O filho do empresário paulista Silvio Bispo Romão, que morreu em um naufrágio em Maragogi, em Alagoas, na última sexta-feira, 13, alega que está com dificuldades para conseguir a liberação do corpo do pai em razão de uma paralisação dos servidores da Polícia Científica do Estado.
“Ainda estou em Maceió tentando liberar o corpo do pai. IML em greve e eu não consigo que liberem o corpo dele”, disse, ao Estadão, Eduardo Bispo Romão. Silvio Romão, pai de Eduardo, morreu depois de o catamarã em que estava a bordo, para um passeio, virar no mar e arremessar todas as 50 pessoas (47 passageiros e três tripulantes) para a água. Ele tinha 74 anos.
A greve citada por Eduardo foi uma paralisação de 48 horas convocada pelo Sindicato dos Peritos Oficiais de Alagoas (Sinpoal) e pelo Sindicato dos Técnicos Forenses do Estado de Alagoas (Sintfor), nesta semana. O mobilização aconteceu entre a última quinta, 12, e sexta-feira, 13. Uma das categorias a cruzar os braços foi a dos legistas do Instituto Médico Legal do Estado.
Em nota divulgada nas redes sociais, o Sinpoal afirma que a paralisação foi “ordeira e pacífica”, e que manteve 40% das atividades essenciais com “o objetivo de minimizar qualquer impacto à população”.
O vice-presidente do Sinpoal, Victor Cavalcante, confirmou que a demora na liberação do corpo é reflexo da paralisação da categoria. Ao portal G1, ele disse que o IML, que voltou a trabalhar neste sábado, está com nove corpos para serem necropsiados, e o de Silvio Romão é o oitavo da lista. “Estamos seguindo a sequência cronológica por respeito a todas as famílias”, disse ele.
Os servidores da Polícia Científica cobram do Estado um aumento de 3% no interstício entre as classes, e a incorporação da bolsa qualificação na classe inicial de cada cargo, que corresponde a um acréscimo salarial aos trabalhadores - a bolsa tem prazo para se encerrar em fevereiro de 2025, segundo o sindicato.
A reportagem procurou o Governo de Alagoas via Secretaria de Segurança Pública do Estado, mas não teve retorno. O espaço segue aberto.
O que aconteceu em Maragogi
O naufrágio ocorreu na região da Praia de Barra Grande, a cerca de 3 km da costa, na manhã da última sexta, 13. O local é famoso por piscinas naturais, com águas transparentes e tranquilas e muitos peixes, que se formam quando a maré está baixa. As características e belas paisagens marinhas com tons que vão do azul cristalino ao verde água fazem a região ser chamada de “Caribe brasileiro”.
Maragogi fica a cerca de 130 quilômetros da capital Maceió. O município é um dos principais destinos do Estado nesta época do ano.
Silvio havia viajado para o Nordeste acompanhado da esposa, outros familiares e amigos. O grupo estava hospedado em um resort de luxo, em Porto de Galinhas, no litoral sul de Pernambuco. Silvio, a esposa e uma parte do grupo decidiram ir para Maragogi, que fica a cerca de 80 quilômetros, no Estado vizinho.
A esposa de Sílvio foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros com a ajuda de embarcações que estavam na região. O piloto de uma moto aquática tentou ajudar Silvio, mas ele afundou. Os bombeiros, que usaram até um helicóptero no socorro, o recolheram das águas, mas o idoso já estava morto quando chegou à unidade de saúde.
Mais de 30 bombeiros foram mobilizados para o resgate. Lanchas, motos aquáticas e barcos que navegavam pela região ajudaram a recolher os náufragos.
Outras nove pessoas, inclusive uma mulher grávida e um bebê de cinco meses, receberam atendimento em unidades de saúde, mas todas já foram liberadas, segundo a secretaria municipal de saúde.
Como estão as investigações do acidente de Maragogi?
A Polícia Civil e a Marinha investigam o acidente. A prefeitura informou que o catamarã não estava registrado no cadastro único digital para prestadores de serviços de turismo. O registro é obrigatório para a exploração do turismo náutico. O município abriu uma sindicância para apurar as circunstâncias do naufrágio.
Conforme a Secretaria de Segurança Pública de Alagoas, um inquérito policial foi aberto para investigar o naufrágio do catamarã. “Os levantamentos preliminares apontam que a embarcação tinha capacidade para 70 pessoas e estava com 47 passageiros no momento do acidente. O piloto do catamarã é habilitado”, disse, em nota.
A Marinha do Brasil informou que abrirá um inquérito administrativo para investigar as causas do naufrágio./COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA