A Polícia Civil do Espírito Santo já tem conhecimento de quem é o traficante responsável pelos 31 frascos de fentanil, substância opióide utilizada em hospitais, mais forte que a morfina, apreendidos em fevereiro durante uma operação no município de Cariacica, na Grande Vitória. É a primeira vez que amostras do medicamento são apreendidas em operação policial de combate ao tráfico no país.
De acordo com o delegado Tarcísio Otoni, responsável pela investigação, o traficante é um velho conhecido da inteligência do órgão e atua acima das facções, com o fornecimento direto de drogas às organizações criminosas.
“Ele atua por atacado no mercado de ilícitos e não pertence a nenhuma facção, mas fornece a elas seus produtos. Já é uma figura conhecida da nossa inteligência, foragido da Justiça, que traz grandes quantidades (de droga) e distribui para quem queira comprar, na Grande Vitória e interior”, explica o delegado, que não revela a identidade do suspeito para preservar o andamento das investigações, que já começam a ultrapassar os limites estaduais.
Em consulta ao lote das ampolas apreendidas, a investigação da Polícia Civil chegou recentemente ao seu fabricante: uma indústria farmacêutica localizada no Estado de Minas Gerais. Trabalhando de maneira colaborativa, agora as duas polícias querem descobrir qual caminho a droga tomou até chegar ao seu destino clandestino, um laboratório de drogas instalado em uma casa abandonada, próximo à reserva ambiental de Duas Bocas, zona rural de Cariacica.
“Não sabemos ainda se essa droga teria sido desviada em sua fabricação, no caminho até seu destino correto ou até mesmo em um hospital. Precisamos agora entender da logística para buscar explicações e evitar que ocorra novamente”, comenta Tarcísio.
Com vasta experiência na polícia e no enfrentamento ao tráfico de entorpecentes, o responsável pela investigação reconhece que só foi capaz de identificar o material apreendido após receber curso preparatório oferecido pelo DEA (Drug Enforcement Administration), órgão responsável pela repressão e controle de narcóticos dos Estados Unidos, que enfrenta casos recorrentes de mortes decorrentes do uso da droga.
“É importante dizer que o DEA proporcionou um treinamento, no final do ano passado, em El Salvador, onde a gente pode ter contato com a experiência americana. E que, através capacitação fornecida pelo governo americano, foi possível identificar o fentanil. Esse olhar já treinado da nossa equipe é que conseguiu visualizar a droga no meio dessa bagunça”, ressalta o policial sobre as condições precárias em que foram encontradas as apreensões.
No episódio, foram descobertas drogas armazenadas em banheiros e diversas substâncias comumente adicionadas à cocaína, como ácido bórico e o bicarbonato de sódio.
Fentanil pode ter sido adicionado à cocaína
Nada comum no Brasil, o Fentanil também pode ter recebido o mesmo encaminhamento, segundo a polícia. A principal linha de investigação atenta para a possível adição do medicamento em toda, ou pelo menos em parte, da cocaína apreendida no dia: mais de 2.500 pinos (pequenos recipientes em que a droga é comercializada).