Golpes e roubos modernos não se resolvem com ‘polícia do passado’, diz especialista


Professor pede modernização da investigação para atacar roubos e registros de estelionato por meios virtuais

Por Marcio Dolzan
Atualização:
Foto: TV Cultura
Entrevista comRafael AlcadipaniProfessor da FGV e associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani vê como tendência a alta de roubos e furtos de celulares. Na avaliação do especialista em organizações e polícias, o poder público investe mal seus recursos em segurança pública.

“O que precisamos é de uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública; não ficar investindo tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil”, afirma ao Estadão.

Alcadipani lembra que, mais do que o lucro com a venda de peças, o furto ou roubo de celulares permite aos criminosos praticarem uma série de crimes eletrônicos a partir, por exemplo, do uso de aplicativos bancários. “Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, os estelionatos, de crimes na internet, não serão resolvidos.”

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O ano de 2022 registrou aumento de crimes patrimoniais. O roubo e o furto de celulares apresentaram alta expressiva em alguns Estados. Qual é a explicação?

O celular passou a ser o grande produto para os criminosos. Antigamente, era o toca-fitas dos carros, até mesmo a calota. A questão é que no celular, hoje, toda a vida da pessoa está lá, incluindo dados bancários. E isso sem falar no valor que o desmonte do celular gera para os criminosos. É um produto de fácil furto e roubo, por isso esse tipo de crime tem aumentado bastante.

Roubos de celular estão em alta no País Foto: Alex Silva/Estadão - 20/04/2023
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Segundo dados do Fórum de Segurança Pública, as maiores taxas de aumento foram nos crimes de estelionato por meio eletrônico. Isso ainda é reflexo da pandemia?

Esse aumento em primeiro lugar, sim, foi motivado pela questão da pandemia, que fez com que o crime migrasse para o mundo virtual. Mas uma segunda coisa é que um estelionato por meio virtual permite que o criminoso o faça sem ter de ir pra rua, sem estar armado. Ele tem muito menos risco para cometer e de ser pego. Esse também é um fator que faz com que esse crime seja tão preponderante hoje no Brasil.

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O senhor considera que há falhas na segurança?

As polícias não estão se modernizando no tempo necessário, e na urgência necessária para lidar com esse novo cenário de crimes. Eles exigem investigação tecnológica, existe patrulhamento inteligente, e infelizmente isso não tem acontecido.

E por que isso ocorre? O orçamento para a segurança pública é baixo, ou o foco tem sido em outros tipos de crime?

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O primeiro aspecto é que falta gente. Vemos que a mão de obra na Polícia Civil está bastante envelhecida, há falta de policiais que tenham mais habilidade para a investigação cibernética. Por mais que se tente investir nisso na academia, ela não dá conta da demanda, que é muito alta. Hoje, praticamente todos os distritos de São Paulo têm dificuldades para fazer esse tipo de investigação.

O segundo é que a carreira na polícia não é atrativa para muitas pessoas que têm esse tipo de competência. O sujeito pode trabalhar na Microsoft ou na polícia se tiver uma especialização nessa área. Há baixos salários, que geram baixa atratividade.

Por fim, há uma preocupação do Estado forte em investimento numa polícia de patrulhamento, na Polícia Militar, que hoje vai ser cada vez menos importante. As câmeras já fazem essa função em vários países. Você tem de ter, obviamente, mas para responder às ocorrências que as câmeras pegam.

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O que precisamos é uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública, não investir tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil. O foco do investimento no Estado é muito maior na PM que na Civil. Estamos investindo numa polícia do passado.

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não vai ser resolvido.

Rafael Alcadipani, professor

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Se não houver reformulação nesse foco de investimentos na segurança pública, a tendência é de que os números ruins de crimes contra o patrimônio se mantenham?

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não será resolvido. Precisa modernizar, investir no que dá certo. Precisa de ciência para fazer segurança pública, mas infelizmente o que se vê no Brasil todo - e São Paulo não é exceção - é uma mentalidade atrasada, com a Polícia Militar dominando os investimentos de segurança pública, e um descrédito e pouco investimento na polícia de investigação, que é a Civil.

Integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani vê como tendência a alta de roubos e furtos de celulares. Na avaliação do especialista em organizações e polícias, o poder público investe mal seus recursos em segurança pública.

“O que precisamos é de uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública; não ficar investindo tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil”, afirma ao Estadão.

Alcadipani lembra que, mais do que o lucro com a venda de peças, o furto ou roubo de celulares permite aos criminosos praticarem uma série de crimes eletrônicos a partir, por exemplo, do uso de aplicativos bancários. “Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, os estelionatos, de crimes na internet, não serão resolvidos.”

O ano de 2022 registrou aumento de crimes patrimoniais. O roubo e o furto de celulares apresentaram alta expressiva em alguns Estados. Qual é a explicação?

O celular passou a ser o grande produto para os criminosos. Antigamente, era o toca-fitas dos carros, até mesmo a calota. A questão é que no celular, hoje, toda a vida da pessoa está lá, incluindo dados bancários. E isso sem falar no valor que o desmonte do celular gera para os criminosos. É um produto de fácil furto e roubo, por isso esse tipo de crime tem aumentado bastante.

Roubos de celular estão em alta no País Foto: Alex Silva/Estadão - 20/04/2023

Segundo dados do Fórum de Segurança Pública, as maiores taxas de aumento foram nos crimes de estelionato por meio eletrônico. Isso ainda é reflexo da pandemia?

Esse aumento em primeiro lugar, sim, foi motivado pela questão da pandemia, que fez com que o crime migrasse para o mundo virtual. Mas uma segunda coisa é que um estelionato por meio virtual permite que o criminoso o faça sem ter de ir pra rua, sem estar armado. Ele tem muito menos risco para cometer e de ser pego. Esse também é um fator que faz com que esse crime seja tão preponderante hoje no Brasil.

O senhor considera que há falhas na segurança?

As polícias não estão se modernizando no tempo necessário, e na urgência necessária para lidar com esse novo cenário de crimes. Eles exigem investigação tecnológica, existe patrulhamento inteligente, e infelizmente isso não tem acontecido.

E por que isso ocorre? O orçamento para a segurança pública é baixo, ou o foco tem sido em outros tipos de crime?

O primeiro aspecto é que falta gente. Vemos que a mão de obra na Polícia Civil está bastante envelhecida, há falta de policiais que tenham mais habilidade para a investigação cibernética. Por mais que se tente investir nisso na academia, ela não dá conta da demanda, que é muito alta. Hoje, praticamente todos os distritos de São Paulo têm dificuldades para fazer esse tipo de investigação.

O segundo é que a carreira na polícia não é atrativa para muitas pessoas que têm esse tipo de competência. O sujeito pode trabalhar na Microsoft ou na polícia se tiver uma especialização nessa área. Há baixos salários, que geram baixa atratividade.

Por fim, há uma preocupação do Estado forte em investimento numa polícia de patrulhamento, na Polícia Militar, que hoje vai ser cada vez menos importante. As câmeras já fazem essa função em vários países. Você tem de ter, obviamente, mas para responder às ocorrências que as câmeras pegam.

O que precisamos é uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública, não investir tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil. O foco do investimento no Estado é muito maior na PM que na Civil. Estamos investindo numa polícia do passado.

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não vai ser resolvido.

Rafael Alcadipani, professor

Se não houver reformulação nesse foco de investimentos na segurança pública, a tendência é de que os números ruins de crimes contra o patrimônio se mantenham?

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não será resolvido. Precisa modernizar, investir no que dá certo. Precisa de ciência para fazer segurança pública, mas infelizmente o que se vê no Brasil todo - e São Paulo não é exceção - é uma mentalidade atrasada, com a Polícia Militar dominando os investimentos de segurança pública, e um descrédito e pouco investimento na polícia de investigação, que é a Civil.

Integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani vê como tendência a alta de roubos e furtos de celulares. Na avaliação do especialista em organizações e polícias, o poder público investe mal seus recursos em segurança pública.

“O que precisamos é de uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública; não ficar investindo tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil”, afirma ao Estadão.

Alcadipani lembra que, mais do que o lucro com a venda de peças, o furto ou roubo de celulares permite aos criminosos praticarem uma série de crimes eletrônicos a partir, por exemplo, do uso de aplicativos bancários. “Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, os estelionatos, de crimes na internet, não serão resolvidos.”

O ano de 2022 registrou aumento de crimes patrimoniais. O roubo e o furto de celulares apresentaram alta expressiva em alguns Estados. Qual é a explicação?

O celular passou a ser o grande produto para os criminosos. Antigamente, era o toca-fitas dos carros, até mesmo a calota. A questão é que no celular, hoje, toda a vida da pessoa está lá, incluindo dados bancários. E isso sem falar no valor que o desmonte do celular gera para os criminosos. É um produto de fácil furto e roubo, por isso esse tipo de crime tem aumentado bastante.

Roubos de celular estão em alta no País Foto: Alex Silva/Estadão - 20/04/2023

Segundo dados do Fórum de Segurança Pública, as maiores taxas de aumento foram nos crimes de estelionato por meio eletrônico. Isso ainda é reflexo da pandemia?

Esse aumento em primeiro lugar, sim, foi motivado pela questão da pandemia, que fez com que o crime migrasse para o mundo virtual. Mas uma segunda coisa é que um estelionato por meio virtual permite que o criminoso o faça sem ter de ir pra rua, sem estar armado. Ele tem muito menos risco para cometer e de ser pego. Esse também é um fator que faz com que esse crime seja tão preponderante hoje no Brasil.

O senhor considera que há falhas na segurança?

As polícias não estão se modernizando no tempo necessário, e na urgência necessária para lidar com esse novo cenário de crimes. Eles exigem investigação tecnológica, existe patrulhamento inteligente, e infelizmente isso não tem acontecido.

E por que isso ocorre? O orçamento para a segurança pública é baixo, ou o foco tem sido em outros tipos de crime?

O primeiro aspecto é que falta gente. Vemos que a mão de obra na Polícia Civil está bastante envelhecida, há falta de policiais que tenham mais habilidade para a investigação cibernética. Por mais que se tente investir nisso na academia, ela não dá conta da demanda, que é muito alta. Hoje, praticamente todos os distritos de São Paulo têm dificuldades para fazer esse tipo de investigação.

O segundo é que a carreira na polícia não é atrativa para muitas pessoas que têm esse tipo de competência. O sujeito pode trabalhar na Microsoft ou na polícia se tiver uma especialização nessa área. Há baixos salários, que geram baixa atratividade.

Por fim, há uma preocupação do Estado forte em investimento numa polícia de patrulhamento, na Polícia Militar, que hoje vai ser cada vez menos importante. As câmeras já fazem essa função em vários países. Você tem de ter, obviamente, mas para responder às ocorrências que as câmeras pegam.

O que precisamos é uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública, não investir tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil. O foco do investimento no Estado é muito maior na PM que na Civil. Estamos investindo numa polícia do passado.

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não vai ser resolvido.

Rafael Alcadipani, professor

Se não houver reformulação nesse foco de investimentos na segurança pública, a tendência é de que os números ruins de crimes contra o patrimônio se mantenham?

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não será resolvido. Precisa modernizar, investir no que dá certo. Precisa de ciência para fazer segurança pública, mas infelizmente o que se vê no Brasil todo - e São Paulo não é exceção - é uma mentalidade atrasada, com a Polícia Militar dominando os investimentos de segurança pública, e um descrédito e pouco investimento na polícia de investigação, que é a Civil.

Integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani vê como tendência a alta de roubos e furtos de celulares. Na avaliação do especialista em organizações e polícias, o poder público investe mal seus recursos em segurança pública.

“O que precisamos é de uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública; não ficar investindo tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil”, afirma ao Estadão.

Alcadipani lembra que, mais do que o lucro com a venda de peças, o furto ou roubo de celulares permite aos criminosos praticarem uma série de crimes eletrônicos a partir, por exemplo, do uso de aplicativos bancários. “Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, os estelionatos, de crimes na internet, não serão resolvidos.”

O ano de 2022 registrou aumento de crimes patrimoniais. O roubo e o furto de celulares apresentaram alta expressiva em alguns Estados. Qual é a explicação?

O celular passou a ser o grande produto para os criminosos. Antigamente, era o toca-fitas dos carros, até mesmo a calota. A questão é que no celular, hoje, toda a vida da pessoa está lá, incluindo dados bancários. E isso sem falar no valor que o desmonte do celular gera para os criminosos. É um produto de fácil furto e roubo, por isso esse tipo de crime tem aumentado bastante.

Roubos de celular estão em alta no País Foto: Alex Silva/Estadão - 20/04/2023

Segundo dados do Fórum de Segurança Pública, as maiores taxas de aumento foram nos crimes de estelionato por meio eletrônico. Isso ainda é reflexo da pandemia?

Esse aumento em primeiro lugar, sim, foi motivado pela questão da pandemia, que fez com que o crime migrasse para o mundo virtual. Mas uma segunda coisa é que um estelionato por meio virtual permite que o criminoso o faça sem ter de ir pra rua, sem estar armado. Ele tem muito menos risco para cometer e de ser pego. Esse também é um fator que faz com que esse crime seja tão preponderante hoje no Brasil.

O senhor considera que há falhas na segurança?

As polícias não estão se modernizando no tempo necessário, e na urgência necessária para lidar com esse novo cenário de crimes. Eles exigem investigação tecnológica, existe patrulhamento inteligente, e infelizmente isso não tem acontecido.

E por que isso ocorre? O orçamento para a segurança pública é baixo, ou o foco tem sido em outros tipos de crime?

O primeiro aspecto é que falta gente. Vemos que a mão de obra na Polícia Civil está bastante envelhecida, há falta de policiais que tenham mais habilidade para a investigação cibernética. Por mais que se tente investir nisso na academia, ela não dá conta da demanda, que é muito alta. Hoje, praticamente todos os distritos de São Paulo têm dificuldades para fazer esse tipo de investigação.

O segundo é que a carreira na polícia não é atrativa para muitas pessoas que têm esse tipo de competência. O sujeito pode trabalhar na Microsoft ou na polícia se tiver uma especialização nessa área. Há baixos salários, que geram baixa atratividade.

Por fim, há uma preocupação do Estado forte em investimento numa polícia de patrulhamento, na Polícia Militar, que hoje vai ser cada vez menos importante. As câmeras já fazem essa função em vários países. Você tem de ter, obviamente, mas para responder às ocorrências que as câmeras pegam.

O que precisamos é uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública, não investir tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil. O foco do investimento no Estado é muito maior na PM que na Civil. Estamos investindo numa polícia do passado.

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não vai ser resolvido.

Rafael Alcadipani, professor

Se não houver reformulação nesse foco de investimentos na segurança pública, a tendência é de que os números ruins de crimes contra o patrimônio se mantenham?

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não será resolvido. Precisa modernizar, investir no que dá certo. Precisa de ciência para fazer segurança pública, mas infelizmente o que se vê no Brasil todo - e São Paulo não é exceção - é uma mentalidade atrasada, com a Polícia Militar dominando os investimentos de segurança pública, e um descrédito e pouco investimento na polícia de investigação, que é a Civil.

Integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani vê como tendência a alta de roubos e furtos de celulares. Na avaliação do especialista em organizações e polícias, o poder público investe mal seus recursos em segurança pública.

“O que precisamos é de uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública; não ficar investindo tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil”, afirma ao Estadão.

Alcadipani lembra que, mais do que o lucro com a venda de peças, o furto ou roubo de celulares permite aos criminosos praticarem uma série de crimes eletrônicos a partir, por exemplo, do uso de aplicativos bancários. “Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, os estelionatos, de crimes na internet, não serão resolvidos.”

O ano de 2022 registrou aumento de crimes patrimoniais. O roubo e o furto de celulares apresentaram alta expressiva em alguns Estados. Qual é a explicação?

O celular passou a ser o grande produto para os criminosos. Antigamente, era o toca-fitas dos carros, até mesmo a calota. A questão é que no celular, hoje, toda a vida da pessoa está lá, incluindo dados bancários. E isso sem falar no valor que o desmonte do celular gera para os criminosos. É um produto de fácil furto e roubo, por isso esse tipo de crime tem aumentado bastante.

Roubos de celular estão em alta no País Foto: Alex Silva/Estadão - 20/04/2023

Segundo dados do Fórum de Segurança Pública, as maiores taxas de aumento foram nos crimes de estelionato por meio eletrônico. Isso ainda é reflexo da pandemia?

Esse aumento em primeiro lugar, sim, foi motivado pela questão da pandemia, que fez com que o crime migrasse para o mundo virtual. Mas uma segunda coisa é que um estelionato por meio virtual permite que o criminoso o faça sem ter de ir pra rua, sem estar armado. Ele tem muito menos risco para cometer e de ser pego. Esse também é um fator que faz com que esse crime seja tão preponderante hoje no Brasil.

O senhor considera que há falhas na segurança?

As polícias não estão se modernizando no tempo necessário, e na urgência necessária para lidar com esse novo cenário de crimes. Eles exigem investigação tecnológica, existe patrulhamento inteligente, e infelizmente isso não tem acontecido.

E por que isso ocorre? O orçamento para a segurança pública é baixo, ou o foco tem sido em outros tipos de crime?

O primeiro aspecto é que falta gente. Vemos que a mão de obra na Polícia Civil está bastante envelhecida, há falta de policiais que tenham mais habilidade para a investigação cibernética. Por mais que se tente investir nisso na academia, ela não dá conta da demanda, que é muito alta. Hoje, praticamente todos os distritos de São Paulo têm dificuldades para fazer esse tipo de investigação.

O segundo é que a carreira na polícia não é atrativa para muitas pessoas que têm esse tipo de competência. O sujeito pode trabalhar na Microsoft ou na polícia se tiver uma especialização nessa área. Há baixos salários, que geram baixa atratividade.

Por fim, há uma preocupação do Estado forte em investimento numa polícia de patrulhamento, na Polícia Militar, que hoje vai ser cada vez menos importante. As câmeras já fazem essa função em vários países. Você tem de ter, obviamente, mas para responder às ocorrências que as câmeras pegam.

O que precisamos é uma modernização na mentalidade e na forma de fazer segurança pública, não investir tanto em Polícia Militar, em equipamentos para a PM, mas sim na polícia de investigação, de serviços de inteligência, que é a Polícia Civil. O foco do investimento no Estado é muito maior na PM que na Civil. Estamos investindo numa polícia do passado.

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não vai ser resolvido.

Rafael Alcadipani, professor

Se não houver reformulação nesse foco de investimentos na segurança pública, a tendência é de que os números ruins de crimes contra o patrimônio se mantenham?

Se não houver mudança de foco, e, principalmente, na mentalidade de quem faz a gestão da segurança pública, de ficar nessa visão antiquada de investir no passado, esse tipo de estelionato, de crimes na internet, não será resolvido. Precisa modernizar, investir no que dá certo. Precisa de ciência para fazer segurança pública, mas infelizmente o que se vê no Brasil todo - e São Paulo não é exceção - é uma mentalidade atrasada, com a Polícia Militar dominando os investimentos de segurança pública, e um descrédito e pouco investimento na polícia de investigação, que é a Civil.

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