As tropas federais enviadas a 460 cidades durante as eleições municipais não se envolveram em incidentes neste domingo, disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Ayres Britto. No Rio de Janeiro, onde as Forças Armadas chegaram com antecedência, as tropas foram consideradas essenciais para garantir a segurança da eleição "A situação do Rio de Janeiro nos preocupava extremamente, era de conflagração. Hoje não é. Está normalizada", afirmou o presidente do TSE em entrevista coletiva. As forças policiais, no entanto, tiveram que prender 168 pessoas em todo o país ao atender 509 ocorrências. Foram detidos 30 candidatos, a maioria por boca de urna, compra de votos e transporte ilegal de eleitores. "As coisas transcorrem bem no Rio de Janeiro. No resto do país, tudo está bem administrado. Nós estamos convictos que temos a eleição na mão", disse Britto. Nas últimas eleições municipais, realizadas em 2004, a Justiça Eleitoral requisitou a presença das Forças Armadas em 344 cidades. Naquele ano, o reforço da segurança custou 13,5 milhões de reais. Em 2008, os gastos subiram para 42 milhões de reais. Só as operações no Rio de Janeiro consumiram 32 milhões de reais. Segundo Ayres Britto, o orçamento para essas operações teve de ser ampliado por que antes as tropas só eram deslocadas no dia das eleições. Desta vez, as Forças Armadas permaneceram no Rio de Janeiro durante parte da campanha. As tropas federais foram acionadas depois que traficantes de drogas e integrantes de milícias impediram candidatos de fazer campanha. Segundo denúncias, esses grupos também estariam financiando de forma irregular candidaturas. "Se não reagíssemos, estaríamos passando recibo de rendição, de que o Estado faliu", disse Britto. IDENTIFICAÇÃO BIOMÉTRICA Até agora, a Justiça Eleitoral substituiu 1.212 urnas eletrônicas em todo o Brasil, o que corresponde a 0,32 por cento do total. Em São Bernardo do Campo (SP), Taubaté (SP) e Mari (PB), foi necessário o emprego de cédulas de papel. Em três cidades -- Colorado do Oeste (RO), Fátima do Sul (MS) e São João Batista (SC) --, o TSE testa urnas eletrônicas com identificação biométrica. O sistema identifica os eleitores pela impressão digital e uma fotografia. De acordo com o ministro, as eleições ocorrem normalmente nesses locais. Ayres Britto estimou que, apesar das dificuldades com o recadastramento de todos os eleitores e da falta de recursos, o mecanismo deve ser adotado em todo o país em até oito anos. Segundo o presidente do TSE, outra inovação tecnológica que será discutida pela Justiça Eleitoral depois da conclusão destas eleições será o "voto em trânsito", por meio do qual as pessoas poderão participar das eleições mesmo que não estejam nas cidades em que seus títulos foram cadastrados. Atualmente, quando não estão em seus domicílios eleitorais, as pessoas não podem votar e precisam justificar a ausência. "Esse é o grande salto de qualidade, e nós chegaremos lá", assegurou o ministro. Para o presidente do TSE, a Justiça Eleitoral também precisa aumentar o controle da prestação de contas dos candidatos e o combate ao "câncer" do caixa 2, que, na sua opinião, é um dos causadores da corrupção no setor público. "Quem financia por baixo dos panos está mal intencionado", disse. Ayres Britto também defendeu a liberação do uso da Internet nas campanhas políticas e uma maior conscientização da população sobre a importância da qualificação técnica e ética dos políticos. "Há candidatos que não merecem votos nem de boas festas", ironizou o presidente do TSE. A previsão do tribunal é que cerca de 90 por cento da apuração dos votos seja concluída até as 22 horas. (Reportagem de Fernando Exman e Ana Paula Paiva)