiro ela conheceu quando o viu pagar uma refeição a um morador de rua. “Pensei: Jesus, essa pessoa é igual a mim”, disse. 

Alguns acolhidos por Cida conseguiram emprego com carteira assinada. Entre eles, Marcos, de 28 anos. Por anos, ele dormiu na calçada de um supermercado. Após passar a morar na casa de Cida, conseguiu emprego no supermercado em que dormia.

Quando o Estadão visitou a casa, Marcos estava trabalhando. “Muitos discriminam moradores de rua, mas são pessoas que estão na rua muitas vezes porque sofrem depressão, perderam tudo. Quando a gente dá um lar, tudo muda.” 

Como ajudar Como todo o trabalho que Cida faz é voluntário, a única forma de ajudar é entrando em contato com ela pelo Instagram @alimentandocomamor. Além desta iniciativa, há outras para a população em situação de rua.

Em São Paulo, há iniciativas como SP Invisível, que dá visibilidade a moradores de rua contando suas histórias e recebe doações que são utilizadas para dar comida e moradia, e o Bem da Madrugada, que distribui agasalhos durante o inverno, por exemplo. O padre Júlio Lancelotti também tem um trabalho voltado a pessoas em situação de rua, por meio da Pastoral do Povo de Rua.

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