Tratado por galeristas de São Paulo como uma espécie de novo Eldorado das artes contemporâneas (certamente pela sua capacidade de adquirir obras por polpudas quantias, e aglutinar recursos públicos), o Centro de Arte Contemporânea de Inhotim, em Brumadinho (a cerca de 50 km de Belo Horizonte), o maior do País na atualidade, inaugura hoje nove novas obras permanentes de alguns dos mais celebrados artistas internacionais, como Matthew Barney, Doug Aitken e Yayoi Kusama.Jornalistas do País e de veículos internacionais estão na região para as inaugurações. O Instituto Inhotim é um caso de confusão entre público e privado. As obras fixas do museu mineiro pertencem ao seu fundador, Bernardo Mello Paz, que, segundo informações da instituição, gastou até agora cerca de US$ 200 milhões em aquisições, acervo botânico e construção de pavilhões. Bernardo Paz não fez uma doação definitiva de sua coleção ao instituto - cedeu as obras "em comodato de longo prazo", e permanece dando apoio com funcionários e materiais das próprias empresas ao museu. Do custo mensal de R$ 2 milhões, cerca de 70% viria de recursos do empresário - além de cerca de R$ 16 milhões do governo federal e investimentos da lei de incentivo regional e do Fundo de Cultura de Minas.Nem todas as obras novas, segundo informou Ana Lúcia Gazzola, diretora do Inhotim, terão pavilhões construídos especialmente para elas. Já os pavilhões que foram remodelados, como a casa que abriga obra de Rivane Neunschwander, usaram mão de obra emprestada. "Como os trabalhadores são das empresas de Bernardo Paz, o custo incremental das remodelações é mínimo e não chegou a ser estimado", informou Ana Lúcia."São nove obras com características muito diversas. Uma delas, a Narcissus Garden Inhotim, da artista japonesa Yayoi Kusama, é constituída por 510 bolas colocadas em um espelho d"água já existente na cobertura do Centro Educativo Burle Marx. Outras, como o Beam Drop Inhotim de Chris Burden, são obras situadas no vazio, grandes esculturas sem pavilhão. Em outros casos, a obra tem algum tipo de envoltório externo, como é o caso da obra Sound Pavillion, de Doug Aitken, e a De Lama Lamina, de Matthew Barney. Na obra Continente/Nuvem, da mineira Rivane Neunschwander, fez-se apenas uma renovação em uma residência remanescente do século 19. Dentre as novas obras, somente uma galeria foi construída para a criação da canadense Janet Cardiff & George Bures Miller, a The Murder of Crows, e trata-se de um galpão que abriga um conjunto de caixas acústicas."Segundo Ana Lúcia, muitas das obras de Inhotim "foram adquiridas há vários anos, pagas parceladamente ao longo do período e não há estimativa atual de valor venal. São obras muitas vezes comissionadas e realizadas pelos artistas no próprio local com custo de material, instalação (realizado parcialmente pela equipe do artista e equipe do Inhotim), além das despesas de viagem e hospedagem. Muitas obras, por suas dimensões, nem sequer poderiam ser postas à venda, o que dificulta estimar o seu valor".Inhotim está no terceiro ano de atividade. O curador da Bienal de Veneza, Jochen Volz, foi um dos profissionais contratados para trabalhar no centro desde seu início. Bernardo Mello Paz recusa-se a dar entrevistas. Não quis falar ao Estado, mas conversou com o jornal Correio Braziliense no dia 21. Ele diz que a compreensão do que Inhotim significa é uma "tarefa para a posteridade", e citou pesquisa Vox Populi que revela que mais de 90% dos frequentadores aprovaram o museu como fator de desenvolvimento da região. Paz considerou reportagens críticas sobre o museu como interpretações "maliciosas" da imprensa e ressaltou que o centro não foi planejado. "Nasceu de um embrião de jardim para dar prazer a quem aqui vivesse."O projeto do grande complexo de turismo e lazer em torno do Instituto Inhotim dependia, entre outras coisas, da construção de um centro de convenções pelo governo mineiro, com capacidade para 1,5 mil pessoas, em Brumadinho. O Centro de Convenções teria R$ 5 milhões do Estado de Minas e R$ 14 milhões do Ministério do Turismo. Mas a intenção foi barrada no Tribunal de Contas da União, que não concordou com a intenção de se construir algo com verba pública e ceder para exploração privada durante 20 anos.