Em 15 meses, desde a criação da força-tarefa formada por Polícia Federal (PF), Receita Federal e Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), já foram apreendidos mais de 1.300 quilos de cocaína no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos. A cocaína seria distribuída na Europa, África e Ásia. A última prisão ocorreu nesta terça-feira à tarde, quando um casal de alemães tentava embarcar para a Dinamarca com 15 quilos da droga divididos em duas malas. Annett Siebig, de 23 anos, chegara do Peru e deixara a bagagem num guarda-volumes no aeroporto e fora encontrar-se com o marido, Marcel Wolfgang Minol, de 26, que estava no Rio. Voltaram, apanharam as malas e foram embarcar, quando acabaram presos. Uso de mulheres No fim de setembro, outra mulher foi flagrada com 10,4 quilos da droga na bagagem. Elisa Alves dos Santos, de 36 anos, ia para Amsterdã, na Holanda. O nervosismo dela chamou a atenção dos agentes, que encontraram a cocaína cuidadosamente acondicionada no fundo de uma das malas. Esta é umas das novas tendências do tráfico internacional de entorpecentes: o uso de mulheres como "mulas" (gíria que define a pessoa utilizada no transporte da droga) é cada vez mais comum. Elas já são 75% das pessoas presas pela força-tarefa. Segundo o porta-voz da PF, Celso D´Arke, a idade média das mulheres envolvidas com o tráfico internacional é de 20 a 35 anos. Em geral, elas não têm profissão definida. "Muitas são dançarinas de boates e garotas de programa", disse D´Arke. Ainda segundo a PF, as "mulas" recebem de US$ 1 mil a US$ 3 mil pelo serviço, de acordo com a quantidade de droga a ser transportada. Elisa confessou estar sendo usada como "mula", mas não quis revelar o nome do traficante que financiava a viagem. Apenas na última semana de setembro, a PF prendeu outras quatro mulheres que levavam 15 quilos de cocaína, no total. Luvas cirúrgicas Uma delas, Silvani Moreira, de 23 anos, amamentava o filho de 2 anos no saguão do aeroporto pouco antes de ser presa com 8,4 quilos de cocaína na bagagem. Seu destino era a capital espanhola, Madri. "Os vôos de risco são, em geral para Madri, Frankfurt, Amsterdã, Zurique e Johannesburgo", explicou o porta-voz da PF. Outra mulher foi presa após "soltar" a droga no banheiro do aeroporto. Vilma Aparecida Félix havia engolido 80 cápsulas de cocaína feitas com dedos de luvas cirúrgicas. Como havia perdido o primeiro vôo para Madri e teve de esperar outro, não conseguiu "segurar" a droga no intestino. Vilma ainda embalou o entorpecente num absorvente e escondeu tudo dentro de vidros de xampu. Para evitar esse tipo de ocorrência, um grupo de africanos dava remédios às mulas para evitar diarréias. Eles foram presos nesta segunda-feira pelo Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), na Vila Brasilândia, na zona norte de São Paulo. Segundo as investigações, o grupo estava aliciando como mulas prostitutas da região central de São Paulo. Cada uma recebia US$ 3,000.00 por viagem à Europa. Garota de programa Uma investigadora se fez passar por garota de programa e foi levada à casa onde estava a droga em invólucros que ela deveria ingerir. Tudo foi filmado pelo Denarc. Os policiais invadiram a casa, apreenderam meio quilo de cocaína e US$ 9,000.00. Prenderam o garçom nigeriano Henry Ibe Mobebe, de 36 anos, o técnico em eletrônica sul-africano Gilbert Tabang Nkosi, de 37, o vendedor de Serra Leoa Willian Akono, de 32, e a noiva brasileira de Henry, Vanessa Prates de Abreu, de 21. A principal droga apreendida em Cumbica e que seria levada para o exterior é a cocaína. "Entre as que chegam, a maioria são comprimidos de ecstasy e anabolizantes", disse o porta-voz da PF.