Laerte Colling gastou R$ 60 mil para se tratar com células-tronco em um hospital chinês. Era sua esperança de frear o avanço da esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa progressiva e sem cura que compromete a capacidade da pessoa de controlar seus músculos e, eventualmente, seus órgãos vitais.O primeiro sintoma apareceu em 2006, aos 40 anos: uma fraqueza na mão direita. Colling então viu uma reportagem na TV sobre alguém que tinha ido à China e resolveu investigar. Os médicos brasileiros disseram que ele não deveria ir, mas foi. "Vi uma luz no fim do túnel e resolvi ir atrás", conta. "Quando você está desesperado, tenta de tudo, até espiritismo." Em outubro de 2008, Colling recebeu cinco injeções de células-tronco do doutor Hongyun Huang, da Academia Hongtianji de Neurociências de Pequim, um dos mais procurados na China. As duas primeiras foram na cabeça. "Fizeram dois buracos no meu crânio com uma broca e injetaram as células", diz o comerciante aposentado de São Leopoldo (RS). As outras três injeções foram aplicadas na medula espinhal.No mês que ficou internado, Colling também passou por sessões diárias de fisioterapia, massagens e acupuntura. "Logo depois das injeções, senti uma pequena melhora. Parece que você recupera alguns movimentos. Mas, uns dias depois, a sensação passou", conta. "O efeito placebo pode ser muito forte em paciente com ELA", diz a pesquisadora Lucie Bruijn, cientista chefe da Associação ALS (sigla da esclerose lateral amiotrófica em inglês), nos Estados Unidos. "A pessoa sente realmente que melhorou, mas, na verdade, não mudou nada." Há movimentos que o paciente achou que tivesse perdido, mas talvez não tivesse. "Além disso, há muita variabilidade nos estágios da doença."Pouco mais de um ano após o tratamento, Colling acha que não melhorou nada. Felizmente, sua doença mostrou ser de progressão lenta, o que permite que ele ainda caminhe por conta própria. "A dúvida é: e se eu não tivesse ido? Será que já estaria numa cadeira de rodas?""Não tenho como saber isso, mas minha sensação é que as células não tiveram nenhum efeito", diz ele.Ainda assim, Colling reluta em dizer às pessoas para não ir à China. "Não me sinto no direito de tirar a esperança de ninguém", diz. "O que posso dizer é que eu não voltaria lá."Essa é a dúvida que angustia a família de Sérgio Lemos, em Fortaleza (CE). Aos 41 anos, ele tem uma forma agressiva de ELA. Mal consegue falar ou se mexer. Ele quer se tratar numa clínica na Alemanha que oferece injeções de células-tronco da medula óssea - por $ 7,5 mil cada. Seu irmão, Edival, está desesperado. Se levar o irmão, teme que ele piore. Se não levar, teme a culpa de não ter tentado tudo para salvá-lo."Claro que eu tenho medo e tenho muitas dúvidas, mas, se não for, ele morre. Não temos mais nada a perder, entende?" A família, humilde, está iniciando uma campanha para tentar levantar o dinheiro.