Enchente volta a avançar e atinge novas áreas da Grande Porto Alegre; aulas são suspensas


Com chuva intensa e bombeamento colapsado, capital gaúcha vê retorno das inundações nesta quinta-feira; comportas serão novamente fechadas e pessoas precisaram ser resgatadas de vias ilhadas

Por Priscila Mengue
Atualização:

Enquanto parte dos bairros continuavam debaixo d’água, áreas onde a inundação havia baixado voltaram a ser tomadas pela enchente em Porto Alegre e mais cidades da região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul nesta quinta-feira, 23. A situação ocorre em meio a um sistema de prevenção e bombeamento colapsado, chuva intensa e aumento no vento que represa o escoamento do Lago Guaíba, com as águas avançando até por locais antes não afetados.

Com o agravamento da situação ao longo da manhã, a prefeitura da capital gaúcha determinou a suspensão das aulas nas escolas privadas e públicas onde tinham sido retomadas. Parte dos estabelecimentos ainda estava fechada pelo impacto e permanência da enchente em bairros da cidade. O fechamento de outros equipamentos públicos em áreas alagáveis, como postos de saúde, também foi anunciado.

A situação também preocupa no interior, especialmente na “Região dos Vales” (no entorno dos Rios Taquari, Caí, Jacuí e Pardo, que deságuam no Guaíba) — uma das mais devastadas pelas enchentes e — e na parte sul, no entorno da Lagoa dos Patos.

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Com a chuva e forte correnteza, as águas romperam ao menos duas das passarelas instaladas pelo Exército para conectar localidades isoladas, entre Lajeado e Arroio do Meio e outra em Candelária. Segundo as Forças Armadas, todas as passadeiras estão interditadas e ninguém ficou ferido.

Além disso, o Estado tem vivido uma elevação nos casos de leptospirose entre pessoas que tiveram contato com a água contaminada, com quatro mortes confirmadas. As vítimas eram de Venâncio Aires e Travesseiro, no interior, e Porto Alegre e Cachoeirinha, na região metropolitana.

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O prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), afirmou que a chuva extrema foi acima do que era esperado e piora ainda mais a situação da cidade, atingindo mais bairros. Havia, contudo, avisos de grande precipitação, de até 200mm, porém ele firma que se esperava que fosse mais espaçada.

“Aquilo que era o problema das áreas alagadas estendeu-se praticamente por toda a cidade com essa chuvarada”, afirmou em coletiva de imprensa. Ele chamou a situação de uma “nova crise dentro da crise”. “É evidente que o alerta é para toda a cidade neste momento, com foco, evidentemente, nessas áreas já alagadas.”

Ruas inundadas nesta quinta-feira em Porto Alegre Foto: Diego Vara/Reuters
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Além disso, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) vai fechar novamente as cinco comportas de contenção abertas do sistema antienchente nesta tarde. O órgão anunciou que fará barreiras com sacos nos locais onde os portões foram arrancados pelo poder público (a fim de acelerar o escoamento nos últimos dias) ou afetados pelas águas.

Com a situação, foi necessário realizar o resgate de pessoas ilhadas em diversos bairros, principalmente na zona sul, onde a maior parte não é protegida por diques. O acúmulo de água atinge tanto bairros afetados em que a água estava baixando, como Menino Deus, Cidade Baixa e Centro Histórico, quanto outras que tiveram menor ou nenhuma inundação anteriormente, como Cavalhada, Restinga e Santana. Os novos pontos de alagamento estão relacionados ao transbordamento de córregos.

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Horas após a situação causar preocupação e saída às pressas de bairros, a população voltou a reclamar da falta de orientação sobre para onde se destinar e o cenário estimado de avanço da água. “A prefeitura não foi pega de surpresa. A gente sabia que iria chover. Agora, a quantidade de chuva foi excessivamente forte pela manhã”, justificou o prefeito.

Em locais onde a água tinha baixado, como nas Ruas 21 de Abril e Alcides Maia, no bairro Sarandi, na zona norte, a elevação da enchente causou transtornos aos moradores, que já haviam limpado suas residências na quarta-feira, 22, enquanto fazia sol. A limpeza do Mercado Público da cidade também foi suspensa.

No Sarandi, parte de uma talude e uma via cederam com a erosão nesta quinta. Além disso, o avanço da inundação ocorre em um contexto em que a prefeitura havia orientado que a população colocasse entulho e demais resíduos da enchente nas ruas.

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Saionara Gomes, de 52 anos, perdeu tudo nas enchentes. A água chegou a 1,5 metro dentro de sua residência. “Os móveis estão todos empilhados nos canteiros. Estou preocupada com toda essa chuva que está vindo agora. Ontem (quarta-feira), os garis estavam limpando, mas tem muitos bueiros entupidos’', disse preocupada a dona de casa, que ficou mais de duas semanas abrigada em casa de familiares junto com seus dois filhos.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou grande parte da região central, metropolitana e sul do Estado (as mais atingidas pelas enchentes) como de “grande perigo” pelo acumulado de chuva. “Chuva superior a 60 mm/h ou acima de 100 mm/dia. Grande risco de grandes alagamentos e transbordamentos de rios, grandes deslizamentos de encostas, em cidades com tais áreas de risco”, alertou.

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‘Aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada’, diz prefeito de Porto Alegre

Na coletiva de imprensa, Melo também respondeu às críticas da população. O Estadão já havia mostrado uma série de problemas na gestão de crise da cidade ao longo do avanço das enchentes.

“Tão logo começou a acontecer, tomei a decisão: vim para o Dmae e para a Comissão Permanente de Crise, e tomamos as decisões. Alguém há de dizer: ‘Prefeito, você poderia ter feito isso ontem’. Esse pode ser o questionamento de muitos e eu respeito essa posição. Mas penso que nós agimos”, justificou. “Em um momento de crise, tudo é difícil. Poderiam ter suspendido as aulas antes? Talvez pudéssemos”, completou.

“Há sim, sem dúvida nenhuma, pelo volume de chuvas, aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada. Você tem uma cidade que está completamente alagada nesses últimos 20 dias e cai mais 100 mm de chuva por m² em toda a cidade, evidentemente que isso potencializa enormemente.”

Já o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, apontou que o acúmulo de lodo e sujeira também tem contribuído com a dificuldade de escoamento da água. “Temos uma rede extremamente sobrecarregada, seja por água, na sua capacidade reduzida, porque há um grande acúmulo de areia e lodo depositado sobre essa rede. Então, diminui ainda mais a eficiência dessa rede, o que faz com a água fique mais superficial, visto que tivemos um grande volume de chuva”, apontou.

Além disso, defendeu que o departamento tem buscado retomar o sistema de bombeamento nas casas de bombas colapsadas. Atualmente, 10 das 23 estão em funcionamento, de forma parcial. No auge da crise, apenas quatro operavam.

“Fora dessa catástrofe que estamos vivendo, em uma situação normal em Porto Alegre, esse volume acumulado de chuva em um curto período, que são 15 horas, já estaria nos trazendo problemas”, afirmou Loss.

Há preocupação, ainda, com o volume de água que desembocará na cidade com a chuva intensa em diversas partes do Estado. “Só que agora temos o somatório do Guaíba extremamente alto, de todos os arroios que desembocam no Guaíba sem a capacidade de desaguar no Guaíba (porque ocorre por gravidade), o solo está completamente encharcado e não consegue absorver a água. Então, tudo isso influencia para que a gente tenha alagamentos em pontos novos.”

Prefeitura de Porto Alegre pede que população racione água

O Dmae tem destacado que o desabastecimento de água está mantido por enquanto. No auge da crise, mais de 70% da cidade ficou sem o serviço durante dias. Em rede social, o departamento municipal voltou a recomendar o racionamento.

Segundo a Defesa Civil, mais de 2,3 milhões de pessoas em 469 dos 497 municípios gaúchos foram diretamente impactadas pelas enchentes, os deslizamentos e a chuva extrema. Ao menos 581,6 mil pessoas estão desalojadas (“morando de favor”, como mostrou o Estadão), enquanto 65,7 mil estão em abrigos. O balanço preliminar é de 163 mortes e 64 desaparecidos./COLABOROU LUCIANO NAGEL

Enquanto parte dos bairros continuavam debaixo d’água, áreas onde a inundação havia baixado voltaram a ser tomadas pela enchente em Porto Alegre e mais cidades da região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul nesta quinta-feira, 23. A situação ocorre em meio a um sistema de prevenção e bombeamento colapsado, chuva intensa e aumento no vento que represa o escoamento do Lago Guaíba, com as águas avançando até por locais antes não afetados.

Com o agravamento da situação ao longo da manhã, a prefeitura da capital gaúcha determinou a suspensão das aulas nas escolas privadas e públicas onde tinham sido retomadas. Parte dos estabelecimentos ainda estava fechada pelo impacto e permanência da enchente em bairros da cidade. O fechamento de outros equipamentos públicos em áreas alagáveis, como postos de saúde, também foi anunciado.

A situação também preocupa no interior, especialmente na “Região dos Vales” (no entorno dos Rios Taquari, Caí, Jacuí e Pardo, que deságuam no Guaíba) — uma das mais devastadas pelas enchentes e — e na parte sul, no entorno da Lagoa dos Patos.

Com a chuva e forte correnteza, as águas romperam ao menos duas das passarelas instaladas pelo Exército para conectar localidades isoladas, entre Lajeado e Arroio do Meio e outra em Candelária. Segundo as Forças Armadas, todas as passadeiras estão interditadas e ninguém ficou ferido.

Além disso, o Estado tem vivido uma elevação nos casos de leptospirose entre pessoas que tiveram contato com a água contaminada, com quatro mortes confirmadas. As vítimas eram de Venâncio Aires e Travesseiro, no interior, e Porto Alegre e Cachoeirinha, na região metropolitana.

O prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), afirmou que a chuva extrema foi acima do que era esperado e piora ainda mais a situação da cidade, atingindo mais bairros. Havia, contudo, avisos de grande precipitação, de até 200mm, porém ele firma que se esperava que fosse mais espaçada.

“Aquilo que era o problema das áreas alagadas estendeu-se praticamente por toda a cidade com essa chuvarada”, afirmou em coletiva de imprensa. Ele chamou a situação de uma “nova crise dentro da crise”. “É evidente que o alerta é para toda a cidade neste momento, com foco, evidentemente, nessas áreas já alagadas.”

Ruas inundadas nesta quinta-feira em Porto Alegre Foto: Diego Vara/Reuters

Além disso, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) vai fechar novamente as cinco comportas de contenção abertas do sistema antienchente nesta tarde. O órgão anunciou que fará barreiras com sacos nos locais onde os portões foram arrancados pelo poder público (a fim de acelerar o escoamento nos últimos dias) ou afetados pelas águas.

Com a situação, foi necessário realizar o resgate de pessoas ilhadas em diversos bairros, principalmente na zona sul, onde a maior parte não é protegida por diques. O acúmulo de água atinge tanto bairros afetados em que a água estava baixando, como Menino Deus, Cidade Baixa e Centro Histórico, quanto outras que tiveram menor ou nenhuma inundação anteriormente, como Cavalhada, Restinga e Santana. Os novos pontos de alagamento estão relacionados ao transbordamento de córregos.

Horas após a situação causar preocupação e saída às pressas de bairros, a população voltou a reclamar da falta de orientação sobre para onde se destinar e o cenário estimado de avanço da água. “A prefeitura não foi pega de surpresa. A gente sabia que iria chover. Agora, a quantidade de chuva foi excessivamente forte pela manhã”, justificou o prefeito.

Em locais onde a água tinha baixado, como nas Ruas 21 de Abril e Alcides Maia, no bairro Sarandi, na zona norte, a elevação da enchente causou transtornos aos moradores, que já haviam limpado suas residências na quarta-feira, 22, enquanto fazia sol. A limpeza do Mercado Público da cidade também foi suspensa.

No Sarandi, parte de uma talude e uma via cederam com a erosão nesta quinta. Além disso, o avanço da inundação ocorre em um contexto em que a prefeitura havia orientado que a população colocasse entulho e demais resíduos da enchente nas ruas.

Saionara Gomes, de 52 anos, perdeu tudo nas enchentes. A água chegou a 1,5 metro dentro de sua residência. “Os móveis estão todos empilhados nos canteiros. Estou preocupada com toda essa chuva que está vindo agora. Ontem (quarta-feira), os garis estavam limpando, mas tem muitos bueiros entupidos’', disse preocupada a dona de casa, que ficou mais de duas semanas abrigada em casa de familiares junto com seus dois filhos.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou grande parte da região central, metropolitana e sul do Estado (as mais atingidas pelas enchentes) como de “grande perigo” pelo acumulado de chuva. “Chuva superior a 60 mm/h ou acima de 100 mm/dia. Grande risco de grandes alagamentos e transbordamentos de rios, grandes deslizamentos de encostas, em cidades com tais áreas de risco”, alertou.

‘Aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada’, diz prefeito de Porto Alegre

Na coletiva de imprensa, Melo também respondeu às críticas da população. O Estadão já havia mostrado uma série de problemas na gestão de crise da cidade ao longo do avanço das enchentes.

“Tão logo começou a acontecer, tomei a decisão: vim para o Dmae e para a Comissão Permanente de Crise, e tomamos as decisões. Alguém há de dizer: ‘Prefeito, você poderia ter feito isso ontem’. Esse pode ser o questionamento de muitos e eu respeito essa posição. Mas penso que nós agimos”, justificou. “Em um momento de crise, tudo é difícil. Poderiam ter suspendido as aulas antes? Talvez pudéssemos”, completou.

“Há sim, sem dúvida nenhuma, pelo volume de chuvas, aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada. Você tem uma cidade que está completamente alagada nesses últimos 20 dias e cai mais 100 mm de chuva por m² em toda a cidade, evidentemente que isso potencializa enormemente.”

Já o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, apontou que o acúmulo de lodo e sujeira também tem contribuído com a dificuldade de escoamento da água. “Temos uma rede extremamente sobrecarregada, seja por água, na sua capacidade reduzida, porque há um grande acúmulo de areia e lodo depositado sobre essa rede. Então, diminui ainda mais a eficiência dessa rede, o que faz com a água fique mais superficial, visto que tivemos um grande volume de chuva”, apontou.

Além disso, defendeu que o departamento tem buscado retomar o sistema de bombeamento nas casas de bombas colapsadas. Atualmente, 10 das 23 estão em funcionamento, de forma parcial. No auge da crise, apenas quatro operavam.

“Fora dessa catástrofe que estamos vivendo, em uma situação normal em Porto Alegre, esse volume acumulado de chuva em um curto período, que são 15 horas, já estaria nos trazendo problemas”, afirmou Loss.

Há preocupação, ainda, com o volume de água que desembocará na cidade com a chuva intensa em diversas partes do Estado. “Só que agora temos o somatório do Guaíba extremamente alto, de todos os arroios que desembocam no Guaíba sem a capacidade de desaguar no Guaíba (porque ocorre por gravidade), o solo está completamente encharcado e não consegue absorver a água. Então, tudo isso influencia para que a gente tenha alagamentos em pontos novos.”

Prefeitura de Porto Alegre pede que população racione água

O Dmae tem destacado que o desabastecimento de água está mantido por enquanto. No auge da crise, mais de 70% da cidade ficou sem o serviço durante dias. Em rede social, o departamento municipal voltou a recomendar o racionamento.

Segundo a Defesa Civil, mais de 2,3 milhões de pessoas em 469 dos 497 municípios gaúchos foram diretamente impactadas pelas enchentes, os deslizamentos e a chuva extrema. Ao menos 581,6 mil pessoas estão desalojadas (“morando de favor”, como mostrou o Estadão), enquanto 65,7 mil estão em abrigos. O balanço preliminar é de 163 mortes e 64 desaparecidos./COLABOROU LUCIANO NAGEL

Enquanto parte dos bairros continuavam debaixo d’água, áreas onde a inundação havia baixado voltaram a ser tomadas pela enchente em Porto Alegre e mais cidades da região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul nesta quinta-feira, 23. A situação ocorre em meio a um sistema de prevenção e bombeamento colapsado, chuva intensa e aumento no vento que represa o escoamento do Lago Guaíba, com as águas avançando até por locais antes não afetados.

Com o agravamento da situação ao longo da manhã, a prefeitura da capital gaúcha determinou a suspensão das aulas nas escolas privadas e públicas onde tinham sido retomadas. Parte dos estabelecimentos ainda estava fechada pelo impacto e permanência da enchente em bairros da cidade. O fechamento de outros equipamentos públicos em áreas alagáveis, como postos de saúde, também foi anunciado.

A situação também preocupa no interior, especialmente na “Região dos Vales” (no entorno dos Rios Taquari, Caí, Jacuí e Pardo, que deságuam no Guaíba) — uma das mais devastadas pelas enchentes e — e na parte sul, no entorno da Lagoa dos Patos.

Com a chuva e forte correnteza, as águas romperam ao menos duas das passarelas instaladas pelo Exército para conectar localidades isoladas, entre Lajeado e Arroio do Meio e outra em Candelária. Segundo as Forças Armadas, todas as passadeiras estão interditadas e ninguém ficou ferido.

Além disso, o Estado tem vivido uma elevação nos casos de leptospirose entre pessoas que tiveram contato com a água contaminada, com quatro mortes confirmadas. As vítimas eram de Venâncio Aires e Travesseiro, no interior, e Porto Alegre e Cachoeirinha, na região metropolitana.

O prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), afirmou que a chuva extrema foi acima do que era esperado e piora ainda mais a situação da cidade, atingindo mais bairros. Havia, contudo, avisos de grande precipitação, de até 200mm, porém ele firma que se esperava que fosse mais espaçada.

“Aquilo que era o problema das áreas alagadas estendeu-se praticamente por toda a cidade com essa chuvarada”, afirmou em coletiva de imprensa. Ele chamou a situação de uma “nova crise dentro da crise”. “É evidente que o alerta é para toda a cidade neste momento, com foco, evidentemente, nessas áreas já alagadas.”

Ruas inundadas nesta quinta-feira em Porto Alegre Foto: Diego Vara/Reuters

Além disso, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) vai fechar novamente as cinco comportas de contenção abertas do sistema antienchente nesta tarde. O órgão anunciou que fará barreiras com sacos nos locais onde os portões foram arrancados pelo poder público (a fim de acelerar o escoamento nos últimos dias) ou afetados pelas águas.

Com a situação, foi necessário realizar o resgate de pessoas ilhadas em diversos bairros, principalmente na zona sul, onde a maior parte não é protegida por diques. O acúmulo de água atinge tanto bairros afetados em que a água estava baixando, como Menino Deus, Cidade Baixa e Centro Histórico, quanto outras que tiveram menor ou nenhuma inundação anteriormente, como Cavalhada, Restinga e Santana. Os novos pontos de alagamento estão relacionados ao transbordamento de córregos.

Horas após a situação causar preocupação e saída às pressas de bairros, a população voltou a reclamar da falta de orientação sobre para onde se destinar e o cenário estimado de avanço da água. “A prefeitura não foi pega de surpresa. A gente sabia que iria chover. Agora, a quantidade de chuva foi excessivamente forte pela manhã”, justificou o prefeito.

Em locais onde a água tinha baixado, como nas Ruas 21 de Abril e Alcides Maia, no bairro Sarandi, na zona norte, a elevação da enchente causou transtornos aos moradores, que já haviam limpado suas residências na quarta-feira, 22, enquanto fazia sol. A limpeza do Mercado Público da cidade também foi suspensa.

No Sarandi, parte de uma talude e uma via cederam com a erosão nesta quinta. Além disso, o avanço da inundação ocorre em um contexto em que a prefeitura havia orientado que a população colocasse entulho e demais resíduos da enchente nas ruas.

Saionara Gomes, de 52 anos, perdeu tudo nas enchentes. A água chegou a 1,5 metro dentro de sua residência. “Os móveis estão todos empilhados nos canteiros. Estou preocupada com toda essa chuva que está vindo agora. Ontem (quarta-feira), os garis estavam limpando, mas tem muitos bueiros entupidos’', disse preocupada a dona de casa, que ficou mais de duas semanas abrigada em casa de familiares junto com seus dois filhos.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou grande parte da região central, metropolitana e sul do Estado (as mais atingidas pelas enchentes) como de “grande perigo” pelo acumulado de chuva. “Chuva superior a 60 mm/h ou acima de 100 mm/dia. Grande risco de grandes alagamentos e transbordamentos de rios, grandes deslizamentos de encostas, em cidades com tais áreas de risco”, alertou.

‘Aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada’, diz prefeito de Porto Alegre

Na coletiva de imprensa, Melo também respondeu às críticas da população. O Estadão já havia mostrado uma série de problemas na gestão de crise da cidade ao longo do avanço das enchentes.

“Tão logo começou a acontecer, tomei a decisão: vim para o Dmae e para a Comissão Permanente de Crise, e tomamos as decisões. Alguém há de dizer: ‘Prefeito, você poderia ter feito isso ontem’. Esse pode ser o questionamento de muitos e eu respeito essa posição. Mas penso que nós agimos”, justificou. “Em um momento de crise, tudo é difícil. Poderiam ter suspendido as aulas antes? Talvez pudéssemos”, completou.

“Há sim, sem dúvida nenhuma, pelo volume de chuvas, aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada. Você tem uma cidade que está completamente alagada nesses últimos 20 dias e cai mais 100 mm de chuva por m² em toda a cidade, evidentemente que isso potencializa enormemente.”

Já o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, apontou que o acúmulo de lodo e sujeira também tem contribuído com a dificuldade de escoamento da água. “Temos uma rede extremamente sobrecarregada, seja por água, na sua capacidade reduzida, porque há um grande acúmulo de areia e lodo depositado sobre essa rede. Então, diminui ainda mais a eficiência dessa rede, o que faz com a água fique mais superficial, visto que tivemos um grande volume de chuva”, apontou.

Além disso, defendeu que o departamento tem buscado retomar o sistema de bombeamento nas casas de bombas colapsadas. Atualmente, 10 das 23 estão em funcionamento, de forma parcial. No auge da crise, apenas quatro operavam.

“Fora dessa catástrofe que estamos vivendo, em uma situação normal em Porto Alegre, esse volume acumulado de chuva em um curto período, que são 15 horas, já estaria nos trazendo problemas”, afirmou Loss.

Há preocupação, ainda, com o volume de água que desembocará na cidade com a chuva intensa em diversas partes do Estado. “Só que agora temos o somatório do Guaíba extremamente alto, de todos os arroios que desembocam no Guaíba sem a capacidade de desaguar no Guaíba (porque ocorre por gravidade), o solo está completamente encharcado e não consegue absorver a água. Então, tudo isso influencia para que a gente tenha alagamentos em pontos novos.”

Prefeitura de Porto Alegre pede que população racione água

O Dmae tem destacado que o desabastecimento de água está mantido por enquanto. No auge da crise, mais de 70% da cidade ficou sem o serviço durante dias. Em rede social, o departamento municipal voltou a recomendar o racionamento.

Segundo a Defesa Civil, mais de 2,3 milhões de pessoas em 469 dos 497 municípios gaúchos foram diretamente impactadas pelas enchentes, os deslizamentos e a chuva extrema. Ao menos 581,6 mil pessoas estão desalojadas (“morando de favor”, como mostrou o Estadão), enquanto 65,7 mil estão em abrigos. O balanço preliminar é de 163 mortes e 64 desaparecidos./COLABOROU LUCIANO NAGEL

Enquanto parte dos bairros continuavam debaixo d’água, áreas onde a inundação havia baixado voltaram a ser tomadas pela enchente em Porto Alegre e mais cidades da região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul nesta quinta-feira, 23. A situação ocorre em meio a um sistema de prevenção e bombeamento colapsado, chuva intensa e aumento no vento que represa o escoamento do Lago Guaíba, com as águas avançando até por locais antes não afetados.

Com o agravamento da situação ao longo da manhã, a prefeitura da capital gaúcha determinou a suspensão das aulas nas escolas privadas e públicas onde tinham sido retomadas. Parte dos estabelecimentos ainda estava fechada pelo impacto e permanência da enchente em bairros da cidade. O fechamento de outros equipamentos públicos em áreas alagáveis, como postos de saúde, também foi anunciado.

A situação também preocupa no interior, especialmente na “Região dos Vales” (no entorno dos Rios Taquari, Caí, Jacuí e Pardo, que deságuam no Guaíba) — uma das mais devastadas pelas enchentes e — e na parte sul, no entorno da Lagoa dos Patos.

Com a chuva e forte correnteza, as águas romperam ao menos duas das passarelas instaladas pelo Exército para conectar localidades isoladas, entre Lajeado e Arroio do Meio e outra em Candelária. Segundo as Forças Armadas, todas as passadeiras estão interditadas e ninguém ficou ferido.

Além disso, o Estado tem vivido uma elevação nos casos de leptospirose entre pessoas que tiveram contato com a água contaminada, com quatro mortes confirmadas. As vítimas eram de Venâncio Aires e Travesseiro, no interior, e Porto Alegre e Cachoeirinha, na região metropolitana.

O prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), afirmou que a chuva extrema foi acima do que era esperado e piora ainda mais a situação da cidade, atingindo mais bairros. Havia, contudo, avisos de grande precipitação, de até 200mm, porém ele firma que se esperava que fosse mais espaçada.

“Aquilo que era o problema das áreas alagadas estendeu-se praticamente por toda a cidade com essa chuvarada”, afirmou em coletiva de imprensa. Ele chamou a situação de uma “nova crise dentro da crise”. “É evidente que o alerta é para toda a cidade neste momento, com foco, evidentemente, nessas áreas já alagadas.”

Ruas inundadas nesta quinta-feira em Porto Alegre Foto: Diego Vara/Reuters

Além disso, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) vai fechar novamente as cinco comportas de contenção abertas do sistema antienchente nesta tarde. O órgão anunciou que fará barreiras com sacos nos locais onde os portões foram arrancados pelo poder público (a fim de acelerar o escoamento nos últimos dias) ou afetados pelas águas.

Com a situação, foi necessário realizar o resgate de pessoas ilhadas em diversos bairros, principalmente na zona sul, onde a maior parte não é protegida por diques. O acúmulo de água atinge tanto bairros afetados em que a água estava baixando, como Menino Deus, Cidade Baixa e Centro Histórico, quanto outras que tiveram menor ou nenhuma inundação anteriormente, como Cavalhada, Restinga e Santana. Os novos pontos de alagamento estão relacionados ao transbordamento de córregos.

Horas após a situação causar preocupação e saída às pressas de bairros, a população voltou a reclamar da falta de orientação sobre para onde se destinar e o cenário estimado de avanço da água. “A prefeitura não foi pega de surpresa. A gente sabia que iria chover. Agora, a quantidade de chuva foi excessivamente forte pela manhã”, justificou o prefeito.

Em locais onde a água tinha baixado, como nas Ruas 21 de Abril e Alcides Maia, no bairro Sarandi, na zona norte, a elevação da enchente causou transtornos aos moradores, que já haviam limpado suas residências na quarta-feira, 22, enquanto fazia sol. A limpeza do Mercado Público da cidade também foi suspensa.

No Sarandi, parte de uma talude e uma via cederam com a erosão nesta quinta. Além disso, o avanço da inundação ocorre em um contexto em que a prefeitura havia orientado que a população colocasse entulho e demais resíduos da enchente nas ruas.

Saionara Gomes, de 52 anos, perdeu tudo nas enchentes. A água chegou a 1,5 metro dentro de sua residência. “Os móveis estão todos empilhados nos canteiros. Estou preocupada com toda essa chuva que está vindo agora. Ontem (quarta-feira), os garis estavam limpando, mas tem muitos bueiros entupidos’', disse preocupada a dona de casa, que ficou mais de duas semanas abrigada em casa de familiares junto com seus dois filhos.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou grande parte da região central, metropolitana e sul do Estado (as mais atingidas pelas enchentes) como de “grande perigo” pelo acumulado de chuva. “Chuva superior a 60 mm/h ou acima de 100 mm/dia. Grande risco de grandes alagamentos e transbordamentos de rios, grandes deslizamentos de encostas, em cidades com tais áreas de risco”, alertou.

‘Aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada’, diz prefeito de Porto Alegre

Na coletiva de imprensa, Melo também respondeu às críticas da população. O Estadão já havia mostrado uma série de problemas na gestão de crise da cidade ao longo do avanço das enchentes.

“Tão logo começou a acontecer, tomei a decisão: vim para o Dmae e para a Comissão Permanente de Crise, e tomamos as decisões. Alguém há de dizer: ‘Prefeito, você poderia ter feito isso ontem’. Esse pode ser o questionamento de muitos e eu respeito essa posição. Mas penso que nós agimos”, justificou. “Em um momento de crise, tudo é difícil. Poderiam ter suspendido as aulas antes? Talvez pudéssemos”, completou.

“Há sim, sem dúvida nenhuma, pelo volume de chuvas, aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada. Você tem uma cidade que está completamente alagada nesses últimos 20 dias e cai mais 100 mm de chuva por m² em toda a cidade, evidentemente que isso potencializa enormemente.”

Já o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, apontou que o acúmulo de lodo e sujeira também tem contribuído com a dificuldade de escoamento da água. “Temos uma rede extremamente sobrecarregada, seja por água, na sua capacidade reduzida, porque há um grande acúmulo de areia e lodo depositado sobre essa rede. Então, diminui ainda mais a eficiência dessa rede, o que faz com a água fique mais superficial, visto que tivemos um grande volume de chuva”, apontou.

Além disso, defendeu que o departamento tem buscado retomar o sistema de bombeamento nas casas de bombas colapsadas. Atualmente, 10 das 23 estão em funcionamento, de forma parcial. No auge da crise, apenas quatro operavam.

“Fora dessa catástrofe que estamos vivendo, em uma situação normal em Porto Alegre, esse volume acumulado de chuva em um curto período, que são 15 horas, já estaria nos trazendo problemas”, afirmou Loss.

Há preocupação, ainda, com o volume de água que desembocará na cidade com a chuva intensa em diversas partes do Estado. “Só que agora temos o somatório do Guaíba extremamente alto, de todos os arroios que desembocam no Guaíba sem a capacidade de desaguar no Guaíba (porque ocorre por gravidade), o solo está completamente encharcado e não consegue absorver a água. Então, tudo isso influencia para que a gente tenha alagamentos em pontos novos.”

Prefeitura de Porto Alegre pede que população racione água

O Dmae tem destacado que o desabastecimento de água está mantido por enquanto. No auge da crise, mais de 70% da cidade ficou sem o serviço durante dias. Em rede social, o departamento municipal voltou a recomendar o racionamento.

Segundo a Defesa Civil, mais de 2,3 milhões de pessoas em 469 dos 497 municípios gaúchos foram diretamente impactadas pelas enchentes, os deslizamentos e a chuva extrema. Ao menos 581,6 mil pessoas estão desalojadas (“morando de favor”, como mostrou o Estadão), enquanto 65,7 mil estão em abrigos. O balanço preliminar é de 163 mortes e 64 desaparecidos./COLABOROU LUCIANO NAGEL

Enquanto parte dos bairros continuavam debaixo d’água, áreas onde a inundação havia baixado voltaram a ser tomadas pela enchente em Porto Alegre e mais cidades da região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul nesta quinta-feira, 23. A situação ocorre em meio a um sistema de prevenção e bombeamento colapsado, chuva intensa e aumento no vento que represa o escoamento do Lago Guaíba, com as águas avançando até por locais antes não afetados.

Com o agravamento da situação ao longo da manhã, a prefeitura da capital gaúcha determinou a suspensão das aulas nas escolas privadas e públicas onde tinham sido retomadas. Parte dos estabelecimentos ainda estava fechada pelo impacto e permanência da enchente em bairros da cidade. O fechamento de outros equipamentos públicos em áreas alagáveis, como postos de saúde, também foi anunciado.

A situação também preocupa no interior, especialmente na “Região dos Vales” (no entorno dos Rios Taquari, Caí, Jacuí e Pardo, que deságuam no Guaíba) — uma das mais devastadas pelas enchentes e — e na parte sul, no entorno da Lagoa dos Patos.

Com a chuva e forte correnteza, as águas romperam ao menos duas das passarelas instaladas pelo Exército para conectar localidades isoladas, entre Lajeado e Arroio do Meio e outra em Candelária. Segundo as Forças Armadas, todas as passadeiras estão interditadas e ninguém ficou ferido.

Além disso, o Estado tem vivido uma elevação nos casos de leptospirose entre pessoas que tiveram contato com a água contaminada, com quatro mortes confirmadas. As vítimas eram de Venâncio Aires e Travesseiro, no interior, e Porto Alegre e Cachoeirinha, na região metropolitana.

O prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), afirmou que a chuva extrema foi acima do que era esperado e piora ainda mais a situação da cidade, atingindo mais bairros. Havia, contudo, avisos de grande precipitação, de até 200mm, porém ele firma que se esperava que fosse mais espaçada.

“Aquilo que era o problema das áreas alagadas estendeu-se praticamente por toda a cidade com essa chuvarada”, afirmou em coletiva de imprensa. Ele chamou a situação de uma “nova crise dentro da crise”. “É evidente que o alerta é para toda a cidade neste momento, com foco, evidentemente, nessas áreas já alagadas.”

Ruas inundadas nesta quinta-feira em Porto Alegre Foto: Diego Vara/Reuters

Além disso, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) vai fechar novamente as cinco comportas de contenção abertas do sistema antienchente nesta tarde. O órgão anunciou que fará barreiras com sacos nos locais onde os portões foram arrancados pelo poder público (a fim de acelerar o escoamento nos últimos dias) ou afetados pelas águas.

Com a situação, foi necessário realizar o resgate de pessoas ilhadas em diversos bairros, principalmente na zona sul, onde a maior parte não é protegida por diques. O acúmulo de água atinge tanto bairros afetados em que a água estava baixando, como Menino Deus, Cidade Baixa e Centro Histórico, quanto outras que tiveram menor ou nenhuma inundação anteriormente, como Cavalhada, Restinga e Santana. Os novos pontos de alagamento estão relacionados ao transbordamento de córregos.

Horas após a situação causar preocupação e saída às pressas de bairros, a população voltou a reclamar da falta de orientação sobre para onde se destinar e o cenário estimado de avanço da água. “A prefeitura não foi pega de surpresa. A gente sabia que iria chover. Agora, a quantidade de chuva foi excessivamente forte pela manhã”, justificou o prefeito.

Em locais onde a água tinha baixado, como nas Ruas 21 de Abril e Alcides Maia, no bairro Sarandi, na zona norte, a elevação da enchente causou transtornos aos moradores, que já haviam limpado suas residências na quarta-feira, 22, enquanto fazia sol. A limpeza do Mercado Público da cidade também foi suspensa.

No Sarandi, parte de uma talude e uma via cederam com a erosão nesta quinta. Além disso, o avanço da inundação ocorre em um contexto em que a prefeitura havia orientado que a população colocasse entulho e demais resíduos da enchente nas ruas.

Saionara Gomes, de 52 anos, perdeu tudo nas enchentes. A água chegou a 1,5 metro dentro de sua residência. “Os móveis estão todos empilhados nos canteiros. Estou preocupada com toda essa chuva que está vindo agora. Ontem (quarta-feira), os garis estavam limpando, mas tem muitos bueiros entupidos’', disse preocupada a dona de casa, que ficou mais de duas semanas abrigada em casa de familiares junto com seus dois filhos.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou grande parte da região central, metropolitana e sul do Estado (as mais atingidas pelas enchentes) como de “grande perigo” pelo acumulado de chuva. “Chuva superior a 60 mm/h ou acima de 100 mm/dia. Grande risco de grandes alagamentos e transbordamentos de rios, grandes deslizamentos de encostas, em cidades com tais áreas de risco”, alertou.

‘Aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada’, diz prefeito de Porto Alegre

Na coletiva de imprensa, Melo também respondeu às críticas da população. O Estadão já havia mostrado uma série de problemas na gestão de crise da cidade ao longo do avanço das enchentes.

“Tão logo começou a acontecer, tomei a decisão: vim para o Dmae e para a Comissão Permanente de Crise, e tomamos as decisões. Alguém há de dizer: ‘Prefeito, você poderia ter feito isso ontem’. Esse pode ser o questionamento de muitos e eu respeito essa posição. Mas penso que nós agimos”, justificou. “Em um momento de crise, tudo é difícil. Poderiam ter suspendido as aulas antes? Talvez pudéssemos”, completou.

“Há sim, sem dúvida nenhuma, pelo volume de chuvas, aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada. Você tem uma cidade que está completamente alagada nesses últimos 20 dias e cai mais 100 mm de chuva por m² em toda a cidade, evidentemente que isso potencializa enormemente.”

Já o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, apontou que o acúmulo de lodo e sujeira também tem contribuído com a dificuldade de escoamento da água. “Temos uma rede extremamente sobrecarregada, seja por água, na sua capacidade reduzida, porque há um grande acúmulo de areia e lodo depositado sobre essa rede. Então, diminui ainda mais a eficiência dessa rede, o que faz com a água fique mais superficial, visto que tivemos um grande volume de chuva”, apontou.

Além disso, defendeu que o departamento tem buscado retomar o sistema de bombeamento nas casas de bombas colapsadas. Atualmente, 10 das 23 estão em funcionamento, de forma parcial. No auge da crise, apenas quatro operavam.

“Fora dessa catástrofe que estamos vivendo, em uma situação normal em Porto Alegre, esse volume acumulado de chuva em um curto período, que são 15 horas, já estaria nos trazendo problemas”, afirmou Loss.

Há preocupação, ainda, com o volume de água que desembocará na cidade com a chuva intensa em diversas partes do Estado. “Só que agora temos o somatório do Guaíba extremamente alto, de todos os arroios que desembocam no Guaíba sem a capacidade de desaguar no Guaíba (porque ocorre por gravidade), o solo está completamente encharcado e não consegue absorver a água. Então, tudo isso influencia para que a gente tenha alagamentos em pontos novos.”

Prefeitura de Porto Alegre pede que população racione água

O Dmae tem destacado que o desabastecimento de água está mantido por enquanto. No auge da crise, mais de 70% da cidade ficou sem o serviço durante dias. Em rede social, o departamento municipal voltou a recomendar o racionamento.

Segundo a Defesa Civil, mais de 2,3 milhões de pessoas em 469 dos 497 municípios gaúchos foram diretamente impactadas pelas enchentes, os deslizamentos e a chuva extrema. Ao menos 581,6 mil pessoas estão desalojadas (“morando de favor”, como mostrou o Estadão), enquanto 65,7 mil estão em abrigos. O balanço preliminar é de 163 mortes e 64 desaparecidos./COLABOROU LUCIANO NAGEL

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