Frequentemente ameaçada de ser também fechada pelo governo, a emissora Globovisión canalizou ontem as reações e a revolta de vários setores da sociedade venezuelana contra o fechamento, pela segunda vez, da Rádio Caracas Televisión (RCTV). Apresentadores da emissora, muitos com a voz embargada, lembravam as ações do regime chavista contra os meios de comunicação e punham no ar imagens de 2007, de manifestantes pró-governo que apoiavam a saída do ar da RCTV em canal aberto. "El pueblo lo sabe. Y tiene razón. Ahora le toca, la Globovisión!", gritavam os chavistas.Em agosto, na mesma semana em que o governo fechou 34 emissoras de rádio, a Globovisión sofreu um atentado com bombas caseiras lançadas por motociclistas militantes da facção chavista radical União Popular Venezuelana, liderada por Lina Ron - uma mulher que até Hugo Chávez qualificou de "incontrolável". Lina foi presa logo depois do ataque à emissora, que feriu levemente dois funcionários da TV, mas acabou libertada em outubro.Consciente da grande possibilidade de que seja o próximo alvo do governo, a Globovisión ampliou ontem a convocação do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma - de oposição a Chávez -, para um panelaço de protesto às 20 horas (22h30 de Brasília). Em nome da Mesa de Unidade, a coalizão opositora que busca alcançar a maioria da Assembleia Nacional nas eleições de setembro, Ledezma repudiou a medida do governo, que qualificou de "uma tentativa do governo de levar adiante seu propósito de estabelecer uma hegemonia nas comunicações".Normalmente discreta em seus pronunciamentos contra Chávez, a Igreja, por meio do cardeal-arcebispo de Caracas, Jorge Urosa Savino, também deplorou o fechamento da RCTV Internacional. "Não podemos assistir passivamente essas coisas. Temos de lutar para que respeitem nosso direito", disse. "Calar um meio de comunicação não contribui em nada para a manutenção do estado de direito, mas sim enfraquece as garantias constitucionais."A saída do ar da RCTV ocorre em meio a dias politicamente turbulentos. No dia 8, Chávez alterou a cotação da moeda venezuelana e criou um câmbio duplo (2,6 bolívares forte por US$ 1 para produtos essenciais e 4,3 por US$ 1, para os demais produtos). O governo também interveio e expropriou bancos e a rede franco-colombiana de supermercados Êxito, promoveu uma reforma ministerial e está às voltas com uma crise energética que o obriga a promover apagões programados de quatro horas a cada dois dias em todo o interior do país. Um cenário bastante difícil para um governo que hoje tem como prioridade manter sua maioria quase unânime no Legislativo.Em seu programa semanal, Alô, Presidente!, Chávez convocou seu ministro Diosdado Cabello para explicar os motivos do fechamento da RCTV e das outras emissoras. Cabello, sem mencionar nominalmente a emissora, disse apenas ter cumprido a lei. "Então, parabéns Diosdado! Só temos de cumprir a lei", retrucou Chávez.