Enquanto os países emergentes assumem a posição de melhor destino para o investimento global, as nações avançadas estão ameaçadas pelos problemas que antes eram atribuídos aos emergentes - grandes déficits fiscais, dívidas públicas com crescimento explosivo e ameaça de populismo político. Essa surpreendente constatação foi um dos destaques do debate sobre o "novo normal" em termos de crescimento econômico global, que abriu as discussões econômicas no primeiro dia do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. Nouriel Roubini, célebre por ter previsto a crise global, observou que o chamado "risco soberano" - incertezas sobre a solvência pública e cambial de países - hoje está crescendo no mundo desenvolvido, em lugares como Itália, Irlanda, Grécia e até Grã-Bretanha e Estados Unidos. Raghuram Rajan, da Universidade de Chicago, e ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), notou que a definição de emergentes normalmente carrega a noção de maior risco em termos políticos e fiscais, e que o conceito "hoje se aplica muito mais aos países ricos". Já para David Rubenstein, cofundador e diretor-gerente do Carlyle Group, empresa americana de investimentos, "o lugar mais atraente para se investir hoje provavelmente são os mercados emergentes". Roubini citou algumas razões pelas quais alguns dos principais mercados emergentes, como China, Índia e Brasil e outros, são mais promissores hoje do que os países ricos. O primeiro é a capacidade de crescer em média 5% ao ano, contra um máximo de 3% dos ricos. Roubini, aliás, faz parte do grupo de céticos em relação ao vigor da recuperação americana e dos demais países avançados. Dessa forma, ele não crê que eles voltem rapidamente a crescer de acordo com o seu potencial. Outra razão é que boa parte dos emergentes não tem os problemas "pós-bolha" dos países avançados e da Europa Oriental, como o excessivo endividamento das famílias e o mau estado das finanças públicas. Assim, ainda têm espaço para usar a política fiscal e monetária como estímulo ao crescimento econômico. Ele ressalvou que os emergentes não serão capazes de compensar a queda de consumo dos países ricos.Um ano depois do encontro de Davos de 2009, num momento dramático da crise global, a reunião de 2010 foi aberta num tom de otimismo moderado e cauteloso, com muitos alertas sobre os perigos à frente. Para Rajan, "nós estamos saindo de um período de grande incerteza econômica para um de grande incerteza política". A sua preocupação, e a de vários outros participantes do fórum, é de que a pressão popular - especialmente nos países ricos - por medidas que coíbam os excessos que levaram à crise possa levar a regulações excessivas ou equivocadas, que sejam prejudiciais ao crescimento. Para Rubenstein, é preciso saber se os problemas serão abordados de uma forma "populista ou centrista".Não houve consenso, porém, sobre que medidas são ou não populistas. Um dos principais pontos de desencontro de opiniões foi sobre as novas propostas do presidente dos EUA, Barack Obama, para o sistema bancário, de limitar o tamanho dos bancos, e proibi-los de gerir fundos de hedge (especulativos) e de fazer operações de tesouraria com capital próprio.Roubini acha que Obama foi tímido demais. Ele se diz favorável à volta da determinação da antiga Lei Glass-Steagal, de que haja uma separação total entre bancos comerciais (que captam depósitos segurados do público, e emprestam) e de investimento, que se envolvem com emissão e negociação de títulos, com fusões e aquisições e finanças corporativas em geral.O economista acha que o "excesso de tolerância" com os bancos está levando de novo a lucros exagerados, bônus "obscenos", e faz parte dos fatores que vêm criando novas bolhas de ativos nos países ricos e emergentes.No debate sobre regulação, Roubini ficou em posição oposta à de Rajan, que teme o que chamou de "ioiô da regulação" - um período de excessiva liberalidade seguido por excessivo rigor, prejudicando a flexibilidade e a inovação.