TRADIÇÃO - Marcha de abertura do fórum reuniu de 3,5 mil a 5 mil participantes, segundo a Brigada Militar
Entre 3,5 mil e 5 mil pessoas, conforme estimativa da Brigada Militar participaram no final da tarde da tradicional marcha de abertura das atividades do Fórum Social Mundial Grande Porto Alegre, na capital gaúcha. Os primeiros debates foram presenciados por quase mil pessoas, segundo os organizadores. No primeiro deles, um seminário destinado a fazer um balanço dos dez anos de fundação do fórum e os desafios para o futuro, já ficou exposta um das mais persistentes divergências do encontro, referente à forma como é organizado.
De um lado se alinham os que defendem que o fórum permaneça como surgiu: apenas um espaço de encontro e articulação da sociedade civil global, mais ao gosto das organizações não-governamentais. De outro, quem defende que sejam definidas posições políticas e ações internacionais, mais ao gosto de sindicalistas, movimentos como o dos sem-terra e pessoas mais próximas de partidos.
O prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, do PMDB, participou da mesa de abertura do evento, na Usina do Gasômetro. Em seu discurso, lembrou o nascimento do fórum naquela cidade, dez anos atrás, e anunciou a construção de um memorial sobre o evento. Ele foi aplaudido. Já a governadora Yeda Crusius, que mandou uma carta, teve o nome vaiado.
Um dos convidados mais aplaudidos na abertura foi o ex-ministro das Cidades Olívio Dutra (PT), governador do Rio Grande do Sul à época da realização das duas primeiras edições do evento. Outra estrela foi João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST).
SEM IMPOSIÇÕES
Stédile faz parte do grupo que defende mudanças na organização. No debate inaugural de ontem ele se opôs ao empresário Oded Grajew, que participou da fundação do fórum e é favorável à manutenção de sua proposta inicial. "Nenhuma relação prospera na base da imposição", disse Grajew. "Qualquer relação dá certo quando é espontânea. Nenhum casamento, nenhuma junção, se dá de forma obrigatória."
Segundo Grajew, "não adianta falar de um outro mundo possível se no dia a dia não agimos diferente". "Precisamos agir sem que o Papai Fórum nos diga o que fazer", afirmou.
O Fórum Social Mundial surgiu em 2001 em oposição ao Fórum Econômico Mundial, que se realiza em Davos, na Suíça. Suas três edições iniciais foram realizadas na capital gaúcha. Em 2004,porém, com a saída do PT do poder municipal, os organizadores mudaram o local do encontro. Hoje ele só é realizado em escala mundial a cada dois anos. O que se realiza em Porto Alegre agora é de alcance regional.
SUCESSÃO
Opiniões e debates em torno da sucessão presidencial deste ano no Brasil tendem a ser constantes no encontro na capital gaúcha. Um primeiro sinal disso foi dado por Stédile, do MST. Em entrevista coletiva ele disse que os movimentos sociais vão fazer campanha contra o governador de São Paulo, José Serra, provável candidato do PSDB na disputa presidencial.
"O Serra seria simbolicamente a volta do neoliberalismo clássico, ia fortalecer o projeto dos americanos", disse.
COLABORARAM SANDRA HAHN E JAIR STANGLER