Dois americanos e uma israelense ganharam o Prêmio Nobel de Química. Eles desvendaram a estrutura molecular do ribossomo - a fábrica de proteínas da célula. Indústrias farmacêuticas já usam os resultados da pesquisa para produzir antibióticos novos e mais eficazes.O prêmio de quase R$ 2,5 milhões será dividido igualmente por Thomas A. Steitz, da Universidade Yale, Venkatraman Ramakrishnan, do Laboratório MRC de Biologia Molecular, em Cambridge, e por Ada E. Yonath, do Instituto Weizmann de Ciência, em Rehovot (Israel). Ramakrishnan nasceu na Índia, mas é cidadão americano."É verdade que uma mulher não vencia o Nobel de Química desde 1964", disse Ada em entrevista a uma rádio israelense. "Mas não creio que o gênero desempenhe qualquer papel aqui." A vencedora em 1964, Crowfoot Hodgkin, também foi premiada por suas contribuições à cristalografia de raios X.O método exige uma grande paciência e atenção para transformar proteínas em cristais e um instrumental matemático muito complexo para analisar os padrões obtidos quando feixes de raios X são apontados para os cristais.O processo já é difícil quando o material analisado se trata de proteínas pequenas. Ada iniciou seu trabalho na década de 70. Na época, muitos pesquisadores consideraram impossível aplicá-lo a ribossomos, que são muito mais complexos que uma simples proteína."Mas a persistência foi recompensada", aponta Neuza Satomi Sato, pesquisadora do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Neuza publicou em outubro de 2006 um artigo em coautoria com Ada. O tema do trabalho, divulgado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), foram justamente os ribossomos.O estudo reunia parte dos resultados obtidos pela pesquisadora brasileira durante seu pós-doutorado na Universidade de Tóquio. "Não trabalhei diretamente com Ada", explica a cientista. "Meu grupo tinha um acordo de cooperação com ela."UNIÃO DE ESFORÇOSO ribossomo traduz a informação genética em proteínas (mais informações nesta página). De início, os cientistas utilizaram as estruturas de uma bactéria que vive em temperaturas extremas, pois consideraram que seus ribossomos resistiriam melhor ao processo de cristalização. Depois de 20 anos de trabalho, Ada conseguiu produzir os cristais desejados.Mas os padrões obtidos com os raios X foram insuficientes para revelar a estrutura do ribossomo, pois não tinham todas as informações matemáticas necessárias.Steitz e Ramakrishnan uniram-se aos esforços e ajudaram a desenvolver métodos que obtiveram as informações que faltavam. Em 2000, publicaram artigos que formavam o mapa completo do ribossomo: uma estrutura tridimensional detalhada no nível molecular.A pesquisadora Patrícia Pereira Coltri, do Instituto de Química da USP, aponta que, graças aos esforços dos três cientistas, foi possível encontrar diferenças nos ribossomos de bactérias e humanos. "As particularidades podem servir como alvos para antibióticos", afirma Patrícia. Como os premiados, ela também trabalha com pesquisa básica relacionada a RNA e ribossomos. "Sem essas descobertas, seria muito difícil saber o que acontece no nível atômico."
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