Por Marina Dayrell
O que o mercado espera de um jornalista recém-formado? Com as redações cada vez mais enxutas e as transformações que o jornalismo enfrenta, os desafios dos jovens profissionais são muitos. Andréia Lago, jornalista e sócia-fundadora da Eder Content, e Marta Gleich, diretora de redação do Zero Hora, dão dicas para ser um bom profissional.
Com mais de 20 anos de experiência, Andréia acredita que empreender no jornalismo é uma opção para sobreviver no mercado. Há três anos, ela deixou a redação para criar uma plataforma de produção de reportagens multimídia. "Não inventei a roda. Se a gente olhar para a América Latina, são mais de 100 empreendimentos de jornalismo independente, todos nativos digitais".
Para empreender na profissão, a alternativa pode ser se tornar um freelancer - regime de trabalho que vem crescendo e se profissionalizando. "Para a minha geração, ser freelancer significava que você não tinha conseguido entrar em uma redação. Hoje, não é mais assim".
Dicas. Andréia acredita que ser um jornalista independente é uma alternativa para quem quer trabalhar com o que gosta e pagar as contas no final do mês. Mas esse regime também tem desafios. "Você precisa acompanhar o noticiário todos os dias para pensar nas suas pautas de forma que o editor se convença de que você tem uma matéria única para oferecer", disse. "Ser freelancer não é para todo mundo. Exige criatividade."
Em seus anos de experiência, a profissional diz perceber que muitos jovens jornalistas chegam ao mercado querendo fazer as mesmas coisas que a sua geração fazia há mais de 20 anos. No entanto, ela acredita que o caminho seja ir em direção à ousadia e à criatividade. "O jornalista tem que se jogar. Tem que ir atrás, trazer novidades e se atualizar porque, se a gente não fizer, não vamos ter novos leitores para quem escrever".
O principal conselho de Andréia é ir atrás de capacitação, seja um curso de jornalismo e raspagem de dados, jornalismo mobile ou, até mesmo, programação. "Você pode até não gostar, mas também não vai te morder. Um curso básico pode te ajudar muito. Eu acho que, se eu que estou na estrada há mais de 20 anos consigo, a nova geração tem mais do que a obrigação de ir atrás", comenta.
Jornalismo colaborativo. A aposta de Marta é no jornalismo colaborativo. Com mais de 30 anos de experiência, ela foi uma das jornalistas que participou da produção da reportagem Universidades S.A., uma colaboração entre cinco grandes jornais brasileiros para investigar a gestão das universidades públicas no país.
Marta acredita que há espaço para os recém-formados dentro das iniciativas de jornalismo colaborativo. "O modelo de antigamente, baseado em publicidade, não se sustenta mais. Essas iniciativas de criar grupos que trabalham juntos e buscam o financiamento via assinantes é absolutamente positivo e possível".
Para se destacar no mercado, Marta acredita que a palavra de ordem para o profissional é "atitude". "O jornalista precisa ter atitude de querer fazer muito mais e ter uma visão de que é possível fazer. Eu vejo muitos jovens querendo receber a solução pronta, querendo um emprego, mas, na verdade, precisa de muito mais do que isso hoje em dia".
Para se inspirar. Jornalistas dão dicas de sites e reportagens de trabalhos freelancer e colaborativo para inspirar os novos (e antigos) profissionais:
Dica da Andréia Lago:Sembramedia: Plataforma criada pelas jornalistas Janine Warner e Mijal Iastrebner, da Califórnia, para reunir iniciativas de empreendedorismo jornalístico na América Latina. "Elas perceberam que havia muitos jornalistas empreendendo, mas eles estavam dispersos, despreparados e isolados. Então, criaram essa empresa que dá assessoria para essas iniciativas", conta Andreia.
Dica de Marta Gleich:GDI: Em 2016, a RBS criou o Grupo de Investigação (GDI) para integrar jornalistas de jornal, TV e rádio na apuração de grandes denúncias. O resultado dessas reportagens de colaboração podem ser encontrados no site, com o selo do grupo.