Se antes axé, marchinhas e pagode eram os ritmos mais escutados nos blocos de carnaval de São Paulo, hoje existem desfiles para todos os gostos: piseiro, músicas francesas e até punk.
Para um carnavalesco nato como o diretor musical Wilson Simoninha, que é puxador oficial do Acadêmicos do Baixo Augusta, é essa democracia que representa o carnaval. “É como eu digo: carnaval é uma manifestação pra gente se divertir. Então vale a pena”, conta ele em entrevista ao Estadão.
Para este ano, a expectativa da festa é alta e, pensando nisso, o bloco, que faz ensaios abertos desde janeiro deste ano, convidou o grupo Olodum para tocar junto com a banda, além das participações especiais das cantoras Marina Sena e Céu, da atriz Sophie Charlotte e da corte Tulipa Ruiz (madrinha) e Alessandra Negrini (rainha).
O desfile oficial acontece neste domingo, dia 12, seguindo seu já tradicional trajeto a partir da concentração às 14h, na Rua da Consolação. Gal Costa, morta em novembro de 2022, ganhará diversas homenagens ao longo do desfile. “Esse ano, nosso tema é ‘Atentos e Fortes’, pois estamos na luta a favor da ocupação das ruas, da democracia e da diversidade”, diz ele, que revela estar ansioso por voltar para o trio.
O que é a música para o carnaval?
É impossível existir carnaval sem música. Ela é o motor, a combustão, a energia que gera toda a eletricidade do carnaval. A música realmente leva as pessoas ao estado de muita alegria e felicidade. E é algo impressionante, né? Eu fico muito emocionado, sempre, com a força que tem. Você começa a cantar e tocar e você vê as pessoas se transformando, vê aquela alegria invadindo completamente o ambiente, é uma coisa muito poderosa.
Hoje em dia são diversos bloquinhos com ritmos específicos. Qual sua opinião sobre isso?
O carnaval é um negócio democrático. Ele abraça tudo que está acontecendo há um bom tempo. Historicamente o Brasil tinha aquela coisa de música tradicional de carnaval, depois as escolas de samba foram sendo incorporadas, depois veio o axé com toda a força e então fomos passando por várias transformações até chegar ao momento que eu acho que todas as músicas podem participar da festa.
Hoje você tem o piseiro que é muito forte, você tem essa música pop com Ludmilla e Anitta, Gloria Groove, enfim, que tem muito sucesso radiofônicos. Então acho que o carnaval, pelo menos o nosso carnaval, a gente tem essa coisa de trazer um pouco de tudo. Tem samba, tem pagode, tem rock e ter essa diversidade de repertório é muito legal. Mas acho que cada bloco tem a sua característica, seu DNA. Pode ter um bloco só de músicas baianas, outro só de música dos Beatles. Geralmente são grupos menores, mas é legal porque você junta pessoas com o mesmo som, da mesma tribo. É como eu digo: carnaval é uma manifestação pra gente se divertir. Então vale a pena.
O Acadêmico do Baixa Augusta, por outro lado, é um que toca um pouco de tudo, né?
Somos o bloco da diversidade. Já fala o hino “O Baixo é a terra da mistura”; e lá gente toca de tudo. Acho que é aí que está a nossa força. Acho que a gente tem uma identidade sonora, musical muito forte, muito nítida e muito única.
Como vai ser o desfile esse ano?
A gente vai fazer um desfile diferente esse ano. A nossa expectativa e nossa ansiedade está muito grande. Vamos fazer dois trios: um com a nossa banda e o outro com Olodum. São dois carros interligados por uma ponte, e vamos ficar intercalando as músicas; tocar um pouco, deixá-los tocar um pouco, os dois tocarem juntos. É algo que nunca fizemos e vai ser uma experiência muito interessante.
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Qual o tema geral do carnaval esse ano, na sua opinião?
Eu acho que o tema deste ano vai ser liberdade. Até pode ser liberdade e união, a gente tem que também talvez repensar se realmente podemos reunir o país de novo.. é um assunto espinhoso, afinal vivemos períodos muito difíceis, com a pandemia, agora em janeiro… Eu acho que o carnaval é uma forma de uma manifestação cultural e artística, mas também é uma manifestação social que ajuda muita gente a quebrar os seus preconceitos, sabe? Tem muitas lições que as pessoas aprendem através das coisas boas do carnaval. Obviamente tem coisas boas e ruins, você tem a violência por exemplo, mas para mudar isso é preciso informação e educação. É um trabalho de ano inteiro. Não só do carnaval.