"Desde pequena eu me sentia diferente, mas era tão reprimida pela minha família e por uma educação machista que não tinha espaço para manifestar meu interesse e fascínio pelo ambiente feminino.
Essa sensação de ser diferente me acompanhou durante toda a vida. Eu era um homem, machão, dentro de todos os padrões que a sociedade espera de um homem. Tinha uma noiva, com quem estava junto há seis anos.
Mas no final de 2013 tive uma depressão muito grave por não ser quem eu era, mesmo sem saber exatamente como eu poderia expressar essa pessoa. Eu só sabia que precisava sair desse limbo. Fui treinada para ser um homem e por muito tempo eu tentei, mas não consegui viver sem ser quem eu era: uma mulher.
Desde então, tem sido muito complicado porque não tive apoio da minha família e da minha ex-noiva. O principal apoio que tive veio da empresa em que trabalho, quando souberam da minha transformação, eles deram todo o reconhecimento que eu queria. Contrataram até mesmo uma ONG para conscientizar os funcionários sobre identidade e diversidade de gênero.
Trabalho na área de Tecnologia da Informação, uma área que é tradicionalmente vista como masculina, mas mesmo assim fui muito bem aceita. Eu sou a única mulher em meu departamento, ainda por cima uma mulher trans. E isso é incrível.
Desde a minha transformação, a única coisa que eu quero é o apoio da minha família. Quero que meus parentes entendam que eu sou a mesma pessoa. A única diferença é que agora eu me achei, eu nasci com a genitália errada, mas não é o órgão genital que define quem você é.
Se eu pudesse ter um presente nesse dia da mulher, gostaria de poder conversar com a minha mãe que morreu antes de eu ter feito a transformação. Tenho certeza de que ela teria me entendido, me apoiado. Porque a mulher é assim, compreensível, sensível. Ela é mãe."
Margot Paon de Andrade Garcia, de 30 anos, é analista de sistemas