Entenda por que o Canadá atrai brasileiros e por que os mais qualificados são desejados pelo país


Número anual de novos residentes brasileiros no país mais do que dobrou em 2021, chegando a 11,4 mil. Condições atrativas conquistam profissionais, enquanto canadenses buscam mão de obra qualificada. Veja processos mais comuns de migração

Por Nathalia Molina

Uma crise de burnout levou Franciane Guimarães Prandini a pedir demissão em março de 2021. Após oito anos trabalhando numa empresa no Rio de Janeiro, decidiu voltar para São Paulo, onde moram seus pais. Foi o início de uma nova vida. Aos 32 anos e formada em Administração, ela embarca no fim de março para fazer um curso de Communication and Service Essentials em Toronto.

Aos 32 anos, Franciane Guimarães Prandiniembarca para o Canadá no fim deste mês, onde fará um MBA em Business Process em Toronto Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

"É o primeiro intercâmbio longo que vou fazer. Desde os 18 anos, eu tinha um desejo de morar no exterior por um período. Decidi que o momento de ficar fora do mercado era agora. Não queria voltar para o ambiente de trabalho", conta Franciane, que já estudou inglês nos Estados Unidos e na Austrália.

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"Acabei optando pelo Canadá por uma série de fatores. O fuso horário é de menos duas horas. O país chama muito minha atenção pela cultura pró-imigrante e pela política para minorias e diversidade. Mas a gente só conhece um lugar morando nele. Tudo tem prós e contras."

Fazer um curso de ensino superior no Canadá é o caminho escolhido por muitos brasileiros que pensam em imigrar para o país. A formação numa instituição canadense conta pontos no Express Entry, sistema online do governo para a candidatura de profissionais que confere uma pontuação para cada característica de quem pretende imigrar (idade e família no Canadá, por exemplo).

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Por que o Canadá interessa a brasileiros? 

  • Cultura pró-imigrante e política de apoio a minorias e diversidade;
  • Melhores condições econômicas do país para desenvolvimento da carreira e qualidade de vida;
  • Oportunidades de estudo que podem contribuir no processo de emprego e residência permanente; 

Por que os brasileiros também interessam ao Canadá? 

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  • Mão de obra qualificada. O país fomenta a entrada de imigrantes para robustecer setores específicos da economia;
  • Características de flexibilidade e sociabilidade.

De acordo com dados do governo canadense, 11.420 brasileiros receberam a residência permanente no Canadá em 2021. Desse total, 43,5% imigraram para o país pela categoria Canadian Experience, um dos três programas do governo federal que fazem parte do Express Entry

Para se inscrever na categoria Canadian Experience, o candidato à imigração precisa comprovar experiência de trabalho no Canadá. Uma das maneiras de fazer isso é cumprindo a experiência após um período de estudo em determinados programas.

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Na comparação de 2021 com 2019, o crescimento no número de brasileiros admitidos no Canadá (11.420) como residentes permanentes é de 115,9%, ante os 5.290 do último ano anterior à pandemia. Quando as fronteiras mundiais ainda estavam abertas, o número de imigrantes do Brasil no Canadá já crescia mais de 30% ao ano. 

Tenho uma carreira no Brasil, com condições de viver bem. No Canadá, começo do zero

Franciane Guimarães Prandini, brasileira de 32 anos, formada em Administração, de mudança para o Canadá

Em 2020, apesar da queda registrada no primeiro ano da pandemia, o Brasil apareceu pela primeira vez entre os dez países com mais residentes permanentes admitidos no Canadá (um total de 3.695), considerando os números oficiais desde 2011. 

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De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, os residentes no Canadá representavam a nona maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 121 mil pessoas em 2020. A residência mais frequente de brasileiros lá fora está nos Estados Unidos, que abriga 1,77 milhão de forma permanente. 

O curso de Franciane tem duração de 15 meses, sendo metade do período atuando no mercado. Mas, como o MBA é num college privado em Toronto, o trabalho no Canadá não contará pontos se ela decidir imigrar para o país no futuro. "Fechei uma promoção. Estava de CAD$ 12 mil por CAD$ 7 mil, e os colleges públicos que vi eram em torno de CAD$ 20 mil e CAD$ 30 mil. É um investimento muito alto, sem ter certeza se vou querer ficar. O ideal é fazer dinheiro na mesma moeda e decidir depois", afirma. "Tenho uma carreira no Brasil, com condições de viver bem. No Canadá, começo do zero. E, tudo bem, é normal, se eu decidir que esse é o caminho."

O país tem mais de 60 programas de imigração, explica Jan Wrede, diretor da CI Canadá. A empresa abriu essa divisão em 2017 no país, especificamente para assessorar brasileiros interessados em fazer cursos de ensino superior. "Tem federal, local, regional, rural, enfim, uma série de programas", afirma.

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Franciane engrossa a lista de cerca de 2,6 mil estudantes que a CI já mandou para fazer ensino superior no Canadá desde 2017, quando a alta na demanda por esse tipo de curso passou a crescer ano a ano, até a interrupção em 2020 por causa da covid. Mas, durante a pandemia, apesar da incerteza mundial, a busca por ensino superior no Canadá continuou, afirmam todos os especialistas em intercâmbio ouvidos pelo Estadão.

'O país chama muito minha atenção pela cultura pró-imigrante e pela política para minorias e diversidade', conta Franciane Guimarães Prandini sobre os motivos que a fizeram escolher o Canadá Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

"O Canadá começou a ver os brasileiros porque os brasileiros começaram a vir para cá num volume enorme, porque o país tem uma série de benefícios e é super seguro", afirma Wrede. Pelo lado canadense, o interesse vem da demanda por mão de obra qualificada aliada ao perfil do profissional do Brasil. "O brasileiro tem características interessantes. O grau de iniciativa é alto, e nossa flexibilidade e sociabilidade são muito grandes. As escolas adoram os brasileiros. No homestay, acomodação em casa de família, é uma das poucas nacionalidades que ninguém renega."

Os números da Associação Brasileira Especializada em Educação Internacional (Belta), que responde por cerca de 75% desse setor no Brasil, apontam que 11.132 brasileiros foram cursar programas em colleges ou universidades no Canadá em 2017 e 14.873 no ano seguinte. Em 2019, quando a desvalorização do real em relação ao dólar se acentuou, o total ficou em 9.357.

Já são mais de 15 anos em que o Canadá é o destino preferido dos brasileiros para cursos de intercâmbio, especialmente para o estudo de inglês, em Toronto ou Vancouver. Isso se reflete nos números da Languages Canada, instituição que reúne escolas de idiomas, colleges e universidades e recebe cerca de 150 mil estudantes por ano. O Brasil ocupa o primeiro ou segundo lugar entre as nacionalidades que buscam os 200 associados da organização para aprender inglês ou francês, de acordo com os dados desde 2016.

Entenda os atrativos do Canadá

  • Melhore seu inglês

A opção mais popular entre os brasileiros é cumprir o Pathway Program, para estudantes que ainda não têm nível de inglês para um curso em college ou universidade no Canadá. "Com esse caminho, o estudante tem uma estimativa de quanto tempo vai levar para chegar ao nível necessário. O aluno não precisa fazer as caras provas do Ielts ou Toefl, por exemplo, e correr o risco de não atingir o score e ter de repetir o processo", explica Wrede, da CI. O programa pode ser feito no Canadá ou online do Brasil.

  • Permissão de trabalho é atrativo

Segundo Fernando Todesco, gerente de produtos da Experimento, o Post-Graduate Work Permit (PGWP) é um dos atrativos do país. "Fatores como a possibilidade de trabalho para o estudante e o cônjuge, escola gratuita para os filhos, trabalho após a conclusão do programa e a possibilidade de imigração, reforçam a posição do Canadá como um dos destinos mais vantajosos quando se trata de um intercâmbio de ensino superior, seja numa graduação ou pós."

  • Bolsas de estudo são oferecidas

Instituições de ensino superior do Canadá têm concedido descontos para estudantes brasileiros nos últimos anos. Atualmente, por exemplo, a Canadá Sem Fronteiras divulga no Brasil uma bolsa de estudos num MBA na University Canada West (UCW), em Vancouver, com redução que pode passar de 40%.

'Quem faz programa de longa duração vai ser inserido no mercado'

Para Maura Leão, CEO da Yázigi Travel, que vende cursos no Canadá desde 2003, o sucesso do intercâmbio no país está na atualização constante das instituições. "Elas estão sempre muito abertas a olhar quais são as demandas. Oferecem cursos apropriados para a força de trabalho de cada região. O que significa que quem faz um programa de longa duração vai ser inserido no mercado de trabalho, então a empregabilidade para quem está fazendo investimento no Canadá é muito alta."

Ricardo Barros, executivo de desenvolvimento de negócios da West 1, ressalta que a ideia de intercâmbio mudou muito nas últimas décadas. "Há 20 anos, era estudar fora, aprender uma língua e voltar para o Brasil. Hoje as pessoas veem a possibilidade de mudança de vida, de morar fora do País", explica. "Isso sem contar também como anda a economia do Brasil. O futuro, as eleições, o desemprego, tudo isso acelera e faz com que o brasileiro queira buscar uma imigração. E o Canadá tem um processo imigratório aberto, por meio da educação." Agência australiana, a West 1 passou a vender em 2018 no Brasil programas de instituições canadenses.

De acordo com Tati Pinheiro, consultora em educação na Canadá Sem Fronteiras, os alunos da empresa levam de três a cinco anos para imigrar. Fundado em 2010, o negócio já foi criado com a intenção de auxiliar brasileiros no processo de imigração combinado com o estudo. "Costumo dizer que esse é o caminho rápido e certeiro que você tem para entrar no Canadá com uma data marcada, para o início das aulas, e depois construir uma história rumo a uma vida bem-sucedida no país."

As escolas adoram os brasileiros. No homestay, acomodação em casa de família, é uma das poucas nacionalidades que ninguém renega

Jan Wrede, diretor da CI Canadá

Na pandemia, no entanto, enquanto caiu a procura por aprender línguas, os programas em colleges e universidades continuaram em alta. Foi justamente nesse período que o casal Bárbara e Lucas Guilherme Silva teve tempo para mudar seu negócio, a Lions Intercâmbio, já que a demanda por curso superior no Canadá vinha crescendo na empresa, fundada em 2017. "Quando começou a pandemia, a gente foi para casa, reestruturou toda a empresa e a nossa comunicação. Virou monotemático, passou a falar só de ensino superior no Canadá, especificamente em Québec. Aí a coisa começou a andar", conta ele.

Focada em atendimento online, a Lions tem em torno de 70% de seu público fora de São Paulo. "Atendi uma cliente do Recife, formada em biomedicina e com mestrado, que quer mudar totalmente e ir para marketing digital. Ela tem marido e três filhos", conta Bárbara. "A maioria das pessoas troca de carreira tranquilamente. Não que elas queiram, até gostariam de permanecer na mesma profissão. Mas muitas são regulamentadas, levam alguns passos (como a equivalência de diploma)."

Com formação em engenharia mecânica e gestão financeira, Thiago de Lima Silva pretende mudar de carreira. "Estou buscando me aprofundar numa área em que desejo atuar. Vou poder trabalhar em comércio exterior, um segmento sempre em alta, tanto no Brasil quanto no mundo", conta ele, que se prepara para ir pela Lions para Toronto em janeiro de 2023, para fazer um curso de International Business Management. Um dos motivos que o levou a escolher o Canadá foi a falta de mão de obra qualificada.

País demanda imigrantes para setores da economia

Em 14 de fevereiro de 2022, o ministro de Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá, Sean Fraser, apresentou o plano de imigração do país para os próximos dois anos. Até 2030, 5 milhões de canadenses irão se aposentar. Com isso, para cada trabalhador fora do mercado, o país terá três pessoas economicamente ativas. Metade dos imigrantes esperados deve vir de programas para a necessidade de profissionais em setores da economia de cada região.

Embora esteja estudando os cenários futuros, Silva diz que a viagem não tem como objetivo final ficar no Canadá. "É uma possibilidade real, que eu gostaria muito que acontecesse porque acredito que o mercado canadense é mais estável e oferece melhores oportunidades, mas não é algo em que eu estou 100% focado no momento."

Programas em college são a preferência dos brasileiros para o intercâmbio de educação superior no Canadá. "Os valores de anuidade são mais acessíveis do que os das universidades. Além disso, os requerimentos de entrada são mais facilitados, com uma menor exigência do nível de inglês, por exemplo", explica Diogo Rodrigues, CEO da YES Intercâmbio. A empresa atua em parceria com escolas de ensino médio no Brasil prestando consultoria sobre graduação no exterior; atualmente, trabalha com cerca de 40 colégios.

Mas nem toda instituição dá direito ao Post-Graduate Work Permit (PGWP), a permissão de trabalho desejada por muita gente que quer permanecer no país para trabalhar. As públicas oferecem a possibilidade da solicitação do PGWP, exceto em Québec. Com vários cursos em inglês, a província francesa vem despontando na preferência do brasileiro justamente porque concede a permissão de trabalho também em college privado.

A alta demanda por programas de longa duração e o número crescente de residentes do Brasil levaram a Air Canada a lançar em dezembro de 2021 um voo direto entre São Paulo e Montréal, a maior cidade do lado francês. Os dois setores (educação e imigração) são importantes para a empresa também no voo para Toronto. Isso ficou bem evidente na pandemia, afirma Giancarlo Takegawa, diretor-geral da Air Canada no Brasil.

"O Canadá estava com as fronteiras fechadas e mesmo assim operamos nossos voos em alguns meses. Nas festas de fim de ano, a ocupação ultrapassou os 90%. Estudantes e imigrantes viajam, mas também levam parentes e amigos, que vão visitá-los", diz Takegawa. "Em plena pandemia, aumentamos a oferta de assentos em 65% em 2022, na comparação com 2019, isso já de olho nesses estudantes de ensino superior, que podem iniciar seus cursos nos períodos regulares nas universidades e em qualquer mês nos colleges."

O crescente interesse dos brasileiros por cursos de educação superior no país já lotava a feira de intercâmbio Edu Canadá, ainda antes da pandemia. Em palestras sobre visto de estudante, exigido apenas para quem se matricula em programas com mais de seis meses de duração, as salas chegavam a ficar com público em pé por falta de lugar para sentar.

"De 2017 a 2021, mais de 1,1 mil brasileiros fizeram intercâmbio de ensino superior no Canadá pela Experimento. Quando comparamos 2019 com 2017, nos anos pré-pandemia, houve um crescimento de quase 20% no número de alunos", conta Fernando Todesco, gerente de produtos para esse segmento na empresa.

A variedade de cursos, a oportunidade posterior de trabalho e a clareza sobre os pré-requisitos para a entrada nos programas de educação superior foram aspectos que contaram para Guilherme Serigioli Martins se decidir pelo Canadá. "Sempre sonhei em morar fora. Fico encantado em ver as diferenças, novas culturas e pessoas", conta o profissional, que se prepara para deixar o trabalho na área de ensino superior na Experimento para fazer um curso profissionalizante em Vendas e Marketing num college em Vancouver. "Ajudei bastante gente a conseguir ir. Agora chegou a minha vez."

Uma crise de burnout levou Franciane Guimarães Prandini a pedir demissão em março de 2021. Após oito anos trabalhando numa empresa no Rio de Janeiro, decidiu voltar para São Paulo, onde moram seus pais. Foi o início de uma nova vida. Aos 32 anos e formada em Administração, ela embarca no fim de março para fazer um curso de Communication and Service Essentials em Toronto.

Aos 32 anos, Franciane Guimarães Prandiniembarca para o Canadá no fim deste mês, onde fará um MBA em Business Process em Toronto Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

"É o primeiro intercâmbio longo que vou fazer. Desde os 18 anos, eu tinha um desejo de morar no exterior por um período. Decidi que o momento de ficar fora do mercado era agora. Não queria voltar para o ambiente de trabalho", conta Franciane, que já estudou inglês nos Estados Unidos e na Austrália.

"Acabei optando pelo Canadá por uma série de fatores. O fuso horário é de menos duas horas. O país chama muito minha atenção pela cultura pró-imigrante e pela política para minorias e diversidade. Mas a gente só conhece um lugar morando nele. Tudo tem prós e contras."

Fazer um curso de ensino superior no Canadá é o caminho escolhido por muitos brasileiros que pensam em imigrar para o país. A formação numa instituição canadense conta pontos no Express Entry, sistema online do governo para a candidatura de profissionais que confere uma pontuação para cada característica de quem pretende imigrar (idade e família no Canadá, por exemplo).

Por que o Canadá interessa a brasileiros? 

  • Cultura pró-imigrante e política de apoio a minorias e diversidade;
  • Melhores condições econômicas do país para desenvolvimento da carreira e qualidade de vida;
  • Oportunidades de estudo que podem contribuir no processo de emprego e residência permanente; 

Por que os brasileiros também interessam ao Canadá? 

  • Mão de obra qualificada. O país fomenta a entrada de imigrantes para robustecer setores específicos da economia;
  • Características de flexibilidade e sociabilidade.

De acordo com dados do governo canadense, 11.420 brasileiros receberam a residência permanente no Canadá em 2021. Desse total, 43,5% imigraram para o país pela categoria Canadian Experience, um dos três programas do governo federal que fazem parte do Express Entry

Para se inscrever na categoria Canadian Experience, o candidato à imigração precisa comprovar experiência de trabalho no Canadá. Uma das maneiras de fazer isso é cumprindo a experiência após um período de estudo em determinados programas.

Na comparação de 2021 com 2019, o crescimento no número de brasileiros admitidos no Canadá (11.420) como residentes permanentes é de 115,9%, ante os 5.290 do último ano anterior à pandemia. Quando as fronteiras mundiais ainda estavam abertas, o número de imigrantes do Brasil no Canadá já crescia mais de 30% ao ano. 

Tenho uma carreira no Brasil, com condições de viver bem. No Canadá, começo do zero

Franciane Guimarães Prandini, brasileira de 32 anos, formada em Administração, de mudança para o Canadá

Em 2020, apesar da queda registrada no primeiro ano da pandemia, o Brasil apareceu pela primeira vez entre os dez países com mais residentes permanentes admitidos no Canadá (um total de 3.695), considerando os números oficiais desde 2011. 

De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, os residentes no Canadá representavam a nona maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 121 mil pessoas em 2020. A residência mais frequente de brasileiros lá fora está nos Estados Unidos, que abriga 1,77 milhão de forma permanente. 

O curso de Franciane tem duração de 15 meses, sendo metade do período atuando no mercado. Mas, como o MBA é num college privado em Toronto, o trabalho no Canadá não contará pontos se ela decidir imigrar para o país no futuro. "Fechei uma promoção. Estava de CAD$ 12 mil por CAD$ 7 mil, e os colleges públicos que vi eram em torno de CAD$ 20 mil e CAD$ 30 mil. É um investimento muito alto, sem ter certeza se vou querer ficar. O ideal é fazer dinheiro na mesma moeda e decidir depois", afirma. "Tenho uma carreira no Brasil, com condições de viver bem. No Canadá, começo do zero. E, tudo bem, é normal, se eu decidir que esse é o caminho."

O país tem mais de 60 programas de imigração, explica Jan Wrede, diretor da CI Canadá. A empresa abriu essa divisão em 2017 no país, especificamente para assessorar brasileiros interessados em fazer cursos de ensino superior. "Tem federal, local, regional, rural, enfim, uma série de programas", afirma.

Franciane engrossa a lista de cerca de 2,6 mil estudantes que a CI já mandou para fazer ensino superior no Canadá desde 2017, quando a alta na demanda por esse tipo de curso passou a crescer ano a ano, até a interrupção em 2020 por causa da covid. Mas, durante a pandemia, apesar da incerteza mundial, a busca por ensino superior no Canadá continuou, afirmam todos os especialistas em intercâmbio ouvidos pelo Estadão.

'O país chama muito minha atenção pela cultura pró-imigrante e pela política para minorias e diversidade', conta Franciane Guimarães Prandini sobre os motivos que a fizeram escolher o Canadá Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

"O Canadá começou a ver os brasileiros porque os brasileiros começaram a vir para cá num volume enorme, porque o país tem uma série de benefícios e é super seguro", afirma Wrede. Pelo lado canadense, o interesse vem da demanda por mão de obra qualificada aliada ao perfil do profissional do Brasil. "O brasileiro tem características interessantes. O grau de iniciativa é alto, e nossa flexibilidade e sociabilidade são muito grandes. As escolas adoram os brasileiros. No homestay, acomodação em casa de família, é uma das poucas nacionalidades que ninguém renega."

Os números da Associação Brasileira Especializada em Educação Internacional (Belta), que responde por cerca de 75% desse setor no Brasil, apontam que 11.132 brasileiros foram cursar programas em colleges ou universidades no Canadá em 2017 e 14.873 no ano seguinte. Em 2019, quando a desvalorização do real em relação ao dólar se acentuou, o total ficou em 9.357.

Já são mais de 15 anos em que o Canadá é o destino preferido dos brasileiros para cursos de intercâmbio, especialmente para o estudo de inglês, em Toronto ou Vancouver. Isso se reflete nos números da Languages Canada, instituição que reúne escolas de idiomas, colleges e universidades e recebe cerca de 150 mil estudantes por ano. O Brasil ocupa o primeiro ou segundo lugar entre as nacionalidades que buscam os 200 associados da organização para aprender inglês ou francês, de acordo com os dados desde 2016.

Entenda os atrativos do Canadá

  • Melhore seu inglês

A opção mais popular entre os brasileiros é cumprir o Pathway Program, para estudantes que ainda não têm nível de inglês para um curso em college ou universidade no Canadá. "Com esse caminho, o estudante tem uma estimativa de quanto tempo vai levar para chegar ao nível necessário. O aluno não precisa fazer as caras provas do Ielts ou Toefl, por exemplo, e correr o risco de não atingir o score e ter de repetir o processo", explica Wrede, da CI. O programa pode ser feito no Canadá ou online do Brasil.

  • Permissão de trabalho é atrativo

Segundo Fernando Todesco, gerente de produtos da Experimento, o Post-Graduate Work Permit (PGWP) é um dos atrativos do país. "Fatores como a possibilidade de trabalho para o estudante e o cônjuge, escola gratuita para os filhos, trabalho após a conclusão do programa e a possibilidade de imigração, reforçam a posição do Canadá como um dos destinos mais vantajosos quando se trata de um intercâmbio de ensino superior, seja numa graduação ou pós."

  • Bolsas de estudo são oferecidas

Instituições de ensino superior do Canadá têm concedido descontos para estudantes brasileiros nos últimos anos. Atualmente, por exemplo, a Canadá Sem Fronteiras divulga no Brasil uma bolsa de estudos num MBA na University Canada West (UCW), em Vancouver, com redução que pode passar de 40%.

'Quem faz programa de longa duração vai ser inserido no mercado'

Para Maura Leão, CEO da Yázigi Travel, que vende cursos no Canadá desde 2003, o sucesso do intercâmbio no país está na atualização constante das instituições. "Elas estão sempre muito abertas a olhar quais são as demandas. Oferecem cursos apropriados para a força de trabalho de cada região. O que significa que quem faz um programa de longa duração vai ser inserido no mercado de trabalho, então a empregabilidade para quem está fazendo investimento no Canadá é muito alta."

Ricardo Barros, executivo de desenvolvimento de negócios da West 1, ressalta que a ideia de intercâmbio mudou muito nas últimas décadas. "Há 20 anos, era estudar fora, aprender uma língua e voltar para o Brasil. Hoje as pessoas veem a possibilidade de mudança de vida, de morar fora do País", explica. "Isso sem contar também como anda a economia do Brasil. O futuro, as eleições, o desemprego, tudo isso acelera e faz com que o brasileiro queira buscar uma imigração. E o Canadá tem um processo imigratório aberto, por meio da educação." Agência australiana, a West 1 passou a vender em 2018 no Brasil programas de instituições canadenses.

De acordo com Tati Pinheiro, consultora em educação na Canadá Sem Fronteiras, os alunos da empresa levam de três a cinco anos para imigrar. Fundado em 2010, o negócio já foi criado com a intenção de auxiliar brasileiros no processo de imigração combinado com o estudo. "Costumo dizer que esse é o caminho rápido e certeiro que você tem para entrar no Canadá com uma data marcada, para o início das aulas, e depois construir uma história rumo a uma vida bem-sucedida no país."

As escolas adoram os brasileiros. No homestay, acomodação em casa de família, é uma das poucas nacionalidades que ninguém renega

Jan Wrede, diretor da CI Canadá

Na pandemia, no entanto, enquanto caiu a procura por aprender línguas, os programas em colleges e universidades continuaram em alta. Foi justamente nesse período que o casal Bárbara e Lucas Guilherme Silva teve tempo para mudar seu negócio, a Lions Intercâmbio, já que a demanda por curso superior no Canadá vinha crescendo na empresa, fundada em 2017. "Quando começou a pandemia, a gente foi para casa, reestruturou toda a empresa e a nossa comunicação. Virou monotemático, passou a falar só de ensino superior no Canadá, especificamente em Québec. Aí a coisa começou a andar", conta ele.

Focada em atendimento online, a Lions tem em torno de 70% de seu público fora de São Paulo. "Atendi uma cliente do Recife, formada em biomedicina e com mestrado, que quer mudar totalmente e ir para marketing digital. Ela tem marido e três filhos", conta Bárbara. "A maioria das pessoas troca de carreira tranquilamente. Não que elas queiram, até gostariam de permanecer na mesma profissão. Mas muitas são regulamentadas, levam alguns passos (como a equivalência de diploma)."

Com formação em engenharia mecânica e gestão financeira, Thiago de Lima Silva pretende mudar de carreira. "Estou buscando me aprofundar numa área em que desejo atuar. Vou poder trabalhar em comércio exterior, um segmento sempre em alta, tanto no Brasil quanto no mundo", conta ele, que se prepara para ir pela Lions para Toronto em janeiro de 2023, para fazer um curso de International Business Management. Um dos motivos que o levou a escolher o Canadá foi a falta de mão de obra qualificada.

País demanda imigrantes para setores da economia

Em 14 de fevereiro de 2022, o ministro de Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá, Sean Fraser, apresentou o plano de imigração do país para os próximos dois anos. Até 2030, 5 milhões de canadenses irão se aposentar. Com isso, para cada trabalhador fora do mercado, o país terá três pessoas economicamente ativas. Metade dos imigrantes esperados deve vir de programas para a necessidade de profissionais em setores da economia de cada região.

Embora esteja estudando os cenários futuros, Silva diz que a viagem não tem como objetivo final ficar no Canadá. "É uma possibilidade real, que eu gostaria muito que acontecesse porque acredito que o mercado canadense é mais estável e oferece melhores oportunidades, mas não é algo em que eu estou 100% focado no momento."

Programas em college são a preferência dos brasileiros para o intercâmbio de educação superior no Canadá. "Os valores de anuidade são mais acessíveis do que os das universidades. Além disso, os requerimentos de entrada são mais facilitados, com uma menor exigência do nível de inglês, por exemplo", explica Diogo Rodrigues, CEO da YES Intercâmbio. A empresa atua em parceria com escolas de ensino médio no Brasil prestando consultoria sobre graduação no exterior; atualmente, trabalha com cerca de 40 colégios.

Mas nem toda instituição dá direito ao Post-Graduate Work Permit (PGWP), a permissão de trabalho desejada por muita gente que quer permanecer no país para trabalhar. As públicas oferecem a possibilidade da solicitação do PGWP, exceto em Québec. Com vários cursos em inglês, a província francesa vem despontando na preferência do brasileiro justamente porque concede a permissão de trabalho também em college privado.

A alta demanda por programas de longa duração e o número crescente de residentes do Brasil levaram a Air Canada a lançar em dezembro de 2021 um voo direto entre São Paulo e Montréal, a maior cidade do lado francês. Os dois setores (educação e imigração) são importantes para a empresa também no voo para Toronto. Isso ficou bem evidente na pandemia, afirma Giancarlo Takegawa, diretor-geral da Air Canada no Brasil.

"O Canadá estava com as fronteiras fechadas e mesmo assim operamos nossos voos em alguns meses. Nas festas de fim de ano, a ocupação ultrapassou os 90%. Estudantes e imigrantes viajam, mas também levam parentes e amigos, que vão visitá-los", diz Takegawa. "Em plena pandemia, aumentamos a oferta de assentos em 65% em 2022, na comparação com 2019, isso já de olho nesses estudantes de ensino superior, que podem iniciar seus cursos nos períodos regulares nas universidades e em qualquer mês nos colleges."

O crescente interesse dos brasileiros por cursos de educação superior no país já lotava a feira de intercâmbio Edu Canadá, ainda antes da pandemia. Em palestras sobre visto de estudante, exigido apenas para quem se matricula em programas com mais de seis meses de duração, as salas chegavam a ficar com público em pé por falta de lugar para sentar.

"De 2017 a 2021, mais de 1,1 mil brasileiros fizeram intercâmbio de ensino superior no Canadá pela Experimento. Quando comparamos 2019 com 2017, nos anos pré-pandemia, houve um crescimento de quase 20% no número de alunos", conta Fernando Todesco, gerente de produtos para esse segmento na empresa.

A variedade de cursos, a oportunidade posterior de trabalho e a clareza sobre os pré-requisitos para a entrada nos programas de educação superior foram aspectos que contaram para Guilherme Serigioli Martins se decidir pelo Canadá. "Sempre sonhei em morar fora. Fico encantado em ver as diferenças, novas culturas e pessoas", conta o profissional, que se prepara para deixar o trabalho na área de ensino superior na Experimento para fazer um curso profissionalizante em Vendas e Marketing num college em Vancouver. "Ajudei bastante gente a conseguir ir. Agora chegou a minha vez."

Uma crise de burnout levou Franciane Guimarães Prandini a pedir demissão em março de 2021. Após oito anos trabalhando numa empresa no Rio de Janeiro, decidiu voltar para São Paulo, onde moram seus pais. Foi o início de uma nova vida. Aos 32 anos e formada em Administração, ela embarca no fim de março para fazer um curso de Communication and Service Essentials em Toronto.

Aos 32 anos, Franciane Guimarães Prandiniembarca para o Canadá no fim deste mês, onde fará um MBA em Business Process em Toronto Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

"É o primeiro intercâmbio longo que vou fazer. Desde os 18 anos, eu tinha um desejo de morar no exterior por um período. Decidi que o momento de ficar fora do mercado era agora. Não queria voltar para o ambiente de trabalho", conta Franciane, que já estudou inglês nos Estados Unidos e na Austrália.

"Acabei optando pelo Canadá por uma série de fatores. O fuso horário é de menos duas horas. O país chama muito minha atenção pela cultura pró-imigrante e pela política para minorias e diversidade. Mas a gente só conhece um lugar morando nele. Tudo tem prós e contras."

Fazer um curso de ensino superior no Canadá é o caminho escolhido por muitos brasileiros que pensam em imigrar para o país. A formação numa instituição canadense conta pontos no Express Entry, sistema online do governo para a candidatura de profissionais que confere uma pontuação para cada característica de quem pretende imigrar (idade e família no Canadá, por exemplo).

Por que o Canadá interessa a brasileiros? 

  • Cultura pró-imigrante e política de apoio a minorias e diversidade;
  • Melhores condições econômicas do país para desenvolvimento da carreira e qualidade de vida;
  • Oportunidades de estudo que podem contribuir no processo de emprego e residência permanente; 

Por que os brasileiros também interessam ao Canadá? 

  • Mão de obra qualificada. O país fomenta a entrada de imigrantes para robustecer setores específicos da economia;
  • Características de flexibilidade e sociabilidade.

De acordo com dados do governo canadense, 11.420 brasileiros receberam a residência permanente no Canadá em 2021. Desse total, 43,5% imigraram para o país pela categoria Canadian Experience, um dos três programas do governo federal que fazem parte do Express Entry

Para se inscrever na categoria Canadian Experience, o candidato à imigração precisa comprovar experiência de trabalho no Canadá. Uma das maneiras de fazer isso é cumprindo a experiência após um período de estudo em determinados programas.

Na comparação de 2021 com 2019, o crescimento no número de brasileiros admitidos no Canadá (11.420) como residentes permanentes é de 115,9%, ante os 5.290 do último ano anterior à pandemia. Quando as fronteiras mundiais ainda estavam abertas, o número de imigrantes do Brasil no Canadá já crescia mais de 30% ao ano. 

Tenho uma carreira no Brasil, com condições de viver bem. No Canadá, começo do zero

Franciane Guimarães Prandini, brasileira de 32 anos, formada em Administração, de mudança para o Canadá

Em 2020, apesar da queda registrada no primeiro ano da pandemia, o Brasil apareceu pela primeira vez entre os dez países com mais residentes permanentes admitidos no Canadá (um total de 3.695), considerando os números oficiais desde 2011. 

De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, os residentes no Canadá representavam a nona maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 121 mil pessoas em 2020. A residência mais frequente de brasileiros lá fora está nos Estados Unidos, que abriga 1,77 milhão de forma permanente. 

O curso de Franciane tem duração de 15 meses, sendo metade do período atuando no mercado. Mas, como o MBA é num college privado em Toronto, o trabalho no Canadá não contará pontos se ela decidir imigrar para o país no futuro. "Fechei uma promoção. Estava de CAD$ 12 mil por CAD$ 7 mil, e os colleges públicos que vi eram em torno de CAD$ 20 mil e CAD$ 30 mil. É um investimento muito alto, sem ter certeza se vou querer ficar. O ideal é fazer dinheiro na mesma moeda e decidir depois", afirma. "Tenho uma carreira no Brasil, com condições de viver bem. No Canadá, começo do zero. E, tudo bem, é normal, se eu decidir que esse é o caminho."

O país tem mais de 60 programas de imigração, explica Jan Wrede, diretor da CI Canadá. A empresa abriu essa divisão em 2017 no país, especificamente para assessorar brasileiros interessados em fazer cursos de ensino superior. "Tem federal, local, regional, rural, enfim, uma série de programas", afirma.

Franciane engrossa a lista de cerca de 2,6 mil estudantes que a CI já mandou para fazer ensino superior no Canadá desde 2017, quando a alta na demanda por esse tipo de curso passou a crescer ano a ano, até a interrupção em 2020 por causa da covid. Mas, durante a pandemia, apesar da incerteza mundial, a busca por ensino superior no Canadá continuou, afirmam todos os especialistas em intercâmbio ouvidos pelo Estadão.

'O país chama muito minha atenção pela cultura pró-imigrante e pela política para minorias e diversidade', conta Franciane Guimarães Prandini sobre os motivos que a fizeram escolher o Canadá Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

"O Canadá começou a ver os brasileiros porque os brasileiros começaram a vir para cá num volume enorme, porque o país tem uma série de benefícios e é super seguro", afirma Wrede. Pelo lado canadense, o interesse vem da demanda por mão de obra qualificada aliada ao perfil do profissional do Brasil. "O brasileiro tem características interessantes. O grau de iniciativa é alto, e nossa flexibilidade e sociabilidade são muito grandes. As escolas adoram os brasileiros. No homestay, acomodação em casa de família, é uma das poucas nacionalidades que ninguém renega."

Os números da Associação Brasileira Especializada em Educação Internacional (Belta), que responde por cerca de 75% desse setor no Brasil, apontam que 11.132 brasileiros foram cursar programas em colleges ou universidades no Canadá em 2017 e 14.873 no ano seguinte. Em 2019, quando a desvalorização do real em relação ao dólar se acentuou, o total ficou em 9.357.

Já são mais de 15 anos em que o Canadá é o destino preferido dos brasileiros para cursos de intercâmbio, especialmente para o estudo de inglês, em Toronto ou Vancouver. Isso se reflete nos números da Languages Canada, instituição que reúne escolas de idiomas, colleges e universidades e recebe cerca de 150 mil estudantes por ano. O Brasil ocupa o primeiro ou segundo lugar entre as nacionalidades que buscam os 200 associados da organização para aprender inglês ou francês, de acordo com os dados desde 2016.

Entenda os atrativos do Canadá

  • Melhore seu inglês

A opção mais popular entre os brasileiros é cumprir o Pathway Program, para estudantes que ainda não têm nível de inglês para um curso em college ou universidade no Canadá. "Com esse caminho, o estudante tem uma estimativa de quanto tempo vai levar para chegar ao nível necessário. O aluno não precisa fazer as caras provas do Ielts ou Toefl, por exemplo, e correr o risco de não atingir o score e ter de repetir o processo", explica Wrede, da CI. O programa pode ser feito no Canadá ou online do Brasil.

  • Permissão de trabalho é atrativo

Segundo Fernando Todesco, gerente de produtos da Experimento, o Post-Graduate Work Permit (PGWP) é um dos atrativos do país. "Fatores como a possibilidade de trabalho para o estudante e o cônjuge, escola gratuita para os filhos, trabalho após a conclusão do programa e a possibilidade de imigração, reforçam a posição do Canadá como um dos destinos mais vantajosos quando se trata de um intercâmbio de ensino superior, seja numa graduação ou pós."

  • Bolsas de estudo são oferecidas

Instituições de ensino superior do Canadá têm concedido descontos para estudantes brasileiros nos últimos anos. Atualmente, por exemplo, a Canadá Sem Fronteiras divulga no Brasil uma bolsa de estudos num MBA na University Canada West (UCW), em Vancouver, com redução que pode passar de 40%.

'Quem faz programa de longa duração vai ser inserido no mercado'

Para Maura Leão, CEO da Yázigi Travel, que vende cursos no Canadá desde 2003, o sucesso do intercâmbio no país está na atualização constante das instituições. "Elas estão sempre muito abertas a olhar quais são as demandas. Oferecem cursos apropriados para a força de trabalho de cada região. O que significa que quem faz um programa de longa duração vai ser inserido no mercado de trabalho, então a empregabilidade para quem está fazendo investimento no Canadá é muito alta."

Ricardo Barros, executivo de desenvolvimento de negócios da West 1, ressalta que a ideia de intercâmbio mudou muito nas últimas décadas. "Há 20 anos, era estudar fora, aprender uma língua e voltar para o Brasil. Hoje as pessoas veem a possibilidade de mudança de vida, de morar fora do País", explica. "Isso sem contar também como anda a economia do Brasil. O futuro, as eleições, o desemprego, tudo isso acelera e faz com que o brasileiro queira buscar uma imigração. E o Canadá tem um processo imigratório aberto, por meio da educação." Agência australiana, a West 1 passou a vender em 2018 no Brasil programas de instituições canadenses.

De acordo com Tati Pinheiro, consultora em educação na Canadá Sem Fronteiras, os alunos da empresa levam de três a cinco anos para imigrar. Fundado em 2010, o negócio já foi criado com a intenção de auxiliar brasileiros no processo de imigração combinado com o estudo. "Costumo dizer que esse é o caminho rápido e certeiro que você tem para entrar no Canadá com uma data marcada, para o início das aulas, e depois construir uma história rumo a uma vida bem-sucedida no país."

As escolas adoram os brasileiros. No homestay, acomodação em casa de família, é uma das poucas nacionalidades que ninguém renega

Jan Wrede, diretor da CI Canadá

Na pandemia, no entanto, enquanto caiu a procura por aprender línguas, os programas em colleges e universidades continuaram em alta. Foi justamente nesse período que o casal Bárbara e Lucas Guilherme Silva teve tempo para mudar seu negócio, a Lions Intercâmbio, já que a demanda por curso superior no Canadá vinha crescendo na empresa, fundada em 2017. "Quando começou a pandemia, a gente foi para casa, reestruturou toda a empresa e a nossa comunicação. Virou monotemático, passou a falar só de ensino superior no Canadá, especificamente em Québec. Aí a coisa começou a andar", conta ele.

Focada em atendimento online, a Lions tem em torno de 70% de seu público fora de São Paulo. "Atendi uma cliente do Recife, formada em biomedicina e com mestrado, que quer mudar totalmente e ir para marketing digital. Ela tem marido e três filhos", conta Bárbara. "A maioria das pessoas troca de carreira tranquilamente. Não que elas queiram, até gostariam de permanecer na mesma profissão. Mas muitas são regulamentadas, levam alguns passos (como a equivalência de diploma)."

Com formação em engenharia mecânica e gestão financeira, Thiago de Lima Silva pretende mudar de carreira. "Estou buscando me aprofundar numa área em que desejo atuar. Vou poder trabalhar em comércio exterior, um segmento sempre em alta, tanto no Brasil quanto no mundo", conta ele, que se prepara para ir pela Lions para Toronto em janeiro de 2023, para fazer um curso de International Business Management. Um dos motivos que o levou a escolher o Canadá foi a falta de mão de obra qualificada.

País demanda imigrantes para setores da economia

Em 14 de fevereiro de 2022, o ministro de Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá, Sean Fraser, apresentou o plano de imigração do país para os próximos dois anos. Até 2030, 5 milhões de canadenses irão se aposentar. Com isso, para cada trabalhador fora do mercado, o país terá três pessoas economicamente ativas. Metade dos imigrantes esperados deve vir de programas para a necessidade de profissionais em setores da economia de cada região.

Embora esteja estudando os cenários futuros, Silva diz que a viagem não tem como objetivo final ficar no Canadá. "É uma possibilidade real, que eu gostaria muito que acontecesse porque acredito que o mercado canadense é mais estável e oferece melhores oportunidades, mas não é algo em que eu estou 100% focado no momento."

Programas em college são a preferência dos brasileiros para o intercâmbio de educação superior no Canadá. "Os valores de anuidade são mais acessíveis do que os das universidades. Além disso, os requerimentos de entrada são mais facilitados, com uma menor exigência do nível de inglês, por exemplo", explica Diogo Rodrigues, CEO da YES Intercâmbio. A empresa atua em parceria com escolas de ensino médio no Brasil prestando consultoria sobre graduação no exterior; atualmente, trabalha com cerca de 40 colégios.

Mas nem toda instituição dá direito ao Post-Graduate Work Permit (PGWP), a permissão de trabalho desejada por muita gente que quer permanecer no país para trabalhar. As públicas oferecem a possibilidade da solicitação do PGWP, exceto em Québec. Com vários cursos em inglês, a província francesa vem despontando na preferência do brasileiro justamente porque concede a permissão de trabalho também em college privado.

A alta demanda por programas de longa duração e o número crescente de residentes do Brasil levaram a Air Canada a lançar em dezembro de 2021 um voo direto entre São Paulo e Montréal, a maior cidade do lado francês. Os dois setores (educação e imigração) são importantes para a empresa também no voo para Toronto. Isso ficou bem evidente na pandemia, afirma Giancarlo Takegawa, diretor-geral da Air Canada no Brasil.

"O Canadá estava com as fronteiras fechadas e mesmo assim operamos nossos voos em alguns meses. Nas festas de fim de ano, a ocupação ultrapassou os 90%. Estudantes e imigrantes viajam, mas também levam parentes e amigos, que vão visitá-los", diz Takegawa. "Em plena pandemia, aumentamos a oferta de assentos em 65% em 2022, na comparação com 2019, isso já de olho nesses estudantes de ensino superior, que podem iniciar seus cursos nos períodos regulares nas universidades e em qualquer mês nos colleges."

O crescente interesse dos brasileiros por cursos de educação superior no país já lotava a feira de intercâmbio Edu Canadá, ainda antes da pandemia. Em palestras sobre visto de estudante, exigido apenas para quem se matricula em programas com mais de seis meses de duração, as salas chegavam a ficar com público em pé por falta de lugar para sentar.

"De 2017 a 2021, mais de 1,1 mil brasileiros fizeram intercâmbio de ensino superior no Canadá pela Experimento. Quando comparamos 2019 com 2017, nos anos pré-pandemia, houve um crescimento de quase 20% no número de alunos", conta Fernando Todesco, gerente de produtos para esse segmento na empresa.

A variedade de cursos, a oportunidade posterior de trabalho e a clareza sobre os pré-requisitos para a entrada nos programas de educação superior foram aspectos que contaram para Guilherme Serigioli Martins se decidir pelo Canadá. "Sempre sonhei em morar fora. Fico encantado em ver as diferenças, novas culturas e pessoas", conta o profissional, que se prepara para deixar o trabalho na área de ensino superior na Experimento para fazer um curso profissionalizante em Vendas e Marketing num college em Vancouver. "Ajudei bastante gente a conseguir ir. Agora chegou a minha vez."

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