O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou na semana passada o diretor de teatro Adriano Jayme Guimarães a devolver R$ 301.468,77 aos cofres do Fundo Nacional de Cultura. O TCU questionou a prestação de contas de Guimarães acerca de recurso público federal captado na forma de patrocínio pela Lei Rouanet. O dinheiro foi usado no projeto cênico Felizes para Sempre.Guimarães ainda terá de pagar multa de R$ 20 mil ao Tesouro Nacional. A cobrança judicial já foi autorizada.Adriano e o irmão, Fernando Guimarães, são dois dos mais festejados adaptadores da obra do irlandês Samuel Beckett, ícone do Teatro do Absurdo, no Brasil. A montagem e a apresentação de Felizes para Sempre tinha como base os textos Dias Felizes e Jogo de Ir e Vir. Misto de teatro, além de palestras, performances e instalações, integrando linguagens cênicas e plásticas, teve temporadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Palmas.A situação dos irmãos Guimarães é bastante diferente de casos exemplares de malversação de dinheiro da Lei Rouanet (como o projeto Chatô, de Guilherme Fontes). Eles não só entregaram o produto para o qual foram financiados como tiveram ampla repercussão crítica positiva. "Não entendo essa situação. Se foi executado, tem de ser aceito. Mas passei para o meu advogado para ver o que a gente pode fazer", disse Fernando Guimarães. O TCU considera que Adriano Guimarães (responsável legal pelo projeto) fez uma prestação de contas digna do Absurdo: "Não comprovou aplicação dos recursos mesmo após solicitar e obter prorrogação de prazo por 4 vezes." Ao ser citado pelo TCU, ele apresentou a prestação de contas, encaminhada para o Ministério da Cultura, que emitiu ressalvas. Guimarães novamente não se manifestou a respeito. A seguir, o produtor solicitou novo prazo para encaminhamento das respostas ao TCU, alegando estar fora do País, o que, segundo a fiscalização, não foi comprovado. "Tal comportamento denota descaso com a administração pública", observou o ministro André Luís de Carvalho, relator do processo. Entre as irregularidades apontadas pelo tribunal, estão "pagamento de serviços prestados superior ao previsto em orçamento, aquisição de bens de capital não autorizados pelo MinC, despesas com bebidas alcoólicas e a não devolução do saldo credor existente na conta corrente ao final do projeto".Felizes para Sempre começou a ser desenvolvido em 2001, com apresentações no CCBB, em São Paulo. A atriz Nathalia Timberg participou do monólogo Balanço, que tinha trilha de José Miguel Wisnik. Eram três instalações, três peças de Beckett (uma delas com a atriz Vera Holtz), performances e quatro palestras.